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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

missanga a pataco 16

d'oliveira, 03.06.07


Entre quem vem por bem

É sempre um prazer sabermos que há alguém que partilha ( e não "compartilha" como agora parece ser moda dizer) algumas das nossas afeições, das nossas aflições, das nossas preocupações. E das nossas alegrias, parbleu!
E é este o caso: aparece hoje – e isto não vai ficar por aqui – um novo “contribuidor” (eu preferiria dizer contribuinte, ou mesmo contributor à ingliche, que contribuidor, enfim, vem no Houaiss mas não me soa, das klingt mir nicht, como diz a alemoada). O Joaquim é um fino espírito, caladão mas de excelente companhia e com humor, essa qualidade que vai faltando por aí. Eu chamava-lhe o incursionista honorário porque ele foi sempre de todos os momentos, os bons e os maus. Mas de fora, mais observador que interveniente. Agora, finalmente, a instâncias da “o meu olhar” e com a entusiástica concordância da tripulação, ei-lo que passa a “ordinário”. E não é despromoção, creiam-me, que nisto de malta interessada nesta amável troca de opiniões, o ser ordinário, comum, é qualquer coisa a que o cidadão da blogoesfera sempre aspira. Les gens ordinaires, ou seja as pessoas comuns, normais que, finalmente, somos dão à palavra ordinário esse sentido (comum?) que é apenas um saber viver partilhado, calmo, que tranquiliza, julgo, os leitores e os restantes opinantes.
Seja pois benvindo a esta barca costeira, mais este remador. Ganhamos nós e ganham os leitores.
Bem-chegado, Joaquim e com bons ventos.

Este postal de boas vindas deve-se ao facto de me arrogar - fraca consolação! - o ser mais velho, não o mais antigo desta barca.
Na gravura: fragata do Tejo.

Discurso directo

ex Kamikaze, 03.06.07
do Juiz Conselheiro Artur Costa, no Sine Die , a propósito, designadamente, disto.


(...) "Permitam-me que expresse aqui a minha indignação pelos processos infames que certos órgãos de comunicação social usam para conseguirem os seus objectivos torpíssimos, nomeadamente certos “tablóides”, particularmente o “24 Horas”.
Nunca pensei que se pudesse ir tão longe na perversidade e na hediondez. Eu já podia ter aprendido, uma vez que tenho alguma experiência nesta matéria, mas que querem? Também por causa dessa minha mania de que é preciso não ter medo dos meios de comunicação social (embora, aqui, o designativo “meios de comunicação social” seja um eufemismo), acabei por aceitar a solicitação de jornalistas, ou assim ditos, que, por telemóvel, me pediram para explicar a razão do abaixamento da pena neste caso de abuso sexual de crianças. Quando pensava que estava a esclarecê-los, estava era a ser indecentemente instrumentalizado para outros fins absolutamente repelentes.
No dia seguinte, sem que me tivesse sido comunicado previamente que tencionavam dar forma de entrevista à conversa, chaparam no jornal com uma grosseira montagem, em que puseram na minha boca afirmações que eu nunca fiz – afirmações aberrantes e idiotas, com ressaibos porno e gozos acanalhados, inclusive manipulando uma fotografia minha, de há muitos anos atrás, que arranjaram abusivamente, não sei por que processos, mas que eu calculo de onde provirá, porque estou lembrado de umas fotografias que tirei há anos no JN, por entre computadores e mesas de trabalho da Redacção, com o fim de escolherem uma para personalizar as crónicas que comecei a escrever regularmente para aquele jornal. Uma fotografia completamente destoante no tempo, no lugar e no modo, cuja inserção no dito tablóide – o “24 Horas” – com aquele enquadramento, não visava senão o meu achincalhamento. Não é verdade que pareço que estou a rir-me alarvemente daquelas palavras idiotas que me são atribuídas?
Confesso: nunca pensei que a pulhice desta comunicação social menosprezasse de forma tão ostensiva e criminosa todos os limites do decoro, da boa-fé, da deontologia profissional e da vivência comunitária. É para que conste e para que todos os meus leitores se ponham a recato em situações idênticas.
No que me diz respeito, o mal está feito, e bem o tenho sentido na quantidade de abordagens de que também sou alvo. Há muita gente que me conhece pela fotografia e de escrever durante anos a fio no JN, e nem quer acreditar no que viu no “24 Horas”. Mas já que o mal está feito, vou levar o caso até às últimas consequências. O que lamento é que haja uma quantidade de peritos (juristas, psicólogos, pedopediatras, sexólogos encartados) que se disponham sempre (eles vivem disso, do protagonismo na comunicação social) a darem um arzinho da sua graça, muito conspícuos, muito doutores, muito senhores dos seus ridículos papéis, sem, afinal, saberem o que estão discutir. Estamos no país-do-faz-de-conta."

