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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

Diário Político 120

mcr, 29.08.09

 

Metáfora para os dias que passam

 

Ums rapazolas chamados Gallagher iam dar um concerto perante muitos fans (ele há fans para tudo!…) mas minutos antes de entrarem em palco envolveram-se á pancada.

Acabou aí o regresso de uma banda cujo êxito nunca compreendi: os Oasis.

Mais de cinquenta mil fans choraram. Os noticiários internacionais não perderam tempo, claro.

Ao mesmo tempo, com a gravidade que se compreende, a América despedia-se de Ted Kennedy. Aquí a música era outra. Depois dos cantos sagrados na catedral de Boston (e os católicos americanos não brincam em serviço, sequer neste campo) eis que irrompeu poderosa “America oh beautiful”, esse hino oficioso da esperança e da alegria.

Ted Kennedy! O terceiro, aliás o quarto, esquecemo-nos sempre do mais velho que morreu em combate. Ted o que deixa a herança mais consistente pelo intenso labor no Senado (quarenta e seis anos de presença activa!), pela cruzada continua e sem desfalecimentos por um outro sonho americano, pela coerente e límpida oposição à guerra, pela aposta em Obama.

Poder-se-á dizer que para ele tudo foi fácil. Era rico, pertencia a uma dinastia de gigantes, era poderoso. Esquecem-se  oa críticos que era católico num Estado “wasp”, o Massachussets numa nação eivada de valores protestantes, e sob a sombra trágica e perigosa de dois irmãos assassinados. Ted, antes de ser Ted, como John era John e Robert, Bob, teve que fazer esquecer (teve de superar) o Kennedy familiar e pesado como uma lousa de túmulo. E demorou anos! Anos de trabalho quase anónimo nos corredores do Senado, sob a luz inclemente de projectores que só iluminam o escândalo, jamais o esforço e o trabalho honrado.

Hoje, numa daquelas encenações que só os americanos sabem levar a cabo, a nação e o mundo despedem-se do homem que morre antes de ver o sucesso do combate de toda uma vida: as novas leis sobre a assistência médica e sobre os cuidados de saúde. 

Os últimos meses de Ted Kennedy foram penosos. Demasiado penosos. Mas foram também, para quem é um mero espectador interessado, uma lição de estoicismo e de heroísmo. Este homem, á semelhança de Guillaume, o “meilleur chevalier du monde” preparou a sua morte, o espectáculo da sua morte. Não creio que tenha lido Duby, os americanos são pouco dados à historiografia europeia e muito menos à da nossa idade média. Mas se, por milagre, o tivesse lido, poderíamos dizer que aprendeu bem a lição.

Quem não aprende qualquer lição do passado, infelizmente, é a nossa classe política. Estamos perante dias importantes, duas eleições, balanço de uma inteira legislatura, para não falar dos treaentos e tal balanços de governo municipal. A época é dura. A crise,não acabou, pese embora a certas e oportunas sereias que anunciam já a retoma e a felicidade próxima. É menira, Nada melhorará antes, pelo menos, de uma ano. E estou a ser optimista.

Sei do que falo: este ano, este mês, embora tenha tido rendimentos inferiores aos do ano passado vou pagar impostos incomparavelmente mais altos. Sem escapatória alguma. Isso será um dos critérios (não ´único, não o principal mas um deles) que me ditará o voto, obviamente. Sobretudo porque é com o meu dinheiro (escasso dinheiro, suado, duramente suado) que depois o Estado irá levar a cabo os investimentos públicos, assumirá as dívidas de bancos aventureiros, as derrapagens de custos de auto-estradas que ainda não saíram do papel e cuja utilidade é indiscutivelemnte duvidosa, do famoso comboio de alta velocidade Porto Vigo  e outras maravilhas que a inconsciência de uns políticos ineptos inventam para se promoverem aos olhos dos basbaques.

