Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

Questões sobre a PJ

Incursões, 03.04.06
Sou uma espécie de palerma de serviço, até porque não tenho nada a ver com o assunto, para além de ser advogado e ser um cidadão razoavelmente atento, mesmo quando ando distraído, como é o caso. E, então, que me dizem a isto de terem corrido com o Director Nacional da PJ?
Primeira questão: o Director decidiu cumprir a ameaça de bater com a porta, ou a porta bateu contra ele? Leio por aí que o Director ameçou demitir-se e acabou demitido.
Segunda questão: é verdade que a grande maioria da estrutura dirigente ficou? Falta de solidariedade com o Director?
Segunda questão: Alípio Ribeiro, actual Procurador Distrital do Porto, é o sucessor. Critério de escolha? Pois, não sei. Para além de ser de um homem de uma simpatia extrema, que pensa bem, que escreve bem, muito competente no ofício, que o terá levado a aceitar o que o seu antecessor não aceitou? Ou deram-lhe mais meios do que ao antecessor? Ou será uma questão de velha amizade com o actual ministro Alberto Costa?
E no Porto? Quem vai ser o sucessor de Alípio Ribeiro? Tanto quanto sei, Alípio Ribeiro coordenava o MP na Relação de Guimarães antes de vir para o Porto. Quem agora cumpre o desígnio é o fundador deste blog, Lemos Costa. Virá Lemos Costa? Ou será que o novo PGD virá a ser Alberto Pinto Nogueira, que esteve na calha aquando da escolha de Alípio Ribeiro?
Perguntas do cidadão comum. Claro. Melhor: de um cidadão comum que anda no mundo da Justiça.

Farmácia de serviço nº 19

d'oliveira, 03.04.06
No de la espada o de la roja lanza
Defiendeme, sino de la esperanza
(religio medici, 1643)

Morir es una costumbre
Que sabe tener la gente.
(milonga de Manuel Flores)


Paroquianas e paroquianos, são boas as notícias de hoje, mesmo que se inscrevam num incerto cenário de violência antiga (?), de infâmias várias e de (como não havia de ser? de memorias berlinenses, muito minhas, misturadas com outras de variadas latitudes ou longitudes ou as duas à vez.
Comecemos pelas da pátria: Jorge Luis Borges! Não por ser vagamente descendente de portugueses, como alguma vez escreveu num belo poema, mas por ser um imenso escritor. Ora bem, uma editora, ia jurar que é a Teorema do meu compadre Carlos Veiga Ferreira, um desses editores cultos e inteligentes que vão rareando e que só publica o que muito bem lhe apetece e gosta, atirou, dizem-me (que ainda os não vi) para as livrarias dois livros sobre o argentino que não teve o prémio Nobel (também Musil, Kafka ou Proust o não tiveram e o mundo não ficou pior). Uma fotobiografia e uma biografia. Em ambas, julgo, anda a mão excelente de Alejandro Vaccaro, pessoa recomendabilíssima. A Páscoa aproxima-se? Pois aí têm amêndoas e das melhores!
As duas inscrições que abrem esta receita são do “velho Senhor” como não podia deixar de ser, de um livro que em seu tempo se chamou “El oro de los tigres” (Emecé, Buenos Aires, 1972).
Borges descobri-o, ou melhor alguém o descobriu para mim, nos primeiros anos de 60, numa tertúlia de amáveis leitores capitaneada pelo Eduardo Guerra Carneiro acabado de chegar de Trás os Montes com um livrinho debaixo do braço ("O Perfil da Estátua", seu livro de estreia , a esquecer). Tratava-se de uma edição em português, já não sei de que editora, uma antologia que me deu a certeza que passasse o que se passasse eu tinha de aprender o suficiente espanhol para o ler no original. De tantos sonhos, promessas e planos, foi este um dos poucos que concretizei. Enhorabuena!, como diriam os meus amigos do outro lado da fronteira.
Borges voltei a revisitá-lo por muitas e boas vezes e dedico-lhe um bom metro de estante, livros lidos e relidos desde o “Manual de Zoologia Fantástica” do velho “fondo de cultura económica” que comprei em Irún (em Irun!)em 68 numa ida para França até ao “Album Borges” da Plêiade”. Para mim é ele, o grande impulsionador do “boom” latino-americano e julgo que em algum sítio vi referendada por Llosa esta minha opinião.
Mas o Borges que mais vezes recordo é um Borges lido em Berlim, no ano longínquo de 71. Tê-lo-ei comprado num clube de emigrados espanhóis pouco depois de ter visto um filme terrível chamado "La hora de los hornos” de Fernando Solanas, num cineclube alternativo, o “Arsenal”. O livro, entretanto oferecido a uma italiana bonita e do “potere operaio” (ai, Berlin...), constava de poemas e de entrevistas a Borges onde este dizia do seu visceral horror aos peronistas e aliados. Forte razão tinha, há que dizê-lo que os peronistas sobretudo na versão 2º Perón e Isabelita eram do piorio. Se aquilo não era fascismo então não sei o que o fascismo é: os apelos aos descamisados, a negação dos partidos, o Estado big-brother und so weiter. À conta desse Borges houve memoráveis discussões com uns alemães ultra-radicais e um cerco eficaz á italianinha do "potere operaio", em nome da solidariedade dos europeus do sul naquele invernoso Berlim cortado ao meio pelo muro.
No meio disto tudo é bom lembrar que o golpe dos generais argentinos tem trinta anos já e que os seus efeitos ainda subsistem na miséria do povo e do pais que durante décadas foi um farol de riqueza e bem estar.
Hoje do reino desses criminosos resta a insuportável ausência de trinta mil desaparecidos, a ruína económica, intermináveis bichas de pessoas desejosas de regressar às terras dos seus antepassados (que eles, porém, não conhecem), um par de tangos, a memória luminosa de um grupo de encenadores e artistas com quem privei nos anos sessenta e que se chamavam Victor Garcia, Julio Castronovo ou Coppi. Curiosamente o desastre económico deu origem a dezenas de grupos de teatro de rua em Buenos Aires. Gente que nada tinha pôs isso em comum e a cada canto, li numa revista, surgem grupos de teatro. É a prova provada que entre Videla e Garcia, ganha este último. No único palco que interessa, a Argentina popular, a nossa, a dos leitores de Cortazar e Borges.
Em tempo: não tem nada a ver com a Argentina mas apareceu um disco que propõe a audição de peças de Thelonius Monk em quinteto: Monk’s Casino. O bocadinho ouvido na “mezzo” convenceu-me.

