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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

estes dias que passam 287

d'oliveira, 30.09.12

Febeapa à portuguesa

 

Foi o saudoso Stalislau Ponte Preta (aliás Sérgio Porto) que, em épocas difíceis, para a maioria de nós quase inimagináveis, inaugurou o termo. Corriam os anos sessenta e no Brasil vigorava uma ditadura militar que se caracterizava por ser mais burra e mais ignorante do que normalmente já se esperaria da gente de armas. Stanislau cognominou o diário espectáculo da política brasileira de “Festival de Besteira que Assola o País”. E vá de cascar na soldadesca inculta ...

Ora por cá, a burrice impera e em alto grau. Ou então nem burrice é mas mera ignorância. Crassa, mais densa que o chumbo, viscosa e de mau gosto.

Hoje lá teremos de ir buscar a pobre senhora que faz de Ministra da Justiça, uma licenciada em direito por uma tal Universidade Livre que, ao que parece, pereceu de morte macaca ao fim de cinco anos de funcionamento. Foi a DGES (Direcção Geral do ensino Superior) que lhe passou a certidão de óbito pelas causas que se conhecem.

Apesar de tudo, que é muito, a vaga generosidade que anima qualquer um não pode sem mais pedir a uma universidade encerrada pelas autoridades responsabilidades pelos seus ex-alunos. Mas que apetece pensar que de mau molde sai peça defeituosa, ai isso é que nem ginjas!

A senhora drª Cruz, hoje com uns briosos cinquenta e tal aninhos, foi sendo notícia nos meios políticos pela sua intensa actividade partidária. Não era a Pasionária, longe disso (que para tal e desde logo lhe faltava qualquer espécie de talento oratório) nem sequer uma émula da drª Beleza (que só cita por pertencer ao mesmo partido) ou de boa parte das senhoras actuais e ex deputadas (que usam parcamente a voz e intervenção pública), nem nunca alguém ficou abismado com alguma proposta dela, no Parlamento ou fora dele.

Foi por isso com surpresa que o país a viu alçada ao cargo ministerial que hoje ocupa. Surpresa e resignação. De todo o modo, nem num conjunto tão pardo, tão pouco entusiasmante, ela não sobressaía.

E um ano e tal passado continua a não sobressair. Ou melhor, sabe-se da sua querela eterna com uma alma gémea encarniçada com quem vem travando uma desgastante e nada exaltante guerrilha de palavras. Assunto meramente fecal que não vale a pena referir mais. Aqueles dois são farinha do mesmo saco e que se comam um ao outro é questão que não interessa sequer às comadres do solheiro.

E voltemos à criatura vagamente loira, vagamente de cabelos escorridos e compridos, vagamente vociferante, que por aí anda a fazer de ministra não se sabe bem de quê. Da Justiça, aliás. Da Justiça que felizmente (para ela, justiça) é cega e, se calhar, surda e muda. Ou tornada surda e emudecida...

Ocorre que uns indivíduos (que felizmente não são das minhas relações –a alguma vez havia de ter sorte mesmo negativa) e que se deram ao duro labor de ministrear as “obras públicas” (ou talvez as privadas de alguém) no anterior Governo, estão a ser investigados pela policia. “Tarde mas ainda a tempo”, suspirou o país inteiro que não consegue perceber o milagre da multiplicação de encargos para o Estado e a grossa prebenda para os privados construtores.

Perguntada pelos jornalistas, a senhora drª Cruz nem hesitou: bradou com destemperado esganiçamento que o recreio tinha acabado; que cessara a impunidade e outras pérolas do mesmo arrojado e duvidoso gosto.

Claro que a pobre criatura ao ver um microfone à sua frente, se excedeu. De facto poderia ter dito que não era à MJ que competia Comentar inquéritos e buscas a anteriores governantes; poderia até dizer que a Justiça funciona e não olha à qualidade, classe ou importância do cidadão postto em causa pelo regular desempenho das actuações policiais; enfim poderia com candura e distância ter dito as mesmíssimas coisas que disso sem daí sair beliscão para a sua isenção ou condenação para quem nem sequer acusado está. Isto é o que faria qualquer pessoa dotada de vulgar bom senso. Um jurista (mesmo vinda tal universidade fenecida e livre) tem mais responsabilidades e deve usar de alguma cautela no que diz e como o diz. Um cidadão, jurista, político e ministro então deve redobrar de esforços e, se possível, usar um português bem pensado, bem elaborado e não deixar rabos de palha. E não prejudicar o Governo (mesmo esta caricatura de Governo) de que faz parte.

