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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

Poder Regional - Caso prático

JSC, 31.07.08
O Governo Regional da Madeira publicou, hoje, no Jornal Oficial, a portaria que estabelece que os preços dos combustíveis na região ficam sujeitos ao regime de preços máximos de venda ao público.

Esta foi a forma encontrada por Alberto João para domar a colonialista GALP. Agora só falta saber quem vai pagar o diferencial entre o preço fixado pelo Governo local e o preço fixado pela Galp, no caso do custo ser superior ao preço máximo fixado pelo Governo local.

Alberto João deu um forte argumento aos opositores da regionalização, isto no dia em que o Presidente da República colocou o País em suspense por razões autonómicas.

A Aplicação da Justiça – Exercício Prático

JSC, 31.07.08
"Finalmente, à excepção do arguido Paulo J. , são pessoas malvistas, socialmente marginais, traiçoeiras, integralmente subsidio-dependentes de um Estado (ao nível do RSI, da habitação social e dos subsídios às extensas proles) e a quem 'pagam' desobedecendo e atentando contra a integridade física e moral dos seus agentes e obstaculizando às suas acções em prol da ordem, sossego e tranquilidade públicas".

A aprofundar aqui.

Estes dias que passam 120

d'oliveira, 29.07.08
Carta a Garcia?