A REGIONALIZAÇÃO E PODER REGIONAL

JSC, 03.06.07
A regionalização é um tema recorrente na sociedade portuguesa. De tempos a tempos, quando a crise é mais violenta e prolongada, alguns reparam, e bem, que o país sofre de profundos desequilíbrios sociais, económicos e mesmo no domínio da ciência. A causa está no forte centralismo que drena recursos, mesmo o chamado capital humano, para a zona de Lisboa, deixando o resto do país com níveis de desenvolvimento muito abaixo do razoável e, o que é mais grave, sem perspectivas de inverter ou atenuar este movimento concentracionista.

Hoje, o debate está de volta. Em entrevista recente ao JN o Reitor da Universidade do Porto assume que a resposta à estagnação económica e mesmo científica exige o aparecimento de um líder regional que dê voz à região e a ponha a falar a uma só voz, o mesmo devendo suceder para a Região Centro, dado, no seu entender, serem as regiões que mais têm perdido relativamente a Lisboa e ao Algarve. O mesmo jornal tem desenvolvido outras iniciativas que colocam o debate na ordem do dia. Alias, a própria CCDRN já tinha lançado a discussão com o projecto NORTE2015.

Do que recentemente tenho lido acerca deste tema raramente se ouve a voz dos agentes económicos e políticos do chamado Portugal profundo, aquele que dista uns 50-60 Km do litoral. Ora, vem nos jornais, que essa parte de Portugal está a ficar sem gente. Uns vão trabalhar para Espanha. Outros procuram o litoral para viver. As notícias que vão saindo apontam para o agravamento. Veja-se o caso do pólo Universitário de Mirandela, a UTAD e o que se passa com os equipamentos de saúde em muitas zonas e que constitui um grande factor de insegurança e de motivação para a partida.

Como é que a regionalização pode dar respostas a este desequilíbrio territorial? E, fará sentido discutir a Regionalização sem por em debate as actuais competência dos Municípios e o papel da Freguesias?

P.S. Depois de leitor mais ou menos assíduo do Incursões e de participante em algumas iniciativas do blog, o que levou o MCR a designar-me por “membro honorário”, apareço agora como “contribuidor”. Obrigado a todos. Escolhi o tema da Regionalização, para primeiro post, pela actualidade do tema; por entender que a regionalização é inevitável e vai marcar profundamente (em que sentido?) o nosso futuro e o das novas gerações. Escolhi, ainda, este tema por me parecer que pela sua abrangência, com implicações fortemente económicas e jurídicas, faz do Incursões um óptimo campo para o debate.

Jean-Claude Brialy

d'oliveira, 01.06.07

Era um excelente actor, filmou com a nata da nouvelle vague, este filme, de resto é considerado o primeiro filme n.v. mas o que mais me interessa aqui dizer é que este homem tinha uma paixão descomedida pelo teatro, chegando mesmo a comprar um (les bouffes-parisiens) e a organizar um excelente festival (Anjou, primeiro e Ramatuelle, depois).
É natural, portanto, que a generalidade dos comentadores bem como dos amadores de teatro considerem esta morte - prevista - uma perda. E é.
O leitor MSP, cinéfilo impenitente e este que se assina sentem-se um pouco mais sós.

O leitor (im)penitente 16

d'oliveira, 01.06.07

As mulheres que lêem são perigosas?