A época de caça abriu. A da caça verdadeira e a outra, a da caça ao eleitor inocente. Nunca entendi a necessidade de cartazes gigantescos com mensagens entre o pobre e o paupérrimo (para não falar nos inenarráveis conselhos da drª Ferreira Leite que falhou uma carreira de catequista) de cartazes onde se afirma que subiu o salário mínimo, mas esquece que subiu mais o imposto e decresceu o rendimento líquido, que é o que interessa. E aumentou a ansiedade perante o futuro, o receio, o stress. Dir-se-á que não é só cá. É verdade. Só que entre nós, há o singular hábito de só iluminar uma das faces da moeda. A que nos convém.

Amigos e amigas, leitores. Assim não vamos lá. Isto que se veícula em certos discursos, em certos cartazes, em certas afirmações, não é optimismo saudável, não é vontade de superar obstáculos, de criar um país e uma vida melhores. É inércia, videirice, aldrabice. É a secular maldição portuguesa, o faduncho eterno que nos amarra à mediocridade, ao salve-se quem puder.

Querem exemplos? Hoje, no Público, um tenente coronel aviador na reforma bolsa uns grotescos sentimentos nacionalistóides, para não dizer fascistóides, sobre Olivença, a Espanha o nosso destino e o mais que lhe lembrou. Como escrita é indigente, como pensamento apenas primário e como oportunidade é um tiro no pé. A criatura, para só citar uma das suas falsas pérolas, acha que os municipios da raia, longe de criarem relações firmes com os seus congéneres espanhois a dois passos, deveriam aproximar-se do litoral (a duzentos quilómetros!). Já agora, conviria perguntar para quê?

Feito por d’Oliveira, incréu, estrangeirado e pouco dado a glorificar o “torrãozinho de açúcar”

  29.08.09

 

Liedson na selecção (portuguesa) de futebol

José Carlos Pereira, 27.08.09

O avançado brasileiro do Sporting Liedson, que recentemente obteve a nacionalidade portuguesa, foi convocado para representar o país na selecção de futebol que vai disputar encontros decisivos do apuramento para o Mundial 2010. Nada que não se esperasse, após um longo folhetim que envolveu jogador, federação e Governo.

A naturalização de jogadores estrangeiros, que depois representam os países de residência, ocorre um pouco por toda a Europa e em várias modalidades desportivas. Em Portugal, isso já aconteceu nas selecções de andebol, basquetebol e atletismo, por exemplo. Nos primeiros casos porque se procurava colher o ensinamento e a experiência de atletas credenciados com formação em países mais evoluídos, o leste da Europa no caso do andebol e os EUA no caso do basquetebol, no atletismo porque se adoptou e integrou um jovem nigeriano à procura do sucesso, Francis Obikwelu. Critérios sempre discutíveis se virmos para além dos direitos de cidadania obtidos com a naturalização portuguesa. É essa a melhor forma de promover uma política desportiva estruturada? Deve privilegiar-se o resultado imediato ou a formação de base?

É isso que me faz olhar de forma algo diferente para a integração de Liedson, face aos anteriores casos de Deco e Pepe. Estes chegaram à selecção portuguesa de futebol em resultado da sua afirmação no futebol português desde os 17/18 anos, que foi a idade com que chegaram a Portugal oriundos de um obscuro clube brasileiro - Deco para ser cedido pelo Benfica ao Alverca e Pepe para integrar o Marítimo B. As suas qualidades naturais estavam lá, mas foi em Portugal que completaram a sua formação e se afirmaram como jogadores profissionais de futebol.

O caso de Liedson é diferente, já que se transferiu de uma equipa de primeiro plano do futebol brasileiro, o Corinthians, para o Sporting quase a meio da carreira, aos 24/ 25 anos. Era um jogador afirmado e reconhecido e por isso foi contratado como um valor consagrado. Um jogador que nunca foi chamado a representar o seu país de origem e que, agora, aos 31 anos, vai representar Portugal. Confesso que me custa entender, apesar de reconhecer o seu direito administrativo a tal. No entanto, que tenha uma boa horinha e que nos faça sambar...

