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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

Diario Político, 189

d'oliveira, 28.08.13

 

Portugal no seu melhor 3

Da utilidade dos bancos

 

Confesso que sempre tive uma relação desconfortável com os bancos. Nunca percebi bem o sinuoso caminho que, dentro deles, o meu escasso dinheiro toma, nunca recorri a empréstimos, tenho uma sólida desconfiança à barbara terminologia que por lá se usa e, juro, sempre tive de perguntar a alguém misericordioso o que é um spread. Ou uma imparidade. E por aí fora.

Não vai nisto nada de ideológico, podem crer. Considero os bancos algo tão necessário como um purgante ou o Estado. Sei que há bancos ou algo semelhante desde o trecento italiano e que os países ditos “socialistas” também os tinham, mesmo se com algumas particularidades que os tornavam ainda mais opacos do que a opaca banca capitalista.

Portanto, frequento o banco, sempre em bicos de pés, pois é lá que se pagam uma série de despesas (água, luz, gás, etc) é por lá que recebo a miserável pensão de reforma que diariamente emgrece, é lá que pago multas é lá que levanto dinheiro. No banco ou nessas maravilhas tecnológicas chamadas multibanco que outros frequentadores mais duvidosos tratam de rebentar com gás.

E é por transferência bancária que pago muitos dos livros que compro, sobretudo aqueles que encontro em alfarrabistas.

Ora, justamente, descobri num amável alfarrabista francês de Bayeux, um exemplar do livro “Florence et la Toscane” de Eugene Muntz, na celebrada edição de 1901. Celebrada porque, não sendo a primeira, é seguramente a mais cuidada e bonita das muitas que o livro teve (e ainda tem!). Encadernação muito trabalhada, primorosa, inteira pele, gravação dos motivos e letras  a frio, folhas douradas, enfim uma perdição mesmo para os que, como eu, querem antes ler do que ter.

E a edição em causa, de que tenho um exemplar com o miolo em péssimo estado (perdido na pior das hipóteses) a lombada destruída e as capas com alguns (muitos) pontos estragados, é excelente. Uma iconografia riquíssima, gravuras de alta qualidade, tipo de letra mais que bom, enfim, uma regalada leitura.

Ora, nas consultas que, entretanto, fiz, descobri que o cavalheiro de Bayeux (que jurava pela qualidade do exemplar, atestando com uma fotografia) vendia o seu exemplar  por um preço quase de saldo. Claro que isto de alfarrabistas, cá ou lá, é um labirinto. Já vi o mesmo livro ser valorizado de 100 a 1000 sem perceber o porquê de tal disparidade.

Investiguei tanto quanto me foi possível e decidi-me. Para o efeito, o livreiro indicou-me o seu IBAN, o respectivo swift, o preço final já com custos de expedição.

Quando se compra um livro de lá de fora por transferência bancaria, temos sempre de recorrer ao banco. Não há volta a dar-lhe (ou pelo menos foi isso que me explicaram atenciosamente).

Dado ter a minha conta domiciliada em Oeiras, mesmo vivendo no Porto, tive de pedir ali que ordem fosse dada para aquela agência. O que foi feito à minha frente tendo-me sido fornecido cópia escrita do meu pedido. Assim, no dia 5 de Agosto comuniquei ao vendedor   que no prazo de um, dois dias o cacauzinho lhe cairia na conta.  A 13 de Agosto, o vendedor, cortez mas firmemente, enviava-me um mail a referir que a sua, dele, conta continuava sem os euros que eu lhe anunciara triunfantemente.

Corri ao Banco e a funcionária que me atendera jurou-me que enviara a minha ordem não só para a minha “gestora” de conta mas também para a agência, não fosse dar- se o caso da primeira estar de férias.

E, à minha frente, falou com a gente de Oeiras e voltou a dar as mesmas instrucções. De todo o modo, como vinha para Lisboa passar uma quinzena com a minha mãe, entendi dever ir ao banco e verificar se, desta vez, as coisas estavam a ser resolvidas. Estar, estavam, mas como eu calculara a gestora de conta estivera em férias e uma outra criatura de Oeiras jurou-me e trejurou-me que na agência ninguém soubera de nada até à data da minha reclamação (13 de Agosto) no Porto.

Para além de não saber em quem acreditar, o ponto que interessa é outro: como é que as simples e legítimas férias de alguém deixam um cliente sem poder fazer o que, também legitimamente, quer?

No caso, o máximo que poderia acontecer era o livreiro, dada a minha falta de pagamento, vender o livro a outrem. Mas se se tratasse de algo mais grave e importante?

Não deveria o banco ter um sistema de substituição de funcionários que, justamente, prevenisse este tipo de ocorrências? Suponhamos que era o cliente quem ignorava um recado do banco, sei lá, um aviso de conta a descoberto. Será que o banco aceitaria uma desculpa do tipo “estava de férias"? Alguém acredita que perdoaria os juros nessa eventualidade?

Nós, cidadãos, somos tratados pelo Estado, pelas Câmaras Municipais, pela Segurança Social (ainda hoje a minha Mãe foi avisada que “é intenção do CNP de proceder à suspensão do pagamento da sua pensão por existirem indícios de perda do direito à prestação” caso não faça prova de vida no prazo de trinta dias (suponha-se de novo que juustamente hoje teria partido passar uns tempos de férias), pelas Empresas Públicas e Privadas como se não passássemos de um bando de criaturas de maus instintos, mentirosos e incumpridores, incapazes de respeitar qualquer regra.