Li algures que vai sair um livro com este título. E a propósito dele, algumas mulheres portuguesas resolveram tecer um comentário à frase sem o ponto de interrogação.
Desta vez, uma vez sem exemplo, venho discutir a bondade da afirmação. Melhor dizendo, venho pôr alguma água na fervura.
Eu que venho de uma família de mulheres leitoras, algumas perigosas (a minha Mãe, a tia Néné e a “Velha Senhora” que Deus guarde) tenho que a leitura em si mesma não é tão potencialmente perigosa. Já sei, já sei que por aqui disse, alguma vez, que a leitura era “um vício solitário”, coisa muito de espantar um cristão bem nascido e temente a Deus. Todavia, mesmo mantendo tão temerária afirmação, creio ter de chamar a atenção das entusiasmadas (e sinceras) senhoras que, no “Público” glosaram a frase que dá título a esta croniqueta para o facto de andar por aí muita literatura perigosa para muita mente bem disposta mas, digamos, preguiçosa. As livrarias estão cheias de coisas em forma de livro que podem ser lidas, digeridas e cagadas sem sequer se dar por isso. Hoje em dia, escrever um livro, pelo menos desses, é uma pequena corveia que se impõe a políticos em busca de eleitores (leiam o último mimo de Santana Lopes), de meninas e meninos da televisão, de actores de cinema, rádio e afins (por vezes com a ajuda de um jornalista), de cavalheiros ligados ao futebol ou de ex-amantes dos mesmos cavalheiros. À procura de algum cacau que cure o despeito. Só com isto já se enchiam três barraquinhas da feira do livro!
Depois há uma outra espécie de livros também “vocacionados” para o público feminino. Quem não conheceu Max du Veuzit, Delly, depois imitados e ultrapassados por Corin Tellado ou Barbara Cartland? E as colecções Madrepérola, Idílio, as Sabrinas e quejandos?
E a revista Maria que julgo, ainda circula?
Este abundantíssimo filão (milhares de títulos, dezenas de colecções) a preço módico educou gerações de mulheres. E de alguns homens. Quando estive tuberculoso (uma tuberculose que foi tomada por uma pneumonia e que como tal foi curada só se revelando trinta anos depois graças às cicatrizes...!!!) depois de ter esgotado a biblioteca do meu avô, li mais de cem romancinhos da Corin Tellado e da Trini Figueroa que eram, julgo, a leitura dominante da minha avó paterna (melhor: da segunda mulher do meu avô, minha avó apenas porque era uma excelente pessoa).
E quem não conhece igualmente as dúzias de revistas “do coração” que aí se espojam em qualquer quiosque, das Gente às Hola e por aí fora. Nestas nem sequer se usa o famoso álibi cultural da Playboy que disfarçava a gloriosa nudez das coelhinhas com peças literárias dos melhores autores. Nas revistas “rosa” a coisa vai a secas: A divorcia-se, B tem um amante, C apanhou na tromba do marido, D apanhou a mulher em flagrante delito, toma lá baile social e mais nada. Notem, leitorinhas, que estou a falar da imprensa “rosa” e não de um par de revistas femininas que me dizem ser de qualidade. Pergunta de uma leitora astuta: e V. como sabe o conteúdo das “rosas”? Resposta: rápida: basta ver as capas, juro que me fiquei por aí...
Aliás tenho uma vizinha que diariamente encontro enquanto tomo o café e leio o jornal, logo de manhã. Aquela santa alma está diariamente entregue à leitura da Hola ou similar que naquele dia saiu. Lê atenta, concentrada. E ao meio dia, de novo na mesma esplanada, lá está outra vez com outra (ou a mesma?) revista. Nunca a vi pegar num jornal, muito menos num livro. Ela lê diariamente as suas duas horitas e sempre do mesmo. Quantas vidas de princesa, actriz, atleta, famosa, ela não viverá?
Portanto, retomando, a perigosidade das mulheres que lêem, passando por alto que hoje em dia são mais as leitoras que os leitores, a leitura é, de facto, uma irremediável doença que atinge homens e mulheres do mesmo modo, com a mesma intensidade e com efeitos semelhantes. Claro que me virão dizer que só agora é que as mulheres globalmente consideradas lêem. É verdade mas também não me parece que os homens fossem grandes leitores alguma vez. Não creio que o século XIX, época em que se massificam os jornais e em que há, de facto, livros, e livreiros para os vender, tivesse assim tantos machos leitores. E, por outro lado, sabe-se pertinentemente que muitas mulheres (sempre uma minoria) liam. E discutiam. E mantinham “salões”. E havia mulheres que escreviam, chamassem-se Bronté, STael, Austen ou Sand. E algumas das mais admiráveis criações literárias desse século apesar de tudo luminoso, são mulheres, desde a Bovary até à Karenina.
Nem mais: tenho aqui em casa, restos da biblioteca da minha avó paterna, verdadeira, Dora Martins Heinzelmann. Pois lia Espronceda, Goethe, algum Balzac e as inglesas. E provavelmente outros que já não me chegaram à mão. E tinha, claro, o seu “salão” os seus amigos pintores e escultores, desde o Diogo de Macedo ao Soares dos Reis.
Perguntar-se-á, mas que tese vem este tipo vender? Nenhuma. Ou quase. Ou então esta: o perigo das mulheres leitoras não está na Marilyn a ler Joyce mas antes nas muitas mulheres que lêem as aventuras e as desditas da princesa Diana, coitadinha que merecia melhor sorte. É que neste último caso, esta leitura é apenas uma forma empobrecida de viver por procuração.

na gravura: la lectrice et son chaton de Amaro, surripiado num blog chamado "lalli"

No último "leitor..." dizia que não sabia se havia algum livro de Char traduzido. Há e está na "Relógio de Água" o "Furor e mistério". A ler impreterivelmente. Se não puder ser em francês que seja em português.

Postal do Sul

José Carlos Pereira, 01.06.07
Debruçado sobre a Ria Formosa, aqui estou hoje a enviar um postal do Sul. Uma viagem-relâmpago por afazeres profissionais trouxe-me até ao Algarve. Vou já amanhã, voando, para o Porto, não sem antes me ter aviado já com umas conquilhas, uns biqueirões, uma raia e uns irozes fritos. É que por aqui sempre se come bem. Contudo, nada que um passeio a pé pela Vila Adentro, em pleno coração de Faro (allô Kami!), não ajude a digerir.

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