Ex.ª Sr.ª Directora de Serviços

Em boa verdade eu deveria dirigir-me a alguém com título diferente porquanto ao que me é dado saber os directores de serviços são agora, por fas ou por nefas, directores de unidade. Todavia no aviso em que V.ª Ex.ª me comina a apresentar-me na repartição de finanças da minha área continua a mencionar-se debaixo do nome severo de V.ª E.ª a menção directora de serviços. Tanto faz, dirá alguma leitora mimosa, ou o perigoso mas cordialíssimo Luís Januário que, dos cafundós coimbrões onde alimenta um dos melhores blogs da nossa virtual esfera, fez o favor de me atribuir uma camioneta de leitoras. Antes fosse assim, antes fosse mas, por vezes, tenho a sensação de escrever para um pequeno e amável círculo, coisa que não me afecta mas que me faz pensar que não consigo atingir o tão almejado prémio Nobel por que suspiro. Não pela glória, queridas amigas, que essa viria tarde e nem todos estão para fazer os mesmos fretes do Saramago (que até se presta a ser nome de rua!), mas pelo cacauzinho que aquilo dá. Era uma velhice feliz a que me esperaria se o dito prémio do mister Dinamite me caísse no regaço...
Desculpará V.ª Ex.ª esta divagação mas por ela verá o aflitivo estado das minhas finanças que tantos engulhos causam ao organismo que V.ª Ex.ª superiormente dirige. De facto, não passo de um paisano, mais um!, aposentado. Só num país esdrúxulo, como infelizmente é o caso, poderei ser classificado na classe média alta. E tratado, consequentemente, como um provável evasor fiscal!
De facto, parece que a minha declaração de IRS contem um tenebroso truque. Mencionam-se lá cerca de 500€ aplicados em “PRP”. Foi o meu banco quem me convenceu a tão admirável poupança, foi a empresa de contabilidade, a quem entrego esse martírio que é a declaração de impostos, quem o mencionou no quadradinho competente. Parece que os aposentados não podem ter benefícios fiscais desse género de aplicações! É pelo menos o que consta num minúsculo nº 10 de um artigo de que desconheço pai ou mãe. Houve uma altura em que isso era permitido mas o estado miserável das finanças do Estado já não permite tal dedução.
Portanto, e voltando à vaca fria, eis que me dirigi ontem ao meu bairro fiscal. Surpresa: o bairro já lá não estava. Anunciava-se em grandes letras azuis que se alojaria hoje noutro prédio. Entretanto, os cidadãos cumpridores ou aflitos, poderiam ir levar as suas amarguras, os seus medos, as suas eventuais falcatruas a um bairro fiscal próximo. Foi o que fiz.
Surpresa! Também esse bairro se estava a alindar. Todavia, condoído da sorte dos pagantes, informava que recebia as vítimas, digo, os cidadãos, num acanhado primeiro andar. Uma centena de presumíveis relapsos amontoava-se escada acima, no corredor e nas exíguas divisões onde um par de funcionários esgotados tentavam: a) respirar, b) ouvir o que se lhes dizia, c) resolver o irresolúvel.
Perante este quadro revelador da situação actual do Estado, achei melhor deixar para hoje a discussão do meu caso. Ainda por cima, em casa nova, a coisa deveria poder resolver-se depressa e bem, sem atropelos.
Em má hora o decidi e em má hora o fiz. A nova casa situava-se numa zona que nada tem a ver com as duas freguesias que constituem o meu bairro. Mas havia estacionamento, pago, mas estacionamento. Puxei duma moeda de 1 euro para honradamente pagar o lugar. A máquina não aceitou. Verificando melhor a máquina só aceita moedas de 50 cêntimos ou inferiores! Ou seja a máquina é uma optimista (como a minha amiga Guilhermina!) que julga que uma dúvida fiscal se resolve no tempo de estacionamento correspondente a 50 cêntimos.
Tive de ir tomar um café para obter uma moedinha. A ideia até nem foi má porquanto muni-me do jornal. Já trazia dois suplementos literários (do El País e do ABC) mas à cautela achei que um suplemento de leitura não me faria mal.
Entrei nas novas e faustosas instalações. Uma zona de atendimento para dez pessoas ao mesmo tempo, ecrã avisador do nosso número (apagado) e dois funcionários a atender. Cadê os outros oito? A verdade é que os computadores ainda estavam a ser instalados pelo que aquilo funcionava não a meia velocidade mas a um quinto. O público, algumas vinte pessoas (às 9:15 da manhã mirava os que chegavam com o ar abatido de quem além de perder a manhã poderá perder muito mais.
Ao fim de meia hora e meio jornal lido até ao sabugo, verificando que a fila não andava nem para trás nem para a frente, comecei a protestar e exigi o livro amarelo das reclamações. É que ninguém explicava aos cristãos ali reunidos, na altura já seriam uns cinquenta, o que se passava como é que se processava o atendimento (havia seis ou sete tipos de senhas, ao que julgo).