Hoje, no café (a esplanada fecha aos domingos...) à hora de maior afluência, alguém, alto e bom som, declarava que a pobre senhora está na menopausa e que isso lhe afecta as faculdades discursivas e reflexivas. A tese é de um insuportável machismo (burrices idênticas tem sido largadas pelo cavalheiro Borges ou por Relvas sem esquecer o chefe de governo) e no meio de umas dezenas de paroquianos que vinham da missa poderia cair mal. E digo poderia porque, ao contrario do que seria esperado, não houve uma voz, um gesto, nada. Quem ouviu, sorriu, assentiu e comentou na sua mesa mas em tom bem menos tonitruante a frase patriota que escarnecia da drª Cruz. Confesso que se por um lado não me agradou, por outro não fiquei comovido. Quem na praça diz asneiras em casa é criticado. Ou no café.

A drª cruz tem na gaveta, fechadas a sete chaves umas reformas que ela anunciou com pompa e circunstância. Algumas são tão absurdas que a prisão domiciliária a que estão submetidas é mais que salutar (refiro-me à ideia de reduzir a pobre pátria escaqueirada pelos de antes e por estes a 30 mega comarcas que, todos reconhecem, é solução ainda mais cara, mais injusta e e menos eficaz do que a actual situação. Sobretudo, só para 4exemplo, por esta coisa de somenos. Aumentar a distancia dos cidadãos aos tribunais só seria possível se vigorasse nessas terras esquecidas um qualquer sistema útil, barato e eficaz de transportes. Todavia, todos sabemos que a CP já só opera em menos de metade da antiga rede e que as companhias privadas de transporte público há muito que abandonaram regiões inteiras dada a concorrência do automóvel privado. Resultado: os pobres que se ponham a toques e preparem alguma forte dinheirama para táxis (se os houver) no caso de quererem ir a tribunal defender algum legítimo direito. E os remediados se ainda existirem, idem, aspas, aspas.

Entretanto, a drª Cruz e doutor e Pinto lá continuam na sua azougada troca de piropos. Aquilo ainda acaba em namoro firme. E que bonito par fariam... 

 

 

 

 

Estes dias que passam 286

d'oliveira, 29.09.12

Que mal fizemos nós a Deus para aturar isto?


Um pobre diabo que dá por António Borges e é “conselheiro do Governo para as privatizações”, entendeu, do alto da sua imensa toleima, chamar “ignorantes” aos empresários que criticaram a política relativa à TSU.

Borges, o desenfreado, entende que estes empresários chumbariam no 1º ano da faculdade onde ele, o génio, dá aulas à plebe inculta.

Na plateia o coleguinha Relvas, perdão dr. Relvas, que não desmerece de Borges (pelo menos no mau gosto quanto a gravatas) sorria embevecido.


Por mero acaso, um site americano assinado por notabilidades de peso na Economia, dizia que Portugal marcou um auto-golo com a cretinice da baixa da TSU para empresários...

 

Contaram-me, hoje mesmo, que o aparatoso Borges esteve para ser agredido por um cidadão que só o não fez por ter sido agarrado por dois colegas que lembraram ao indignado ser  pai de filhos.

Um dia destes, algum cavalheiro, livre de filhos mulher e cadilhos, disparata e dá a Borges dois safanões, plenamente merecidos. La lhe estragam o penteado, os loiros (pintados?) cabelinhos e cara de sonso. Não o desejo, não o faria (para não sujar a mão envelhecida...) mas nunca o lamentarei. Quem anda à chuva... molha-se.

Eu que não sou empresário, que nunca o quis ser, que suspeito que não será a companhia adequada para o bridge e para uma conversa sobre livralhada, temo bem que, mesmo assim, prefira esta gente a Borges.

