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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

estes dias que passam 294

d'oliveira, 30.07.13

Leio no conspícuo “Público” que o PS entende a moção de confiança proposta pelo Governo como “mera retórica política”.

 

Tem o PS inteira razão. De facto, antes de irem a banhos, os senhores deputados da maioria ungirão este Governo recauchutado com uma declaração que “tout va bien madame la marquise”.

 

São a maioria, não haverá indisciplina de voto, espantoso seria que renegassem a matriz que até aquele areópago os trouxe.

 

Por outras palavras: a moção não aquece nem arrefece.

 

Vejamos, porém, a passada moção de desconfiança apresentada pelo extravagante partido “Os Verdes”. Foi, ao contrário desta próxima futura que será votada até ao fim da semana, uma qualquer outra coisa que não uma manifestação de mera retórica política?

 

Acaso se esperava que algum deputado da maioria, subitamente desafecto e rendido ao argumentário da Esquerda, votasse a moção anti-Governo?

 

E o PS que, com tanto entusiasmo como falta de convicção, se juntou ao grupo protestante, não entendeu aquela berrata como “mera retórica política”?

 

Ou será que a retórica é sempre de Direita e a seriedade é sempre de Esquerda?

 

O PS anda numa rota imprevisível, à bolina entre as ameaças rosnadas por  Soares, balbuciadas por Costa, murmuradas pelos socráticos, e a pávida posição de Seguro que, tropeçando aqui, caindo ali, levantando-se sempre mas cada vez mais lentamente, lá vai segurando o leme incerto da nau socialista.

 

Seguro está a termo, resta saber se chega vivo ao fim do ano ou se soçobra nas eleições autárquicas. É que, se eventualmente, o Tribunal Constitucional declarar nulas as candidaturas de cavalheiros com mais de três mandatos cumpridos, o PS poderia estar perto de uma folgada vitória. Entre a dúzia de candidatos do PC afastados e a dezena de candidatos do PPD impedidos, há margem para mesmo sem convencer, o PS vencer.

 

Se, entretanto, nem assim se obtiverem os resultados que uma má prestação governamental claramente indicia, então Seguro que se segure, pois irá de vela. As tribos cada vez mais numerosas e divergentes do PS estão à espreita em cada esquina e ninguém vê em Seguro mais do que um líder de passagem, a figure in the landscape, uma contrafacção de Coelho (tirado da cartola...), algo vindo do mesmo pobre universo da política politiqueira, enfim, como diz Soares, um timorato indeciso.

 

E convenhamos: com argumentos como o que dá pretexto a este folhetim não merece melhor sorte.   

 

o leitor (im)penitente 75

d'oliveira, 30.07.13

O calor nem sempre faz bem

 

Há uma interessante revista francesa que compro práticamente desde o seu primeiro número: Le Magazine Littéraire”. E compro-a não só pelo seu amplo carácter informativo mas também porque tem o bom hábito de reservar uma boa parte do conteúdo a uma monografia (autores, escolas, cidades, hábitos ou efemérides). Para não ir mais longe os números dedicados a Camus, Borges ou Vian (entre centenas de outros) são referências tanto mais que de tempos em tempos a revista volta aos autores com mais informação.

 

Este mês, antes das férias, o Magazine entendeu (como também a Lire, o seu rival mais próximo) fazer o seu número de Verão e de leituras aconselhadas para a praia.

 

Vai daí intitulou a mais recente edição “10 grandes vozes da literatura estrangeira”. Repare-se que não falou das dez grandes vozes mas apenas de dez grandes vozes. Por cá esta dicil separação do “de” do “da” tem parentes políticos autárquicos como se sabe.

 

Portanto quando o “Mag. Litt.” Refere dez grandes vozes não está a dizer que as dez grandes vozes (no sentido das dez mais, coisa aliás estúpida quando se trata de escritores.

 

Entre estas dez vozes para que chama a atenção, está Lídia Jorge que há tempos viu mais uma obrasua traduzida para o francês. E estão outros nove escritores vindos de diferentes horizontes (Pamuk, Zadie Smith ou John Irving, por exemplo) que a gente da revista acha serem boa leitura de praia. Ler em férias arrasta sempre consigo este duvidoso odor de leitura boa mas digerível, compatível com o ir molhar os pés ou contemplar algum biquíni mais ousado que passe pela nossa frente. Dá para interromper com uma sesta e fica bem com uma cervejola bem fria e um prato de camarão da costa.