Lá apareceu o negregado livro transportado por alguém que depois percebi ser o director da chafarica. O homem desculpava-se: os TLP deveriam ter começado a dar sinal para os computadores ás 9:00 de segunda mas só o tinham feito às 2 da madrugada de hoje. Ele e quase todos os funcionários tinham estado ali todo aquele tempo. Estavam esgotados, irritados, o quadro não estava completo, havia gente em férias e ainda nem sequer tinham rebido uma qualquer formação para usar mais alguns maquinismos perversos próprios para nos limpar o sebo e a massa duramente ganha.
Retorqui-lhe que aos funcionários ninguém pede milagres, muito menos horas e horas extra sem pagamento mas tão só alguma criatuvidade. Faltam computadores? Que se criasse um pequeno serviço de rastreio dos problemas de modo a poder despachar quem fosse por lana caprina deixando os casos mais sérios para os computadores que pouco a pouco se iriam pondo em marcha. O homem olhou-me e disse que já tinha uma pessoa a distribuir senhas porque a máquina das mesmas ainda nem funcionava. Para ele esse o máximo que se poderia fazer. Uma pessoa cansada e com sono não raciocina. Expliquei-lhe ao que ia. E acrescentei que de certeza me bastaria exibir os documentos para me poder pôr a mexer dali para fora sem incorrer nas iras e nos vexames anunciados no papelucho registado e com aviso de recepção que me tinham enviado. Foi aí que se fez luz. O chefe do bairro olhou para o meu dossier foi lá dentro e voltou pesaroso a dizer que sendo eu reformado não poderia pedir deduções por um PRP. E que voltasse depois de férias que daí não viria mal ao mundo.
Estou convicto que 90% dos preopinantes que ali estavam (e nesta altura eram já quase 100!) estaria nas minhas condições. Merdices sem importância a que o fisco se dedica com zelo enquanto deixa fugir o peixe graúdo. Só que não havia quem lhes dissesse o mesmo. Também não houvera quem protestasse até eu achar que o que é demais é demais.
Vejamos, todavia, este ponto dos PRP. O virtuoso Governo da Nação passa a vida a avisar os súbditos (porque é assim que somos tratados: como súbditos inconscientes e marotos) que convém poupar, gastar apenas o que se tem, preparar o futuro, pensar numa reforma formada de várias parcelas, sendo que entre elas sempre avultaram os PRP. Porque é que um cidadão reformado, com esperança de vida de mais um largo par de anos não pode poupar para mais tarde? Digamos para daqui a cinco ou dez anos, por exemplo. Assim pouparia ao Estado esse famoso complemento da treta com que o Senhor Primeiro Ministro e os seus acólitos na imprensa obediente enchem a boca. A dedução é risível e não afoga nem afunda o Estado. E diminui a massa monetária em circulação. E eventualmente diminui a inflação.
O Estado acha que não. Está no seu direito, desta vez um pouco torto. No caso em apreço, os serviços do IRS poderiam ter escrito uma cartinha a dizer mais ou menos isto: V. quer deduzir um prp. Está reformado e por isso não pode. Vamos considerar nula tal dedução e v pagara o IRS como se a dedução não existisse. Em caso de desacordo tem “x” dias para vir cá discutir. Não vindo considera-se que concorda.
Simples? Simplex? Mas quem disse que o Simplex (raio de nome!) era para nos facilitar a vida? E que uma coisa destas evitaria gente ansiosa, amedrontada (O fisco é como Fafe: com ele ninguém fanfa!), carregada de papeis, amontoada numa repartição que obviamente ainda os não poderia receber, horas a fio à espera que os chamem, numa confusão de gritos, suspiros, discussões e o que mais se verá.
Já agora: as Finanças não terão quem planeie a instalação de serviços em época baixa de modo a evitar as cenas caricatas e aberrantes que vi, e que provavelmente se repetirão por mais uns dias.
E não haverá quem diga aos desgraçados (e mal afamados) funcionários que dão ali o litro extra que os problemas estruturais não se resolvem com truques conjunturais, como esse de estar até às tantas da manhã a tentar resolver o que uma empresa privada e monopolista não foi capaz de resolver?
E os patetas dos comentadores, dos governos, da deputadagem e assimilados não são capazes de perceber que para fazer omeletas é preciso ovos, ou seja, não é enviando funcionários para a mobilidade especial, reduzindo os quadros, recorrendo a trabalho precário que se anda para a frente e se serve quem afinal tudo paga, isto é o povo, nós todos?
Ouvi algures que neste 1º semestre o Estado pagou por trabalho externo ou algo parecido quarenta milhões tendo poupado em salários de trabalhadores da FP (por saída ou mobilidade) dezoito milhões. Bom negocio!
Senhora directora de não sei quê: passe V.ª Ex.ª muito bem. E o mesmo desejo ao seu ministro, ao chefe dele e a quem mais quiser.