Não somos cidadãos mas meros súbditos para esta gentuça que vive à nossa custa, em cima de nós, graças a nós. Cospem-nos na sopa e chamam-nos porcos, é o que é.

E o banco, sempre solícito, na primeira fila da exigência e da irresponsabilidade...

 

*na gravura: o Banco da China, esse farol do solialismo marxista leninista maoísta (O amici miei dove siete?)

d'Oliveira fecit 25-08.13

 

Diário político 188

mcr, 26.08.13

 

 

 

Portugal no seu melhor 2

O desprezo (ou o ódio) pelos cidadãos


Uma criatura de nome Maria Amélia Santos, e que se intitula Directora de Segurança Social da Caixa Nacional de Pensões, subscreve um ofício tipo dirigido a uma das camadas mais débeis e desprotegidas da população.

Na prática pretende-se avisar os pensionistas mais idosos  que deverão fazer prova de vida para poderem continuar a receber as miseráveis pensões que lhes são atribuídas.

Vejamos, antes de mais considerandos, o teor da carta:

“informa-se Vª Exª que é intenção do Centro Nacional de Pensões proceder à suspensão do pagamento da sua pensão a partir de...., por existirem indícios de perda do direito à prestação que mensalmente lhe tem sido paga. A manutenção da sua pensão está dependente da apresentação a estes serviços da prova de vida...”

O que a tal CNP, através da tal Amelia, vem dizer é que o destinatário da carta anda a aldrabar os serviços, maxime, já passou desta para melhor. Mesmo morto, portanto, come com a acusação! Mas que raio de indícios serão esses? Eventualmente o CNP e a Amelia não encontram na rua, nos chás dançantes, nas manifestações, a anciã (como é o caso) de 91 radiosos anos a quem enviaram este papel ultrajante.

Suponhamos que, depois de uma carta destas, eu escrevo à D Amelia e a acuso, dada a redacção coxa e canalha, de haver eventuais indícios de ter obtido o lugar através de práticas ionconfesaveis, mormente amiguismo político para não entrar na ijnsinuação do costume malévola e pornográfica.

Não que tenha quaisquer provas disso, claro está. Mas também a dita D Amelia não tem o mínimo indicio da malandrice suposta da pessoa que recebeu a carta. Ou  então, com a prodigiosa inteligência que a carta revela, entenderá que 91 anos é um forte indício da vileza da pessoa em causa.

Também poderia afirmar que existem indícios da CNP ser um covil de imbecis encartados que põem na sua direcção uma tonta irresponsável que não percebe que lhe bastaria escrever, por exemplo:

“a lei portuguesa prevê, no caso de pensionistas acima de uma certa idade, a necessidade destes apresentarem uma prova de vida para continuarem a receber  a pensão a que têm direito. O prazo desta prova é de .... dias a contar da data da recepção deste aviso. Cumprimentos etc... “

Isto, que é apenas um aviso, não pode irritar nenhum destinatário. Apenas se indica a lei e o modo de a cumprir. E a sanção para o caso de incumprimento.

Todavia, isto, este normal bom senso, é demasiado complexo para a CNP e para a Directora de SS (que bem aplicada esta sigla) dela.  Não sei a que critérios obedeceu a nomeação da intimidante criatura mas nem a cortezia, nem a razão, tão pouco o direito e a decência devem ter sido ponderados.

O que é preciso é uma espécie de polícia malcriado e desconfiado, de arrocho na pata, para significar que há quem manda e que há muito mais gente que deve obedecer. A bem ou a mal mas sempre sob natural suspeita.

Ocorre ainda que a carta da CNP vem por correio normal podendo pois estraviar-se em qualquer parte do seu sinuoso percurso, incluindo-se nele a conhecida incúria dos próprios serviços do Estado de que há tristes mas fartos indícios. De resto, ainda há pouco, veio em todos os jornais uma história aberrante de um(a) alto responsável da Segurança Social que se abotoou com fartos dinheiros públicos, através de umas manobras finalmente – mas tardiamente postas a descoberto. (convém acrescentar que, a partir da notícia, caiu sobre o caso o mais espesso silêncio mesmo se o bom nome da SS exigia um claro e cabal exclarecimento).

Que raio de país é este onde se permite que as cnp e as arvoradas directoras SS  andem em matilha a assustar pobres velhos que, muitas vezes, não têm sequer quem lhes explique o que a péssima e grosseira redacção quer realmente dizer?

Que país é este em que ninguém protesta contra a injúria vertida neste ofício inquisitorial, tirado a milhares ou dezenas de milhares de exemplares, e arrojado à cara envergonhada de quem dispõe de uma magra pensão?

Responda quem souber.

 

d'Oliveira fecit, 26.08.13 

 

Emídio Gomes na presidência da CCDRN

José Carlos Pereira, 22.08.13

Emídio Gomes foi empossado há cerca de duas semanas no cargo de presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDRN), culminando um longo e atribulado processo de substituição do anterior presidente, Carlos Lage.

Recorde-se que o Governo decidiu há alguns meses que a nomeação do novo presidente deveria ocorrer através de concurso público, de forma incompreensível como aqui critiquei. Fosse para fugir à lógica “aparelhista” dos partidos da maioria, fosse por não compreender o alcance da intervenção do presidente da CCDRN na região, essa absurda decisão do primeiro-ministro poderia ter colocado no lugar alguém sem a dimensão política e regional que o lugar exige. Não é, felizmente, o caso de Emídio Gomes.

