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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

Receita de Ano Novo

O meu olhar, 31.12.08
Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação como todo o tempo já vivido
(mal vivido ou talvez sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser,
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?).
Não precisa fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar de arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto da esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um ano-novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.


(Carlos Drummond Andrade)

Bom Ano Novo

José Carlos Pereira, 30.12.08
A poucas horas de iniciarmos um novo ano, o Senhor Presidente da República persiste em fazer um grande alarido institucional em torno do Estatuto Político-Administrativo dos Açores, aprovado, recorde-se, sem votos contra pela Assembleia da República, após dois vetos presidenciais. Concedo que os partidos políticos fizeram porventura demasiadas cedências aos seus correligionários açorianos, mas dizer que esta questão "afecta o normal funcionamento das instituições da República", talvez soe a exagero para o cidadão comum, arredio das preocupações com a constitucionalidade material, sobretudo em tempos de crise aguda. Veremos se o Tribunal Constitucional encerra o assunto em tempo útil.

Este diferendo político entre o Presidente e a maioria que suporta o Governo, alargado neste caso concreto aos restantes partidos que não se opuseram ao Estatuto, faz antever um ano pleno de tensão, na justa medida em que teremos três disputas eleitorais – europeias, autárquicas e legislativas. A que devemos acrescentar a recessão económica e as respectivas consequências sociais.

Um ano em cheio, portanto, propenso para o debate e o confronto de ideias.

Um Bom Ano Novo para todos!