Diário Político 90

mcr, 28.07.08

Também queria ser
minoria étnica...


Não! De facto, não queria. Mesmo que só pagasse cinco euros pela casa, ou nem pagasse e ficasse a dever. A Câmara Municipal, a senhoria, é rica. Gastam dinheiro em coisas bem menos úteis, e cinco euros são cinco euros. Sempre dão para a entrada de uma televisão a plasma, ou de uma play-station para os miúdos. Já viu o que é ser um miúdo de minoria ética e ver na televisão os outros, todos os outros, com play-stations? Então as play-stations são só para os ricos? Para os ricos e para os brancos?
Deixemos isso, que é coisa de menos. Um gajo não é minoria étnica porque quer. É porque sim. Porque é preto. Porque é castanho, em país de azuis. Ou árabe em país de judeus. Ou judeu em país anti-semita. Ou cigano, em quase toda a parte.
E quando se é minoria étnica, normalmente não se tem grande futuro no mercado do trabalho. Há sempre alguém com menos estudos, menos capacidades, menos inteligência que, ao ver-se preterido, dirá que os da minoria étnica são como os emigrantes. Andam a roubar o trabalho dos indígenas! Bem, indígenas, não. Indígena é preto. Ou índio. Ou malaio. Ou outra coisa qualquer, maori, tasmaniano (tasmaniano não porque já desapareceram todos. Parece que os exterminaram como exterminaram os dodots, uns passarocos que não sabiam voar. Um pássaro que não sabe voar e que é grande e gordo acaba sempre na panela de uma qualquer verdadeira, ou falsa, maioria étnica...).
Há uns anos, bastantes, passou por aí um filme chamado “Feios, porcos e maus”. Mostrava como estas três qualidades (se é que são qualidades) se dão melhor em meios pobres, excluídos, marginais. Como a tal Quinta de não sei quê, em Loures.
A propósito da dita Quinta correm rios de tinta. E chovem ainda tiros a esmo. Sempre os mesmos mas tiros de qualquer modo. Já agora, por onde é que andam os rapazes que pensavam que eram o bando de Al Capone no dia de S. Valentim?
Não é por nada, mas apesar de não viver na tal Quinta, não gostaria de me ver metido num tiroteio do mesmo género, um destes dias. Quem anda aos tiros pode acertar em alguém. Se os polícias não podem andar aos tiros quer-me parecer que os paisanos também não. Daí achar que, mesmo no caso de tudo aquilo não ser mais do que o resultado de umas cabecinhas quentes, conviria retirar-lhes as armas, e o calor, recolhendo-os em sítio onde não corram o risco de acertar num quiddam e envolver-se numa série de aborrecimentos que podem mesmo levar à cadeia...
Mas voltemos ao princípio. A televisão mostra umas maquinetas aos miúdos. E eles querem-nas. É natural. A televisão, ou outro meio, mostra casas, piscinas, montes alentejanos, restaurantes de luxo, hotéis em Zermatt, lugar na primeira fila no concerto de ano novo em Viena ou no festival de Salzburg e há cavalheiros que já não são crianças, sequer adolescentes e querem essas pequenas comodidades. Também querem dinheiro no banco, consideração social, prestígio e não sei que mais.
Ao contrario das crianças do bairro problemático, não têm pais que possam ficar a dever cinco euros à Câmara Municipal. Têm de ser eles mesmos a tratar de arranjar essas pequenas coisas que, como o caviar, preenchem a vida, de uma pessoa de bem. E que são caras. Demasiadamente caras...
Como no caso da Quinta de não sei quê, recorrem a meios pouco ortodoxos, ou francamente heterodoxos, para satisfazer os seus humanais apetites. Há mesmo quem lhes chame “corrupção”, feio nome para uma coisa tão simples quanto o realizar um sonho.
E os sonhos, sejam eles de ciganos, pretos, juízes, deputados banqueiros ou crianças são todos feitos da mesma matéria. Em alguma coisa havíamos de ser iguais, que raio!