Embora possua ligações conhecidas ao PSD, o percurso académico e profissional do novo presidente da CCDRN fala por si e, a meu ver, dá totais garantias de que a região voltará a rever-se nas palavras e no exemplo de acção do presidente de uma instituição que é fulcral para o desenvolvimento integrado do Norte de Portugal.

Conheço Emídio Gomes há alguns anos, trabalhámos juntos num projecto comum e acompanhei de perto a sua acção enquanto presidente da Portus Park – Rede de Parques de Ciência e Tecnologia e Incubadoras do Norte de Portugal. Posso, por isso, testemunhar que o novo presidente da CCDRN sente efectivamente como seu cada pedaço da região, como referiu no discurso de tomada de posse. O abraço que não pude dar-lhe nessa ocasião, por estar ausente do Porto, é substituído por este singelo manifesto de confiança.

diário político 187

mcr, 22.08.13

Portugal no seu melhor (I)

 

Sempre que, no mavioso torrãozinho de açúcar à beira mar,plantado, se resolve comemorar uma efeméride patriótica, pode contar-se com a ocorrência de três situações, à vez ou sucessivamente:

 

A comissão destinada a dirigir os festejos é politicamente nomeada e, mesmo que tenha, na sua composição, gente interessante, é substituída a meio da sua tarefa, por outra com iguais méritos mas da cor poplítica do (novo) Governo que, entretanto, surdiu da vaga profunda do voto popular.

 

Essa(s) comissões, mesmo quando continuam parte (e só parte, claro) do programa das anteriores, introduzem nas festividades novos elementos que juntos ao que resistiram põem em causa a exemplaridade da comemoração e a sua lógica mais profunda.

 

O programa que, apesar de tudo, levam a cabo conta sempre comv lucros fantásticos  previstos a partir de contas alucinadas e da adesão de públicos multitudinários.

 

Em consequência destas condições normalmente ocorrem efeitos devastadores.

 

Os públicos falham e mesmo as criaturas mais predispostas nem sempre acorrem porquanto a informação é mal elaborada, confusa, os eventos são adiados, enfim um cacharolete de situações que qualquer leitor que tenha estado atento às “capitais culturais europeias” à Porto 2000, à exposição de Lisboa ou às comemorações dos descobrimentos portugueses.

 

Falemos destes, já agora. Das publicações, aliás interessantes que se fartaram de editar.

 

Regra geral, tais edições apareceram em Lisboa e, em contados casos, nalguma das livrarias da província. Excepção feita à revista Oceanos, o público interessado viu navios (nunca uma expressão foi tão apropriada à situação).

 

Como resultado dessa exígua distribuição, sabe-se agora, que houve gigantescas sobras de livros que os diligentes funcionários comemorativos foram armazenando por aí. Mais por ali que por aí, diga-se em boa verdade, atenta a actual situação do armazém onde ancoraram mais de cem títulos que subitamente descobri numa pesquisa complicada nos meandros da net.

 

De facto, fui vendo em alfarrabistas, uma que outra publicação que me interessava e que vinha quase sempre de bibliotecas particulares postas em venda.

 

Desconhecendo eu que ainda havia força de exemplares por vender paguei (p.e.) por uma magnifica obra sobre a fauna e a flora do Maranhão quase o dobro do que num posterior catálogo da DGLB se pedia!

 

Pela revista “Oceanos” (pelo menos pelos exemplares que sobraram) pede-se no mesmo catálogo cerca de 30% do que corre em certos livreiros.

 

E por aí fora.

 

Na altura em que descobri o catálogo editado pela DGLB, organismo dependente da SEC, imediatamente enviei um mail para a respectiva direcção pedindo várias informações (como ver os livros, meios de pagamento etc) que até hoje não mereceu resposta. Pelos vistos só há um funcionário para o efeito e o mail estará na caixa de correio dele enquanto estiver de férias.

 

Uma alma caridosa, no Jardim Tropical, (Instituto de Investigação Científica e Tropical) murmurou-me sigilosamente que a dita cuja DGLB estaria acoitada na Torre do Tombo, ali para a cidade Universitária.

 

Tirei-me dos meus cuidados e fui até lá. Na portaria, ao perguntar pela livraria, log0o me indicaram um espaço entre dois corredores onde, de facto, havia uma estante carregada de livros vindos de diferentes origens. E lá estavam duas ou três dúzias de exemplares para consulta dos livros “comemorativos”.

 

Apareceu também uma senhora, amável, que mer informou não ser a vendedora mas que poderia dar um jeito visto a livreira estar (adivinhem!) de férias. E lá fomos formando uma pilha de livros. Todavia, quando se começou a ver os preços, dei-me conta que nenhum deles correspondia aos da lista que, por cautela, e por saber como isto funciona, eu trazia impressa directamente do site da DGLB.

 

Acorreu outra funcionária a quem referi o mail enviado. Ambas negaram vigorosamente tal mail e descobrimos que afinal eu estava a lidar com duas excelenes pessoas dos Arquivos Ncionais e não da DGLB que, ao que parece irá fundir-se com este instituyo. Desfeita a confusão mobilizou-se outra simpática senhora, da DGLB, desta feita, que se prontificou a ajudar-me a comprar a montanha de livros que eu queria. Aos preços que eu trazia.

