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Incursões

Instância de Retemperação.

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estes dias que passam 277

d'oliveira, 10.06.12

Deus não dorme

 

 

 

Mesmo que o autor do folhetim seja pouco dado a títulos deste género; mesmo que, no caso, Deus deveria estar fora destas elucubrações humanas, demasiado humanas; mesmo que, finalmente, seja permitido pensar que são as mulheres e os homens franceses quem ao votar decidem da sorte de um par de personalidades, convenhamos que a derrota do sr Melenchon e a quase certa derrota do sr Bayrou são notícias reconfortantes para quem está farto de assistir aos caprichosos saltos de humor e de orientação política destes dois cavalheiros.

 

Em ambos, basta ver o que disseram, há a ideia de que são eles os detentores da razão e que os eleitores, essas crianças grandes, não os compreendem. E não os compreendendo, erram.

 

Bayrou, homem que ninguém de bom senso confunde com a Esquerda, veio dizer que os “seus” (os “seus”!...) eleitores não perceberam o seu voto em Hollande à 2ª volta das presidenciais! Claro que não perceberam! E, sobretudo, não perdoaram! Como se vê.

 

O sr Melenchon, de ziguezagueante percurso pelos labirintos da esquerda gaulesa, foi radicalmente afastado da 2ª volta na circunscrição para onde se atirou. A criatura deveria pensar que a sua augusta presença seria suficiente para derrotar vergonhosamente Marine Le Pen, e afastar sem mais rodeios a candidatura socialista. Melenchon que tem mais ego do que é recomendável a um cavalheiro de Esquerda não percebeu nunca que o eleitorado lhe é desfavorável. Todo o eleitorado, ou pelo menos a grande maioria dele. Todavia, para este género de criaturas que se crêem ungidas do Senhor, o eleitorado é uma abstracção servil e domesticável.

 

Porém, o seu discurso de reconhecimento da derrota é significativo. O seu movimento teve um ganho líquido de mil votos (em relação ás presidenciais...) enquanto a “outra força de esquerda” (sic) perdia oito mil vozes. Mesmo assim, essa “outra” e eventualmente anónima força vai tentar derrotar Marine Le Pen. Será difícil mesmo que os eleitores de Melenchon transfiram totalmente os seus votos para o PS. A dinâmica de vitória da extrema direita (FN) vai seguramente funcionar. Só um milagre deterá a senhora Le Pen.

 

Pessoalmente, não tenho nenhum gosto em a ver na Assembleia Nacional mas também me parece surpreendente que um partido creditado com 14% dos votos expressos não entre no areópago. Será que a democracia ganha com a falta desta gente? Será que o facto de não estar no órgão legislativo melhora a eficácia deste’? A verdade é que desde há vinte anos que o Parlamento francês não vê um deputado da FN.

 

Pessoalmente prefiro ver a Direita Radical no Parlamento do que num sótão a conspirar e a fabricar bombas.

 

Os resultados desta 1ª volta são coerentes com os da votação presidencial. A Esquerda progride, tem a maioria absoluta ao seu alcance e, no pior dos cenários o PS terá de se aliar aos verdes e aos escombros do partido do sr Melenchon (que, espera-se, estará em retiro prolongado a tentar perceber a ingratidão dos franceses). A Direita poderá aprender (mas duvida-se que o faça) as razões por que o povo eleitor a castiga de modo tão violento. E pode começar a procurar alguém banalmente normal (como Hollande) para corrigir o efeito tonitruante de Sarkozy, Já nem me lembrava de ver um presidente francês não repetir o mandato. Que lição.

 

Ai como gosto de eleições!

 

E de Deus quando tem insónias!

 

 

 

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