 

A habitual e sôfrega alarvidade nacional não perdoa estas chamadas de atenção e os redatores do Público idem. Ei-los empolgados com a promoção estival de Lídia Jorge nas franças e araganças. É o fim da crise à vista, a glória da pátria a ser reconhecida, o panteão da imortalidade para as letras lusitanas.

 

Imagino a excelente senhora a receber telefonemas, sms, mails eufóricos durante todo o dia de hoje: Lídia és a maior!

 

Parece que o francês é já uma terceira ou quarta língua para os portugueses que estudam ou estudaram outro idioma. São cada vez menos os que se importam com o francês e menos ainda os que de algum modo o compreendem razoavelmente.

 

Deve ser por isso  que os do Público tão mal traduzem um título francês. Mesmo de Le Magazine Littéraire! 

 

Tanto barulho para nada

José Carlos Pereira, 26.07.13

Na edição de Julho da revista "Repórter do Marão", escrevo sobre a crise política criada pelas demissões no seio do Governo:

 

"Escrevo estas linhas dois dias após a comunicação do Presidente da República e quando se anuncia para breve a remodelação do Governo e a aprovação de uma moção de confiança na Assembleia da República. Por isso, quando os leitores tiverem em mãos esta revista, já novos dados estarão lançados, o que não invalida que nos debrucemos sobre os vinte dias de suspense e tempo perdido.

Os pedidos de demissão dos ministros Vítor Gaspar e Paulo Portas precipitaram uma crise no seio da coligação PSD/CDS, que foi amplificada pela inesperada decisão de Cavaco Silva de procurar um “compromisso de salvação nacional”, que envolveria o PS e os partidos da maioria.

A atitude tomada pelos dois ministros de Estado, um dos quais líder do partido mais pequeno da coligação, foi reveladora da débil liderança do primeiro-ministro e das muitas fragilidades do executivo, mas também foi o reconhecimento do falhanço do Governo em cumprir as metas a que se propôs, pese embora as sucessivas medidas de austeridade que foram asfixiando os portugueses.

Vítor Gaspar reconheceu que não conseguiu atingir os objectivos negociados com a troika e que foi surpreendido pelos efeitos negativos das políticas seguidas pelo executivo. Além disso, deixou claro que a liderança de Passos Coelho não era capaz de lhe proporcionar o suporte político de que necessitava. Demissionário há oito meses, o que é verdadeiramente inacreditável, Gaspar quis fazer de Portugal um laboratório para a aplicação de medidas macroeconómicas, gozou com a cara dos portugueses, levou-os ao tapete e saiu de mansinho, pouco se importando com os efeitos que a sua demissão provocaria.

Já Paulo Portas veio confirmar a conturbada coabitação entre os dois partidos do Governo, que se podia adivinhar pelas declarações públicas de ambos os contendores. Portas foi dando sinais de um oportuno distanciamento face a algumas medidas, deixando claro que não se revia nas políticas que aprofundavam a austeridade. Além disso, Passos Coelho nunca lhe mereceu uma especial consideração. Despeitado e sem pensar nas consequências nefastas do seu gesto para a economia, pediu a demissão escassas horas antes do Presidente da República dar posse à ministra que substituía Vítor Gaspar. Uma cena pouco digna para quem gosta de vincar a sua pose de Estado.    

Cavaco Silva resolveu então surpreender o país, ao reclamar um “compromisso de salvação nacional” entre os partidos que assinaram o memorando de entendimento. O Presidente da República, porém, despertou tarde para a necessidade de um acordo alargado entre as forças políticas do arco do poder. Devia ter confrontado os partidos com essa necessidade em 2011, logo após as eleições legislativas. Não o fez, mostrou-se depois sempre alinhado com as políticas e a acção do Governo e contribuiu, desse modo, para que se cavasse um distanciamento irremediável entre a maioria e o PS.

As negociações entre os três partidos não podiam ter conhecido um desfecho diferente, de tal modo eram divergentes as bases de partida. António José Seguro não poderia validar medidas que fossem em sentido contrário ao que tantas vezes apregoara. Como seria possível, por exemplo, concordar com os cortes de 4,7 mil milhões na despesa do Estado, agravando por essa via a contracção do PIB e a destruição de emprego?

