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Incursões

Instância de Retemperação.

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Instância de Retemperação.

o leitor (im)penitente 51

d'oliveira, 04.11.09

 Alguma emoção

 

aliás muita emoção: enganei-me no título. A morte de Claude Lévi-Strauss, mesmo se esperada (o homem tinha noventa e muitos anos!....) perturba-me. E entristece-me. Para além dos livros que devorei, mesmo que duvide fundadamente se os percebi bem, há toda uma época que sem ele se torna mais longínqua.

Não me refiro aos gloriosos anos em que CLS privava com Breton e os surrealistas no exílio nova-iorquino e que ppelas descrições que ele fez em várias entrevistas hão-de ter sido extraordinários.

Falo de um tempo mais meu e mais próximo, de uma época em que muitas certezas juvenis foram a pique. Certezas ideológicas, filosóficas, éticas e políticas. A voragem dos últimos anos da década de sessenta permitiu-me, graças a António da Cunha Pinto (ou Lionel Brim, autor magnífico de "Talvez Pinóquio" e de "Magistério e Desgosto" dois livros imperdíveis e... provavelmente esgotados), um estrangeirado letrado e inteligente, começar a ler as "Mithologiques". 

Mesmo, quarenta e tal anos depois, ainda recordo o deslumbramento intelectual, o desafio, a  surpresa que isso me causou. Curiosamente são dessa época também os meus primeiros contactos com o internacional situacionismo, com a "nova história" a descoberta de Proust e Musil bem como dos estrangeirados portugueses, nomeadamente o Cavaleiro de Oliveira. 

Costumo dizer que entre 66 e 69 mudei mais do que nos dez anos anteriores e muito mais do que nos vinte posteriores. 

Mais tarde, bastantes anos depois, tive oportunidade de ver diversas entrevistas televisivas de Levi-Strauss: sempre me surpreendeu a facilidade de expressão, o rigor dos conceitos e ao mesmo tempo o cuidado que ele punha em se tornar inteligível aos espectadores. 

Pena, grande pena, é que algumas das suas lições sobre o "mito" e sobre a abordagem a este não tenham sido ouvidas por alguns dos nossos intelectuais (verdadeiros ou presumidos). Teriam evitado dizer muita burrice.   

 

*na gravura escultura Hemba (Congo)

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