Borges não percebe nada, rigorosamente nada, do fenómeno “desconfiança” que assola a maioria imensa dos portugueses. Sobretudo do que se passaria nas empresas se a coisa fosse para a frente. (a menos que Borges seja un agent provocateur de alguma desconhecida carbonária bolchevista...). Borges deve ser cego, surdo e parvo ao não ver como as pessoas se manifestam. Se as eleições fossem hoje, Borges poderia fazer as malas e voltar para a lura onde estava, pois os seus amigalhaços provavelmente perderiam fragorosamente as eleições.

Borges, o sapiente inculto, ignora tudo do mundo empresarial e nem sequer deve saber que há assalariados, para não dizer operários, muito menos proletários.

De cada vez que abre a boquinha mimosa arrota um parvoejada e torna ainda mais difícil a tarefa dos seus actuais patrões.

Borges pode estar carregado de diplomas mas nem isso o salva de não perceber nada de nada do que é mundo real.

Deixemos este boquirroto espairecer a sua balivérnia por aí. Alguém lhe há de ensinar a usar uma gravata de bom gosto e a calar-se.

 

  

missanga a pataco 79

d'oliveira, 28.09.12

 

Aberrante!

 

Parece que o Governo, pela autorizada voz do Ministro da Saúde, entendeu que os cidadãos, todos os cidadãos, com mais de 65 anos teriam direito á vacinação gratuita contra a gripe.

Desconheço o custo da vacina, mesmo se também eu anualmente a tome. A ideia é que é barata. Pelo menos para pessoas com o meu (modesto) nível de rendimentos.

Entendo que os velhos estão mais sujeitos aos riscos que uma gripe implica. Entendo que a pessoas de recursos baixos tal vacina fosse a preço zero. Todavia, mesmo com a crise, ainda há muito boa gente (ou até má...) que a pode pagar sem com isso ver o orçamento mensal tremido. Quer eu quer o senhor Belmiro Azevedo, ou o patrão do Pingo Doce (permitam-me, uma vez sem exemplo, figurar neste clube restrito de empresários afortunados) poderemos pagar a vacina em causa. E, connosco, mais umas dezenas de milhares de portugueses.  

A economia não será gigantesca mas pelo menos, neste caso, é ridículo oferecer-nos algo que poderíamos pagar.

É este género de medidas (que a imprensa achou “justa” e boa) que mostra á evidência que o governo anda de cabeça perdida.

Que nenhum politico, desses ferocíssimos que uivam por tudo e por nada, tenha saído à estacada a denunciar esta tolice, só me surpreenderia se eles estivessem de facto a falar a sério. Mas temo bem que não estejam.

 

 

 

 

 

missanga a pataco 78

d'oliveira, 28.09.12

 

Sobre o uso  (e abuso!) do termo “justicialismo

 

Justicialismo: doutrina política de Juan domingo Péron (1895-1974) presidente da Argentina; peronismo; pensamento e acção política dos que seguem essa doutrina na Argentina (Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, vol IV, p. 2199)

Peronisme: systéme politique instauré en Argentine pour le président Péron, inspiré du corporatisme mussolinien qui aliait réformes socialies et dirigisme

(Dictionnaire Hachette  2005 p. 1226).

E por aí fora...

Tentar confundir uma objurgatória da senhora Ministra da Justiça com o peronismo foi um arriscado passo dado pelos senhores Santana Lopes e João Galamba (deputado de PS). O português para estas duas criaturas deve ser mesmo uma língua muito trabalhosa.

Que a palavra tenha sido depois repetida até á saciedade por jornalistas ignorantes, políticos indigentes  e  cidadãos inocentes e pouco frequentadores do dicionário revela que por cá qualquer andorinha anuncia não a primavera mas o inverno das ideias.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

estes dias que passam 285

d'oliveira, 25.09.12

 

Uma boa notícia?

Uma excelente notícia!

 

Finalmente, e graças à sociedade civil, no caso o Automóvel Clube de Portugal, de que sou sócio há muitos anos (tantos que nem me lembro...) dois ex- Ministros e um ex-Secretário de Estado estão a ser alvo de buscas domiciliárias ordenadas pelo Ministério Público.