 

Porém, e há sempre um porém, um mas, um contudo, nestas aventuras, os livros estavam em local longínquo, não havia ninguém para os ir buscar, ninguém que conhecesse minimamente o labnirinto do armazém onde  estiolam, desamparadas, edições luxuosas e semi-luxuosas, pelo que eu deveria mandar-lhe um mail com a lista dos meus interesses e, lá parainícios de Setembro, a caça ao tesouro começaria e em meados de Setembro poderei vir consultar as obras que eventualmente mais me interessarão. O que obviamente farei.

 

Entretanto, informaram-me que, na livraria da Biblioteca Nacional, havia edições da comissão dos descobrimentos. Havia de facto, mesmo se poucas. E com preços mais próximos da DGLB dos que da livraria da Torre do Tombo.

 

Concluindo: três (ou quatro se contarmos o IICP) organismos oficiais dependentes do mesmo ministério têm à venda livros editados com o dinheiro de nós todos mas a preços diferentes. Têm é um modo de dizer, pois que nenhum leitor cuidadoso compra livros sem os ver, e muito meno,s está disposto a esperar, como é o caso, mais um mês para os consultar. Acresce que vivo no Porto o mesmo é dizer que a toda esta trabalheira deverei acrescentar a viagem e os seus previsíveis custos. Em boa verdade, estou, todos os meses, alguns dias em Lisboa para ver a minha Mãe que, apesar dos seus provectos 91 anos, já se mostrou interessada em ver e ler alguma das minhas futuras compras.

 

Esta situação caricata, mas lesiva do interesse público, do particular e cara não é excepção no universo do antigo ministério da educação. Conheci, ainda no meu tempo, uma belíssima edição sobre Camilo que ou nunca foi oficialmente posta à venda, ou tendo-o sido, foi tarde e a más horas. Identicamente os sótãos do então Instituto Português do Livro regurgitavam de milhares de exemplares de edições apoiadas que , por razões inexplicáveis, ali naufragavam entre bolor, pó e eventuais mãos interessadas em adquirir livros sem os pagar.

 

Uma vez, enquanto responsável por um organisno da SEC, fiz parte de um grupo de instituições que editava um belíssimo álbum sobre um grande realizador português. Já a tarefa estava quase concluída quando perguntei (já que contribuía) a que preço venderíamos o livro. Silêncio geral e envergonhado: aquelas boas almas, boas e generosas acrescente-se, nunca tinham pensado em vender. Ou seja, depois de se gastar um balúrdio, o livro que no mercado normal custaria 60 ou 70 euros no mínimo iria ser oferecido sabe-se lá a quem. Foi a minha insistência que fez com que a coisa se passasse de outra maneira. Não iríamos ganhar dinheiro mas pelo menos perder-se-ia )invendáveis, deteriorados etc...) pouco.

 

E depois, ouve-se a berrata contra a troika...

 

(este é 1º de três textos sobre a tresloucada e ineficiente vida nacional. Descansem os leitores que, no próximo capítulo, falaremos dos privados que têm tão públicos vícios quanto o Estado)

 

* A eficiente funcionária da DGLB que me atendeu e me prometeu prontamente ajuda já me enviou um mail a perguntar pela minha lista. Como se vê não é pelos funcionários no terreno que as coisas não andam.  É pelo resto, pela merda da pública desorganização estatal que ninguém quer ver, e, quando vê, ainda propõe mais burocracia, mais Estado e mais tolice quando, de uma vez por todas, se deveria aplicar o consabido conceito: a César o que é de César e a Deus o que é de Deus. O Estado não sabe estar no privado: não esteja! Poupa dinheiro e todos nós ganhamos.

 

** na gravura desenho retirado da Historia das Arvores e da Fauna do Maranhão, fr Cristóvão de Lisboa, sec XVII

 

 d'Oliveira fecit 22.08.13

   

 

Estes dias que passam 295

d'oliveira, 21.08.13

 A velha polícia do antigo regime não faria melhor

 

 À Administração do Serviço da EMEL

 

Hoje, pelas 15 H 17 minutos fui surpreendido por uma multa de estacionamento passada pelo verificador 1351, Kami na Debe. Todavia,

enquanto o solícito e não identificado indivíduo me passava a multa, estava eu a tentar obter moedas para pagar o estacionamento.

De facto, não tendo o quantitativo mínimo (45 centimos) em moedas fui obrigado a dirigir-me a um café trinta  metros abaixo do local onde estacionara para obter os trocos em falta.

Demorei, se tanto, três minutos: foi o tempo de pedir um café, que não tomei, pagar com uma nota de dez euros, obter o troco e subir a rua (mais ou menos cem metros para a máquina em serviço.

Na passagem dei com o ernvelope amarelo da multa pespegado no carro e tentei descortinar alguém com ar de polícia ou de qualquer modo identificado como se exigiria como “verificador”

Nada!

Foi o porteiro do prédio em frente ao qual estacionara que me esclareceu dizendo (sic) "foi um preto que anda por aí à caça e que subiu a rua".

Corri no encalço do referido “verificador” ainda com as moedas na mão, encontrei-o e perguntei-lhe como é que em dois, três, quatro minutos (até concedo cinco) dera com o meu carro em falta.

O referido empregado da EMEL informou-me com alguma correcção que eu poderia recorrer, obtendo o talão na máquina e fazendo uma exposição à EMEL.

E concordou que de facto eu não estaria estacionado há muito tempo, visto não passarem mais de dois ou três minutos sobre a hora da multa.

Mas já não podia fazer nada!

