A varapau 15
Merkel puxa a orelhinha murcha de Cavaco e diz não a Coelho (o que saiu da cartola).
E agora?
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Merkel puxa a orelhinha murcha de Cavaco e diz não a Coelho (o que saiu da cartola).
E agora?
publicado às 22:20
Suddendly last tuesday...
Não foi subitamente mesmo que eu queira aproveitar o título de um dos mais impressionantes filmes de Liz Taylor, essa mulher magnética, essa presença insinuante e obsessiva que me acompanha desde os primeiros anos cinéfilos.
A Taylor era um mito. Maior, aliás, do que o seu próprio mito. Os azares da história quase que fizeram que ela ficasse mais conhecida pelos escândalos (enfim o que convenções perversamente puritanas entendiam como escândalo) do que pelas magníficas interpretações numa boa dúzia de filmes que passam directos para a história do cinema.
Ainda por cima era uma mulher lindíssima. E isso é imperdoável. Pelo menos numa mulher e actriz. Liz Taylor era excessivamente bela, elegante e tinha um dos mais famosos pares de olhos do cinema. Assim sendo, não podia ser uma grande actriz.
A inveja é, como se sabe, uma das características mais bem distribuídas entre os humanos. Até eu tive inveja. Do Richard Burton, entenda-se, esse enorme actor que terei visto pela primeira vez num filme chamado Look back in anger ( Tony Richardson, 1959) tirado da peça homónima de John Osborne.
Todavia, da Taylor, recordo sobretudo o excelente “subitamente no Verão passado” de Mankiewicz com Montgomery Clift e Katherine Hepburn. É minha convicção que este é o seu melhor filme e um dos melhores da temível Hepburn, outra fabulosa actriz. Clift era igualmente um extraordinário actor e o velho Joseph Mankiewicz era, há que dizê-lo, um realizador que a sabia toda.
Dir-se-á que com um script fabuloso tudo seria fácil. Bem pelo contrário. Um guião como o deste filme pedia mão muito firme do realizador (e ele teve-a) tanto mais que lidava com três actores excepcionais. Por outro lado, estes, vedetas com créditos firmados, poderiam tentar roubar espaço uns aos outros o que, na minha já fragmentada memória, não ocorreu. E a Taylor atingiu o sublime. Ou então sou eu que ainda a vejo com os olhos dos meus dezoito anos...
Morreu anteontem. Dizem os jornais que era o último grande ícone. Não sei: de repente, sob o peso deste luto, não estou a lembrar-me dos que ainda sobrevivem. Morreu, igualmente, uma mulher de causas, de belas causas, determinada e generosa, fiel aos seus amigos e ao seu mundo.
Como me dizia o João Vasconcelos Costa, outro da minha geração e irmão nas devoções liztaylorianas, há mais vida nesta morta do que no país inteiro que se consome, nos consome e há-de comer os nossos ossos. Que seja tarde, acrescento, e que quando a Parca nos quiser abraçar que o faça num repelão. Ou quase: que nos permita rever, num segundo, a Taylor e, com ela, todas as outras estrelas que nos iluminaram a vida em tempos de escuridão.
* fotograma de Suddendly last summer
publicado às 21:22
Pedro Passos Coelho em Bruxelas.
publicado às 20:40
publicado às 20:33