É pouco? Sabe a pouco? Claro que é pouco, mas é um princípio.

Nem se percebe como é que, numa empresa, um gerente pode ser acusado de gestão danosa e no "Estado" (a que isto chegou...) a um ministro ou um outro responsável nada sucede. 

E, no caso em apreço, as "obras públicas", mormente as estradas, são apontados por todos como um imenso escândalo que, no caso de algumas PPP, foram mesmo, segundo uma auditoria independente, de um vergonhoso descaramento.

O compadrio desenfreado, a maneira como ministros  saem dos seus cargos e são empregados por empresas que, em muitos casos, dependeram ou tinham ligações aos ministérios que eles governaram, são conhecidos, gritantemente conhecidos, mas pelos vistos ninguém se comovia.

Deputados que, enquanto parlapeiam no Parlamento, estão na folha de pagamento de "Câmaras amigas" como assessores com tarefas que todos desconhecem sem se conseguir encontrar um traço escrito dos seus hipotéticos pareceres, dos seus "estudos" constando apenas para privadíssimo conhecimento a folha de pagamento. 

Os favores, a miopia das inspecções, no que toca a parentes, próximos ou nem tanto, que conseguem a satisfação mesmo fora de tempo  (como se escreveu e não foi sequer desmentido!...) de reivindicações salariais sem sentido nem base jurídica andam nas bocas do mundo. Verdadeiras ou falsas, infamam quem é beneficiário e quem, miséria das misérias!, nem se lembra que mesmo com razão, conviria não deixar que a suspeição alastre entre adversários políticos e conhecidos.

Há algo podre no reino da Dinamarca, mas aqui não há um poeta genial para daí tirar mais do que um folhetim de quarta categoria.

A democracia e a liberdade afogam-se neste mar da palha de uma política vil, de uma arrogância descarada frente aos paisanos que somos, aos votantes que nos sentimos ludibriados, ao povo que não vê senão a salvação num messiânico vulto saído do pior sono da razão, de um pesadelo que já ocorreu em 1926 e que, tudo o indica, cresce imparavelmente no meio do escândalo e da desvergonha.  

E da corrupção...

 

 

Crise? Qual crise?

JSC, 21.09.12

 

Depois da majestosas manifestações de 15 de Setembro importava encontrar um entretenimento que fizesse passar para segundo ou terceiro plano a dinâmica que o contágio da manifestação podia gerar.

 

Foi assim que a comunicação social nos brindou, permanentemente, com o folhetim Paulo Portas/Passos Coelho. O folhetim percorreu toda a semana até que dois grupos de gladiadores (sem os respectivos líderes) se reuniram, num hotel de Lisboa, para fazer de conta que forjavam um comunicado, como se aquela gente pudesse produzir algum texto (e muito menos torna-lo público) sem o patrocínio dos respectivos líderes.

 

No fim do dia, leram o comunicado e, por entre sorrisos, partiram todos os satisfeitos. A coligação tinha sido salva, estava mais fortalecida, diziam. O país continuaria a ter os mesmos figurantes no governo e, mais importante, o espírito da manifestação já levava uns dias de silêncio.

 

A seguir aos sorrisos da equipa laranja centrista aparece, finalmente, o Presidente da República a proclamar que a "eventualidade" de uma crise política está ultrapassada. Deste modo, tão simples e arguto, o Presidente esvaziou o Conselho de Estado que está prestes a iniciar-se e que tem (tinha) por finalidade analisar a crise política, que todos tinham por instalada na governação.

 

Como não podia deixar de ser, o Presidente da República não deixou de invocar os medos e de se juntar a todos aqueles que não veem alternativa à política de empobrecimento das famílias e de falência das empresas, onde os bancos estão a salvo, ao serviço dos quais está todo o poder político instituído.

 

Do que se lê, o Presidente da República parece dizer que o povo se assustou com as "medidas muito duras" anunciadas pelo Governo, acrescentando que “nenhuma medida, até este momento, foi aprovada". Ou seja, pode-se ser levado a pensar que o Presidente da República pensa que os manifestantes foram precipitados ao irem para a rua protestar contra algo indefinido, que ainda não estava aprovado.

