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Incursões

Instância de Retemperação.

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Instância de Retemperação.

CASSETES & CASSETES

JSC, 27.06.07
Andamos décadas e décadas a ouvir falar da cassete do PC. Aliás, a fama da cassete até serve de pretexto para os afastar dos meios de comunicação social escrita e falada. E o que é que dizem os comentadores profissionais? Que se o PCP fosse como o PCI ou o PCF seria muito mais actual. Que o PCP nunca abandonou a linha estalinista, que não se modernizou, que fala como se fosse o único a defender os trabalhadores, etc.

Se olharmos para os colunistas dos chamados jornais de referência não encontramos lá ninguém afecto ao PCP. O mesmo nos fóruns políticos promovidos pelas rádios ou televisões. Mas será porque o PCP não tem gente capaz? É óbvio que a resposta é negativa. Claro que tem, só que estão rotulados pela cassete. Mas basta que abandonem o PCP para passarem a ter acesso a esses fóruns ou para integrarem governos como ministros, secretários de estado e por aí fora.

Mas, porque é que trago para aqui esta coisa do PCP, eu que até nem sou do PCP nem de nenhum outro partido e que tenho uma cada vez maior reserva relativamente a todos?

É que o PCP é usado para abafar uma ideologia, o marxismo. Ao dizer-se mal do PCP e ao apontar-lhe o rótulo de cassete, de inadequado, incapaz de se renovar, etc., o que se está é a denegrir, a excluir, é a ideologia marxista.

Se olharmos para “comentadores”, “analistas políticos”, “colunistas” que integram os painéis dos órgãos de comunicação social é tudo gente que anda nestas coisas há anos e anos, que não muda de discurso apenas o ajusta em função dos governantes e os interesses instalados.

Tempos houve em que achava as crónicas do Vasco Pulido Valente perspicazes, profundas, oportunas, enfim, o máximo; lia Pacheco Pereira e concluía que o homem raciocina bem, escreve bem e mesmo quando não concordava não deixava de ver ali alguém acima da mediania; Bom, Vital Moreira, Marcelo, Teresa de Sousa, Miguel Sousa Tavares, Helena Garrido, enfim, tantos pensadores a apontar mazelas, a propor, a apoiar medidas

São tantos e há tanto tempo a formular hipóteses, a criticar, que ao fim de todo este tempo e com o país sempre a cair é legítimo que nos interroguemos: Qual a eficácia de tantos textos e de tantos críticos? E, porque razão são tão ineficazes?

Bem, no fundo no fundo, o que vivemos é um jogo, em que uns justificam o emprego dos outros. E o problema só existe para os inadaptados.

Mas penso que seria tudo mais claro e a população ficaria a ganhar se as opções políticas fossem sustentadas pelas opções ideológicas de quem as toma.

No entanto, os nossos analistas criaram uma pseudo neutralidade ideológica, de tal modo que hoje parece que se tem receio em falar em ideologias, como se fosse uma coisa do passado.

Mesmo ao nível governativo procura-se desenvolver toda a actividade política como se o impacto das decisões fosse neutro, em termos dos grupos ou estratos sociais que envolve.

Claro que sempre poderão dizer que a globalização também tramou as ideologias e que hoje o que prevalece é a ideologia do consumo, que se sobrepõe a tudo quanto foi escrito sobre diferentes modelos de organização da produção e distribuição da riqueza. Só que o consumo globalizado é ele próprio o produto de uma ideologia, melhor, um instrumento usado por uma ideologia para impor a sua visão da sociedade.


Estes dias que passam 67

d'oliveira, 27.06.07

Podemo-nos sempre espantar

1 O Senhor Blair acabou o seu mandato. Muito bem.
Renunciou ao seu mandato de deputado de Sheffield. Não era obrigado a tal, nem isso costuma ser hábito.
Foi imediatamente nomeado “enviado ao Médio Oriente para fomentar a paz”. Convenhamos que para quem defendeu tão ardorosamente a intervenção no Iraque, pejado de armas de destruição maciça (convém lembrar) que mais ninguém viu, a coisa pode pôr em causa junto dos destinatários a sua boa vontade e a sua isenção.
Parece que agora está na moda nomear os ex-primeiros ministros para cargos deste tipo. Os respectivos governos agradecem: um de menos a chatiar! Os recipiendários desta generosidade terão sido consultados?