Diário Político 95

mcr, 29.12.08

Algumas perguntas


Até onde se pode ir numa luta de “libertação nacional”? Em tempo de guerra será lícito recorrer a todas as formas de luta, incluindo nestas o terrorismo, a tortura ou o assassínio selectivo de dirigentes políticos, de líderes sindicais ou de personalidades que, de um modo ou de outro, simbolizem a Nação aos olhos dos seus concidadãos?
Sem respondermos a estas questões que, na minha pobre e modesta opinião, são essenciais, não vale a pena determo-nos no conflito israelo-palestiniano.
Mesmo se entendermos (e eu faço parte desse grupo) que Israel vive em democracia, será que a defesa natural das fronteiras, da vida e bens dos seus cidadãos (judeus, árabes, drusos e outros) passa por castigar duramente os lançadores clandestinos de rockets artesanais?
Por outro lado, será lícito que, em nome de uma pátria palestiniana (e eu faço parte do grupo de pessoas que entende que deve existir, com as mesmas garantias internacionais de Israel um país palestiniano, governado por palestinianos, sem tutelas de qualquer espécie, mormente as actuais) se possa bombardear a terra do “inimigo sionista” com foguetes que não conseguem mais do que um percurso errático e por isso caem em qualquer sítio, matando indiferentemente militares ou civis, árabes ou judeus, homens ou mulheres crianças ou velhos?
Claro que, na conturbada história dos últimos noventa anos (isto é da história que acompanha as migrações massivas de sionistas (uso a expressão no seu exacto e histórico sentido sem a carregar de semânticas recentes e injuriosas) para a Palestina transformada em mandato britânico, podem reconhecer-se variados movimentos terroristas judeus (“Stern”, “Irgun”) que infligiram numerosas baixas quer às tropas da potência mandatária quer a cidadãos árabes indefesos. Não é menos verdade que, desde que começou a emigração judaica para “Eretz Israel” (em consonância com a famosa “Declaração Balfour” que nada mais era do que uma promessa ilegítima e ilegal de um governo imperial que dispunha de terras alheias como se de próprias se tratasse), houve resistências desencontradas por parte da população árabe. Desde o famoso “mufti” de Jerusalém até aldeãos despossuídos ou ameaçados ameaçaram e tentaram atacar o que consideravam como invasores. A Palestina não era uma terra vazia. Estava habitada, tinha instituições políticas tradicionais, herdadas do império turco e, há que salientá-lo, sempre permitira a existência de comunidades judias mesmo que durante séculos tais comunidades fossem escassíssimas.
É aliás falsa a ideia de que houvera uma expulsão massiva e praticamente total dos hebreus pelos romanos. Houve efectivamente pequenas deslocações forçadas de parte das populações da região mas nada que permita dar à diáspora esse significado apocalíptico que nos séculos XIX e XX foram propagandeadas.
Boa parte, senão a imensa maioria, dos judeus europeus não tinha raízes médio-orientais, não eram semitas e a fé que professavam derivava sobretudo de conversões ocorridas na alta idade média. Por outro lado, é sabido que em todos os países do médio oriente existiam sólidas populações de religião judaica (Iraque, Irão, Marrocos para não ir mais longe). Sabe-se também que durante esse longuíssimo período as relações inter-comunitárias foram pacíficas. De resto, foram os países de tradição muçulmana os maiores (e melhores) acolhedores dos judeus expulsos da península ibérica. Muito mais do que a Holanda, por exemplo.
É verdade que há uma oração, ou um refrão judaico “para o ano em Jerusalém” que se usou em toda a Europa e que adquiriria particular sentido dramático durante os pogroms de leste e as perseguições no ocidente. Todavia, esse pio desejo, nunca foi acompanhado, até ao segundo decénio do século XX, por migrações significativas para a terra de Israel.
Entretanto, há que reconhecê-lo, desde que o Estado de Israel foi proclamado, nunca mais houve paz na região. A primeira guerra, ocasionada, é verdade, por uma desorganizada e heteróclita invasão de tropas árabes, teve como resultado não só a derrota desses invasores mas, sobretudo a expulsão de dezenas (quiçá centenas) de milhares de civis palestinianos. A operação de expulsão (eventualmente genocida) chamou-se “Vassoura de Ferro” e e tinha por objectivo táctico limitar o avanço dos invasores e por finalidade estratégica a limpeza étnica de territórios atribuídos a Israel.
São os descendentes desses expulsos, criados em campos de refugiados, que constituiram e constituem a maioria dos candidatos a guerrilheiros, a terroristas, a suicidas. E isso também tem de ser tido em linha de conta.
Israel, de 48 até hoje, alargou ilegitimamente as suas fronteiras, ocupou e ocupa territórios ilegalmente, muniu-se de armas atómicas e criou o mais forte exército da região. E se é verdade que tem cidadãos árabes não menos verdade é que estes se sentem cidadãos de segunda. Por todas as razões mas sobretudo porque não conseguem deixar de observar o que se passa nos territórios ocupados, na agressividade dos ultra-ortodoxos, no movimento das colónias de povamento, que paulatinamente transformam a Transjordânia num xadrês de povoamento judaico que torna impossível a vida dos anteriores habitantes.
O Hamas é uma caricatura miserável das verdades reveladas no Corão. É uma associação criminosa que alimenta o ódio contra o judeu enquanto tal muito mais do que a ira contra o ocupante. Pior: tenta transformar uma população relativamente laica numa outra rigorista e islamizada até o extremo. A sua política militar é aventureira, não olha a meios, despreza a vida dos cidadãos que pretende defender, aceita a monstruosa teses dos mártires pela liberdade, doutrina crianças e adolescentes para o sacrificio supremo. O lançamento de foguetes é uma provocação estúpida e perigosa sobretudo num momento em que os israelitas se preparam para eleições ao mesmo tempo que a inação americana natural num país que se prepara para mudar de presidente muito em breve faz prever uma resposta contundente. E pior que isso: a acção descontrolada do Hamas pode modificar os previsiveis resultados eleitorais israelitas, ajudando o regresso da direita pura e dura ao governo. Como se a ideia fosse: quanto pior, melhor!
É isto, ou é também isto, que está em jogo.

