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Incursões

Instância de Retemperação.

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Instância de Retemperação.

Au bonheur des Dames 86

d'oliveira, 30.09.07

Paris vale uma missa, oh se vale!

Pois é queridas paroquianas: estou desde sábado em Paris, cumprindo um velho ritual de muitos anos: começar o Outono em Paris. Alturas houve que tive de me contentar com o desejo, porque a missa é cara e caixa das esmolas fraquinha. Mas, sempre que posso, zás, para Paris e em força. A C.G. alinha a sem por cento e, para continuar a usar uma linguagem litúrgica, faz de sacristã.
Um amigo meu criticou-me uma vez esta mania. Ele acha que uma semana bastava e que eu devia dedicar-me a outros destinos. A Ásia, por exemplo. Eu ainda não consegui explicar-lhe que tal região me interessa pouco e que, por outro lado, tenho sempre muito que ver e fazer por aqui. Por exemplo, os museus. Garanto que ainda me resta um quarteirão deles para visitar. Hoje mesmo fui ao Marmotan ver duas dúzias de Monets entre outras bizarrias. O programa era simples: ver o museu, passear pelas imediações, almoçar num restaurante recomendado pelo “routard” e voltar para St Germain, onde temos o nosso bivaque, num hotelzinho, na rue du Dragon. E fazer os “bouquinistes” de parte da margem esquerda. À excepção do restaurante, cumprimos o programa e consegui por um terço do preço o “Inventaire Voltaire”.
E neste domingo glorioso, quente, alegrado por multidões de irlandeses que cantavam a plenos pulmões em tudo quanto era bar com televisão, para ver o jogo Irlanda Argentina. Apesar da cantoria gaélica os argentinos não se deixaram levar e ganharam. Com justiça, há que dizê-lo. Como ontem a Nova Zelândia despachou a Roménia. Vi grande parte do jogo (que jogo!) enquanto nos batíamos com umas “moules marinière” que poderiam estar melhor do que estiveram. Falo de rugby para quem não tiver percebido. Paris está todo virado para campeonato do mundo. E no Luxemburgo vi uns pequenitos munidos do competente “melão” a tentarem umas placagens. Faltava-lhes a baliza para converter ensaios mas no resto estavam ali para as curvas.
De resto pouco há que acrescentar: as férias são para isto mesmo, flanar até nos doerem os pés, ver alguma coisa de interessante, preguiçar, enfim o habitual.
E tentar ter ligação internet aqui mesmo no quarto. É uma internet caprichosa esta. Vai e vem sem se saber exactamente porquê. Vou tentar mandar este texto ornado por uma ilustração “trés tendance”: Paris está literalmente cheio de ciclistas que graças ao novo serviço público de fornecimento de bicicletas de aluguer pôs esta malta toda a pedalar. Amanhã vou ver se bemmbém me meto na aventura de ir de bicicleta até ao quai de Branly ver o novo museu de artes primitivas. Vamos lá a ver se a CG se entusiasma...

...

ex Kamikaze, 29.09.07
... e filosofia de rua

no separador das faixas de rodagem, na orla de Ipanema, em meditativa contemplação












defronte, no calçadão, uma tertúlia animada

Kamikaze













junto ao omnipresente

Kamikaze

vitaminas filosóficas

ex Kamikaze, 29.09.07
à venda nesta excelente livraria do Leblon-Rio de Janeiro, onde me levou a nossa amiga Sílvia.

kamikaze

Ando a tomar sobretudo das recomendadas em 2º lugar, pelo que ainda não é desta que volto a "kamikazear" aqui no blog, mas deixo o mote, na certeza de que o amigão MCR* desenvolverá o tema para gáudio e contento de todos :)


*MCR, sensibilizada por este post, mas eu avisara aqui que ia ao encontro da nossa garota de Ipanema...
(olhe que eu tive o cuidado de, antes de partir, renumerar mais uma vez os seus posts mas ai, seu grande maroto, já está tudo baralhado outra vez...)