Au Bonheur des Dames 200

d'oliveira, 26.08.09

Agarrar o Verão

 Um amigo meu está de luto: perdeu, por sua vez, um amigo com quem terá partilhado durante anos retiros  em claustros fora do tempo e, quase, fora do mundo.

Imagino-os juntos, vivendo o silêncio de um retiro buscado, de uma pesquisa de Deus infindável vendo crepúsculos sucederem-se a auroras, quiçá ao som definitvo de um canto hoje postergado porque em latim.

As vozes ecoariam nas abóbadas do mosteiro, vozes que repetiam uma liturgia secular que faziam já parte do sarro das paredes, da luz coada pelas rosáceas, do brilho efémero de velas de um outro tempo e de um outro pensar.

Sinto, ainda que longe, o desgosto e o luto desse amigo. Na nossa idade (em todas as idades porventura) uma morte é sempre uma amputação. Ficamos mais menos, se me permitem esta expressão. E a tristeza que sobrevém não substitui a presença desaparecida. A ausência é sempre uma cicatriz incompleta, um arrepio de uma morte que passa perto.

A manhã está fresca, quase fria, vê-se que o Verão está a fazer as malas. As marés vivas já se mostraram, as uvas tem uma cor forte e os figos, ai os figos, inchados prometem, mais além do perfume, um sabor único.

Aproveitem o Verão, leitorinhas gentis. Agarrem o Verão como dizia (ou iria dizer) o Luis de Stau Monteiro que anunciou anos a fio uma novela com um título (magnífico!) assim: “Agarra o Verão, Guida, agarra o Verão”.

Nunca a terá publicado, se é que sequer a escreveu. Mas fica o título e, para além dele, a declaração dionisíaca. Como o perfume de uma pétala perdida num livro que placida e gostosamente vamos lendo na praia ao som dos risos dos meninos e das ondas que os salpicam de espuma.

 

* a belíssima fotografia é da autoria de Deolinda Ferreira Barradas, que não conheço mas a quem a pilhei via internet. Chapeau!, Deolinda!  

Não está fácil a vida para a dupla CS/MFL

José Carlos Pereira, 21.08.09

Nos últimos dias avolumaram-se os rumores, as suspeitas, as críticas e as contra-críticas acerca do famigerado caso de "espionagem à portuguesa", segundo o qual o Governo estaria a seguir os passos do que fazem e dizem na Presidência da República. Disparates de Verão, como disse Sócrates? Quem cala consente, como disse António Capucho?

A verdade é que é mais um dado lamentável a contribuir para a desacreditação dos políticos e desta vez, como de outras, o Senhor Presidente, ausente em parte certa, não fica bem na fotografia. Ou denunciava os casos, em público ou em privado, ou parava com as suspeitas e mandava desmentir as fontes que o "Público" amplificou. Sabe-se que há assessores da Presidência que colaboram com o PSD e que até estiveram indigitados para as listas de deputados e não há nada melhor do que clarificar. Assim, todos saberiam com o que contar. Não vale a pena querer parecer o que não se é.

Da parte da líder do PSD, foi confrangedor ver ontem a entrevista à RTP. Os pés pelas mãos e as mãos pelos pés sobre o essencial e o acessório. Fosse o défice, os impostos, a oposição interna ou as listas de deputados. Mas ficámos a saber que, para Manuela Ferreira Leite, nada impediria que Isaltino ou Valentim continuassem a concorrer pelo PSD. Questões de princípio, disse ela. Vá lá que os tempos passaram e já não há hipótese de Ferreira Torres concorrer no meu concelho, Marco de Canaveses, em coligação com o PSD. Pelo visto, nada impediria MFL de apoiá-lo também. Safa!