Algum leitor dirá que isto não tem pés nem cabeça, que isto é um texto descosido e que não se percebe onde é que o autor quis chegar. Tem toda a razão. Todavia correndo o risco de me repetir, repetindo uma frase imortal do meu Mestre, o Cavaleiro de Oliveira, sempre direi: É preciso dar força à Razão para que o acaso não governe as nossas vidas.

Talvez valesse a pena usar essa máxima nos comentários sobre a Quinta não sei quê, em Loures. E pensar que há ciganos bons e ciganos maus, câmaras virtuosas e outras nem por isso, que ser minoria não justifica tudo, não desculpa tudo nem permite que se diga tudo contra ela.
E, já que se está com a mão na massa, avaliar se a armazenagem de excluídos, emigrantes pobres e marginais em bairros específicos é sempre má, ou só às vezes.

Estes dias que passam 119

d'oliveira, 28.07.08

O ex-deputado (e ex-ministro) João Cravinho apresentou há uns tempos uma expressiva proposta de legislação contra a corrupção. O resultado é conhecido. João Cravinho foi indicado pelo governo para um lugar de direcção num Banco internacional (o BERD) e as suas propostas foram sendo paulatinamente esquecidas, desvirtuadas, ignoradas e deitadas para o caixote do lixo.
A recente aprovação (com os únicos votos do PS) de uma comissão ridícula e inútil (e dependente) conseguiu juntar o país numa gargalhada tristonha se é que me entendem. Com isso as pessoas diziam ao PS que não levavam a sério o seu afã legiferante sobre corrupção e que isso era apenas a verificação da exígua vontade do partido no governo de combater a corrupção.
Interrogado pela televisão, o engenheiro Cravinho disse o mesmo ainda que em termos relativamente suaves.
O dr Alberto Martins, deputado também, ex-militante de um partido a que Cravinho também pertenceu, conotado antigamente com o “sampaísmo” de que Cravinho é assumidamente uma das principais figuras, veio dizer no seu estilo pomposo que “o PS não recebe do eng. Cravinho lições sobre combate á corrupção”. Curiosamente, desta vez não acusou Cravinho de “tremendismo” palavra de que Martins particularmente gosta ainda que se duvide que ele saiba o que ela, de facto quer dizer (dá-se-lhe uma pista? Pois não! Literatura espanhola do post-guerra...). Seria um progresso no discurso fatigado de Martins se, ao verificar melhor, não víssemos que ele tem razão.
O PS não recebe lições de combate à corrupção de ninguém. Nem disso nem de coisa alguma. Nem de combate, acrescente-se. Melhor dizendo, o PS não combate a corrupção. Se calhar é porque acha que ela não existe. Ou que existe em quantidade negligenciável e daí a comissão que propôs.
O público, nós, é que está enganado. Aquilo a que prosaicamente chamamos corrupção não o é. É bom governo, boa gestão dos negócios públicos e privados, água limpa da fonte ou nem isso: água destilada!
Martins, com esta expressão arrisca-se a passar por pateta ou por patético. Ou até pelas duas coisas ao mesmo tempo. É que pode ocorrer que amanhã, o eng. Sócrates diga que Cravinho é um vulto incontornável na democracia e no socialismo português (se já o disse de Alegre porque não o há-de dizer de Cravinho?) ou outra banalidade idêntica e lá temos Martins a fazer o pino.
Mas há mais: a época eleitoral aproxima-se e começa a ser urgente apresentar cara lavada aos eleitores. Mal ou bem, estes têm Cravinho na conta de homem sério, que sabe do que fala, mesmo que, do meu particular ponto de vista, devesse ter recusado o exílio dourado para onde o despacharam (como Ferro aliás, diga-se de passagem).
Ao aceitarem cargos no exterior estes cavalheiros deixaram que sobre eles planasse uma dúvida. E na dúvida, dizia um velho mestre de bridge, paus por baixo. Ou seja: não se aceitam as prebendas que nos dão a título de consolação. Vem na “Eneida”(II, 49) a grande frase de Laoconte: timeo Danaos et dona ferentes. Com isso queria dizer que se arreceava dos gregos mesmo quando estes davam presentes. No caso, o presente era um cavalo enorme de madeira. O resto da história é conhecido. Tróia foi destruída e Ulisses reconhecido como o mais ardiloso dos heróis.
Deixemos, porém, os nossos clássicos, e voltemos ás nossas encomendas. Corre insistentemente, na nossa sociedade, o rumor de que há uma farta quantidade de políticos nacionais, regionais e locais corruptos até ao tutano. De vários apontam-se fortunas escandalosas, enriquecimentos súbitos, divórcios milionários (alguém teria dado à ex-mulher, meio milhão de contos, ou seja dois milhões e meio de euros, para a senhora se aquietar e permitir ao ex-chefe de família um futuro radioso com uma qualquer secretária ou similar com vinte anos a menos e paciência para os achaques da velhice que aliás podem ser suprimidos com a famosa cantárida azul da pfizer), vidas de estadão e o que mais se verá. Mais dia menos dia, estas historietas atingirão os media, quiçá alguma autoridade mais distraída e as ligações perigosas surgirão resplendentes à luz baça do dia.
Um político inteligente, e era isso que se deveria esperar de Martins, teria criticado Cravinho sem aquele arroubo definitivo e ultramontano. Convém ao PS, conviria a Martins, ser mais humilde, que o forno não está para bolos, como dizem os nossos vizinhos espanhóis. E mais elegante, se é que isso se pode exigir ao partido e ao seu coordenador parlamentar. É que a elegância não paga imposto mas dá dividendos. Ao contrario da verborreia e da desqualificação gratuita...