Diário Político 65

mcr, 28.09.07

Poucas coisas são novas debaixo da roda do sol

Eu não sei se a nossa memória é curta porque não poderíamos viver com a notícia contínua e esmagadora das desgraças presentes e passadas ou se, pura e simplesmente, nos estamos nas tintas para o que se passa à nossa volta ou, à volta da nossa volta.
Digo isto porque dois dos assuntos que têm prendido a atenção dos cidadãos e dos jornais, ou vice-versa, são o Darfur e a Birmânia. Ora vejamos:
O problema do Darfur vem praticamente desde os inícios da descolonização do Sudão Anglo-egípcio. Se sob a férula conjunta dos ingleses e do Quediva o Sudão parecia amortecido e os antigos rebeldes do Mahdi domados, a verdade é que nunca fora resolvido o problema do sul cristão ou animista e negro em oposição ao norte muçulmano e profundamente arabizado. A independência não só trouxe qualquer solução para o problema étnico, religioso e político mas é até bastante provável que os tenha aumentado exponencialmente. Nos finais de sessenta já havia notícia duma Frente de Libertação do Darfur e sucediam-se os recontros cada vez mais sangrentos entre sulistas e nortistas. Esse problema portanto existiu desde que existe uma República do Sudão. A passagem dos anos e a islamização forçada e radical do país, imposta por Cartum só agravou a situação. O Sudão é um Estado em guerra civil larvar permanente. Nem sequer se pode dizer que agora morre mais gente de fome de doença ou de balas. A única diferença é a publicidade que se dá à situação. E o facto de os media se terem desenvolvido e democratizado ao ponto de qualquer deslocação de populações, qualquer conflito aberto ter hoje muito mais visibilidade.
Também é verdade que hoje em dia, a comunidade internacional e a opinião pública aceitam com muito maior facilidade a “ingerência” nos problemas internos de um país. E isso reflecte-se na súbita dimensão da tragédia do Darfur. Que já fora precedida por tragédias semelhantes no Chade ou na Republica Centro Africana. Com menores dimensões, sem dúvida, mas com causas conexas e actores não muito diferentes. Seria fácil dizer que se trata de problemas herdados da época colonial. Mas também são. Não vale a pena fingir que antes estava tudo bem e que agora está tudo mal “porque eles nem se sabem governar". Deixámos em quase toda a África uma herança pesada e um vírus temível: as fronteiras artificiais. Felizmente aquele pitoresco bispo moçambicano de que aí em baixo se fala não se lembrou disto. Ou achou conveniente não se lembrar. As estruturas políticas post-coloniais e a intangibilidade das fronteiras foram em seu tempo denunciadas por muito boa gente (e entre todos relembro René Dumont) logo que as independências começaram a cair em catadupa. E o mito teve tal força que só agora, depois da separação da ex-checoslováquia ou do desastre balcânico no território da antiga Jugoslávia, é que nos começamos a aperceber da complexidade da coisa. Tarde e com demasiados mortos.

