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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

au Bonheur des Dames 325

d'oliveira, 30.07.12

A habitual falta de patriotismo

 

 

 

Pelos vistos, o Governo, os seus mais estrénuos apoiantes e boa parte da opinião pública (e daí não excluo comunistas e bloquistas que, nestas coisas são sempre de um apurado patriotismo) entende que, este ano, as férias devem ser “cá dentro”.

 

 Para não saírem divisas; para darem trabalho aos portugueses ainda empregados na restauração & similares; para darem o exemplo, para aumentar a circulação da moeda; para não agravar a crise, etc., etc....

 

São tudo razões estimáveis que já foram brandidas um largo par de vezes, desde que a democracia regressou. Recorreram a elas governos de todos os matizes. Amparados pelo coro de  virtude indígena e do nacionalismo económico. Anos houve em que racionaram severamente o miserável pecúlio com que um qualquer cidadão saía. Mesmo que fosse para estudar (foi uma vez o meu caso, por alturas de mais uma sessão da Faculdade de Direito Comparado. Só me safei porque a directora do curso, sabedora da confrangedora situação de um par de polacos ainda com menos dinheiro do que eu entendeu oferecer umas bolsas de estadia e alimentação que também me abrangeram) a regra era simples. Saía-se do pais, por dois dias ou dois meses com o mesmíssimo dinheiro.

 

Entendiam as luminárias governativas da altura que assim evitavam a fuga de capitais. Só um tolo presunçoso poderia imaginar que isso impediria os ricos(os reaccionários, os fascistas, os capitalistas, os ladrões, os corruptos e sei lá quem mais) de fazer evadir os seus capitais. Não impediu, antes excitou muito remediado a pôr o cacauzinho duramente ganho em sítio mais seguro do que a pátria madrasta.

 

As criaturas, mesmo se de côr política diferente, que hoje se acham incumbidas de nos salvar pensam o mesmo ou quase. E juntando o acto à palavra garantiram que passarão as férias por aí. Pelos Açores, pelo Algarve, pelo Douro, enfim por sítios que para uma imensa maioria de portugueses são caros.

 

Caros e pouco hospitaleiros. A preços que nos fazem lembrar com saudade os honrados piratas barbarescos que assaltavam as nossas praias, assolavam os nossos portos e faziam mão baixa de tudo o que reluzisse.

 

A última vez que estive no Algarve paguei um balúrdio por alojamento, comi mal e caro e vim de lá farto da hospitalidade portuguesa, nossa.

 

Decidi que para o bodo aos gananciosos já tinha dado mais do que o suficiente. E voltei a acolher-me às praias da Galiza onde um apartamento para quatro pessoas à borda da água com um mercado a quinhentos metros, uma mercearia a duzentos r tudo o que eu preciso a menos ainda, se possível me custa 800 euros pela quinzena. Duzentinhos por cabeça! 14 euros por dia.

 

Como opiparamente numa bela esplanada em cima da praia a preços que desafiam qualquer restaurante nacional, nosso. Melhor, mais barato, com a possibilidade de variar as ementas. Se comparar com os preços dessa última estadia no Algarve, as mesmas quatro pessoas que referi pagam metade do eu e a minha mulher pagámos cá dentro (ou lá dentro porque desconfio que o Alllgarve já deixou de ser nacional...) E comparo preços do ano passado na adorável “Postiña” de que os compadres Coutinho Ribeiro e JCP já são fregueses ( a mim o devem...) satisfeitos, com os preços de há sete ou oito anos em três almoços numa praia algarvia. E nem sequer estou a falar desses restaurantes famosos e badalados...

 

O patriotismo que nos cominam sai caro. Caríssimo. Quer em alojamento, quer em bares, cafés e restaurantes. Até a gasolina, valha-nos São Gaspar, é mais barata além fronteira!

 

Pensando bem, até começo a suspeitar que indo para a Galiza, ajudo a economia nacional. Ou pelo menos o sector exportador que encara com preocupação o descalabro que vai pelas terras do senhor Rajoy (mais galego, mais cabeçudo que ele nem a Merkel!) distribuindo pelas terras espanholas uns miseráveis centos de euros, tento, à minha escassa medida reanimar o moribundo que dá emprego dezenas de milhares de emigrantes portugueses e que é o nosso melhor cliente.