Em sentido contrário, Seguro veio sublinhar que o PS foi o único partido a propor nas conversações uma regra para limitar a despesa corrente primária, apresentando medidas concretas para a consolidação orçamental que permitiriam abrandar a austeridade e colocar a economia a crescer. A promessa de eleições antecipadas em 2014, que Cavaco avançou, não era razão suficiente para o PS alinhar numa estratégia suicida. Como salientou Pedro Silva Pereira, se o PS deixasse de ser uma alternativa na oposição como poderia querer afirmar-se como alternativa nas próximas legislativas?

Perante o colapso das negociações, Cavaco Silva veio revelar – hélas! – que tudo ficará como dantes, prometendo manter a legislatura até 2015. Contudo, independentemente de algumas afinações, de políticas e de protagonistas, que venham a ocorrer no executivo, a verdade é que esta maioria ficou diminuída na sua credibilidade aos olhos dos portugueses. Aliás, este Governo apenas se mantém porque não vingou a solução de consenso alargado preconizada pelo Presidente da República.

Os motivos que levaram à demissão dos dois ministros de Estado não desapareceram, as fragilidades da liderança de Passos Coelho estão bem presentes, as desconfianças do Presidente da República persistem e as políticas não vão mudar no essencial, pois isso só seria possível com uma negociação em bases diferentes com a troika e o executivo já mostrou que não quer ir por aí. A bonança não está, pois, para chegar."

estes dias que passam 301

d'oliveira, 18.07.13

 

 

Depois de ver a reportagem sobre a moção de censura, começo a perguntar-me se ela era contra o Governo ou contra o PS.

De nada valeu a este anunciar que a ia votar. Caiu-lhe toda a restante "esquerda" em cima, malhando-lhe como em centeio verde.

No resto, foi o que se viu: nada! absolutamente nada! 

Ou melhor, tudo: pelos vistos o PC e o BE nada esperam do PS. Quanto à lebre que originou todo aquele gasto de tempo, foi ainda pior do que se esperava. Como se os chamados "verdes" estivessem ainda mais verdes do que se aventava. 

Um país libertado

José Carlos Pereira, 18.07.13

O nosso país encontra-se no epicentro de uma crise política, que surge na sequência de um longo processo de ajustamento económico e financeiro que tem deixado marcas profundas na sociedade. É o suficiente para ouvirmos quase todos os dias queixas sobre o país que somos e os políticos que nos governam. Não falta quem se lembre de dizer que o que fazia falta era "um Salazar" ou então que se devia entregar o poder a um conjunto de iluminados, acima dos partidos, logo, à parte do regime democrático.

Pois bem, a essas pessoas talvez valha a pena lembrar que o regime nascido em 1974 pode ter sofrido muitos atropelos e desvios, mas proporcionou-nos uma melhoria tremenda da qualidade de vida, como o atestam todos os indicadores. O "Expresso" começou esta semana a lembrar como era o país em 1973, ano da sua fundação, e as comparações evidenciam o salto qualitativo que Portugal deu nos últimos trinta anos.

Em 1973, a esperança de vida era de 67,6 anos e em 2010, com os últimos dados disponíveis, era de 79,6 anos. A taxa de mortalidade infantil passou de 44,9 para 3,4 em 2011. No início da década de 1970, 53% das casas não tinham água canalizada, 40% não tinham esgotos e 37% não tinham electricidade. A taxa de analfabetismo era de 25,7% e a população com ensino superior representava apenas 0,9%.

Este país acabrunhado, pobre e analfabeto libertou-se e encontrou um caminho novo. Como somos de antes quebrar do que torcer, também saberemos encontrar a saída para a crise que vivemos.

 

No labirinto alfarrabista 2

d'oliveira, 17.07.13

Coincidências

 

(no labirinto alfarrabista 2)

 

 

 

Na sua edição de 16 de Julho, o  “Público” traz uma interessante notícia (uma inteira página!) sobre a realização de um documentário sobre a “viagem filosófica” do Doutor Júlio Henriques à Ilha de S. Tomé, entre 1873 e 1918.

 

Por viagem filosófica entendia-se, na época, um longo trabalho de exploração in situ tendo como alvo as espécies vegetais (mas não só) nativas do lugar, sua descrição e análise, estudo e conservação de exemplares para se aumentarem os herbários da instituição que financiava a viagem.

