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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

Os famigerados quatro mil milhões

José Carlos Pereira, 26.02.13

Na edição de Fevereiro da revista “Repórter do Marão", publico um artigo de opinião sobre o anunciado corte de quatro mil milhões de euros na despesa pública:

 

"O país tem estado mergulhado no debate sobre o corte de 4 mil milhões de euros na despesa pública que o Governo se comprometeu a apresentar à troika. O número nasceu sem que ninguém assuma a sua paternidade e a razão de ser do mesmo, mas a meta é por si só suficiente para deixar os portugueses apreensivos.

Defendo desde há muito que o Governo deveria ter avançado com uma profunda reforma do Estado, aliando a redução da despesa pública ao redesenho das funções a cargo da administração central e local. Essa era uma tarefa que devia ter-se iniciado logo no início do mandato, com o envolvimento dos partidos da oposição e dos parceiros sociais, mas que é impossível de realizar à pressa, em meia dúzia de meses.

Porquê, então, um corte de 4 mil milhões de euros na despesa? Por que não 3 mil milhões ou 3,5 mil milhões? Ninguém sabe responder com certeza a esta questão. Creio bem que o valor terá surgido nas conversas anteriores com a troika em resultado das derrapagens orçamentais que Vítor Gaspar não conseguiu evitar. Ao constatar que o Governo não conseguia cortar de forma efectiva na despesa, e antevendo que as metas estabelecidas para o défice nos próximos anos também não serão atingidas, a troika ditou as suas regras. Coincidência, ou talvez não, os 4 mil milhões de euros correspondem exactamente à diferença entre o défice previsto para 2013 (7,5 mil milhões) e 2015 (3,5 mil milhões de euros).

Contudo, é impossível caminhar para a consolidação orçamental com o foco centrado apenas na redução da despesa e no agravamento da carga fiscal. É necessário impulsionar o crescimento económico, sob pena de os cortes na despesa nunca serem suficientes para as metas fixadas. Além do mais, o Governo e a troika não podem esquecer o quadro económico e social que a Europa e Portugal vivem neste momento.

Nas últimas semanas ficámos a saber que a quebra do Produto Interno Bruto em 2012 foi de 3,2 %, superior portanto às previsões do executivo, e que a taxa de desemprego no final do ano transacto atingiu os 16,9%, abrangendo cerca de 923.000 portugueses. Estes números são preocupantes e acabam por ser também um reflexo da recessão que atinge a Europa, para onde se dirige mais de 70% das exportações nacionais.

Se contarmos com os activos que estão fora destas estatísticas, por já terem desistido de procurar emprego ou por não estarem disponíveis, Portugal terá cerca de 1,2 milhões de pessoas sem emprego, dos quais pouco mais de 400.000 recebem subsídio de desemprego. Com os cortes entretanto introduzidos nas prestações sociais, que já deixaram um número elevado de pessoas sem quaisquer rendimentos, está formado um quadro verdadeiramente explosivo em Portugal, que recomenda todas as prudências ao Governo no momento de desenhar a “refundação” do Estado.

Infelizmente, nos planos que têm vindo a público, não se vêem medidas estruturantes que vão para além de um ataque cerrado às funções sociais do Estado, na educação, na saúde e na segurança social.

Prestes a iniciar-se uma nova ronda de negociações com os emissários da troika, exige-se por isso que o Governo seja capaz de se bater para que o nosso país não seja condenado à miséria e à exaustão, a curto prazo. No mínimo, deve pugnar por um faseamento na implementação das medidas ao longo dos próximos anos, permitindo assim recuperar o envolvimento dos partidos da oposição e dos parceiros sociais disponíveis para o efeito.

A revelação de que será Paulo Portas o responsável pela coordenação do documento sobre a reforma do Estado parece uma tentativa de Passos Coelho para dar um cariz mais político e menos economicista a essas propostas. Mas também houve quem não visse nessa decisão mais do que a vontade de comprometer o CDS com os planos anunciados.

O que deve fazer o PS perante uma proposta séria de diálogo e concertação? Deve ir a jogo e defender a sua visão para a reforma do Estado. Não pode dar a imagem de que se furta ao debate por que não tem ideias sustentadas sobre uma reforma que é imprescindível para o nosso futuro colectivo.

Portugal tem um desafio pela frente que, por vezes, parece maior do que a capacidade daqueles que nos governam. Mas é nos momentos difíceis que se vê a massa de que são feitos os líderes. A quem está na oposição cabe demonstrar que não é movido pela política do quanto pior melhor e que tem uma perspectiva diferente quanto ao futuro do país. Os portugueses estarão atentos.”

Estes dias que passam 291

d'oliveira, 21.02.13

 

A falar é que a gente se entende...

 

A gravura que orna este folhetim é a da célebre "boca da verdade" existente numa igreja romana.  Convirá, porém, ter presente que esta boca também poderá ser a da "cloaca maxima" ou mesmo uma simples tampa de esgoto. 