*a gravura foi roubada do blog macroscópio que parece de boa leitura. Obrigadinhos...

missanga a pataco 58

d'oliveira, 24.07.08

As leitoras (e os raros leitores, também) sabem que não gosto de falar de Direito. À uma porque nem sempre o Direito que por aí se usa o é. Depois porque há neste blog gente muito mais preparada para o efeito (Kamikaze, Simas Santos) e muito mais capaz do que eu. E finalmente porque não creio que os problemas que afligem a pátria madrasta se resolvam a golpe de lei, decreto, regulamento & assimilados. Temos leis a mais, confusas e mal feitas algumas, ministros da Justiça que ainda sabem menos do que eu, deputados “peritos” em leis que metem os pés pelas mãos e são culpados de algumas aberrações recentes, para não falar nos muitos profissionais do Direito que “vêem o argueiro no olho do vizinho mas esquecem a tranca no próprio” (se é assim o brocardo...). A Justiça está doente, é provável. Mas são tantos os médicos à sua cabeceira que duvido que ela escape ao arraial de mezinhas que se propõem.
Vem tudo isto a propósito do recurso que umas senhoras procuradoras apresentaram no caso apito dourado. Um juiz entendeu que a senhora Carolina Salgado mentira quanto a um telefonema de que se dizia testemunha. E mandou extrair certidões. E ilibou o senhor Pinto da Costa. Segundo os autos a senhora Carolina estava em Gaia na altura do alegado telefonema feito por Pinto da Costa no Porto. Ora a Sr.ª Procuradora entende que das duas, uma: ou PC contou o telefonema à testemunha Carolina, ou esta conseguiu vir de Gaia ao centro do Porto num ápice ouvindo assim o telefonema. Eu tenho o maior respeito pela Sr.ª Procuradora mas permito-me lembrar que vir de Gaia num pulinho até ao centro do Porto (e resta ainda determinar que centro) é milagre de Fátima desses de tornar Carolina beata ainda mais depressa que Santo António de Lisboa (ou Pádua para as leitoras italianas, se é que as há). Depois, acreditar que Pinto da Costa, galo velho, e com esporões, contaria à amásia os seus telefonemas é forçar uma história. Nos autos, que saiba, nunca Carolina, perdão a senhora Carolina, afirmou que o telefonema lhe fora contado. Ao que se sabe, ela disse que o ouvira em primeira mão ou primeira orelha. Ou seja, a senhora Carolina nunca disse que lhe tinham contado aquela treta.
Mas há esta obsessão por Pinto da Costa a mendigar favores arbitrais depois de ter um campeonato no papo. É caso para se dizer que o diabo do homem pode ser pinto mas é burro. Então, mesmo sem precisar de favores, vai arejar uns tostões só por amor à arte? Para que precisava ele de comprar um árbitro, num jogo que não só já era a feijões mas que sobretudo parecia fácil para o FCP? A Senhora Procuradora terá pensado nisto, na lógica disto, no estranho que é acreditar piamente (na beata Carolina) numa criatura que anda à porra e à maça com Pinto da Costa, e não acreditar no homem, na evidência futebolística e geográfica?
A justiça, desculparão as Senhoras Procuradoras (e aqui o plural vai por via da Drª Maria José Morgado que terá conseguido "descodificar" o telefonema sempre com a ajuda inestimável da Senhora Carolina) não terá mais em que se entreter? Não conviria andar para a frente, por exemplo: investigar outros telefonemas de outros dirigentes para outras personalidades a pedir um árbitrozinho? Ao que parece não faltam casos. E confessados publicamente alto e bom som pelos seus (ir)responsáveis. Será que por não serem do Porto os autores, a corrupção já não é crime? Eu, por mim, estou por tudo desde que as excelentíssimas autoridades assim mo cominem.
Um amigo meu sugeriu-me que pôr em causa a palavra da senhora Carolina é prova de exacerbado machismo. Retorqui se não seria feminismo aceitá-la apesar das incongruências. O meu amigo, sábio e matreiro, mandou-me ler Simone de Beauvoir e declarou que no actual momento histórico o politicamente correcto é aceitar como bom tudo o que for contra o FCP e como mau tudo o que prejudicar outro qualquer clube português.
Sendo um navalista (da Associação Naval 1º de Maio) antigo e exclusivo e detestando por igual os chamados três grandes (enfim o grande e os dois crescidinhos) perguntei se não se poderia mandar o clube da minha terra para a Champions em vez destes já que, assim como assim, tanto vale estar a vinte e tal pontos do primeiro como a trinta ou quarenta. O meu amigo, portista dos quatro costados ameaçou: se persistes nesse mau caminho peço ao Santana Lopes para voltar para a Figueira.
Perante esta ameaça definitiva e crudelíssima, retiro tudo o que se disse acima, entregando-me de baraço no pescoço à piedade indesmentida das Senhoras Procuradoras a quem desde já beijo a fímbria do vestido ou das calças consoante apareçam vestidas. E arrenego do juiz que pôs em causa as declarações da senhora Carolina. Para trás, Satanás!

Vai esta para o meu querido camarada JCP, portista fervoroso, que anda arredado destas lides. Ó homem apareça e diga coisas. Olhe, explique este imbroglio às leitorinhas, V que sabe tudo destes futebóis. Um abraço

ENXOTAR CIGANOS

JSC, 23.07.08
PSP ... enxota ciganos…” É assim que o JN titula a saga dos ciganos de Loures. Esta simples e inocente frase fez-me lembrar que em pequeno, 7 ou 8 anos, a minha Avó ordenava: “vai enxotar as ovelhas que estão a comer as vides, corre!”. E eu lá ia enxotar o gado para outro lado.

Se os ciganos tivessem um príncipe real poderiam deitar mão do instituto da Aposentadoria Real e enxotar os escribas dos seus aposentos, para neles se instalarem, até virem melhores dias.

Como não têm um príncipe real nem santo que os proteja, têm que se valer de outros expedientes para encarar a vida, que os enxota de um lado para o outro, sem fim que se veja, apesar de todos os programas de reinserção, que nem matam a fome nem estimulam a trabalhar.

Por isso, de modo deliberado ou não, a palavra choque da notícia é a que deveria ser. Na verdade, a política de integração tem passado por enxotar a gente portuguesa cigana de um lado para o outro, sem glória, diga-se, para nenhuma das partes.