 

Ora, esta viagem repete no essencial, outras quatro que, um século antes, foram ordenadas por D Maria I e realizadas sob as instruções de um grande professor da Universidade de Coimbra, o Doutor Vandelli, cientista contratado na Itália e chegado à UC cujo plano de estudos fora grandemente modificado pela legislação pombalina. Relembremos que esta Reforma teve uma extraordinária importância e modificou exemplarmente o ensino ali ministrado. Novos cursos (entre eles a Filosofia Natural), novos equipamentos iguais aos melhores que havia na Europa, novos professores e, fundamentalmente, um novo espírito.

 

Abreviando: depois de uma intensa preparação, quatro licenciados pela Universidade, foram enviados para os quatro cantos do Império português: Alexandre Rodrigues Ferreira rumou ao Brasil, onde permaneceu dez anos extraordinários, recolhendo uma gigantesca soma de informações, sobre terras, gentes, fauna e flora que felizmente começam (lá fora!!!) a ser reunidos em livro.

 

João da Silva Feijó foi destacado para Cabo Verde (e mais tarde irá ainda ao Brasil) e deixou também extensa informação publicada em várias publicações especializadas da Academia das Ciências. Para Angola seguiu José Joaquim da Silva que fez o percurso Benguela Luanda  deixando também espólio notável. Finalmente para Moçambique seguiu Manuel Galvão da Silva, que já explorara parte dos territórios de Goa mas que morreu em plena expedição.

 

Destes notáveis cientistas e exploradores não há por aí notícia alguma. Nem uma rua a lembrar-lhes a alta qualidade dos seus serviços, o mérito das suas importantes descbertas, o zelo em reunir colecções de altíssima qualidade, os escritos e as tremendas dificuldades que passaram naqueles sertões bravios e ignotos. Nada! 

 

Todavia, perguntará algum leitor mais corajoso que até aqui chegou, porque razão estou para aqui a dar notícia de algo que o país e boa parte das suas elites esqueceram se é que alguma vez souberam.

 

Por um acaso, estava em Lisboa quando o excelente livreiro alfarrabista Bernardo Trindade entendeu fazer uma venda de livros sobre o Brasil. Claro que caí lá que nem um tiro e, subitamente, encontrei, entre outras coisas extraordinárias, uma obra em dois volumes, com o título de “Viagem filosófica”. Era uma edição absolutamente notável do Alexandre Rodrigues Ferreira que em dois pesadíssimos volumes, trazia plantas de terras, desenhos, gravuras de animais e plantas, alem de uma extensa série de retratos de gentes daquelas lonjuras. O preço era para a obra -e num critério internacional-  completamente ridículo (60€). Claro que o comprei. Porém, prosseguindo a exploração encontrei uma outra versão muito mais maneirinha  só com as gravuras e, por mera questão de peso, abandonei a primeira compra e juntei-lhe mais três livros. Quando regressei ao Porto, um só revirar de páginas da “Viagem ao Brasil” fez-me pensar que a obra abandonada deveria ser excepcional. Dado que comprara o livro num Sábado, regressara no domingo, tive a louca esperança de a poder ainda obter. Aquilo pesava um bom arrátel dos antigos coisa que deveria fazer desistir muitos amadores. Com uma sorte danada o Bernardo confirmou que ainda a tinha e daqui a dias irei buscá-la. Nem que tenha de levar um carrinho de mão!

 

Entretanto, já no Porto, passo por outro dos meus alfarrabistas conhecidos e dou de caras com umas publicações  que pareciam semelhantes às já citadas. Tratava-se de três grupos de livros, contidos em caixas de cartão de muito boa apresentação e naturalmente dedicadas ao Brasil. A editora era a mesma e os preços, uma vez sem exemplo, simpáticos. Adquiri, assim, o “Theatrum rerum naturalium Brasiliae”, quatrocentas páginas, em 2 volumes, das estampas organizadas em 1600 por Christian Mentzel  e oferecidas a uma alta personagem holandesa; três volumes de cartas sobre a ocupação holandesa ddo Brasil; outros tantos volumes contendo os desenhos de Frans Post guardados actualmente no British museum, a colecção Niedenthal (animais e insectos do Brasil) e o “diario de uma estada no Brasil" de Cuthbert Pussey . Ao todo, são três das sete colecções de documentos publicadas no Brasil entre 1998 e os dias de hoje, sob o título genérico de “O Brasil Holandês”.

 

São edições sumptuosas, bem apresentadas por tudo quanto há de melhor entre os estudiosos brasileiros e só porque alguém se quis desfazer em vida destes livros as consegui comprar. Ao todo nem cem euros me custaram.