A Birmânia, que até já deu um Secretario Geral à ONU, parecia ser um pais sossegado e sem história. Uma população maioritariamente budista e uma tradição de auto-governo estimulado pelos ingleses do vizinho Raj pareciam fazer antever um futuro sem grandes problemas. Todavia a realidade teve mais força e um punhado de generais apoderou-se do país. E apoderou-se porque alguém, por comissão ou omissão, os deixou à solta. Parece que não convinha uma Birmânia neutral. Isto da neutralidade naquela zona do globo era um descaramento sobretudo quando vigorava a ideia do “containment” do comunismo e estava viva e bem viva a recordação da guerra da Coreia e os desastres muito próximos do Vietnam.
Poucos se comoveram com o golpe militar. Menos ainda com a palhaçada semântica da mudança de nome do país. Ou com a transferência da capital. Rangun, para a generalagem, era demasiado cosmopolita e tinha demasiados (maus) hábitos democráticos.
Menos gente ainda se impressionou com a selvática repressão da minoria Karen, que ainda hoje alimenta focos de guerrilha nos confins birmaneses. O status quo dos militares não foi posto em causa durante muito tempo. Demasiado. Agora é o que se vê. Estão os generais mais agressivos? Estará a população mais revoltada? Ou estaremos, apenas e outra vez, a sofrer os efeitos da nova visibilidade que os recentes meios de comunicação propiciam?
Seja como for, ainda bem que alguém se lembrou de começar a olhar para este país e este povo à mercê dum bando de gangsters fardados e corruptos até à moela. A pergunta seguinte é esta: se, de facto a China defende os generais e por consequência ofende os birmaneses e a as nossas boas consciências, que medidas estaremos dispostos a tomar para fazer recuar a China e propiciar assim a queda da junta?
Vamos boicotar os jogos olímpicos, como em tempos não muito longínquos foi tentado por altura da olimpíada de Moscovo? Vamos impor sanções comerciais à China?
Porque “essa treta” de cortar investimentos na Birmânia é apenas uma cortina de fumo. Tirante o gás natural são escassos os capitais ocidentais por lá. E mesmo que de lá saíssem os nossos parcos investidores, isso pouco se reflectiria na (desgraçada) situação birmanesa. Eles já são pobres e provavelmente nunca viram um ceitil do dinheiro pago pelas empresas estrangeiras. Outro bolsos mais fundos e melhor armados terão apanhado os rendimentos. Provavelmente estes estarão até a dormir num banco suíço, do Liechtenstein ou dessas ilhas paradisíacas das Caraíbas menos conhecidas mas igualmente ricas.
E já agora, a mãozinha que armou os generais, deixa-se ficar ou oferece-se uma luva ao seu possuidor?

a ilustração: batalha entre tropas do Mahdi e ingleses (Abu Klea, 1895)

Estes dias que passam 78

d'oliveira, 28.09.07
O que eles dizem!

