Como é sabido a crise que caiu sobre todos os povos teve na sua origem uma crise financeira. Também é sabido e maioritariamente aceite que esta crise resultou do fracasso do Estado no seu papel de regulação e de supervisão. Ora, durante anos e anos teóricos e políticos do centro direita aplicaram as medidas legislativas conducentes a criar um Estado bem menos intervencionista, a retirar o Estado da economia, para deixar que o mercado funcionasse em pleno, porque acreditavam (ou interessava-lhes acreditar) que um mercado livre das amarras do Estado acabaria por expulsar os menos aptos e por conduzir a economia para patamares superiores e mais sadios. Ou seja, os responsáveis pela desregulamentação da economia e pela redução da supervisão do Estado, que está na origem da crise, são os teóricos e políticos liberais, alojados no centro direita do estrato partidário.
Por tudo isto seria de esperar que nas recentes eleições europeias as forças políticas da direita e do centro direita acabassem por ser fortemente penalizadas, porque foram essas forças que criaram as condições favoráveis ao desenvolvimento da crise. Seria de esperar que perdessem as eleições e que as perdessem por muitos. Contudo, os resultados mostram que tudo ocorreu ao contrário. Por todo o lado foram os partidos de esquerda que foram penalizados. E mesmo nos países onde a direita é governo, mesmo nesses, a esquerda acabou por levar porrada.
Porque?
Como muitos já observaram, na América ocorreu o inverso. A direita liberal e ultra liberal foram estrondosamente derrotados. Os responsáveis pela génese e desenvolvimento da crise foram corridos. Os que lhe sucederam estão a repor o papel regulador do Estado e fazem-no para “tranquilizar o povo americano” porque consideram que um “sistema financeiro mais bem controlado” “é essencial para a retoma económica”.
Na Europa ocorre precisamente o contrário. Por todo o lado os ganhadores são os obreiros da crise. Acresce que até já teorizam e a coberto dos resultados eleitorais levantaram a cabeça desataram a tecer loas ao modelo económico neoliberal, que o povo terá escolhido, imagine-se, porque quis “penalizar precisamente aqueles que pretendiam matar a economia de mercado, a sociedade e a liberdade”, conforme artigo de opinião de uma ex-deputada, no Público de hoje. De facto o resultado das eleições até podem dar para leituras muito diferenciadas, mas ver as coisas assim é por tudo ao contrário, é não perceber que o povo votou como votou porque, na sua proclamada sabedoria, não lhe interessa saber quem o conduziu para a crise, preocupa-se é com quem o governa na crise.