Justify Full

Aqueles que da lei da morte se vão libertando... (II)

Incursões, 03.04.06

Ontem, dia 2 de Abril, passou um ano sobre a morte, física, do último gigante do nosso tempo: Karol Wojtyla.

João Paulo II, que veio do Leste, recebeu uma Igreja cujo governo atravessava uma certa crise, presa na tensão entre os avanços do Concílio e a perda de identidade perante a modernidade.

E deu-lhe um novo rosto. Creio que o rosto autêntico: o de Cristo.


Para mim, que tive o meu despertar para Cristo com ele, e que percorri nestes últimos 25 anos uma muito particular “via crucis”, recordo que certamente graças à sua Palavra e ao seu Amor acordei de um tempo que, talvez devido a ter perdido toda a minha família de forma particularmente trágica, mergulhei durante largos anos num espaço e num tempo que não era deste mundo, e muito menos de Deus, alienado revolto sem sentido sem memória e sem esperança.

Desculpem aqueles a quem estas linhas porventura nada dirão. Trata-se apenas de uma pequenina homenagem. E faz-me tanta falta, este homem! Sinto-lhe a falta: é uma lacuna que hoje sinto, no meu dia-a-dia.
Mas tudo isto, porém, trata igualmente da História da Humanidade, feita de pedra e de espírito.
Feita, afinal, das nossas pequenas histórias pessoais.

Aqueles que da lei da morte se vão libertando... (I)

Incursões, 03.04.06

O nosso filósifo, Agostinho da Silva, morreu em 1994 (três de Abril).

Afirmou ele o seguinte: “o que eu quero é que a filosofia que haja por estes lados arranque do povo português, faça que o povo português tenha confiança em si mesmo, entendendo por “povo português” não apenas os portugueses de Portugal, mas também os do Brasil, laçados de índios e negros, os portugueses de África, tribais e pretos, como também os da Índia, de Macau e de Timor.”

Ora, “cousa” extraordinária! Mesmo que já não exista fisicamente o nosso Portugal do Minho a Timor, ele vive, afinal, em todos aqueles que se sentem portugueses ou tributários da nossa cultura. Grande Agostinho da Silva! São homens como este que " da lei da morte se vão libertando"...


Lembro-me daquela frase de Agostinho da Silva, aqui posta “em tempos” pela “nossa” Kami: “Não sou ortodoxo, não sou heterodoxo: sou do paradoxo!

Na verdade, as “cousas” nunca são lineares. E, se porventura assim as considerarmos, estaremos a empobrecê-las irremediavelmente.

REVISTA DO MINISTÉRIO PÚBLICO 105 - NO PRELO

Incursões, 03.04.06
ESTUDOS & REFLEXÕES

Cultura(s) de la Jurisdicción
En el XXV aniversario de Revista do Ministério Público
Perfecto Andrés Ibáñez

Os efeitos do despecimento ilícito
(sobre os artigos 436º a 440º do Código do Trabalho)
João Leal Amado

Incidências processuais da punibilidade de entes colectivos
Jorge dos Reis Bravo

Doenças infecto-contagiosas e Direito à Liberdade
A. Leonês Dantas

Cooperação na recuperação de activos: da partilha à repatriação integral Euclides Dâmaso Simões

Sílvia, 03.04.06
faltas-me enquanto o cello,
a voz, lembras-te?
ecoa no quarto sua melodia,
um pedido, uma prece.

faltam-me teus olhos,
as palavras a cultivarem
um campo de magnólias
sob a minha pele.

faltam-me o teu desejo óbvio,
as tuas carícias,
e novamente as palavras.

estou só no meio da noite sem poemas
ou gestos.
o cello reverbera a solidão.

nunca estive tão só.
mesmo que tenha um campo de flores na voz
um ritmo natural no corpo,
um riso por abrir qualquer dia.



silvia chueire