 

Leituras de Verão

José Carlos Pereira, 20.08.09

Entre as leituras de férias deste Verão, carreguei para a praia o último livro de Miguel Sousa Tavares (MST), "No teu deserto", que lidera os top's das principais superfícies livreiras.

Habituei-me a ler as belíssimas crónicas e reportagens de MST na revista "Grande Reportagem" - julgo que tenho a colecção completa - lia-o no "Público" e leio-o no "Expresso". Li outros escritos seus, nomeadamente o "Equador". Segui MST pela RTP e pela SIC, deixei de o ver quando passou para a TVI. MST tem uma pena interessante, não fosse sair a quem sai, pesem as distâncias, e um estilo de intervenção vivo, às vezes truculento até, que lhe dá uma certa aura de eterno rebelde.

Ao ler "No teu deserto", contudo, ficou-me um certo amargo de boca. Apesar da coragem de revelar um flirt inconsequente de há vinte anos atrás, expondo-se, MST não desatou o nó que lhe permitiria escrever de forma límpida e assertiva. "No teu deserto" não honra MST porque é demasiado light, escrito sobre o joelho. E o relato que ali fica deixa entender que MST teria pano para mangas para contar, bem, uma história que o marcou.

Estes dias que passam 178

d'oliveira, 19.08.09

Os cartazes, ai!, os cartazes…..

Ainda a procissão vai no adro e já nos deparamos com cartazes inúteis, feios, porcos e, eventualmente, maus.

Debrucemo-nos para começar em três: um do PS, outro do PSD e mais um do Bloco.

O do PS proclama ufano que agora as criancinhas já aprendem todas inglês. Não querendo pôr em dúvida esse “inglês” que, espera-se, não seja o nefando “inglês técnico” de que o senhor Primeiro Ministro tanto se orgulha, sempre me apetece perguntar face ao descalabro anualmente verificado nos exames de português se não seria melhor meter a viola no saco. É que um expontâneo poderia, ao lado, num papelucho, perguntar pela língua pátria… E lá se vai toda a pobre carga fantasiosa do inglês agora universal, num país que soletra mal a língua própria e velha de séculos.

A dr.ª Ferreira Leite, muito branca, muito pálida, a lembrar o fantasma da ópera afogado em pó de arroz recomenda beatificamente: “não prometam o que não podem cumprir”. Ou vice-versa, não interessa. Em poucas palavras não se percebe se ela se dirige às suas hostes ou se aquilo pretende ser uma picardia dirigida aos restantes concorrentes. Seja como for, o valor da mensagem seráfica parece-me bastante próximo do zero. Com um inconveniente de peso: quando é um dirigente político a põr em dúvida as promessas eleitorais, isto já nem se pode considerar uma política de rigor mas apenas a desanimada constação que o período eleitoral não passa de um carnaval postiço e que não debe ser levado a sério.

Finalmente o Bloco. Aparece um cartaz onde as figuras pouco atraentes de Sócrates e Ferreira Leite aparecem num fundo que parece ser o de uma fita de cinema (ou fotogramas) marcada ano a ano (dezoito ao todo) com a mensagem “dezoito anos é muito tempo”. Isto, lembremos, é afirmado por um partido que tem a mesmíssima direcção e as mesmas poucas inspiradas carantonhas desde sempre. Convenhamos que como exercício de cinismo político não está mal. Com o habitual inconveniente de aparecer o habitual preopinante ao lado num papelucho a perguntar se lá no Bloco não ha mais que Fazenda, Portas e Louçã, os eternos.

A campanha, como se vê, promete. A imaginação estará ainda a banhos? Ninguém arrisca um slogan interessante, mobilizador, cativante? Os da banda governamental ficam-se pelo seu pequeño saldo de realizações como se governar não fosse isso mesmo, fazer coisas, avançar (ai este avançar) soluções, melhorar a vida da malta, tornar isto menos tristonho, menos bisonho, menos mau sonho?

