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Incursões

Instância de Retemperação.

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diário Político 112

mcr, 27.05.09

Hoje, no “Público” um historiador que comenta a actualidade quase diariamente, fala a propósito dos casos mediáticos, dos vícios de uma “casta”.

Pela parte que me toca, estando de acordo com quase tudo, ponho reservas à palavra “casta”.

O que vemos, e que ultrapassa em muito, estas criaturas para se poder estender a uma larga fatia da classe política actual e de muito empresário é antes outra coisa: dinheiro (muito) ganho depressa, muito depressa. Novo-riquismo, se quiserem. Ostentação, falta de sentido do ridículo. Sofreguidão!

Esta gente adora ver-se rodeda pela aura da fama. Pavoneia-se perante uma galeria sem perceber que lhe conviria alguma modéstia, algum decoro, muita contenção. Numa palavra, imitar o “dinheiro antigo”, o que sabe ser discreto, ter maneiras, aquilo que algumas pessoas traduzem por “ser educado”, ter “chá”. Eça falava na noção da galinhola, se bem recordo. 

Eu percebo que Rui Tavares prefira chamar casta a esta pequena burguesia enriquecida pelos azares combinados da política e dos negócios à sombra dela. Ao fim e ao cabo, há uma certa esquerda que, na ânsia anti-capitalista, quer ver nesta nova classe uma emanação da antiga dominante. E que, não queira reconhecer-lhe o substracto pequeño burguês que, ao fim e ao cabo, entenderá como aliado dos míticos proletários que Deus tem. Por isso usam “casta” ou seja “grupo social hermético que transmite privilégios hereditáriamente”. Má leitura de Marx, como é evidente, mas é a leitura possível e actual de quem mais do que a floresta vê muitas árvores mas não lhes compreende o nexo que as junta.

Todavia, isto, as novas classes emergentes de um processo pseudo-revolucionário, é fenómeno mais que estudado. Execrado, aliás, por tudo quanto foi artista no século XIX, sujeito de pinturas caricaturais e tão raivosas quanto verdadeiras. Estes novos “heróis” dos escândalos mediáticos vêm todos do mesmo molde, são quase todos da mesma geração, desprezam os mesmos valores, sacrificam tudo ao lucro fácil e imediato, numa palavra não são casta nem castos, são outra e mais feia coisa. Sofrem de espertalhice a mais e de cultura a menos e qualquer crítica soa-lhes a conspiração. É que no mundo em que vivem, no meio que construiram, a conspiração, o golpe baixo, a punhalada nas costas são armas usuais pelo que qualquer reparo é por eles pavlovianamente entendido como um ataque perigoso.

Felizmente, a sua falta de sociabilidade e de solidariedade nos momentos difíceis traz uma vantagem: na hora da verdade, acossados, tentam o salve-se quem puder, desatam-se as línguas, desmontam-se os segredos e aparecem á luz crua do dia e da realidade tal como são: feios, porcos e maus.

(na esperança que não se veja nisto qualquer saudade do ancient regime e dos seus servidores) d’Oliveira sauda-vos

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