 

Apesar disso, de criticar implicitamente os manifestantes, Cavaco Silva, politicamente correcto, rematou que é preciso "ouvir o país". Só que Cavaco Silva não disse que o Governo tem de ouvir o país nem revelou qual a sua disponibilidade para ouvir o país. Aliás, como ele disse, a crise não passou de “eventual”, logo tudo tende para a normalidade, podemos passar ao folhetim seguinte.

Diário Político 181

mcr, 20.09.12

A catástrofe iminente e os meios  de a conjurar

 

 

 

O título obviamente pertence ao senhor Vladimir Ilicht Ulianov que nov século usou Leninv (o homem do Lena, local onde esteve convenientemente deportado pelas autoridades tzaristas ).

 

E lembrei-me destye título, por in illo tempore, ter feito forte gasto da literatura deste autor, por ter consumido uns fartos 80%  dos três grossos tomos das “obras escolhidas” (na versão francesa, editions du progrés,  Moscovo). Em meu abono apenas refiro que os livros me foram oferecidos por um sogro generoso e sabedor que mos trouxe directos da “librairie du globe” ali da rue de Buci se não erro.

 

Em 1965 li aquilo de rajada, saltando apenas uns relatórios e umas arengas que considerei desnecessárias para a minha formação “leninista” Tinha vinte e poucos anos, eram os anos sessenta e entre o círculo de amigos e companheiros que frequentava ler Lenin era “fundamental”. E Marx, Lukacs, Konstantinov e mais um par de cavalheiros entre os quais Plekanov, Preobajensky e Bukarine, já agora. Naquele tempo (primeira metade dos sessenta) os “clássicos” eram considerados como o sine qua non de uma carreira de esquerdista.

 

Confesso, também em meu abono que fiquei a metade do “Materialismo e empirocriticismo”, uma absoluta estopada filosofante do mesmo Lenin que deveria querer mostrar que era igual a Marx. Não era e a dolorosa história da URSS bem o exemplifica.

 

Todavia, voltemos à “Catástrofe iminente...”. O texto começa com uma dramática descrição da situação do país mergulado em greves, falta de géneros essenciais, manifestações e tumultos e ineficácia governamental. E é a partir daí que Lenin, fino político, propõe uma série de medidas de salvação.  Vale a pena, mesmo hoje, passar uma vista de olhos por este texto (julgo que anda pelos alfarrabistas uma tradução editada pela saudosa “Centelha” a preço mais ou menos vil. Para quem atura a rapaziada do Bloco ou o estertor do PC esta literatura até pode ser saudável...

 

E porque é que falo em “catástrofe iminente...” Pela pequena e forte razão de que, por cá, anda tudo em polvorosa. Em breves palavras: desde o mergulho mortal de costas de Coelho para a piscina quase vazia, vai por aí uma vozearia desconforme.

 

Poder-se-ia pensar que nas combalidas hostes da esquerda, revigoradas pela tonta entrevista de Coelho, reinaria não só uma animaçãqo mas, mais do que isso, um princípio de consenso quanto à política a defender e às medidas a tomar. Medidas claras, simples, enérgicas que nos tirassem deste atoleiro wm que a pátria se debate.

 

Lamento dizer que se oiço gritos e condenações em quantidade nem um sussurro me chega de soluções.

 

Melhor, aliás pior: começa a ouvir-se com crescente intensidade que este Governo não presta mas que deve ser ele ou outro da mesma cor e som a enfrentar os tormentosos tempos que se avizinham. Da parte do P.S., a coisa chega a roçar a mais descarada obscenidade: O P.S. parece ter adquirido uma brande virgindade política (nada disto é com eles, a troika também não, os acordos que a trouxeram a estas ridentes paragens ainda menos e a desastrada governação de anos não tem nada a ver com isto que ora se vive). Há semanas Seguro jurava, de voz embargada, que estava pronto para governar. Passou-lhe depressa a vontade, como declarações recentes fartamente sugerem. Socialistas (ou gente que se assume como tal) começam a apelar ao Presidente da República para que este, numa espécie de golpe de Estado institucional, demita o Governo e nomeie outro vinda da mesma banda ou constituído por independentes e técnicos. Não foi outra a sugestão do dr. Mário Soares que, repentinamente começou a renegar de tudo o que no passado recente o tornava uma referência.