Isto vem a propósito do meu texto de ontem, texto que volto a reivindicar, obviamente. Quando digo que é preciso acossar a gentuça que anda por aí a fingir que obra por nosso bem, refiro-me em primeira mão aos mais responsáveis, ou seja ao ajuntamento disléxico a que chamam piedosamente Governo.

Mas não fiquemos por aí. 

No parlamento (e fora dele) por terras da província e até em Paris anda muita criatura com responsabilidades idênticas ou mais graves. Os portugueses no seu conjunto viabilizaram governos incapazes, desleixados e incompetentes. E essa responsabilidade cabe a todos nós. A mim e a vocês, leitores, amigos e companheiros. 

E viabilizaram essa aventura incerta e prometida a um naufrágio inevitável porque é sempre mais simpático ir atrás da miragem e fazer dos nossos desejos realidade. 

aqui mesmo, denunciei, em seu devido tempo, uma benesse retributiva que mais não era do que um truque eleitoral. E quão isolado me senti. Não que alguém me tenha saído ao caminho, nada disso. foi o silêncio, o espesso silêncio, o assobiar para o lado que me responderam. 

Eppure..., e porém, como se previa naquele tempo, como se verifica hoje, foram desvarios desses que nos conduziram a este atoleiro. 

Assiste-se, sem surpresa mas com indignação, ao branqueamento do passado recente, como se a troika fosse um meteorito imprevisível aterrado cerca da Torre de Belém.

Assiste-se, com igual indignação, aos gargarejos de partidos que agora falam de quão mau foi o acordo mas que, na altura própria, nem se dignaram dizer isso mesmo aos cavalheiros que a Europa e o mundo nos enviaram. 

Viu-se, durante semanas, uma irresponsável multidão de políticos pedirem um Monti, como se não soubessem que os salvadores da pátria - a existirem - podem começar mansamente e terminar a governar sozinhos e durante dezenas de anos. 

E não nos enganemos. A História do nosso século XX mostrou como uma República desgovernada segregava, ela mesma, a sua queda, os agentes dela e encenava a sua morte. foram rerpublicanos, foram políticos eminentes ex-governantes da República e não monárquicos ou "talassas" os fautores do 28 de Maio. Até maçons havia nesse grupo. E pouco importa se alguns deles (e por todos Cunha Leal entre os civis ou Cabeçadas o militar) depois entenderam passar-se com armas e bagagens para o "reviralho". como pouco importa se, dentre o quadrado dos fieis salazaristas saíram mais tarde, alguns dos principais e mais activos oponentes do regime.

A primeira questão que se põe é simples: queremos viver em democracia ou estamos prontos a entregar o nosso destino nas mãos de um patriarca "benigno", distante, frugal que usará a sua autoridade indiscutida para nos guiar para a terra do leite e do mel?

A segunda questão será esta: queremos viver livremente, mesmo sabendo que o caminho para a prosperidade não é aquele que trilhámos até agora mas algo de muito mais áspero ou estamos disposto a apostar nessa fantasia de vitória em vitória até à derrota final?

Por outras palavras, e esta tem alvo claro: queremos ser europeus e ocidentais ou estamos dispostos a ouvir um par de sereias, bem velhas por acaso, que nos prometem tudo para acabarmos numa Albânia, mais pobre e traduzida em calão? Ou será que os arautos dos amanhãs que cantam têm outro roteiro que não nos revelam nem nós conseguimos adivinhar? 

Sou claramente, como pede o líder parlamentar do PSD, a favor do diálogo político e reconheço a todos o direito na exprimir a sua opinião. Todavia, o diálogo e o direito a ser ouvido com respeito e atenção, exige, da parte dos governantes, respeito pelos governados. As pessoas não são números, não são fungíveis, não são só massa inerme e inerte, têm o direito a ser esclarecidas sobretudo quando lhes pedem mais e mais sacrifícios.

E não basta vir dizer que se herdou uma situação horrenda. Isso já nós sabemos, tanto assim que, de um acto eleitoral para outro se modificou radicalmente a maioria governativa. A herança tem dois anos, Sócrates é apenas uma memória obscena mas ninguém da outra banda (do outro bando) arriscou ir até ao fundo da questão. Quando é que isto começou a desandar? Foi só Sócrates? Foi também o fugaz (e fugitivo) Durão (que até falou no país de tanga, coisa aliás verdadeira que uma esquerda imbecil entendeu criticar num riso tolo e alvar)? E Guterres? Acaso não perdeu a cabeça e resolveu, para se afirmar, gastar mais do que devia e a prudência aconselhava? E certas liberalidades da fase final do cavaquismo quando já era evidente o cansaço dos eleitores e a ameaça de uma nova etapa política?

Portanto, o debate. Civilizado e com regras. Reconhecendo ao adversário os mesmos direitos e os mesmos deveres. Não basta como Luís Montenegro afirma, bradar que é o Governo que está a ser impedido de usar a sua liberdade. Está, obviamente, a ser enxovalhado porque por fas e por nefas permitiu que as coisas chegassem a este ponto. Cidadãos a quem é negada a informação comportam-se de maneira não informada. Sobretudo se, e isso pode ocorrer, alguém lhes disser para o fazer. Houve da parte de Montenegro um angelismo que a Oposição mesmo não respondendo aproveitou. O diálogo na Assembleia da República foi de surdos. Mas não de mudos, diga-se, que a asneira foi muita e  peregrina.  