A gente tem de se de conformar: um diz alhos outra entende bugalhos. E não há volta a dar-lhe. A senhora dos bugalhos teimará pela vida fora que foi isso que o primeiro disse. E como, pelo menos nos círculos onde a segunda esbraceja, o primeiro é quase um desconhecido, eis que um alho se transforma em bugalho.
Refiro-me como está bom de ver à Sr.ª Dr.ª Esther Mucznik se é que estou a grafar-lhe correctamente o nome. Esta senhora, seguramente uma excelente alma, tem uma ideia fixa: que o mundo inteiro ameaça Israel. Que há uma conspiração universal contra os praticantes da fé judaica. Que quem quer que discorde de um simples parágrafo do que o governo israelita afirma é um nazi ou pelo menos alguém que não sabe que é um nazi mas, no fundo, bem lá no fundo, no refoulé, é um nazi. Ponto final, parágrafo. Eu que a leio sempre com intensa admiração e e me penitencio depois da má vontade que alguma vez terei tido contra Israel, fico sempre com a ideia de que a Drª Esther ainda pensa estar no ghetto de Varsóvia assaltado por todos os lados perante a passividade dos varsovianos e o silêncio do resto do mundo. Os primeiros pagaram bem cara a sua pouca solidariedade porquanto quando se revoltaram, tarde e a más horas, também se terão espantado com a passividade dos exércitos russos que não deram um passo (que provavelmente poderiam ter dado) para os ajudar. O restante mundo apanha com os artigos das inumeráveis Ester que querem emular a primeira, a salvadora do povo judeu, a sobrinha de Mardoqueu.
Mas entremos no tema: como sabem o presidente do Irão, o senhor Ahmadinejad, se não erro na grafia, foi de longada aos States. Uma cavilosa universidade profundamente anti-sionista, convidou-o para uma parlenga. O iraniano aceitou e foi o que se viu: o reitor da universidade apresentou-o dizendo dele e do Irão o que Mafoma não disse do chouriço (e do presunto! E do salpicão! e da morcela das Beiras! E de todos os produtos porcinos, incluindo as actuais alheiras que também já levam porco...): um festival. Ahmadinejad, aguentou estóico (vê-se que é um verdadeiro crente, um discípulo de Ali) e disse ao que vinha. O público regougava com o mesmo entusiasmo com que no Coliseu a plebe romana via os cristãos a ser comidos pelos leões. E quando alguém mencionou a perseguição aos homossexuais no antigo pais de Ciro e de Xerxes, o presidente iraniano afirmou com a candura dos mártires de Al Aksa que não havia disso no seu pais onde o mel corre paredes meias com o petróleo. A sala veio abaixo com as gargalhadas. Há, diz-se, pessoas internada nos cuidados intensivos devido à indigestão de riso que as acometeu. Em tudo o que é jornal, rádio e televisão, para não falar na internet, o pagode goza, à grande e à francesa, com descamisado presidente iraniano. Eu, agora, quando o vejo no ecrã tenho de me conter para não me mijar pernas abaixo. De riso, claro. A causa iraniana anda pelas ruas da amargura. O tonitruar anti-israelita (que já Esther a verdadeira contivera) perde seriedade se é que alguma vez teve alguma.
Só a drª Esther é que entendeu tudo ao contrário. Longe de agradecer à universidade americana este descalabro imenso do senhor Ahmadinejad, ela acha que mais uma vez a causa de Israel foi traída. Valerá a pena explicar-lhe alguma coisa? Ou será melhor deixá-la com os seus bugalhos e aproveitar os alhos desdenhados para num pingo de azeite saltear um belo molho de grelos que acompanharão, caso queiram, uma bela morcela da Beira?
Sempre nesta onda “febeapá” (quem não souber que leia Stanislau Ponte Preta que também dá por Sérgio Porto) cheguemo-nos ora, a um luminar da Igreja: o arcebispo de Maputo, Francisco Chimoio. Leio no imperdível blog “meubloconotas” do João Vasconcelos Costa que esta eminência entendeu afirmar que os europeus querem acabar com os africanos inoculando-lhes a sida através dos preservativos que eles, europeus, fabricam e vendem por aquelas bandas. E já agora, o prelado afirma também que os medicamentos anti retro-virais, produzidos e vendidos pelos mesmíssimos europeus, também propagam a SIDA.
As religiões são coisas muito sérias mas quando usadas em excesso produzem o chamado sono da razão. Este, à semelhança do da mosca tsé-tsé, povoa as mentalidades de monstros como alguma vez afirmou um tal Francisco de Goya y Lucientes. Não vou ao ponto de dizer que são o ópio do povo porque já alguém o disse antes. Um outro bispo, desta feita de Viseu, homem sábio, dizia que a religião devia ser como o sal na comida: pouco para dar sabor e não fazer mal. O problema é que pouco e bem não há quem.
Ora o senhor arcebispo de Maputo confunde um par de coisas, se é que não confunde tudo: a saber: se os europeus têm como clientes os africanos, e se estes, coitados, pagam a mistela que lhes vendem, porque raio é que se iria matar a galinha dos ovos de oiro? Então a rapaziada anda para aqui a explorar o pretinho e agora ia matá-lo? E a quem se haviam de vender os preservativos?
Mas suponhamos que um vento de loucura varria a Europa maldosa. Dado haver poucos judeus, e dado haver um iraniano disposto a fazer o frete de os liquidar, aceitemos que agora se teria de escolher outra “raça inferior” para prosseguir na via do finado Adolfo, o pintor da brocha larga. Acaso se iria logo liquidar os africanos que têm demonstrado ultimamente que são capazes de se auto-liquidarem sem ajuda nenhuma (veja-se o Uganda, o Darfur, a Serra Leoa, o Congo a Somália, e as restantes guerras (in)civis que percorrem o desventurado continente) deixando intactos os asiáticos que só pretendem a nossa desgraça, que vendem tudo mais barato e falsificam tudo desde os produtos Dior até aos galos de Barcelos? Não estaremos perante um senhor arcebispo garnizé a cantar de galo?
Claro que há sempre a possibilidade de o Senhor Deus dos Exércitos ter enlouquecido o seu Servo como também há exemplos múltiplos na literatura religiosa. Com que fins? Pois vingar os crentes islâmicos e fazer-nos rir dos cristãos. Ou mesmo, matar-nos à gargalhada. E então teríamos que, em vez de ser outra vez África mártir a ser sacrificada, seria a impante Europa a morrer com uma barrigada de riso. Não estaria mal visto. E os caminhos do Senhor nem sempre são perceptíveis...
Deixei para o fim o fait-divers: o dr. Santana Lopes, abandonou o plateau da televisão, dizem-me, que eu não vi, porque uma entrevista sua foi abruptamente cortada por uma parvoejada da redacção da SIC. Chegava a Lisboa o sr. Mourinho e só isso levava a SIC inteira a correr até à Portela para o ver. Convenhamos... Eu, claro, estou de acordo com a atitude viril e heróica de Santana. Isto não se faz! Um político sério, rigoroso, um modelo de virtudes governamentais (como se viu) municipais (idem, aspas) e parlamentares merece outro tratamento. O dr Santana Lopes, dizem-me, nem sequer agiu para defender a sua, dele, honra. Para isso há um passado sem televisões nem revistas do coração, sem frases bombásticas, sem violinos de Chopin, a falar por ele.
Claro que há-de aparecer sempre alguém a dizer que Santana conhece bem o meio, usou o meio até à exaustão, ganhou bom dinheiro nesse meio, com os meios desse meio, enfim, o habitual “por quem Deus nos manda avisar”.
Num breve momento, Santana Lopes, faz esquecer um governo Titanic, o seu, uma insuportável bazófia, a sua, e reaparece lavado a OMO quimicamente puro. O gesto merece reflexão, acaso elogio. A SIC meteu o mimoso pé na argola, para não dizer que meteu a pata na poça. Não é a primeira vez e não será a última. A sociedade do espectáculo fraquinho que temos não dá para mais. Ou melhor: dá para Santana sair vencedor e para um país babado se render, esquecido, ao novo herói do dia. Felizmente, Santana não é pessoa para deixar os créditos em mãos alheias, e com o tempo, fará esquecer a burrice supina da SIC. Espero-o pelo menos. E não me esqueço do desastre absoluto que ele foi. Era o que me faltava.
Já agora: quantas pessoas vão deixar de ver a SIC e os seus subprodutos?