d'Oliveira

estes dias que passam 134

Incursões, 27.12.08

Mesmo em época de defeso…


Como o título indica, nesta quadra excessiva, toda carregada de bons sentimentos e de fervorosas declarções de intenções para o ano que se avizinha, não se devia falar de coisas sérias.
Os dias que medeiam ente o Natal e os Reis são uma espécie de silly season. Toda a gente se apressa a “dar testemunho” da sua escondida predisposição para a bondade e a garantir que fará todos os esforços para tornar o nosso futuro ainda mais radioso.
Todavia, não é o cronista quem está a tentar fazer fogo de qualquer fagulhinha brejeira mas os acontecimentos que o forçam a sair do sério e, abandonando rabanadas e roupa velha, a vir chatear as leitorinhas. E se calhar até vos faz bem: esquecem por momentos os dois quilos com que as festas vos brindaram e que vão demorar semanas a desaparecer…
E vamos á vaca fria (isto é uma velha expressão idiomática portuguesa e não qualquer espécie de menção a quem quer que seja adiante citado(a).)
Umas criancinhas já com barba rija entenderam, numa sala de aulas, durante o que era suposto ser uma aula, apontar uma pistola a uma professora exigindo uma nota positiva. Supondo que a pistola (falsa) se parecia com a uma arma verdadeira, parece natural ou mesmo admirável que a professora sem se intimidar tenha primeiro recorrido a algumas advertencias e finalmente abandonado a sala e apresentado queixa.
As criancinhas, adolescentes retardados mas com barba no meio da acne devem ter-se rido à gargalhada e, para estarem em consonância com a quadra, mandaram o filme dos acontecimentos para o You Tube. Lá terão pensado que se eles se divertiam seria egoísmo não partilharem com o mundo que vê tais alarvidades a sua sã alegria adolescente.
Claro que o escandalo rebentou. A escola já está atarefadíssima a inquirir, diz-se que os rapazinhos terão pedido desculpas à “sôtora”, que esta as aceitou, mas que o inquérito prossegue.
A primeira declaração que me deixa perplexo é da sempre surpreendente directora regional de educação do Norte, aquela mesma que mandou borda fora um funcionário por este, num momento de ócio, ter chamado nomes à mãe do senhor presdiente do conselho de ministros.
A senhora dirigente, de sua graça Margarida Moreira, disse, e cito, que o episódio não passou de “uma brincadeira de mau gosto que excedeu os limites do bom senso”. Analisemos: será que há brincadeiras de mau gosto que não passem os limites do bom senso? Será que há bom senso no mau gosto de certas brincadeiras? Será que uma pistola falsa mas em tudo ou quase igual às verdadeiras não assusta um qualquer mortal? Será que quando nos apontam uma pistola devemos agarrarmo-nos à barriga, romper numa gargalhada e até, para mostrar que apreciamos o humor da situação, convidar o atirador a disparar, como em tempos remotos um francês burro e temerário fez (messieurs les anglais tirez les premiers, terá dito numa batalha que, obviamente, perdeu. Os bifes não se fizeram rogados e limparam logo o sebo a uma boa quantidade de inimigos...)?
Será que isto era só uma brincadeira? Será que trazer a pistola, ameaçar a professora, mandar o filme para o éter é apenas um gracejo de mau gosto, uma pequena judiaria que dada a época natalícia debe ser descontada na ração de rabanadas e bolo rei dos jovens graciosos?
Suponhamos que a professora tivesse tentado tirar a arma ao menino rabino. Teria este entregado a arma ou, à cautela e com um safanão, tentaria frustrar os impetos guerreiros e auto-defensivos da professora? E o resto dos hilariantes coleguinhas? Teriam continuado a filmar, ou pôr-se-iam virilmente do lado do pequeno pistoleiro?
É para isso que servem as aulas mesmo num bairro tão problemático como o do Cerco no Porto?
