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Incursões

Instância de Retemperação.

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Estes dias que passam 151

d'oliveira, 25.04.09

 

Rui em abril

 

 

Este é o primeiro ano em que o Rui Feijó me não telefonará mais daqui a um bocado para recordar a noite de 24 e a manhã de 25. De facto, a instancias de um jovem aspirante meu amigo e colega de escritório, eu arrolara o Rui e mais algumas pessoas para uma tarefa: transportar rapidamente para a fronteira os revolucionários no caso do golpe não ter sucesso. Devo dizer, porventura uma vez mais, que o Rui já com cinquenta anos não só não hesitou como até terá ficado desiludido por não poder ter uma intervenção mais forte nessa “incerta batalha” para a qual eu o convocava.

A história quis, felizmente, que o nosso esforço não tivesse sido necessário mas, para o Rui, as horas duvidosas da madrugada e da manhãzinha de 25 foram uma aventura que ele (que participara na rede Shell, que recebera e escondera foragidos políticos em sua casa, que pertencera a todas as comissões que a oposição segregou no seu seio para lutar contra o estado Novo, que provara vinte vezes uma modesta mas determinada coragem) nunca esqueceu.

Agora o telefone não tocará. Nunca mais tocará. Nunca mais o ouvirei dizer “apesar de tudo valeu a pena”. Restam-me a memória, as memórias da alegria, estes quarenta anos de convívio, de discussão, de troca de livros.

De certo modo, é sob a égide do Rui, e de vários outros, aliás, da mesma geração, que olho estes diam que passam, que os valorizo, que me indigno, que critico e que me sinto vivo. Que ironia sentir-me vivo, rodeado da morte de outros, da morte de ideais, da morte de uma certa forma republicana de governo, da melancólica apatia dos ideais socialistas que agora nem sequer se notam de tão puídos, na máscara rugosa de um punhado de ministros todos igualmente fungíveis, todos igualmente espertalhões, todos tristemente votados, e a história aí está para os marcar, ao anémico desaparecimento das primeiras páginas, da política e do resto.

I’m not in the mood, dirão. Talvez, todavia, apesar de tudo isso, apesar dos amigos que se foram, a pesar dos dias que se anunciam, continuo a dizer, como o Rui apesar de tudo valeu a pena.

25 de Abril, meia noite e doze. Um abraço, Rui. 

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