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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

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d'oliveira, 31.03.06


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Numa alocução acabada de fazer nas rádios e televisões francesas, o Presidente da República, Jacques Chirac, acaba de afirmar a sua intenção de promulgar a lei sobre o CPE com duas importantes alterações encomendadas ap governo: diminuir de 2 para 1 ano o período probatório e obrigar o empregador que despeça um jovem a indicar, a pedido deste, as razões desse despedimento.
Cumprimento os bloggers que aqui, e noutros, locais criticaram a lei e se solidarizaram com os estudantes franceses. Os meus sentidos pêsames ao senhor director do jornal "Público" que com inusitada rapidez, própria de quem pensa menos e se entusiasma mais com tudo o que lhe cheire a neo-liberalismo a outrance, por este desmentido que Chirac lhe proporciona.
Ce n'est qu'un debut...

Preparar o futuro

José Carlos Pereira, 31.03.06
O governo está a avançar com medidas de desconcentração dos serviços da administração, começando a formatar a presença do Estado de acordo com as cinco regiões-plano, delimitadas administrativamente há uns bons 30 anos. Dizem os adeptos da macrocefalia que o governo está a preparar o terreno para avançar com o referendo à regionalização na primeira oportunidade, isto é, na próxima legislatura.

Se é esse o propósito do governo, só posso aplaudir. O país precisa de um rumo, de estratégias consistentes, de maior coesão e de desenvolvimento harmonioso. Mas cada espaço territorial não pode deixar de afirmar as suas potencialidades intrínsecas, consolidando as valências e os recursos aí existentes.

O caminho não é fácil, mas Portugal inteiro deve encarar a próxima década como a última oportunidade para convergir com a União Europeia nos principais índices de desenvolvimento. O Quadro de Referência Estratégico Nacional, que vai guiar a aplicação no nosso país dos fundos estruturais entre 2007 e 2013, é por isso um instrumento decisivo para o futuro e deve merecer o envolvimento de todos – governo, autarquias, associações de municípios, universidades, instituições da sociedade civil – para que seja garantida uma correcta aplicação dos fundos disponíveis.

Magistrado constituído arguido

Incursões, 31.03.06

Raul Bairros, magistrado do Ministério Público, foi constituído arguido por suspeita de ter feito ameaças de morte a duas juízas do colectivo do Tribunal da Boa Hora, que julga o caso da fraude contra o Serviço Nacional de Saúde (SNS).


De acordo com a SIC, no decurso da investigação os telefones das juízas foram colocados sob escuta, tendo a Polícia Judiciária identificado que o autor das ameaças era procurador-adjunto do Ministério Público, ex-companheiro de uma das juízas em questão. O processo-crime corre no Tribunal da Relação de Lisboa”.

( fonte: Expresso on-line e Canal Sic ontem à noite).


Acrescente-se que este magistrado foi director da polícia judiciária!


O destino tem destas coisas: quem faz mal aos outros, mais cedo ou mais tarde, tem o retorno...

As quotas

Incursões, 30.03.06
Estou triste, pois. Anda um homem toda uma vida a pensar que é medianamente inteligente, para chegar aos 45 anos e concluir que, afinal, é burro como uma porta. Falo de mim, claro, e passo a explicar: por muito que alguns se esforcem - e esforçam - para me convencerem das vantagens da coisa, eu ainda não consegui perceber por que motivo o PS e o BE aprovaram hoje aquela lei que impõe que pelo menos 1/3 de candidatos em listas políticas sejam mulheres.

Que diabo! Que eu saiba, não foi por uma qualquer imposição de quotas que as mulheres são maioritárias no ensino superior e que, cada vez mais, ganham espaço na advocacia, na medicina, nas magistraturas e por aí. E não, não é uma atitude machista, a minha. Comprovo: tenhos três estagiários. Todos mulheres. Não discriminei, como se vê.

O que vai acontecer a partir de agora? Se - coisa improvável - eu for ao Parlamento nos próximos tempos, de cada vez que encontrar uma deputada não resistirei a perguntar-lhe, Olhe, desculpe, está cá por mérito ou pela quota? Bem, se for a Joana Amaral Dias ainda arrisco uma terceira hipótese: ou está cá porque é gira?