Missanga a pataco 57

d'oliveira, 22.07.08
A ignorância atrevida

Acabo de ver um episódio do CSI. Dá-me para as fitas policiais sobretudo quando estou irritado. E hoje estava mas explico depois. De todo o modo o CSI distrai e faz menos mossa do que as mesas redondas da televisão. E muito menos do que os programas de análise desportiva onde se vêm uns tipos muito enfatuados a “cagar sentenças”c sobre futebol. É demais: eles ainda por cima são regiamente pagos para irem dizer umas burrices supinas que disfarçam mal os apetites e lógicas clubistas. É uma gente que não discute. Diz umas coisas a abater mas se repararem depois do paleio de chacha o que fica é o clubezeco a que votaram uma fidelidade canina e sem limites.
Deixemos isso e vamos ao que interessa. Estas séries estrangeiras que são o pão nosso de cada dia são traduzidas com os pés. Com os pés? Com as patas! Anda para aí um bando de tradutores, uma máfia calabresa que não sabe português, não sabe outras línguas e que também tem uma cultura geral digna do actual programa do ensino secundário, a menina dos olhos da senhora ministra (desculpem mas de repente falha-me o nome da criatura).
Hoje um criminoso em série despachava criaturas nova-iorquinas com um versículo do Levítico gravado. Tomava-se por Caronte, o barqueiro. A querida televisão ou quem paga ao tradutor deve desconhecer que não existe em português nenhum Charon em língua portuguesa. A menos que o actual ministro da Cultura (impagável! Inenarrável!) tenha inventado um novo dicionário para suprir a falta dos que ele inocentemente desconhece. Charon en ingliche é Caronte em portuga. Até novas ordens!
Poderia desfiar um rosário de bojardas ouvidas as mais das vezes nos canais temáticos. Mas não vos quero maçar e maçado já estou eu.
Há dias falei aqui numa “venda de livros” que terão sido de um intelectual decente e digno que quis deixar a sua biblioteca a Famalicão. Uma ex-mulher dele deve ter pensado que isso era um desperdício. Vai daí organizou uma venda. Havia gente, ingénua, que pensava que a freguesia escassearia por saberem das vontades últimas do referido intelectual. Parece que não aconteceu a dita escassez. Um bando de urubus leitores (ou nem sequer isso) precipitou-se sobre os livros em saldo e foi um vê que te avias.
Que lhes faça bom proveito. Á barriga, claro, porque cabeças indiferentes não fazem cidadãos cultos.

2 notícias boas de hoje: no país basco caiu o comando "vizcaia" e o sérvio croata Karadzik foi apanhado. Ainda faltam alguns terroristas espanhóis e alguns criminosos de guerra croatas, sérvios ou bósnios. Mas a coisa vai...