a gravura: os únicos soldados de que se deve gostar. De chumbo e inofensivos.

expediente 9

d'oliveira, 27.09.07

Conheci a Marta, ainda pequena, pela mão amável do Anibal Belo, velho e querido companheiro dos tempos de Coimbra.
Pouco a pouco vi-a crescer até que num dia, ainda antes de se formar em Arquitectura, fomos surpreeendidos pela primeira exposição. Desenho segurissímo, claro e solto. E pouco a pouco, ano atrás de ano, a Marta foi mostrando o que fazia. Sempre bem, melhorando a cada dia, a mesma mão certeira, o mesmo olhar inocente sobre o mundo.
Desta vez, aproveitou umas pequenas férias e fez o que se vê.
Quem viva no Porto ou perto, passe pelo Ipanema Park que não perde tempo. Por isso e para ver se tenho um desconto nas peças que comprei aqui a trago ao convívio dos incursionistas (escrevinhadores e leitores).

O leitor (im)penitente 20

d'oliveira, 25.09.07

A concorrência aumenta...

Ainda não tinha secado a metafórica tinta do meu post abaixo e eis que alguém me comunica que se pode ler imensa coisa sobre André Gorz num blog chamado www.ograndezoo.blogspot com.
É verdade. Mais um colega recente a fazer-nos concorrência. E da boa. Vale a pena ler. O blogger parece que gosta de política e poesia. Grande novidade! Também eu!
E a propósito de poesia e de grande zoo aqui vai para homenagear o recem-chegado e o grande Nicolás Guillen:
Foram caçar guitarras
em noite de lua cheia.
e trouxeram esta,
pálida, fina, esbelta,
olhos de inesgotável mulata,
cintura de madeira aberta.
É jvem, mal voa.
Mas já canta
quando ouve noutras jaulas
entoar sons e cantigas.
tem na jaula esta inscrição:
"cuidado:sonha"



a gravura: Picasso: violino e guitarra. O poema chama-se "A guitarra" e foi publicado em "O Grande zoo", de Nicolás Guillen pela Editora Centelha (de Coimbra) em 1973. como diria o Eduardo Guerra Carneiro "isto anda tudo ligado" (outro livro a não perder).