A única coisa boa da lei, é que, por causa do cheiro das tintas, prevê que as quotas também se aplicam aos homens. Isto é: não pode haver lista que não contenha pelo menos 1/3 de homens. Sim, eu sei que isto é uma irrelevância. Agora. Mas, por este caminho não tarda que venha a ser muito útil para os homens. Se, entretanto, as mulheres, já em maioria, não decidirem revogar a lei.
E por falar nisso: não acham que o Fórum Mulher da TSF devia ser obrigado a permitir que pelos menos 1/3 dos participantes fossem homens?

As ameaças da PJ... Parte II

Incursões, 30.03.06
Afinal, o Governo adiou a decisão sobre as futuras competências da Polícia Judiciária e sobre a possibilidade de os contactos com a Europol e Interpol passarem para a alçada do Gabinete Coordenador de Segurança, ou seja, da tutela do Ministério da Justiça para o Ministério da Administração Interna.

Conclusão: não tecendo aqui considerações sobre a bondade da medida, a nível de política criminal e da possível “promiscuidade” entre o poder político e a investigação criminal, o certo é que, neste País, quem tem poder negocial ou possibilidade de exercer uma qualquer chantagem sobre o poder instituído, é que vence.

Desgraçadamente, bate-se sempre nos mais fracos, nos mais desprotegidos.

Naqueles que não oferecem “perigo” de uma qualquer retaliação.

Por que será?

José Carlos Pereira, 30.03.06
Por que razão vemos e ouvimos os agricultores manifestantes que enchem há vários dias as nossas televisões e não acreditamos (eu não acredito...) em nada daquilo?

Tudo soa a falso. Aqueles senhores de bigode farfalhudo, óculos escuros, boné casual, roupa de marca, olhar marialva e jipes topo de gama escondidos lá longe mostram-se muito revoltados com o estado da agricultura e não se cansam de exigir a saída do ministro. Propostas? Estratégias? Alternativas? Nãã...apenas mais dinheiro para um reduzidíssimo número de proprietários. Sempre os mesmos.

E o que dizer da presença nessas manifestações dos pobres assalariados agricolas, verdadeiros voluntários à força nas mãos dos seus senhores? Sem estes assalariados qual seria a expressão de tais manifestações? Não há um sindicato que se insurja contra esta utilização abusiva de trabalhadores? Ou o lobby chega para todos?

Pobre país...

As ameaças da PJ...Parte I

Incursões, 30.03.06

Segundo o “DN” de hoje, a “Polícia Judiciária, liderada por Santos Cabral, não aceita a reorganização que está a ser preparada pelo Governo, no âmbito do Programa de Reorganização da Administração Central e do Estado (PRACE)”.

Mais “Os directores da Polícia Judiciária (PJ) ameaçam demitir-se em bloco se o Governo insistir em retirar da alçada desta força policial a actividade da Interpol e da Europol”.



Bolas, coitados! ... ainda correm o risco de ficar na "bolsa dos disponíveis" !


(Espero que o Governo não ceda a este grupo, este sim bem corporativo: um verdadeiro “Estado dentro do Estado”).

Entre as letras e as ciências

Incursões, 30.03.06
Presumo que leram: todos os jornais portugueses generalistas estão a vender menos. Há várias teses sobre o assunto, já ouvi várias, desde a menor qualidade do jornalismo português até ao preço dos jornais, desde a iliteracia dos portugueses até ao advento das edições electrónicas.

Todas estas teses são válidas. Mas há um elemento que não pode ser descurado: Portugal sempre foi um país onde se lê pouco. Jornais e livros. Por exemplo: uma das coisas que me angustia é chegar a um tribunal e ver que o jornal que o magistrado traz debaixo do braço é um jornal desportivo. E apenas esse. Angustia-me que imensos advogados que eu conheço não leiam um jornal diariamente e fiquem com ar interrogativo quando alguém fala na notícia do dia. Tritura-me a história que me contaram este fim de semana de uma professora de português que confessou que o último livro que leu foi "Os Maias", já lá vão alguns anos.

Maus sinais, penso, que sei pouco destas coisas.

Creio que foi hoje que ouvi o nosso primeiro-ministro dizer que o combate de Portugal terá de ser nas ciências. Talvez. Debitou números que nos colocam muito atrás dos outros países em questões de investigação científica. Acredito. E noutras coisas relacionadas com a ciência. Ok. O homem está para ali virado: para o choque tecnológico. Está bem. Aceita-se. Parece-me, contudo, que não haverá choque tecnológico que nos valha enquanto não ganharmos hábitos de leitura. De jornais e de livros.