Estes dias que passam 118

d'oliveira, 22.07.08

The importance of being E Pinto


As leitoras que ainda me aturam hão-de ter reparado que eu nem sempre sigo a actualidade. Deixo essa tarefa aos jornais. E aos bloggers que se investiram na missão de comentadores do imediato. Diga-se que nada tenho contra esses colegas sempre na crista da onda. Aliás até os invejo. Eu, que sou um preguiçoso, dos quatro costados, é que não tenho pedalada para isso.
Só assim se explica que hoje, logo hoje, venha falar (com pinças!) no dr. Marinho e Pinto, bastonário da Ordem dos advogados. Da minha ordem, infelizmente. E digo infelizmente porque não me parece que, apesar de todos os nossos pecados (reparem que apesar de não exercer há já muitos anos não tiro o cavalo da chuva) não merecíamos uma criatura tão vociferante, tão tonitruante, tão esbracejante.
O dr Marinho de facto parece um moinho de orações tibetano. Está em todas, sempre a abrir, não deixa pedra sobre pedra. Arreia forte e feio em tudo o que mexe, seja juiz (e deus sabe que há alguns que precisam de quem lhes cante missa e sermão) procurador, advogado, estagiário ou de um grande escritório e, eventualmente, os funcionários judiciais.
O dr Marinho ou sofre de dispepsia ou está zangado. Zangado? Zangadíssimo! Ou, então é a dispepsia, doença maligna que tem vítimas ilustres mesmo entre licenciados em Direito, Eça, por exemplo. O distinto escritor que sofria de algo infelizmente bem pior, queixava-se constantemente da dispepsia. Mas no fundo não acreditava nela. Por isso, quando criticava – e que certeiro era – não procedia como o dr E Pinto. A opinião pública apoiava-lhe as filípicas e as vítimas mortificavam-se amarfanhadas pela ironia do autor d “Os Maias”.
Os alvos do dr Marinho não só não se impressionam com a desfocada verve do bastonário mas até já terão fundado um club aristocrático onde só entra quem mostrar patte blanche: um ataque do dr Marinho. Sem isso, nada feito. Eu, que estou retirado das lides tenho de recorrer a este texto numa tentativa de atrair o dr Marinho para me criticar a barriga, o humor melancólico, a competência profissional, ou o meu imoderado gosto por Rossini (ou tudo junto) a fim de com uma zagunchada do dr E Pinto poder bater à porta do club a pedir a inscrição sem receio de bolas pretas.
Todavia não sei bem como agir: é que eu nada tenho contra o dr E Pinto. Nada! Não o conheço, nunca o vi sem ser em baças fotografias de jornais (que provavelmente não lhe fazem justiça...) e dele só sei o que vejo escrito por ele. E isso, essas catilinárias de faca e alguidar, essa permanente novela avinagrada, pouco me diz. Ou diz-me apenas que o dr Marinho parecendo ter uma alta opinião de si próprio, deve de facto ter uma baixíssima auto-estima. Ele agita-se porque não lhe ligam, porque não lhe reconhecem qualidade (ou a qualidade que ele tem ou julga ter), porque o acham uma mera figura na paisagem, uma espécie de telonero (telonero é em Espanha o artista local que está encarregado de fazer um par de facécias enquanto o artista propriamente dito não chega), um verbo de encher.
Há quem diga, já mo juraram, que o dr Marinho não existe. Assim, sem mais nem menos. É apenas uma invenção malvada dum par de ex-bastonários que zangados com a classe, resolveram inventar uma criatura feita de retalhos de uma larga cópia de personalidades para aterrorizar os adversários e voltar ao poder como salvadores da classe e da profissão.
A coisa tem alguma lógica mas, apesar disso, eu creio que o dr E Pinto existe. A teoria frankensteiniana é uma invenção doentia da pobre da Mary Shelley (que, além de filha de uma feminista, era vegetariana e sofria com as leviandades do marido poeta e mulherengo) e apesar da fortuna que o mito tem tido, não merece grande crédito. O dr Marinho é, pelo contrario, muito concreto, visceral, genuíno como as iscas de fígado ou a jeropiga. Numa palavra gasta depois de Miguel Torga: é telúrico. Existe para nos lembrar de que neste recanto de terra sáfara entre um mar agressivo e uma montanha inclemente e rude a vida é rude. Como o pilriteiro dá pilritos, o dr Marinho dá sentenças. É o azorrague dos infiéis e dos maldosos. Veio para salvar se não o mundo pelo menos a classe dos advogados em vias de extinção. Ou pelo menos, será isso que ele pensa.
Durante algum tempo, pensei que ele apenas queria sair na fotografia. É humano. Um advogado de província tem poucas hipóteses de aparecer na Caras ou na Lux, para já não falar no Diário de Notícias ou no Expresso. A menos que seja um desses leões da Metro, um “barrista” famoso, um desses milagreiros do direito penal, que arrancam criminosos empedernidos das garras da vindicta policial. Não duvidando das incomparáveis capacidades profissionais do dr E Pinto tenho por mim que ele não teve nesse campo a merecida atenção dos media. E portanto, o meio (notaram esta? Media e meio, hem?... é para que saibam!) azado para o reconhecimento público terá sido esta cruzada que, apoiada na dignidade de bastonário dos advogados, promete levar à casa da justiça o ferro e o fogo salvíficos que expulsará uma vez por todas os vendilhões do templo.
Eu deveria estar a ouvir um debate televisivo em que o dr Marinho provavelmente esmagará os contraditores. Mas, vocês conhecem-me: no Mezzo passa ao mesmo tempo um concerto de violoncelo de Bach a que se seguirá um outro de Brahms pela Filarmónica de Berlin, dirigida por sir Simon Rattle. Que E Pinto me desculpe mas Bach é Bach e eu tenho um facataz pela malta de Berlin e pelo Rattle. Não me hão-de faltar oportunidades para me penitenciar, assim Marinho continue.

Responsabilidade social (também) é isto

José Carlos Pereira, 21.07.08
A notícia que foi conhecida no final da semana passada sobre os aumentos salariais extraordinários do grupo Impresa, um dos maiores grupos de comunicação social do país, proprietário de órgãos como a SIC ou o Expresso, destinados aos colaboradores que auferem vencimentos brutos mensais iguais ou inferiores a 1.500 euros, dá-nos um bom exemplo do que é a responsabilidade social efectiva de um grupo empresarial perante um dos seus principais stakeholders, os próprios colaboradores.

É claro que os sindicatos procuram logo extrapolar para outras situações e caiem até no exagero de dizer, como a CGTP, que a Impresa “não fez mais que a sua obrigação”. Mas é um gesto aparentemente genuíno de uma gestão, liderada por Francisco Balsemão, que dá um sinal aos colaboradores com funções mais simples de que eles também são fundamentais para a organização e de que a sua recompensa merece ser ajustada em função do contexto difícil que se vive. A Impresa de Balsemão semeia, deste modo, para colher a lealdade dos seus colaboradores e o seu comprometimento com projectos futuros.

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