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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

missanga a pataco 75

d'oliveira, 26.09.09

Votar com o coração e com a razão

 

Não vou votar útil. Ou melhor vou votar útil porque vou votar de acordo com os meus princípios, com a minha vida passada e com o que desejo para mim e para o meu país.

Isso implica algum rigor e sobretudo uma ideia de fundo: vota-se para que, para lá de uma vitória ocasional, se possam criar condições para uma vitória futura.

Dito isto, facilmente se percebe que, depois do que aqui fui dizendo ao longo destes cinco anos, terei de inflectir o meu tradicional (mas sentido) voto. O PS não cumpriu minimamente as expectativas que nele se depositaram há quatro anos. E que lhe deram uma vitória esmagadora preparada é certo pela liderança corajosa de Ferro Rodrigues e ajudada (e de que maneira) pela errática governação de Barroso e Santana Lopes.

E convém parar aqui por momentos. É que costuma atribuir-se a Lopes a derrota fortíssima do PPD como se fosse possível abstrair da “fuga” de Barroso. Barroso esse que, agora, concitou os votos do PS português por motivos imbecilmente “patrióticos” (vê-se aqui o apego à União Europeia!...), prova mais que evidente que o desnorte na governação interna se estende a insuspeitadas latitudes de que é última notícia o voto na Unesco onde Portugal conseguiu votar ao arrepio de boa parte dos amigos e aliados dando a sua voz a um cavalheiro egípcio anti-semita e queimador de livros (e fiel membro de um governo tirânico e ditatorial, mas isso deve ser coisa pouca para as robustas luminárias democráticas que nos desgovernam).

Todavia, algumas sereias que sempre abundam nestes períodos vieram ultimamente (com a ajuda compreensível do dr Soares e surpreendente de Alegre) pedir um último e desesperado quadrado defensivo à volta do PS para barrar o caminho à Direita. Quanto à Direita remeto para o que foi alegado pelo bloco de Esquerda e pelo PC para não ter, outra vez, que explicar que grande parte (e a fundamental) da actividade governativa destes quatro anos serviu interesses conservadores e situacionistas fossem eles a negação do casamento dos homossexuais (que agora foi apressadamente brandido como bandeira) até ao descarado apoio a certos bancos ou ao mais alarve abandono da agricultura entregando-se ao CDS a sua defesa e devolvendo-se à União Europeia verbas importantíssimas por falta de uso das mesmas!!!

A rua, certa rua, desde os professores aos operários e empregados, foi ocupada por manifestações multitudinárias que só têm paralelo com as dos anos de brasa 74-76. Algumas criaturas surdas ou autistas não viram, não ouviram não perceberam. Ou viram naquilo apenas  a mão de Moscovo ou melhor da Soeiro Pereira Gomes. Ou seja, viram o fantasma grave de Marx de mão dada com o senhor Jerónimo de Sousa (e já agora com o senhor Antero de Quental...) a amotinar professores e magistrados, tropas e funcionários públicos, intelecuais e proletários para não falar de camionistas e armadores de pesca. E de rurais, claro.

Como de costume, passou-se adiante e assobiou-se para o lado. As urnas decidirão.

Querer, porém, que perante o perigo hipotético do regresso do dr Salazar mal interpretado por um patético José Junqueiro (que de certeza não sabe nem nunca saberá quem foi o homem) as multidões se juntem à volta do farol do socialismo que é, dizem, o senhor José Sócrates parece demais. A mim isso estomaga-me.

Vou pois votar útil. Em branco para ser mais preciso. Para dizer a essa gentuça do leque partidário que daqui não levam nada sequer uma mão que os salve do atoleiro.

Não ganharei seguramente as eleições mas não perderei a alma. E isso para mim é o mais importante. Passem bem, votem, e tenham um bom domingo. Ainda não é desta que o país vai ao fundo. Ou que sai dele...