2 Não é Nefertiti, nem sequer Cleópatra: Hatchepsut. Conhecem? Eu, tradução oblige, soube dela tardiamente e depois li de enfiada três livros sobre o Egipto e fiquei-lhe com grande respeito. Agora descobriram a sua múmia que permanecia solitária e desconhecida num arrumo do Museu do Cairo. E como é que a venerável senhora foi encontrada? Pois por um dente! Um único dente, encontrado dentro de um vaso funerário com o selo da grande faraó. Esse dente e uma múmia com um braço cruzado sobre o peito e as unhas pintadas de vermelho (sinais de realeza) identificaram, ao que parece positivamente a famosíssima rainha. Leitor de romances policiais, admirador recente da civilização egípcia, esta história comove-me um pouco. E, sobretudo, porque isto já é obra dos egiptólogos locais. A descolonização também passa por aqui.
3 Em Madrid, terra bem mais interessante, do que a hispanofobia dominante permite ver, uma livraria de bairro estava para fechar. Motivos graves e familiares não permitiam à proprietária continuar a dedicar-lhe o seu tempo. Ao que tudo indica (e a fotografia no El Pais, deixa ver) era uma casa de amigos de livros e com livros amigos. Um grupo de fregueses habituais associou-se a Marisa Larru para lhe poupar o trabalho e evitar o fecho. O barro manterá a sua livraria mesmo se nenhum dos novos sócios pense que vai ganhar dinheiro. Desde há momentos (se o meu mail já lá chegou) sou o mais novo freguês da “libreria La Regenta” na calle Serrano 228, 28016 Madrid. O mail: regenta@verial.es. Os eventuais interessados poderão mandar um mail nem que seja de apoio, ou esperar que eu tenha notícias sobre como encomendar um livro, pagá-lo, etc. A voz que me atendeu pelo telefone (0034)915 639 277 era alegre e bem timbrada. Ou seja: quem telefonar também terá o pequeno prazer de ouvir uma voz feminina com o sotaque castizo de Madrid.
4 O que leio das declarações do senhor comendador Berardo não augura nada de bom. Pior, faz-me pensar que têm razão todos os críticos do processo Museu Berardo/CCB. Lamento, pois, não alinhar nos “tremolos” embevecidos do senhor primeiro ministro e no exagero de “a partir de agora ser em Portugal que começa o circuito da arte contemporânea”. Alguém devia dizer a estes senhores que convém ter algum bom senso e não fazer declarações altissonantes.
No que respeita ao senhor Mega Ferreira começo obviamente por me solidarizar com ele. O pato-bravismo não pode ganhar sempre que diabo. Mais: o presidente da fundação do centro cultural não tem que ser obrigado a sentar-se no conselho de fundadores da Fundação/colecção Berardo. Pode perfeitamente delegar essa tarefa em qualquer dos seus colegas. Isto se entender que não este o momento de sair do Centro. Convenhamos que este, agora, é uma mera casca vazia. E Mega Ferreira poderá de certeza encontrar outro lugar onde seja menos inútil. Há lugares que nem a peso de ouro!

5 A criatura que dirige a DREN deu muito bom durante dois anos seguidos ao senhor Charrua. Agora põe-lhe um processo disciplinar. À cautela e para que este seja de uma independência à prova de bala, nomeou um instrutor que vive em Trás-Os-Montes!! O facto de o referido instrutor ter sido candidato do PS nas últimas eleições autárquicas e de dever à directora da DREN a sua estadia em Bragança onde não tem lugar não quer obviamente dizer nada. À atenção da Ordem dos Advogados, no caso do senhor ser licenciado em direito e exercer como a advogado.
6 Os actuais ideólogos da reforma a qualquer preço devem achar que o Público é pago pelos bolchevistas, pelo cds ou por alguma seita demoníaca. Pelos vistos os portugueses pagam pela péssima assistência (todos os sistemas confundidos) de saúde nada menos de 22,5% do total gasto. Ou seja só a Espanha e a Bélgica se aproximam de nós. E a Holanda, a Inglaterra ou a França ficam-se pelos 10%. Por acaso também, olha a novidade!..., são todos mais ricos.