 

Como nota curiosa um dos dois volumes de Alexandre Rodrigues Ferreira é uma espécie de catálogo completo dos tesouros que se guardam no Museu Bocage de Lisboa. Relembremos, de passagem, que essa óptima colecção é apenas uma pequena partte do que já lá houve, pois, durante as invasões francesas, foi levada uma grande parte da colecção (suponho que será a que está exposta em Paris sob o nome “Cabinet de Lisbonne”) e outra parte foi consumida pelas chamas durante o incêndio da Escola Politécnica/faculdade de Ciências.

 

Os leitores ávidos e empedernidos como eu sabem que no espaço de duas semanas conseguirem-se tantos livros, a preços de saldo, e aparecer uma notícia sobre uma outra viagem, são coincidências dignas de um verdadeiro milagre de Fátima, bem melhor dos que a esposa do Chefe de Estado vê por aí.

 

Ou seja, nós laicos, também somos criaturas amparadas pelos poderes do Altíssimo.

 

Para o caso de algum dos leitores se interessar por esta bela arte da história natural eis aqui os dados referentes a Ferreira: “Viagem ao Brasil”, Kapa editorial, 2 vols de 320 e 160 p., 2002, org: Cristina Ferrão e J P Monteiro Soares, contendo “Desenhos De Gentios, Animais Quadrúpedes, Aves, Amphibios, Peixes e Insectos Da Expedição Philosophica ao Pará, Rio Negro, Mato Grosso e Cuyabá”.

 

(relembremos, por curiosidade, que, em Portugal se editou, cerca de 1880, uma História Natural em seis volumes (cerca de 3000 p. e quase duas centenas de gravuras tintadas a cores). Foi seu autor o doutor Júlio de Mattos (esse mesmo!) e a edição coube à Livraria Universal, do Largo dos Lóios, no Porto. Esta obra é muito estimada pelos coleccionadores e atinge preços elevados no mercado. Nunca menos de 500 €!  Lê-se com agrado mesmo se, como seria de esperar, reflicta apenas os conhecimentos da altura. De todo o modo é de saudar este intenso labor de divulgação que animou o doutor Júlio de Mattos que nem sequer era do ramo.)

 

 

*gravuras tiradas do "theatrum..." 

 

 

 

 

 

 

 

                                                    

A varapau, 18

mcr, 17.07.13

Um rapaz negro americano de 15 ou 16 anos armado de um livro debaixo do braço foi morto  tiro por um segurança branco.

O rapaz pelas fotografias fornecidos é mesmo um miúdo magro com ar frágil.

O segurança é um sólido matulão que terá eventualmente quase o dobro do peso do assassinado.

foram precisas seis semanas para a polícia ncontrar o criminoso. Seis semanas! Parece que o segurança temia pela sua vida: o fantasma do preto andaria a perturbar-lhe as noites e essa tremenda ameaça fez com que ele se esquecesse de comunicar o "fait divers à polícia.

Uma vez encontrado, revelou que temera pela sua vida, que o rapazola o teria atirado ao chão e tentado vezes sem conta esmagar-lhe a cabeça contra o passeio.

No julgamento, dado não haver tstemunhas (nunca há testemunhas quando o falecido é escarumba) as seis senhoras brancas do júri entenderam que o matador era inocente pelo que este foi mandado em paz. 

Numa certa América as coisas são assim: preto morto é preto bom. Aliás os pretos odeiam os branncos, atacam-nos com livros, lincham-nos à luz de cruzes a arder, reservam-lhes os piores bairros, os piores empregos e só são bons para jogar basquetebol, correr, tocar trompete e deixar-se matar nos campos de batalha já que constituem a maioria dos alistados. 

Fez-se justiça!

d'Oliveira fecit 17.07.013

 

*basta ver as fotografias para se perceber que o preto não é quem se pinta. Notem-lhe o olho torvo, o ar façanhudo, o sorriso sarcástico. E vejam o inocente branco, tão intelectual, tão carente de afecto. 

Au bonheur des Dames 345

d'oliveira, 16.07.13

Podia dar-lhes para pior

O partido “os verdes” é apenas um grupo de criaturas oriundas da esfera de influência do PC que nunca seria notícia (ao contrário de duas ou três organizações ambientalistas que de há anos a esta parte se batem pela causa) pela razão simples de que se fossem sozinhos a votos não ganhavam sequer uma grande freguesia lisboeta.

Desde sempre, estão no Parlamento, à boleia do PC, melhor dizendo de um dos seus heterónimos, a CDU.