Exos Senhores

Nem vou discutir a legitimidade e o à vontade com que os vossos agentes secretos, sem farda nem identificação, se põem de embuscada aos cidadãos condutores.

Pergunto tão só se a EMEL entende que todo e qualquer condutor deve andar sempre com o bolso atafulhado de trocos (e faço notar que o mínimo a pagar pelo estacionamento naquela zona é 45 centimos ((ou seja 2 moedas de vinte e uma de cinco, no mínimo)) ou se a este incauto e potencialmente cumpridor cidadão é concedido o tempo para ir arranjar trocos.

Mais: nas circunstâncias do caso que estou relatando, a coisa piora. De facto, mesmo que eu tivesse o dinheiro exacto ou pelo menos uma moeda de 50 cêntimos sempre teria de aparcar, fechar a viatura, subir a rua para ir à máquina, proceder ao pagamento e descer de novo para pôr o talão em local visível.

Se isto tivesse ocorrido, teria sido multado à mesma, porquanto mesmo que me cruzasse com o secreto agente da EMEL nada nele me mostraria que era o autuante (autuante, digo, e repito, pois ele não verificou um parqueamento ilegal, mas procedeu de imediato à aposição do sinistro papelinho onde em linguagem arrebicada se notifica o “criminoso” a pagar pouco mais de seis euros.

Suponhamos que eu não sabia, como não sabia, que o autuante era um cavalheiro africano de cor negra. Como é que mesmo de talão na mão o poderia abordar? E que poderia ele fazer nesse caso?

Exmos Senhores

Vou, sob protesto pagar a multa injusta, ilegítima e provavelmente ilegal. Fica mais barato do que imprimir esta mensagem, juntar-lhe o recibo nº 003139, da máquina 012/47, emitido pe|as 15 h 26 do mesmo dia da multa (ou seja nove minutos depois da multa e doze, treze depois do estacionamento). Os custos do envelope, do selo, do registo com aviso de recepção, da minha reclamação decerto excederiam a soma em questão. Já me bastou ter de usar uma moeda de 50 centimos para pagar 45 (e não receber demasia!!!!)

Exmos Senhores da EMEL

Sei que o país, a CML, porventura os vossos não identificados agentes, Vas Exas mesmo, estão numa delicada situação financeira. E que em casa onde não há pão, tudo é possível. Mas obter dinheiro desta maneira é que me parece um incomensurável abuso, para não usar termo mais adequado e mais forte.

Em tempos não muito longínquos, os cidadãos portugueses eram atormentados por uns indíviduos que andavam à caça de quem usava isqueiro. E mais ainda, por outros, que à mínima conversa subversiva, prendiam os seus autores.

Ao usar gente não identificada, a EMEL repete, convictamente, as mesmas práticas, quiçá com o mesmo ânimo, seguramente com efeitos semelhantes aos olhos de quem de boa fé tenta baldadamente cumprir a lei, como foi o meu caso.

Finalmente, o verificador, ou Vas Exas por ele, avisa no infame papelucho que havia na viatura um título de leitura ilegível. É falso, Havia exactamente cinco títulos de parqueamento anteriores espalhados pela consola do lado esquerdo, sinal mais que evidente que o condutor pagava normalmente o estacionamento.

Tudo isto, a actuação do agente (que receberá porventura um miserável ordenado bom para “pretos e estrangeiros”, ou ganhará à peça, pondo-o desse modo a fazer de embuscado à caça da multa, o que dirá muito dos seus mandantes) a medíocre redacção da multa e o desprezo que é visível pelos cidadãos, diz muito da EMEL e de quem por ela dá a cara.

Como é repelente a ideia de exigir quantia certa (e rápida como foi o caso em apreço) para meter na máquina. Para tal só vejo um motivo: confiscar (e a palavra certa é bem mais dura) os trocos que se devem a quem paga. Nos parques de estacionamento privados as máquinas dão trocos. Nas da EMEL, empresa que deveria velar pela parte de bem público que lhe cumpriria defender, é o que se vê.

Passem Vas Exas muito bem e contentes com o triste papel que estas actuações da EMEl revelam

O cidadão autuado e inconformado

Marcelo Correia Ribeiro

 

A este texto darei toda a publicidade possível, incluindo a sua publicação via internet

 

*Para quem não saiba a EMEL é a Empresa Publica Municipal de Mobilidade e Estacionamento de Lisboa e os factos descritos são absolutamente rigorosos com uma ligeira falha; como tinha apenas moedas de 50 cêntimos o "verificador" aconselhou-me a tentar trocar a moeda numa loja em frente. Não consegui mas na ida e na vinda poderá ter passado um minuto ou seja  ainda mais curto foi o espaço de tempo que cito. 

É preciso criar nos cidadãos a ideia de que SNS é deles e é pré-pago

O meu olhar, 19.08.13

Notícia no SOL:

 

 

A Fundação para a Saúde quer devolver aos cidadãos a sensação de que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) lhes pertence, como um seguro público, para que possam exercer a sua influência: protegê-lo e pedir prestação de contas.


O documento que serve de base à discussão do futuro congresso "SNS: Património de Todos", a que a Lusa teve acesso, considera que é essencial para a sobrevivência do Serviço Nacional de Saúde desenvolver o sentimento de pertença nos portugueses.

 

"Só fazendo o SNS efectivamente nosso poderemos assegurar a sua sobrevivência", refere o documento, lembrando que a falta de crescimento económico e o aumento da dívida pública colocaram em risco o futuro do serviço.