 

Acho que o senhor Passos Coelho (tirado da cartola de quem sabemos, etc., etc...) até me devia agradecer...

 

E, por favor, guarde o patriotismo para melhor ocasião.

 

Boas férias, leitoras e leitores que me aturam. E patrióticas, claro! Se tiverem dinheiro e paciência para tal.......

 

*a fotografia: a praia onde impatrioticamente gastarei as duas próximas semanas. 

 

 

 

 

Só a receita das multas cresce com a crise

JSC, 30.07.12

Allô? Daqui fala Relvas. Miguel Relvas.

José Carlos Pereira, 26.07.12

O texto anterior revela uma grande e legítima preocupação com os pagamentos avultados a consultores por parte do Governo e do Banco de Portugal. Isso mesmo foi criticado pelo presidente do BPI, Fernando Ulrich. Pois bem, isso está na massa do sangue dos membros do Governo.

Então o ministro Miguel Relvas, por exemplo, não andou anos a fio a beneficiar de pagamentos exorbitantes da Câmara Municipal de Tomar? Com tal conta de telemóvel, Relvas bem podia ser consultor da Câmara e de todas as empresas de Tomar e arredores...

Para consultores estrangeiros não há crise

JSC, 26.07.12

A arte de mal comunicar

José Carlos Pereira, 24.07.12

A arte de comunicar do primeiro-ministro já aqui foi alvo de apreciação, mas a última tirada "popular/brejeira" de Passos Coelho teve o condão de destacar a pobreza da sua narrativa. É, de facto, muito frágil a envergadura política e intelectual de Passos Coelho.

Entre muitas outras pérolas a que nos habituou, Passos Coelho já disse que os sacrifícios estão a sair do lombo dos portugueses e que, a quem anda com um martelo na mão, tudo parece um prego. O que é enternecedor...

Nos últimos dias, garantiu que o Governo não está a atirar porcaria para a ventoinha, o que nos sossegou todos, antes de afirmar que não está preocupado com o futuro. Que se lixem as eleições, proclamou ontem perante os seus deputados!

Creio que a oratória do primeiro-ministro deve ter resultado de um qualquer processo de equivalências obtidas a partir dos seus discursos do tempo da jota...

O espelho grego

JSC, 23.07.12

Os gregos até seguiram os ditames dos mandantes externos. Assustaram-nos e eles votaram nos mesmos de sempre, em menor número, mas lá deram o poder a quem os conduziu para o empobrecimento em grande escala.

 

Nos últimos anos os gregos têm suportado todas as políticas de austeridade que lhe têm sido impostas pela troika que lhes calhou em sorte. Apesar disso, apesar de alinharem com os agiotas internacionais, os gregos estão em vias de ser abandonados.

 

O Fundo Monetário Internacional equaciona acabar com as “ajudas” financeiras à Grécia. Por sua vez, o Ministro da Economia alemão, diz que a saída da Grécia da zona euro,   "deixou de ser assustador há muito tempo”.


O ministro da economia alemão não podia ser mais explícito. O “há muito tempo”, quer dizer a partir do momento em que os bancos alemães se libertaram da dívida grega. Agora que os bancos alemães estão a salvo da derrocada grega, os gregos podem ir ao fundo, com o pretexto de que não querem aplicar mais austeridade sobre a austeridade.

 

O caso grego é o melhor espelho que se pode ter para ver o reflexo do que nos vais suceder. O FMI quer que se reduza a TSU e que se aumente o IVA e outros impostos para compensar a perda de receita com a redução da TSU. Se o governo aplicar esta medida, logo o FMI inventará uma outra. A política de austeridade não tem fim. Entretanto, tal como sucedeu na Grécia, os bancos alemães e os grandes bancos europeus vão-se libertando da exposição à dívida portuguesa. Quando o seu risco for nulo, lá virá o FMI e o ministro da economia alemão anunciar que “a saída de Portugal do euro deixou de ser assustadora há muito tempo”.


Nessa altura, Vitor Gaspar regressa às altas estâncias europeias. O ministro Álvaro regressa a Vancouver. O pessoal é que terá que ficar por cá para eleger as alternativas do costume e seguir o destino dos gregos.

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