Como habitual porta-voz há uma senhora, de sua graça, Heloísa Apolónia, que vitupera medonhamente na AR e não acrescenta uma simples vírgula ao argumentário conhecido (e melhor, mais estruturado e mais lógico) do PCP.

Hoje, a referida deputada, veio falar da sua singular proposta de “moção de censura”. Não vale a pena debruçarmo-nos sobre esta acção votada a uma inglória morte na praia, como já se sabe. Contra este Gverno, pelas minhas contas, esta é a quarta moção apresentada, o que dá uma média de uma cada seis meses. Convenhamos que é muita moção para tão pouco sumo.

Apenas convirá lembrar que uma moção de censura derrotada é sempre, onde quer que seja, mesmo na Ilha da Barataria, uma vitória para o Governo atacado. Mesmo para esta coisa que por cá se passeia sob a batuta do senhor Coelho.

A senhora Apolónia, entretanto, acha que não. Acha que a sua extraordinária ideia é uma vitória gigantesca do povo, do proletariado, do ambiente, do lince da Malcata ou apenas do grupo excursionista “os admiradores do Cartaxo tinto”. Tanto faz que o que é preciso é mostrar serviço.

Chama-se a isto, falta de senso, mesmo que este seja a coisa mais bem distribuída no mundo. Por razões misteriosas, a vociferante Heloísa, faltou à chamada no dia da distribuição.

Dar ao senhor Coelho & comandita uma oportunidade de mostrar os seus escassos talentos oratórios, de se justificar e, no fim, de o ver sair pela porta grande é, de facto, mais uma originalidade lusitana. Arre!

 

 

 

 

        

         

Diário Político 185

mcr, 16.07.13

 

Mascalzone típico italicus

Que um fascistóide se comporte como um velhaco é natural. Que um fascistóide político, ocupando um alto cargo na República chame orangotango a uma mulher também política parece necessitar de alguma atenção.

Que um exemplar de nome Roberto Calderoni, com o típico fácies que Lombroso já estudou não saiba que os orangotangos não existem em África prova apenas que além de cretino é um ignorante chapado.

Que uma bestiaga, sempre o Calderoni, se atreva a atacar uma mulher, apenas porque ela é negra e tem mais instrução do que ele, faz-me desconfiar da sua pretensa masculinidade. De facto é muito pouco varonil este tipo de ataque político.

Que um grande país e um povo tão interessante não castiguem de forma exemplar este racista obsceno e imbecil, só prova que entraram ambos, país e população, numa era de vazio abominável.

Espera-se que, pelo menos na Europa, este exemplar da maldade e da infâmia, não tenha livre trânsito. Esta gente saída da fossa civilizacional à fossa deve voltar. Os miasmas querem-se com os miasmas e os oxyurus com os oxyurus.

Duas semanas a dose cavalar de mebendazol ou de pamoato de pirandel e aquilo passa. Directamente pelo esófago da sanita para o ventre da mãe terra.


d'Oliveira fecit 16.07.013

au bonheur des Dames 344

d'oliveira, 12.07.13

 

 

Retrato fiel de uma repartição de finanças e das desventuras que lá se passam

 

Sou, como muitos portugueses (fora um par de milhões que por fas ou por nefas não paga impostos), um contribuinte líquido para a inextinguível gula do Fisco.

Do Fisco e dos seus agentes, acrescento pois que, ao que suponho, essa brava e fera gente recebe um salário bem melhor que o comum dos funcionários públicos que, de per si, sobretudo nos escalões mais baixos, aufere réditos maiores do que os seus semelhantes do privado.

Os impostos foram inventados para, além de custearem um par de despesas públicas úteis e necessárias, servirem de cofre para gastos sumptuários, idiotas, estúpidos com que os alarves que enxameiam os corredores do poder premeiam afilhados e se mostram generosos perante a populaça. Ele é rotundas e auto-estradas, recuperação faraónica de escolas, lugares de assessor em barda para as jotas, as jotinhas, os amigos, as amigas e as amiguinhas, automóveis de serviço de alta cilindrada, para não falar das vezes em que metem a pata ávida até ao cotovelo no bolso inerme dos contribuintes. Tudo sem justificar seja o que for, sem provar o interesse nacional dos dispêndios, sem sequer reparar no crescimento da dívida. Por essas e por outras estamos onde estamos, isto é, na merda.