E tudo isto leva-nos a outra questão: quando não se gosta de ler, não se pode aprender a escrever. E há outra questão: a maioria das pessoas que escreve na net, fá-lo, não porque gosta de escrever, não porque tem alguma coisa a dizer, mas porque gosta de computadores. Da tecnologia. Será que Sócrates está enganado quando estimula os computadores em vez das letras?

Au Bonheur des Dames nº 21

d'oliveira, 29.03.06

2 textos 2 para o dia do teatro


1- Estou farto desta gente teimosa!


Pedem-me, os do Teatro, que testemunhe sobre eles, como se uma história longa de trabalho nas tábuas, de amor pelo palco, de paixão pela máscara, pudesse ser aquilatada por quem, para usar a expressão de O' Neil, está reduzido a "este modo funcionário de viver".

Ah, como foi possível que o jovem que se estreou com Luís de Lima e que acabou com Victor Garcia e Ricardo Salvat e que jurava por Brecht e Artaud, esteja agora, doido de inveja, a ver outros sobre as tábuas no quotidiano milagre de respirar juntamente e em consonância com o público.

Estou farto desta gente! Eles divertem-se como cabindas, passam as do Algarve, insistem, caem, levantam-se, insistem outra vez e o palco, todo luz, todo deles.

Estou farto: eles arriscam-se, eles vivem a aventura, transportam os sacos às costas, "mudam mais vezes de lugar do que de casaco" como os exilados de Brecht, e eu aquí feito "revólver de trazer por casa".

Oh gente teimosa: há anos que o dinheiro escasseia ou nem se lhe vê a cor?
Cerra os dentes, aperta o cinto, toca para a frente e o público, essa massa inexplicável, lá vem, bate palmas e volta, diz aos amigos, e aos amigos dos amigos. E essa gente teimosa, que se arroga de vital, mistura-se a essa, outra, anónima corrente subterrânea que se chama público, respira com ele e continua. E continua...

O teatro é isto. Saber confusamente o que queremos. Teimar como respirar. Querer como comer. Andar como correr. À boca de cena, lá mais atrás, carpinteirar um cenário, passar umas cordas, vender ao desbarato o talento e o cansaço e continuar.

Estou farto desta gente teimosa. Farto de lhes agradecer. Farto de os ver cair e levantar. Farto de os ver receber pouco e dar muito. E tão farto estou, tão fora de mim, que, desta vez, não há homenagem para ninguém, mas só exigências. Trabalhem, trabalhem muito e recebam pouco e deixem, aos que depois de nós vierem, essa trémula luz no palco e essa respiração sustida e o Teatro vosso e meu.


2- O teatro é isto


O teatro é isto: um espaço habitado pelos nossos sonhos. A vida imaginada à luz crua de um projector e uma voz que se ergue diante da escuridão onde se adivinha uma plateia.


Por um mágico momento o actor é o porta voz, o arauto de uma comunidade que nega o poeta: não é o mundo que é um palco, é o palco que é todo o mundo.


Em 12 dias, 12 companhias vêm mostrar o seu trabalho que, genericamente, tem sido classificado de Teatro Amador por oposição ao Teatro Profissional.


Que as palavras não nos enganem: amador é o que ama e, no dizer de Camões, o que se transforma na coisa amada.


E é disso que se trata. No espaço de uma noite, o homem que se expõe, transforma-se na personagem, nas personagens, em nós.

O Teatro é isto: a palavra viva sobre as tábuas.


O dia do teatro passou e eu a pensar que o meu texto tinha seguido para o éter. Mas não. Na blogoesfera além de fadas madrinhas (Sílvia, o meu olhar, Kamikaze) há umas bruxas horrendas assexuadas que perseguem os inocentes canhotos como este vosso criado. E os textos andam por aí perdidos nos espaços siderais, nalgum buraco negro, sei lá onde. Os dois textos que ora saem da clandestinidade vêm dos anos oitenta princípios de noventa. Será a antiguidade a sua única virtude. mas que querem? No pidam peras al olmo, como dizem os nossos irmãos iberos.
Vão estes textos dedicados a Maria Helena Aguiar, José Tavares Pinto, Luis de Lima e Victor Garcia (eles não morreram; foi só o pano que caiu)

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