O leitor (im)penitente 19

d'oliveira, 25.09.07

André Gorz
No glorioso ano de 75, ano de todos os perigos para a ideia de revolução, para a minha ideia de revolução, melhor dizendo, caiu-me na mão um livro de Gorz, o primeiro, aliás: "Reforma ou revolução". Uma revelação? Tanto também não mas um livro que me permitiu arrumar algumas coisas.
Dele apenas conhecia alguns artigos, publicados, suponho, em "les temps modernes" e este livro teve uma segura importância no meu percurso.
ao longo do tempo vli mais três ou quatro livros de Gorz. Recordo este "Adieu au Proletariat" e mais tarde "Les Chemins du Paradis". Haverá mais um ou dois nas estantes cá de casa mas estes três são os que me ficaram marcados.
A gente é assim: de simpatias. E de leituras num certo tempo, num tempo certo.
Agora leio que se suicidou. A notícia apanhou-me numa manhã leve e fresca, enquanto bebia um café e me dispunha a ler o jornal na habitual esplanada ainda quase deserta mas sempre com o perdigueiro maluco a correr pelo jardim. Por um momento, por um longo momento, senti-me muito mais velho e cansado. Não sei porque se matou e, de resto, isso agora já não é relevante. Mas não deixo de me sentir desanimado, triste e cansado.

O Metro do Porto na Asprela (continuação)

José Carlos Pereira, 25.09.07
aqui escrevi sobre a saga do metro do Porto na zona da Asprela. Agora, com uns dois anos de atraso, a empresa Metro do Porto decidiu finalmente arranjar o piso e as áreas de circulação da Rua Dr. António Bernardino de Almeida, arruamento que serve o IPO, a Escola Superior de Enfermagem e várias outras instituições de ensino, um hotel e um centro comercial e que ficou esventrado todo este tempo por acção das obras do metro. Parece que a seguir será a própria Alameda Dr. Hernâni Monteiro, defronte do Hospital de S. João, a ser recuperada, de modo a acabar com os túneis a céu aberto que de nada servem. Até aqui tudo bem, apesar do longo atraso registado.

Contudo, encerrada ao trânsito a Rua Dr. António Bernardino de Almeida, as “autoridades” decidiram desviar a circulação automóvel para poente, em direcção à Rua de S. Tomé. E é aqui que a porca torce o rabo. Precisamente no cruzamento da Estrada da Circunvalação com a Rua de S. Tomé, aconteceu há alguns meses um aluimento da via da direita na sequência de uma obra que aí decorria. Por essa razão, enquanto ninguém repara o aluimento o imenso tráfego é desviado para um local incapaz de escoar o volume de trânsito que para aí é debitado, provocando engarrafamentos tremendos em horas de ponta.

Quem gere o espaço público não viu isto? Quem é responsável por aquele aluimento e pela sua reparação? Quem deu ordem para começar uma obra sem acabar a anterior? Por estas e por outras tenho pena de não haver por aqui calhambeques ou avionetas. Assim, o Senhor Dr. Rui Rio sempre se esmerava em ter isto num brinquinho…

Mas…

O meu olhar, 25.09.07
Uma das características do discurso usual dos portugueses é conter, invariavelmente, um mas. Gosto disso mas não posso comer; gosto deste documento mas devia estar um pouco mais sintético; o professor até ensina bem mas…; aquele tipo é competente mas…

Depois temos as primas e vizinhas do mas: porem, todavia, contudo, não fora, se não fosse, no entanto, se, …

Não há o habito corrente de elogiar e quando, por milagre, alguém se lembra de fazer algum reconhecidamente positivo o mais certo é que seja estragado com um mas ou algo similar.

Criticar é tão fácil. Salta com muita facilidade. Normalmente a critica aos outros, claro, já que a autocrítica anda pelas ruas da amargura, apesar de ser das melhores ferramentas pessoais que conheço.

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