 

Para mal dos meus pecados, herdei com minha Mãe e meu Irmão, uns prédios em Lisboa. Deles temos cuidado não só por interesse próprio mas também porque temos respeito pelos inquilinos que, numa esmagadora maioria, pagam somas insignificantes pelo arrendamento.

Não espantarei ninguém se disser que, este ano, os nossos rendimentos foram negativos. Ou seja foram mais as despesas de conservação e manutenção, imi, taxas várias, etc., do que o que recebemos dos inquilinos. Como mero exemplo, acrescentarei que num desses prédios vendemos uma fracção que, mesmo não indo a mais de 50% do seu real valor (a venda foi feita a um inquilino de muitos anos...), representou mais de cem anos de rendas!

A distribuição dos valores recebidos obedece grosso modo à regra seguinte: Eu e meu Irmão recebemos cada um 10% e a nossa Mãe fica com os restantes 80%. Para que nada lhe falte e algum mimo suplementar.

Quando foi altura de fazermos a nossa declaração de IRS, não hesitamos em, preto no branco, apresentar todas (e só essas) as despesas que podíamos comprovar.

Como seria de esperar, o Fisco esse polvo tentacular, esse big brother fanático que suspeita de tudo e de todos, que vê em cada contribuinte, um relapso, um gatuno, um vicioso e um canalha, logo veio avisar que “a declaração de rendimentos.... foi seleccionada para análise por ter(em) sido detectada(s) a(s) seguinte(s) situação (ões): necessidade de comprovação dos montantes das despesas de prédios arrendados”


(descobri hoje em conversa com um funcionário que idêntico aviso fora feito a praticamente todos os que possuem prédios arrendados. A coisa originou um monumental engarrafamento nas repartições alem de ter desesperado dezenas ou centenas de milhares de humilhados senhorios que tiveram de fazer a via sacra das repartições em intermináveis esperas, sujeitos ao humor de funcionários cansados, irritados que se vingavam da sua má condição nos desgraçados que a medo lhes iam entregando recibos, contas, mapas sei lá que mais.)

No nosso caso, como os prédios são em Lisboa, onde residem os meus familiares, entendeu meu Irmão, propor resolver o meu caso no mesmo sítio deles. Que não! Que a minha justificação havia de ser apresentada aqui, na Invicta e sempre nobre cidade do Porto.

Todavia, condoída pelos dez quilos de documentos que o meu Irmão carregou para repartição, a funcionária que o recebeu, aconselhou-o a enviar-me cópia da certidão que lhe era passada, cujo teor confirmava a justeza da nossa declaração. E prestou-se a dar o nome, as indicações da repartição para, cá no Porto, saberem com quem a coisa tinha sido falada e resolvida. Acreditava a pobre senhora que o seu nome e a sua função seriam viático suficiente para eu ser exculpado de medonhas conspirações anti-fiscais e anti-nacionais.

Munido de vária documentação recebida via internet lá peregrinei ad loca infecta, ou seja para o local de martírio fiscal.

Muni-me de um livro que ia a meio e de uma revista de cem páginas sobre Boris Vian.

Fiz o conveniente xixi antes de entrar no local de martírio. Abstive-me de tomar café ou beber água para poder suportar aquela jornada sem ficar apertado pela ânsia mijona. Estacionei a viatura (reparem-me neste tom oficial e funcionário), paguei antecipadamente umas horas de parque e entrei, temeroso, na Repartição de finanças.

Descobri que, apesar de haver uma dúzia de balcões, só  cinco estavam em serviço. Eficiência nacional, santa Troika nos valha.

Descobri, em seguida, que havendo cinco géneros de assuntos para tratar, a cada um correspondia apenas um balcão.

Descobri que desses cinco graves assuntos, três pareciam estar de férias ou de greve porquanto rapidamente deixaram de pedir cidadãos incumpridores.

A boa lógica aconselharia, digo eu que sou pessoa de maus instintos, que perante o povo pacientemente à espera, se dedicassem os balcões vagos a adiantar o serviços  que ali traziam aquela chusma. Nada feito. Em teoria a ideia seria boa mas cheirava demasiado a eficiência germânica e para Merkel já todos teremos dado.

 Penei duas horas e meia (e houve apenas cinco pessoas à minha frente!!!) até ser atendido por uma megera, gorda, feia, suada, pitosga e de mau hálito.

Expliquei ao que vinha e como em Lisboa uma Funcionária (com um digno F grande) tinha pensado facilitar-me a vida.