Os da oposição opõe-se a quê? Acaso um bom político (a existir, claro) tem prazo de validade? Ainda por cima nem Ferreira Leite, nem Sócrates estiveram no poleiro estes inteiros e últimos dezoito anos. A verdade, vê-se, não é sempre revolucionária…

Estes três tristes tigres de papel custaram dinheiro, os contribuintes paga-lo-ão nos seus impostos, pelo que teriam direito a outra literatura eleitoral. Menos tosca e mais respeitosa da inteligência dos cidadãos porque é a eles que a mensagem é, prima facie, dirigida. Dá ideia que há partidos que desprezam os seus votantes ao ponto de pensarem que qualquer recado serve para que a cidadania vá em rebanho votar. Mau sinal. Ou então as suas direcções são do ponto de vista político, indigentes imprudentes e tolas. Pior sinal. Depois não se queixem do nível de abstenção.....

 

* cartaz antigo e... eficaz! 

 

19.Ago.09

estes dias que passam 177

d'oliveira, 19.08.09

Amis s'en vont

 

Conheci a Isabel teria ela 16 ou 17 anos e namorava o Zé Mário Branco que viria a ser o seu primeiro marido. Depois só a voltei a ver em Paris, vai para quarenta e um anos quase dia a dia. Era a época dura mas gloriosa da emigração política, dos trabalhos precários e mal pagos, da esperança partilhada.

Voltámos a reencontar-nos já depois do 25 de Abril e no Porto. A partir daí começou um longo processo de colaborações variadas que culminou na aventura do Festival Internacional de Marionetas do Porto de que a Isabel Alves Costa foi, desde o início, a alma.

Por razões várias tive a oportunidade de lhe permitir fazer o “festival” que ela queria, como queria sem sequer ter a "contrainte" da intendência. A Delegação Regional do Norte da Secretaria de Estado da Cultura apoiou desde o primeiro dia esta realização e nisso convém também lembrar os dois Delegados que me antecederam: Rui Feijó e Diogo Alpendurada.

A Isabel passou a fazer parte da mobília da nossa casa. Era na DRN que instalava o seu quartel general, eram os serviços da DRN e do Auditório Nacional de Carlos Alberto que garantiam a burocracia, o correio e a intendência e era a DRN que complementava generosamente (muito generosamente!) os subsídios camarário e ministerial.

Depois, esta bela aventura sofreu o percalço da transferência da sede da DRN para o sertão e obviamente os meios postos à disposição da Isabel nunca mais foram os mesmos. Mas, apesar de tudo, o Festival prosseguiu ainda que com outra periodicidade e menor envergadura. E naturalmente um êxito menos notório se bem que sempre mantendo a qualidade que o bom gosto, a audácia e o entusiasmo da Isabel garantiam.

Os jornais já lhe traçaram uma apressada biografia artística que não vou, nem quero, comentar. É que, como me dizia a Luisa Feijó, a Isabel era da família. Família alargada que compreende muitas outras pessoas que partilharam anos de luta de esperança e de vida, tout-court. Que compreende vários companheiros da pequeníssima e sacrificada equipa do “Carlos Alberto” que também já cá não estão (Maia Pinto, Rui Feijó, Manuel Matos Fernandes, José Cayolla, para já não falar de Henrique Alves Costa, membro de um oficioso conselho Cultural da DRN e inolvidável cinéfilo e que era patrono da sala de cinema da Casa das Artes) e alguns sobreviventes. E, claro, uma longa teoria de amigos e companheiros perdidos por esse mundo e que agora se sentirão, também eles, um pouco mais sós.

