As Jornadas da Propaganda
Os ministros do PSD mais os ministros dos CDSPP juntaram-se, na Sala do Senado, para falarem aos deputados dos mesmos partidos. Aquilo parecia ser uma coisa séria, assim a apontar para a revelação de grandes desígnios para a Nação. Talvez a proclamação solene – na Sala do Senado – do âmbito, metas e profundidade da Reforma do Estado.
Mas não. Rapidamente se percebeu que aquilo era mais um espectáculo mediático, uma coisa, “um número” para a comunicação social entreter os portugueses, tipo casa dos segredos. E a comunicação social cumpriu bem mais este papel desenhado à sua medida. Até arranjou uns tipos para irem palrar e fazerem a antevisão do que seria o discurso do Primeiro-ministro, o que é que ele poderia anunciar de novo.
E, de novo, o que é que soubemos? Que a recessão técnica vai acabar dentro de semanas; que a história vai assinalar estes anos como a época em que um Governo tirou o país da bancarrota em que outro governo o tinha deixado; que os cortes nos salários vai ser feito umas dezenas de euros mais acima; que a culpa não é da Europa, do BCE, antes de portugueses que gastaram, gastaram e endividaram-se à tripa forra.
Estas acções Governo/Deputados afectos, sob pretextos diversos, são meras operações mediáticas – autentica fraude política paga pelos contribuintes – que merecem ser bem analisadas, porque, pela amplitude da cobertura mediática que têm, bem podem justificar o facto dos partidos do governo ainda manterem níveis de popularidade muito acima do que seria expectável face às malfeitorias da governação.
Na verdade, se o objectivo daquela iniciativa partidária era falar para dentro, explicar aos deputados (do PSD+CDS) o OE para 2014, então, a que propósito três canais de televisão transmitiram em directo os discursos dos respectivos líderes parlamentares e o discurso, cerca de uma hora, do Secretário geral do PSD? Fizeram-no porque foi para isso que aqueles dois partidos organizaram o evento. Obterem dias de ocupação do espaço comunicacional sobe o OE2014, conseguir horas e horas de lavagem ao cérebro dos deputados, dos jornalistas, dos comentadores encartados, que face a tão longos discursos, sem contraditório, concluem pela desgraça de não verem alternativa. E com isso também dão o seu contributo para o adormecimento geral.