A criatura regougou que Lisboa era Lisboa e o Porto, o Porto! Admirado com tão extraordinária revelação, balbuciei, que também andara na escola, passara honradamente a geografia e tinha a maior das admirações e respeito pelas excelsas virtudes da repartição portuense. E acrescentei que, para lhe trazer a ela dez quilos de papel, teria de os ir buscar a Lisboa, onde tinham sido vistos, revistos, escrutinados, sopesados, acariciados por uma colega dela que até fornecia nome, telefone e mais minúcias para comprovar à minha algoz que eu, com setenta e um anos em cima, era pessoa de bem e devotado cumpridor (mesmo se obrigado) das oobrigações fiscais.

Rosnou coisas tremendas ao ponto de me enfurecer. Vendo que daquele jacaré adiposo nada mais tinha a esperar, e muito menos compreensão, retorqui-lhe que obviamente traria a montanha documental  mas que, entretanto, e só para ela perceber que com Fafe ninguém fanfa, achava melhor recorrer ao livrinho das reclamações para expor o meu descontentamento.

Levantou-se com uma impressionante velocidade (para o peso e o escasso zelo e nula simpatia até aí demonstrados) e quando eu já me via esmurrado, esbofeteado, escoicinhado, ou pior: beijado, ei-la que desandou para local invisível onde se demorou uns minutos. Foi buscar um trabuco, pensei, uma faca, uma navalha de ponta e mola, uma bomba, a vassoura onde viaja de casa para a repartição e desta para o sabath, enfim qualquer coisa perigosa.

Mas não. Regressou acompanhada por um colega, que trazia debaixo do braço o que presumi ser o livrinho amarelo. Este, cortesmente, convidou-me a sentar-me no balcão ao lado e dispôs-se a ouvir-me. Repeti o já dito e recém chegado funcionário, sempre com ar sério mas amável, começou a dedilhar o computador. Verificou as minhas contas, explicou-me que, dadas as circunstâncias (a megera ao lado, claro), teria de me pedir comprovação de uma despesa, bem gorda ( quase sete brasas, porra!) por sinal. E mais outra, essa de conservação que  andava por uns largos centos de euros Se o meu  Irmão lha poderia mandar imediatamente por mail. Liguei para o caçula, expus-lhe a situação e ele declarou que em relação á primeira era chato mas factível enquanto que no caso da segunda havia que juntar cerca de quarenta documentos.

Ao saber disto, o funcionário, bendito seja ele!) que me atendia afirmou que se contentaria com a grandona.

E deu-me o seu mail para eu lha poder mandar. E recomendou-me pressa pois ia amanhã para férias. E que eu não me inquietasse pois se hoje fosse de todo em todo impossível fazer chegar os documentos, ele deixaria (se por mim avisado da impossibilidade) tudo ao cuidado de um colega.

Agradeci como competia o cuidado, o zelo, a simpatia e a compreensão desse verdadeiro servidor público. Resolvi não apresentar reclamação contra a hedionda gorda. O meu interlocutor, com habilidade mas discretamente, traçou-me o quadro negro do calor que fez, dios montes de contibuintes alarmados e queixosos, da trabalheira medonha, enfim, sem nunca o dizer tentou desculpar a imbecil mal educada do lado. Que se lixe a criatura, espécie de peido engarrafado!

E boas férias, colega funcionário, boas férias, bom tempo, boa sorte.

Por um momento desculpei o mundo e esta nossa triste realidade. E fui, numa carreira, deitar águas a um café perto, pois estar ali, mesmo se a ler (li tudo o que levava), dá a volta à bexiga de um cavalheiro.

Leitores que aqui heroicamente chegaram: isto do fisco é uma maldição que nos lançaram. E numa época de computadores, ninguém percebe este estúpido bairrismo. Nada é feito para aliviar os incómodos do contribuinte. Parece que somos todos suspeitos de pedofilia ou algo ainda mais grave. O Estado, este Estado trata-nos como “cães perdidos sem coleira”. Só servimos para pagar sem bufar.  A grande maioria dos nossos concidadãos, mais frágeis, mais ignorantes, mais timoratos, abaixa a cabeça e deixa-se espezinhar. Quando estas cobras cuspideiras apanham pela frente um  cidadão educado, com estudos e exigente, até se mijam nas calças. Peçam sempre o livrinho das reclamações. A cada má vontade, reclamação. A cada grosseria, resistência. Portugal muda por baixo, não por cima. A eles, sem pavor.

 

 

 

 

 

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