E finalmente: Relvas, esse eterno politiqueiro, teve bem o que merecia. Do mesmo modo que ele troçou do Ensino universitário aproveitando a frouxidão da Lei, o desvario de um Reitor e a falta de ética de uma instituição universitária para se alcandorar ao risível posto de licenciado numa coisa sem importância e sem mérito, eis que estudantes que estudam, que se indignam, que temem pelo seu futuro enquanto escolares e enquanto futuros licenciados sem emprego nem futuro, lhe vêm dizer que a realidade, a áspera realidade toca a todos, a vítimas e a vitimadores, a sujeitos passivos e a quem detém o fugaz poder que não sabe e não merece exercer.

(obviamente não comento o episódio de um auto proclamado clube dos pensadores, raio de designação tão ufana quanto vazia e tola, onde meia dúzia de criaturas cantaram a destempo a Grândola e um energúmeno mandava em gritaria calar uma criatura. Aos berros não se pensa antes se dispensa o pensador... E Relvas, sempre ele a fazer o seu papel, se tanto se pode 

 

O EXCEL volta a errar

JSC, 20.02.13

 

O ministro das Finanças anunciou hoje no Parlamento que a degradação das condições económicas a nível externo levam o Governo a admitir uma recessão à volta dos 2%. A previsão do governo apontava para 1%. Para já, a dimensão do erro é de 100%, admite-se que com mais uns meses de execução e com as novas medidas que o ministro diz que vai aplicar, na sua próxima aparição no Parlamento, anuncie que afinal  a queda do PIB vai ser superior a 2,5%. De queda em queda até ao seu regresso ao seio do BCE.

estes dias que passam 290

d'oliveira, 19.02.13

 

 

Força malta do ISCTE!

 

Foi um protesto semelhante o que desencadeou a “crise académica de 1969” em Coimbra.

Força, pois, alunos do ISCTE e alunos de todas as restantes escolas superiores. Acossem-me esta gente sem pudor, sem estudos e sem capacidade.  Acossem-nos sem desfalecimento.

E acossem sobretudo essa criatura que obteve dezenas de equivalências numa orgia de favoritismo, de compadrio, de insensatez de uma universidade e de um reitor a que, pelos vistos, nenhuma sanção corresponde. Digam bem alto ao homenzinho que as espertalhices, mesmo se a lei não previa limites, não transformam um ignorante num licenciado.

 

A Grande farra

JSC, 18.02.13

 

António Mexia afirmou que "foi bom ver [a reprivatização] resolvida em duas horas ao fim de 15 anos".

 

António Mexia e os interesses que representa têm razão para estarem muito felizes. A partir de agora podem abichar a totalidade dos lucros. Agora já ninguém (incluindo os partidos da oposição) fala das “rendas excessivas” nem dos exagerados “custos de interesse económico geral”, que os consumidores pagam factura a factura.

estes dias que passam 289

d'oliveira, 16.02.13

 

 

Nem os ”ungidos pelo Senhor”!....

 

O senhor Cardeal Patriarca entendeu beneficiar-nos com os seus conhecimentos de política vaticana.

A propósito do futuro Papa eis que nos iluminou com o seu verbo forte: que o colégio cardinalício elege quem muito bem entende (ouvido que terá sido, espera-se, o Espírito Santo) pelo que a eleição pode recair num europeu, num americano num asiático ou num “preto”.

Ora aqui está um colega para o senhor secretario geral da CGTP, o tal do escurinho membro da troika. Les beaux esprits se rencontrent. Não numa manif reivindicativa, muito menos aos pés do altar, mas tão só nesse eufemismo racistóide que no caso de Sª Eminência vai ao preto, ao pretinho da Guiné ou a qualquer confrade da mesma raça e teor.

A boquinha, por onde morre o peixe, foge-lhes para o preconceito. Fica-se a saber que há europeus, asiáticos, americanos e pretos. Ao que parece não há africanos. E na  Europa ou na America não há pretos. Ou havendo, trata-se de “niggers”, de “bamboula” de “blanche neige”, enfim de “pretalhada”.

A África deve ser um buraco negro, uma região atingida pelo deserto e por algum meteorito gigante que a fez desaparecer da família humana.

Ou então, trata-se de um continente de réprobos trabalhados prelos protestantes, pelas novas seitas e pelo perigo muçulmano. Uma inexistência religiosa, portanto.

Claro que me dirão que isto foi apenas um tropeço, uma distração, que não há na pessoa do patriarca qualquer preconceito. Quero, queria, qcrer que sim. Mas que há na sua inocente frase um resquício da velha ideia racial, não tenho dúvidas. E é isso que urge criticar, anotar, sublinhar. Só isso. =Para que o espírito missionário não seja apenas, como em tempos longínquos vi, uma espécie caridosa do white man’s burden que ia civilizar os “índigenas” e fornecer-lhes uma alma nova em folha E branca, de preferência. . 

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