Agora a senhora presidente do Conselho Executivo, de sua graça Ludovina Costa, ao mesmo tempo que com uma mão manda instaurar um inquérito disciplinar vem com a outra mãozinha “desvalorizar o caso considerando que aquela turma é de miúdos simpáticos”. Ou seja para a dona Ludovina o mau gosto que excede (Jesus! Ninguém ensinará esta gente a falar português?) o bom senso não merecia tanta maçada. A chatice é que isto se sabe cá fora e portanto há que ffingir um inquérito para daqui a dias se saber que na tal escola está “tudo como dantes, quartel general em Abrantes”.
Porque é isso que vai acontecer, não tenham quaisquer dúvidas. Esta gente sempre pressurosa a cascar nos que dizem piadas sobre as autoridades legítimas, acha que os “meninos” mesmo se grandinhos são anjinhos de Rousseau, nada se lhes deve levar a mal. Ou quase: a idade e a “escola inclusiva” perdoam tudo, justificam tudo.
A senhora directora da educação do norte (sublinho este ponto porque esta educação tem pouco a ver com a outra a do dicionário, a que costumamos a ssociar à preparação para a cidadania, para a vida adulta, para o conhecimento, cultura e progrsso humanos) reforça, como aliás se esperaria, o clima natalício de indulgencia plenária. OS miúdos já foram reguilas mas agora, integrados num curso de Desporto (tiro ao alvo?) recuperam do insucesso escolar.
Eu não quero que fusilem as criancinhas, mesmo com armas de plástico, que os condenem ao degredo, sequer que os expulsem da escola. Todavia, estas desculpas que vão condicionar (ou anular) o presumível inquérito apenas servem para evidenciar a cobardia moral e cívica com que se encara o permanente estado de indisciplina nas escolas.
Claro que a grande batalha dos boys e girls que estão amesendados na Educação é outra: quebrar a espinha aos professores, demonstrar que se há indisciplina é porque são estes com a sua insensatez congénita e “corporativa” quem fomenta a ignorância de educandos, a incúria das famílias e o desastre da educação.
Nos intervalos vão fazendo “carreira” e com aplicação e esforço poderão abichar um lugarzinho melhorado (deputado, assessor ministerial) que se for levado a cabo com a mesma dedicação abrir-lhes-á as portas da administração de empresas boas, bancos mesmo, já se viu mais bizarro e ninguém protestou.
É desta farinha que se fazem igualmente os dirigentes do aparelho tal como ( e para não sair do Porto) aquele senhor que vai pescar um transfuga do Marco de Canaveses, indiferente ao facto da dita criatura ter sido o braço direito (ou o esquerdo, não discuto pormenores sórdidos) do ora arguido Torres.
As leitoras, ainda empanzinadinhas com a desbunda gastronómica natalícia, perguntarão se eu não exagero. Não queridas amigas, não exagero. Provavelmente peco por defeito. Faço, tão só, a crónica destes dias tumultuosos. É que, como dizia o Eduardo Guerra Carneiro,é assim que se faz a história: “pois da história se trata. E dos que a fazem. Por vezes pouco seguros de si próprios. Mas com a certeza do que está certo. A história anónima[…] A que nós fazemos. Agora sentados ao sol, á mesa do café.”
O Eduardo, como numa crónica belíssima dizia o Jorge Silva Melo, foi “o poeta que se atirou para as estrelas”. Cansado de muita coisa, da vida, de amores, mas muito, muito de tudo isto. Do quotidiano mesquinho e insuportável que é, queiramos ou não, o quotidiano deste país. Que parece sonhar com o regresso a uma idade cinzenta, com um chefe e muitos súbditos. Com respeitinho e partido único. Sem ideais mas com o lugarzinho assegurado a quem se portar bem. Um país onde os homens se medem pelo que valem em votos, à boca das urnas. Já um brasileiro político famoso dizia no seu manifesto. “Ademar rouba mas faz!”. Ora aí está um belo mote de campanha.