 

Para o presidente do conselho de administração da Fundação para a Saúde, Constantino Sakellarides, o cidadão português sabe pouco sobre o SNS, muito devido à transição das caixas de previdência para o actual sistema.

 

"Passámos de um modelo explícito de seguro público para um modelo implícito. As pessoas perderam o sentido de pertença. É necessário desconstruir a noção de que isto é do Estado e reconstruir a noção de que isto é consequência de um seguro público que é nosso", afirmou à Lusa.

 

Ao fazer do SNS um serviço de todos os cidadãos, Sakellarides acredita que se está a dar um passo importante para o proteger, mas igualmente para "exigir contas".

 

Esta "prestação de contas", refere o especialista em saúde pública, tem que ver com a forma como foram usados os recursos do cidadão para o funcionamento do SNS.

 

Sakellarides lamenta, por exemplo, o desinteresse e desconhecimento sobre a lei que obriga a definir anualmente os tempos máximos de resposta para uma cirurgia e a facultar aos utentes a informação sobre esses tempos.

"Ninguém se interessou sobre essa lei. O Ministério todos os anos faz uma portaria igual de ano para ano e os serviços não as cumprem. E as pessoas não querem saber", lastimou.

 

O documento estratégico que servirá de debate ao congresso de Setembro indica ainda que é preciso vincar a ideia de que "o SNS não é gratuito, nem sequer tendencialmente".

 

"Tem sido e continua a ser pago por todos - é pré-pago, através de impostos, segundo os princípios de um seguro público - para nos poupar da preocupação de pagar quando estamos doentes", lê-se no texto.

 

A Fundação insiste também na ideia de que seria indispensável antecipar o impacto da crise e dos programas de ajustamento financeiro nos serviços de saúde dos países intervencionados, como Portugal, considerando "a falta de interesse das instituições europeias no assunto sintomática e preocupante".

Lusa/SOL

estes dias que passam 297

d'oliveira, 13.08.13

Mal, muito mal,

 

Meu caro Portugal

 

 

 

Ai Portugal se ao menos fosses só três sílabas, sul sol e sal, escrevia alguém, assim ou parecido, já não recordo e daqui deste lugar diante do mar, destino antigo, fado nosso agora só bom para turistas de pé descalço e esgoto, quero escrever sobre o menino, ontem entrevisto na televisãoo.

 

A história é simples:

 

Um miúdo, que vive em cu de judas mais velho, para lá duma serrania de que esqueci o nome, um miúdo de dez anos brinca com o telemóvel enquanto guarda um cento de ovelhas pertencentes(?) à família.

 

O garoto é esperto, rápido na resposta e, segundo testemunhos familiares, bom aluno. Vai entrar no 5º ano com uma média de quase 5. Quer ser algo mais e algo melhor do que pastor de cabras numa montanha antiga e íngreme. O pai – e um irmão que também falou – querem para ele as oportunidades que não tiveram. E têm orgulho no pequeno que guarda bem o rebanho enquanto num caderno fatigado vai fazendo contas “para não esquecer o que já aprendeu”.

 

E sonha em ir à praia que nunca viu mas imagina (ou sabe pela televisão) que tem água, “muita água, gente, areia e sol”. E, sonha, porque não?, em ir ao centro comercial onde há “lojas de roupa e de brinquedos”. Detrás do adulto à força espreitam dez intensos anos e um horizonte de brincadeiras.

 

Mas, entretanto, enquanto o Verão vai correndo, ele tem cabras todo o dia, o caderninho das contas para ”se não esquecer”, um telemóvel onde joga algum jogo e a montanha desumana, íngreme e quente.

 

Ao domingo, brinca com os primos... E, como no poema de Prévert, ou quase, não tem tempo para se aborrecer por saber que a seguir vem uma segunda feira de cabras, monte, canseira e o temor de algum lobo à espreita.

 

Que merda de país é este onde um menino, muitos, demasiados meninos, não têm outras férias que não estas de trabalho adulto e estes desejos tão simples, tão pueris, de ver um centro comercial e uma praia onde há areia, gente e muita água. E ele lá atrás das montanhas que se orgulha de saber nadar...

 

Oiço, irritado e triste, uns políticos quaisquer (neste momento um rapazola do PPD, outro do PS logo de seguida e finalmente uma rapariguinha do bloco todos a “mandar vie” um par de ninharias, dois narizes de cera, um chorrilho de imbecilidades que, todas espremidas, não dão água que valha para matar a sede a uma cabra no monte para lá do sol posto onde um pequeno cidadão escreve números num caderninho e sonha com o mar, tanto mar e um pobre brinquedo à venda numa loja de um centro comercial.

 

Desculpem se isto vos parece piegas ou, pior, populista. É que. Às vezes, o cronista, para não começar seriamente a bater esta gentalha a tiro de caçadeira, tem de olhar para o lado para um cachopo com um metro e pouco de olho azougado e que se chama, será assim?, Joel, Joel guardador de rebanhos.

 

E sonha um mundo melhor. Mas, logo de seguida,

 

“E eu pensando em tudo isto,

 

fiquei outra vez menos feliz...

 

fiquei sombrio e adoecido e soturno

 

como um dia em que todo o dia a trovoada ameaça

 

e nem sequer de noite chega...”

 

(Pessoa/Caeiro “o guardador de rebanhos, IV, in fine)

 

   

 

estes dias que passam 298

d'oliveira, 13.08.13

 

Quantas horas tem o dia?