A Isabel viveu intensamente. Teve filhos e netos que a alegraram. Fez trinta por uma linha, casou, descasou e voltou a casar (um abraço Manel Mendes) teve um percurso académico, foi condecorada e sofreu, como lhe competia, uma boa série de sacanices. Fumou até ao último dia mesmo se isso parecia desaconselhável. Escreveu um livro e plantou uma árvore que o futuro dirá se cresce ou se mirra: o Festival de Marionetas. E é aí que termino. Seria bonito ver o Festival continuar, crescer voltar a ser um dos melhores da Europa. Para isso só precisa de apoio e carinho. Das instituições, sem dúvida, mas sobretudo de nós. Talvez valesse a pena pensar agora mais seriamente numa verdadeira Associação promotora do Festival.

 

Morreu também por estes dias o Henrique Perdigão. O nome dirá pouco aos leitores mas talvez valha a pena dizer que o Henrique era o terceiro de uma dinastia de livreiros que tornaram a Latina (um dos L livreiros do Porto, com a Lello e a Leitura) um poiso de leitores e amadores de boa literatura. Com o Henrique, a Latina tinha-se modernizado muito e era uma absoluta referência num mercado dominado por grupos cada vez mais incarecterísticos que vendem livros como quem vende batata a granel. Os amigos do Henrique, isto é nós todos, se o quiserem honrar, só têm de continuar a frequentar-lhe a casa. O seu fantasma amável decerto lhes guiará a mão para um livro desconhecido que lhes fará passar um dia glorioso.

Custa dizê-lo mas a Isabel e Henrique parecem-me muito mais vivos e interessantes que a grande maioria dos políticos e celebridades que se disputam neste Verão morno as atenções da comunicação social. Parafraseando um título de Vitorini “consideram-se vivos mas realmente estão mortos e morrem”. Estrelinha que os guie!

* a gravura: Vista de Delft de Vermeer (por brincadeira dizia à Isabel que Paris não merecera nunca um quadro destes sobretudo com os elogios de Marcel Proust (le plus beau tableau du monde)

 

diário Político 119

mcr, 18.08.09

Troca tintas

 

 

Dois conspícuos cavalheiros do PS entenderam dizer que “assessores de Cavaco Silva” teriam colaborado na elaboração do programa eleitoral do PSD. Disseram-no e não foram desmentidos pela direcção do PS.

De Belém, ainda que anonimamente, vem a notícia de que tal declaração produziu mal estar, estupefacção e, nas entrelinhas, chegou a insinuar-se que tais afirmações dos dirigentes socialistas se poderiam dever a “espionagem”.

No rescaldo, os dois cavalheiros do PS remeteram-se a duas distintas atitudes. Vitalino Canas, sempre ele, acha que não deve fazer declarações. Junqueiro veio dizer que tudo aquilo “era um disparate” (reproduzindo, como não podia deixar, de ser o substantivo de Sócrates). Não se percebe se o disparate se referia à sua bombástica acusação ou aos rumores de Belém. Todavia, Junqueiro, que não parece ter a finura do seu homónimo, o saudoso Guerra, veio dizer, acabo de ouvir, que afinal não lhe parecia que a sua acusação se dirigisse a Cavaco (“acima de qualquer suspeita”) e que apenas esperava que este “declarasse não estar a tentar ajudar o PSD”. O que, obviamente, parece um disparate mas isso sobrevoa longinquamente a cabecinha junqueiral.

Em resumo, silly season mais desespero eleitoral, tentativas de marcar terreno, apalpação do pulso do adversário, ou apenas burrice?

Pessoalmente, estou-me nas tintas se algum assessor de Belém nas suas horas vagas dá um palpite ao partido de que é militante ou simpatizante. Como não me impressiona que membros do Governo dêem palpites no PS. Que diabo, eles são políticos, fazem política, seria tolo pensarmos que, por estarem eleitos ou nomeados, se despediram absolutamente de convicções, ideais e acção política.

Fazer disto um bicho, de uma ou sete cabeças, só passa mesmo nas cabeças (se o substantivo lhes é aplicável) dos dois socialistas e das anónimas e estupefactas fontes de Belém. Cresçam, meninos que já têm idade para usar calças compridas.