* “É assim que se faz a história” Assirio & Alvim, Lisboa, 1973.

Vidas (des)perdi(ça)das ?

mochoatento, 26.12.08
Após muitos anos,volto à Cadeia. Estranho ambiente! Tudo muito calmo, como se nada fosse diferente. Espero... e muito. Não sabem do detido; é preciso encontrá-lo, Paciência... nada a fazer. Afinal, é preciso que o preso solicite à Direcção que quer ver o advogado. Parece que tem havido problemas. Apenas aviso que sou oficioso e que o homem nem me conhece.

30 anos, 3 filhos para criar, nunca trabalhou, 8 anos cumpridos,mais alguns por cumprir e processos por resolver. E, no entanto, aparentava tranquilidade, como se tudo fosse comum.

Vim a pensar nas vidas perdidas, desperdiçadas, na ausência de perspectivas, na impossibilidade de mudança.

E o Natal?

Diário Político 94

mcr, 23.12.08

Uso um nome carregado de símbolos, desde o ramo que a pomba trouxe no bico até ao óleo entre todos abençoado que une judeus e árabes, cristãos ortodoxos e cristãos romanos, negros forros do Brasil (que também recorrem ao dendém...), aristocratas da Virgínia (se ainda os há) e mais uns quantos que não vale a pena citar.
Entre todas, esta é a árvore da paz, da abundância, a árvore durável por excelência, a árvore que mata a fome ao pastor que junta um punhado de azeitonas ao naco de pão, ao viajante que nesse mesmo pão barrado de azeite junta uma cebola ou um tomate e segue o seu caminho e, já agora ao cliente do restaurante sofisticado que lhe serve, a preço de ouro, um pires de azeite onde se molha uma fatia de pão.
Uso ainda o nome de um certo Cavaleiro de Oliveira, esse mesmo que chamou a Lisboa “fremosa estrevaria” e que, quando foi queimado em efígie pelos poderes públicos portugueses, anotou no seu diário que “nunca sentira tanto frio como nesse dia”. Também é certo (se não erro) que nesse dia estava na Moscóvia acolhido à protecção de Catarina a Grande.
Dele tento ainda usar o lema: “é preciso dar força à razão para que o acaso não governe as nossas vidas”.

Isto tudo dá-me pretexto para desejar a todos quantos acompanham este blog um ano de 2009 sob a égide da árvore sagrada. Da árvore de ramos retorcidos que resiste ao tempo e ao vento e nos presenteia com o azeite que, com o vinho, é a metáfora verdadeira da civilização que penosamente vamos erguendo: fraterna, luminosa e exigente. Assim seja.

Au Bonheur des Dames 161

d'oliveira, 23.12.08

Eu sei, eu sei que disse o que disse sobre o Natal. Melhor: sobre a aberrante interpretação que se faz duma festa que deveria ser recatadamente familiar e que agora entrou no consumo desbragado.
Eu sei, e de há muito tempo que o sei, que qualquer comentário sobre a quadra soa a caturrice ou, pior ainda, a snobismo. Todavia, não retiro nem uma palavra embora acrescente outra que não é minha, é bem mais antiga e reflecte um pouco o que algum leitor terá percebido sob a farpa. Parece que numa certa altura, num outro país, numa outra realidade, ou na realidade a que aspiramos, um anjo apareceu e disse Gloria a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade.
Deixo a glória a quem pertence mas desejo muito vivamente a todos os que me aturam e à tripulação desta “barquinha que vai para Belém”, paz e alegria, paz e serenidade, paz e paciência, paz e um mundo melhor. Desculparão a insistência na palavra paz mas olhando em volta desde Bilbau a Bogotá, do Kivu a Caxemira, das terras antiquíssimas entre Tigre e Eufrates até à miserável faixa de Gaza, paz, paz verdadeira vale mais do que pão, do que oiro, do que saúde. Vale tanto quanto a liberdade. E a dignidade. E o amor, porque sem ele a vida não tem sentido.
Se isso puder traduzir-se por Feliz Natal que assim seja, senão voltem ao princípio destas mal traçadas regras e pensem alto na palavra paz. E na palavra amor. E na palavra liberdade.

* a gravura roubei-a a um mail do Fernando António Almeida, poeta, ficcionista, historiador, amigo antiquíssimo e leal que me mandou a ilustração com o subtítulo de Éluard La terre est bleue comme une orange.

** os que não desertaram completamente do território da infância reconhecerão a toada da linda barquinha que lá lá vem... E o Natal, o verdadeiro, mora muito por aí

BOAS FESTAS

O meu olhar, 23.12.08

A todos os Incursionistas e a todos os que nos têm acompanhado desejo BOAS FESTAS!

Quanto ao novo ano, tanto quanto sei, continuará a não ser proibido sonhar, nem penso que venha a ser decretado o cortar de asas a esses sonhos para que não se tornem realidade. Por isso, desejo a todos um ano 2009 magnífico, com a concretização dos projectos que mais desejem.

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