 

Anda por aí um movimento que pretende negar aos deputados em exercício de funções o direito de se candidatarem a órgãos autárquicos.

Desconheço as exactas razões desses contestários mesmo se perceba (e tenha, na prática, verificado o descaso com que vários eleitos tratam o posto autárquico conquistado nas urnas) alguns dos motivos que levam estes auto proclamados combatentes da ética política a ameaçar recorrer aos tribunais.

(parêntesis: começo a pensar que, segundo alguns cidadãos, que não estão acima de toda e qualquer suspeita, mais valia entregar o país às magistraturas. O Supremo Tribunal ficaria com a presidência da república e um par de ministérios, o Tribunal de Contas com a Economia e as Finanças, o Supremo Administrativo com o ministério do Interior e ao Constitucional reservar-se-ia o Parlamento. As áreas das CCR ficariam sob a alçada das Relações, os Tribunais de círculo tomavam conta dos distritos e os julgados de paz fariam vantajosamente as vezes das freguesias.

Os ilotas, isto é, nós todos, os cidadãos inermes continuaríamos como até agora a pagar e o Conselho Superior da Magistratura substituiria com as suas reuniões as eleições. Até ficava mais barato.)

Mas não é desta sanha “justicialista” (eu disse justicialista e quem não souber que vá ao dicionário ou à Wikipédia) que pretendo discorrer neste amável e inconstante mês de Agosto.

De facto, lendo com imerecida atenção, o sempre inconstante “Público” dei com um comentário do senhor José Junqueiro, eterno e inamovível deputado de PS que também concorre a um qualquer lugar em Viseu.

Dizia, pois, o azougado JJ que os que contestam a sua patriótica decisão de se sacrificar em Viseu deveriam antes disso trabalhar tanto quanto ele, JJ, o diligente. Que dedica a essa nobre tarefa 18 (dezoito) horas diárias.

Ignoro se essas dezoito horas de labor ocorrem apenas aos dias úteis ou se englobam também o fim de semana como quero crer que acontece ou não fosse JJ um exemplo gigantesco de pai da pátria. 

Se JJ, pessoa a quem não posso acoimar de mentiroso, diz que trabalha dezoito horas, quantas lhe restam para o resto?

Ora vejamos: JJ comerá as suas três refeições diárias – uma hora e um quarto;(excluo o lanche, ou merenda para os mais puristas), tomará o seu banho diário- um quarto de hora; lavará os dentinhos depois de comer outro quarto de hora; , defecará pelo menos uma vez por dia –mais um quarto de hora caso não seja desses que levam uma leitura para a retrete coisa que duplica o tempo de evacuação; fará meia dúzia de xixis, lavará as mãozinhas depois: tudo junto quarenta minutos; escanhoará a face viril diariamente – um quarto de hora, assoar-se-á q.b., vestir-se-á e calçar-se-á também diariamente Por tudo, vinte minutos se não for cuidadoso a escolher as gravatas, as meias e os sapatos.

Depois temos que não dormindo na Assembleia sempre demorará entre um quarto de hora a meia hora mínimos no ir e vir se andar de táxi. Com carro próprio contar o triplo dando o desconto para tirar e pôr o carro na garagem, estacionar no parque privativo da Assembleia. Há-de tomar alguns cafés durante o dia o que, a cinco minutos cada café, pode dar algo como um quarto de hora.

Lerá um jornal por dia e mais um par de revistas semanais durante o fim de semana. Nisso, se ler depressa, e perceber logo à primeira consumirá a sua boa meia hora que deverá ser acrescentada a outra meia diária no caso de ler um livro por mês (e em português porquanto se for em língua estrangeira presume-se que JJ terá que demorar mais tempo, pois é bem sabido que os deputados falam e entendem patrioticamente mal o linguajar dos bárbaros.

Tudo somado temos que, não havendo outros impedimentos, telefonar, ver televisão, conversar, olhar para o ar ou para as pernas da vizinha, ir ao médico, engraxar os sapatos, comprar pasta de dentes ou um quilo de batatas, limpar os óculos, falar com a família, ceder a um capricho mesmo que não seja erótico, etc..., temos que estão gastas mais quatro horas e três quartos ou mesmo cinco e um quarto.

Sobram, portanto, para este parlamentar incomparável, entre quarenta e cinco minutos e uma hora e um quarto para dormir.

Convenhamos que parece pouco, mesmo tendo em conta o facto de JJ ser, como se sabe, um génio e um super-homem sem kriptonite. É que o sono tem leis e a falta dele consequências.

Ou, como diria Goya, a razão política necessita de sono mesmo se, como é sabido, o sono da razão produza monstros. Dentre eles, o da mentira descarada e do auto-elogio a outrance e o da incapacidade de autocrítica.

Estamos na silly season mas mesmo assim JJ escusava de dizer tnta parvoíce em tão poucas palavras. A menos que aplique às suas 18 horas a prova dos noves. Ou seja 18 noves fora NADA!  

 

diário Político 186

mcr, 02.08.13

 

 

The good old times


A louvada sentença do Tribunal da Relação do Porto absolvendo e mandando reintegrar um lixeiro despedido nos quadros da empresa que o despedira por trabalhar em evidente estado de bebedeira compreende-se bem sobretudo se atentarmos na história pregressa da pátria lusitana.

Está aí em cima um cartaz da época em que os homens tinham barba na cara e não cediam a essas mariquices modernas sobre o álcool que se ingeria.