Não façam de nós parvos!

d'Oliveira fecit

17 Ago 09

 

De volta...

José Carlos Pereira, 17.08.09

Regressado de férias, cumpre-me reabrir a loja, já que os meus colegas escribas devem continuar ainda a banhos - MCR em Areas, deliciado com os petiscos da Postiña, como se lê abaixo.

Por cá, aquecem os motores da política, em vésperas de eleições legislativas e autárquicas. Serão dois meses rasgadinhos, por certo. Nesta primeira quinzena de Agosto, Manuela Ferreira Leite impôs a sua vontade e o PSD aprovou umas surpreendentes listas de candidatos a deputados. Foram afastados os opositores internos (o que ainda se compreende), voltaram velhos rostos do cavaquismo (dispensáveis) e foram contemplados os acusados António Preto e Helena Lopes da Costa - o primeiro por negócios em dinheiro vivo, suspeito de sustentar a sua candidatura para a distrital de Lisboa, a segunda por entregas ilegais de casas da autarquia de Lisboa quando era vereadora na capital.

Um tiro nos pés de Manuela Ferreira Leite, com posteriores justificações que ninguém entendeu e que vieram por em causa a sua "imagem" de verticalidade e de integridade. Qual será o preço a pagar pela líder social-democrata?

estes dias que passam 176

d'oliveira, 06.08.09

Pela esquerda baixa e à francesa

 

É verdade leitorinhas. Escapuli-me para férias sem dizer água vai. Abri. Lancetei, como se dizia na esperpêntica República dos Mil-y-onarius (ou 1000-y-onarius, já não me recordo) onde, por um par de meses,  fui acolhido com carinho e camaradagem nos loucos tempos de Coimbra. Escafedi-me pela sombra como quem vai por duas latas de cerveja e já volta.

Estou a banhos, como dantes se dizia, outra vez na Galiza. Fiel à praia de Areas, à bica matinal na cafetaria O Riveiro, aos almoços da Postiña (ora aqui está quem ainda não se vergou ao politicamente correcto nh), ladeado pela CG e pela Ana que intrepidamente se tostam ao sol (pouco) e se aventuram pelo mar mansíssimo da ria de Pontevedra.

Eu, se querem que vos diga, já me entusiasmo pouco com a praia. À uma aqui o mar não tem ondas que se vejam, parece uma pocinha para criancinhas de tenra idade. Assim, não dá gozo.

Depois, já não me divirto. Faço na praia o que faria melhor numa esplanada, frente ao mesmo mar, mas com uma mesa decente, sombra avonde e uma bica de quando em quando. E um copo de água, se faz favor!

Finalmente, quando o tempo fica menos propício, as pessoas entram numa de desajuste profundo, não sabem o que fazer e claro, mcr, chauffeur des dames tem de as carregar para os cortes ingleses e similares. A primeira vez, vai que não vai, dou uma volta pela livralhada, pelos dvd, pelas revistas. Mas a segunda e terceira vezes, já nem isso é novidade.

E, ainda por cima, descobri que perdi um concerto de Bruce Springsteen. As descrições dos jornais são, no mínimo, entusiásticas. Um longo concerto, oito ou nove encores, enfim, entre Espanha e o Boss isto já é uma história de amor. Claro que nem sabia disto e que, provavelmente, se tivesse sabido logo à chegada já não teria tido hipóteses de comprar bilhete. Se calhar, até é melhor, alguém já viu um velhadas a abanar o esqueleto com a música torrencial daquele de quem disseram, há já muitos anos, que ele era o rosto do rock do futuro?

E era! E foi! E, atrevo-me a murmurar, ainda é.

Portanto, mesmo tarde, aqui fica um aviso e um voto. Estou em férias. Boas férias para todas e todos vocês que amavelmente me aturam.