 

Claro que me dirão que o PC e o Bloco não dizem a mesma coisa (mesmo se altos quadros sindicais, por exemplo, façam também eles o discurso da intervenção presidencial). Dizer, não dizem. Mas também não dizem o contrário. Se nos lembrarmos que só com muito boa vontade estes dois partidos (e os Verdes, claro, os Verdes, como é que eu me esquecia dessa sucursal do partidão? Então poder-se-á lá passar sem o arrebatamento pasionário da dr.ª Heloísa Apolónia que curiosamente sempre me pareceu mais vermelha do que os seus colegas de coligação que desde sempre dão boleia a esta infíma fração dos ecologistas portugueses?) reúnem 20% dos votos expressos nas eleições o que os torna dispensáveis para qualquer cálculo político e governamental.  Aliás, nem sequer se entendem entre eles, como ainda há bem pouco se verificou quando, perante uma imprensa arrebatada e entusiasta tiveram de adiar para as calendas gregas um encontro a sério.

 

Depois, o P.S. foge desta gente como o diabo da cruz. E eles, pese embora uma mimosa entrevista duma gentil senhorinha do BE , fogem do P.S. com igual velocidade mas mais repugnância.

 

Ninguém quer pegar na batata quente. Ninguém. Aventam-se as mais loucas hipóteses de sair desta engreguilho medonho, reconduzindo-se todas a uma intervenção de Cavaco ou a um governo de tecnocratas.

 

A cereja no bolo disto tudo, a triste cereja, é a extraordinária afirmação do “herói de Abril”, do “cérebro da revolução” do ex-Castro português, o senhor coronel Otelo Saraiva de Carvalho.

 

Diz esta luminária militar que o “que precisamos é de um homem honesto como o dr. Salazar”, de um homem que salvou o pais da bancarrota, que criou emprego e deixou o Banco de Portugal abarrotado de oiro que deu muito geito no período a seguir ao 25 de Abril!” (a citação é bastante livre mas podem estar certos que é isto mesmo que a criatura assevera).

 

Se o dr. Soares parodia, sem o perceber, o senhor Cunha Leal nos prolegómenos do 28 de Maio de 26, Otelo parece inspirar-se em Filomeno da Câmara um dos heróis da revolução dos “fifis”, que aliás não teve sucesso.

 

(e ainda anda por aí um grupo de historiadores a criticar Rui Ramos por este, alegadamente e aos seus inquisitoriais olhos, “desculpabilizar” Salazar? Já agora, e marginalmente, um vago doutor por extenso de Coimbra e historiador parcamente lido entende que um estilo limpo e uma escrita agradável são pecados capitais num historiador! Quousque tamdem abutere... etc,etc.?)

 

Estamos, caros leitores, a caminho de reencontrar todos os velhos demónios da nossa saga sebastianista e milenária. As vozes que clamam por um salvador, por um técnico, independente dos partidos (como se não fossem estes, mesmo maus ou até péssimos como é o triste caso actual, um elemento central e definitvo da Democracia), justificam o elogio de Salazar feito por OSC (ou Óscar?)e podem prenunciar um triunfal regresso de um Estado já não Novo mas semi-velho que,. com um par de safanões a tempo, resolva o problema de algumas criaturas incómodas.

 

As multidões na rua reclamando-se de apartidarismo podem facilmente ser engodadas por uma promessa de resolução radical dos actuais problemas em troca dessa coisa de somenos que é a liberdade (a liberdade que seguramente não está a passar por aqui...).

 

d’Oliveira fecit -20.09.12

 

(a pedido de mcr vai esta para dois antigos subversivos coimbrãos chamados António Noronha e Carlos Granés. Parece que fazem o favor de me ler, coisa que cada vez mais é de agradecer)

 

 

 

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