Cavalheiro que se prezasse despachava uma litrada por refeição fora os ameaços nos intervalos onde o copo de três se cruzava com uma amêndoa amarga (uma amarguinha!) um café com "cheirinho", um bagaço bem aviado,maxime - mas mais para senhoras!- um ginginha com elas. 

um rapazola bêbado subia na consideração social dos amigalhaços e fazia sorrir ternamente o progenitor que afiançava que "miúdo tinha a quem sair". 

O Estado e a sociedade em geral olhavam com bem humorada condescendência os filhos família aos tombos durante as festas académicas (sobretudo a Queima das Fitas como ainda hoje ocorre com menos inocência e mais propósito - mesmo antes do cortejo arrancar já os celebrantes engurgitam farta dose de cervejame com muitos shots à mistura para depois se arrastarem todos penosamente esganiçando-se em avinhadas elocubraçoes sobre quão bom é ser "doutor") ou outras. Antes isso que ser esquisito. E esquisito era tudo o resto, desde os bebedores de água ou leite até aos "maricas". 

A cruzada, em boa hora, empreendida pelos que entendem que "um grão (ou dois, ou um quarteirão) na asa" só dignifica o trabalhador modesto e "alienado" (não chego ao ponto de afirmr que alguém usou esta expressão hoje tão em desuso ou que, sequer, a conheçam ou a percebam mesmo dentro do colete de forçs marxista) mas ainda o torna mais competente e desembaraçado tem, como se vê, raízes antigas.

eu sei, bastamente sei, que algum leitor me estará a chamar agente do capital e do ultra liberalismo. Insistindo no consumo do álcool como escape para as agruras da vida, alguém dirá, que isso reduz a capacidade de reacção social do proletário escravizado e a sua vontade de se juntar aos cerrados batalhões dos que lutam pela libertação do homem. 

enganam-se esses falsos apóstolos da anti-troika, do progresso e da liberdade. com um copo de vinho (ou dois ou uma dúzia, afinam-se as gargantas e sai mais melodiosa e vibrante a "grandola vila morena" e os gritos de "eleições já!". 

Parece que a Europa se indignou com a apologia do álcool evidenciada pela sentença. Mas quem é essa Europa? Essa gente rica e ociosa que zomba dos pobres e do Sul? Essa multidão que só bebe à sexta e se chateia durante uma inteira semana de trabalho monótono e bem remunerado que leva o seu egoísmo a recusar um pequeno auxílio aos que, pelo menos, sabem gozar a vida e emborcar uma caneça de verde tinto? 

Antes sós que mal acompanhados! (como dizia alguém cujp nome não recordo nem quero recordar)

d'Oliveira fecita 2.8.13

 

 

 

 

Au bonheur des Dames 346

d'oliveira, 01.08.13

 

E nós pimba!3#$!!!&***?..., 

 

 

Leio nos jornais que um trabalhador bêbado, afinal, "pode esquecer as agruras da vida e empenhar-se muito mais a lançar frigoríficos sobre camiões" e "o público servido até pode achar que aquele trabalhador alegre é muito produtivo". Sic !!! 

Acham estranho? 

um cavalheiro borracho pode ser mais produtivo, mesmo se em trabalhos chatos como a recolha do lixo. 

Pelo menos se o lixo é constituído por frigoríficos decrépitos de que os abstémios proprietários  se querem desembaraçar. 

Desconheço se o restante lixo está abrangido pela sentença do Tribunal da Relação do Porto. 

Desconheço se os senhores juízes previram que um frigorífico entusiasticamente lançado pelo cavalheiro em estado de ebriedade pode não cair dentro do camião do lixo mas fora, suponhamos na rua, em cima de um caro ou de algum cidadão igualmente etilizado que se deteve a olhar para a tarefa dos comparsas lixeiros. 

Parece que os ilustres magistrados acentuaram no seu douto acórdão "as agruras da vida". E quem, mais do que eles a quem é submetida toda a miséria, todas as infâmias, todos os desgostos do mundo, pode saber o que são agruras da vida mesmo sem aspas? 

Será que para obter melhor justiça, mais rápida, mais consentânea com a realidade que vivemos e a que mal sobrevivemos, teremos de pedir que na sala de audiências se exibam umas garrafas de vinho, de aguardente, meia dúzia de cervejas, quiçá one botle of scotch whisky, soda a rodos e um balde de cubos de gelo? 

E os advogados? Deverão entornar-lhe (e eu até conheci vários que lhe davam forte e feio, a pontos de clientes desconfiados e estupidamente abstémios fugirem a sete pés ou rezarem para que as audiências fossem pela manhã. 

E a restante panóplia judiciária desde o diligente escrivão até ao oficial de diligências? Podem beber ou não merecem, dado o seu cargo inferior e a sua limitada responsabilidade, uma dramática lei seca? 

E, já agora: uma testemunha grossa como um carro será. por isso mesmo, pela alegria, uma testemunha mais fiável do que uma carrancuda criatura que até o sumo de laranja considere como anti-saudável? 

ai leitores e amigos que desertam para o sal o sol e, eventualmente, o sul, entramos na silly season e enquanto o calor aperta, dêem-lhe nas bejecas frescas, frequíssimas, no balãozinho de whisky on the rocks no fim do almoço ou, no caso de veranearem pelos Aaaalgarves. um medronho bem aviado!

Sabe bem e tem essa desculpa sempre benvinda de aumentarem a produtividade, mesmo que seja o dolce farniente das férias. Se calhar nada-se melhor e ficamos morenos mais depressa.