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Incursões

Instância de Retemperação.

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Instância de Retemperação.

Estes dias que passam 331

d'oliveira, 27.01.15

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Setenta anos!

Há setenta anos Auschwitz era libertado pelo exército russo. Dachau, o campo protótipo, seria libertado só em Abril do mesmo ano. Em ambos os casos, os comandantes militares das tropas libertadoras, americanos no último caso, tentaram dar o máximo de publicidade à macabra descoberta destes grandes cemitérios.

Os comandantes americanos mais tarde, à medida que iam encontrando campos de concentração e/ou de extermínio (a diferença é muito ténue, diga-se), obrigaram os cidadãos alemães a percorrer a passo lento essas monstruosas mostras da absoluta impiedade, iniquidade e infâmia colectivas. Para que mais ninguém pudesse dizer que não sabia.

Convém, agora, recordar que se houve vítimas de todas as nacionalidades, de todas as raças, de todas as confissões, de todas as opiniões, houve carrascos e cúmplices em todos os países atingidos pela guerra. Sem a prestável colaboração francesa (que não só prendeu adultos mas igualmente crianças), sem as denúncias de vizinhos (na Holanda), sem a aprovação de populações inteiras (na Ucrânia, por exemplo) muitas vítimas poderiam ter escapado.

Também é bom não esquecer que, nas próprias comunidades judaicas houve uma espécie de colaboração com os fanáticos Não que os dirigentes desses desgraçados ghettos quisessem mandar outros judeus para a morte. Todavia, a atitude pusilânime, a incrível ingenuidade, o desejo de evitar “provocações” tiveram como resultado ainda mais mortes.

Seria também conveniente saber que em todos os países (Alemanha incluída) houve “justos entre as nações” gente que correu riscos tremendos para salvar judeus. A Polónia, tão acusada de anti-semitismo, tem quase cinco mil “justos...” e é até o país que mais justos tem. Também era o país que proporcionalmente albergava mais judeus.

Finalmente, não se esqueça que juntamente com os judeus foram presos, torturados, gaseados “arianos” (mormente alemães muitos deles comunistas, socialistas, conservadores, religiosos, para não falar nos homossexuais que desde o primeiro momento foram atirados para os campos. Alemães igualmente, os negros e mestiços originários da Namíbia e da Tanzânia alemães de nacionalidade foram praticamente exterminados.

E, finalmente, outra vez, temos o caso dos ciganos. Como os judeus, os ciganos foram perseguidos apenas por o serem.

Como diz um ditado judeu, “um homem que salva outro, salva o mundo”. Daqui decorre, sem dificuldade, que quando um homem é morto por razões de raça, confissão, nacionalidade, preferências políticas ou sexuais, é o mundo inteiro que morre.

Não quero de modo algum subestimar o número de judeus mortos mas apenas insistir neste ponto: é abusivo tentar limitar seja de que maneira for a mortandade a algo especificamente judeu.

Também vale a pena lembrar que nem todos os judeus marcharam para os matadouros como carneiros. Não só tentaram resistir com abnegação e coragem imoderadas (o ghetto de Varsóvia, os resistentes do “Afiche rouge”, os espiões e lutadores da “Orquestra Vermelha” e os “partizans judeus das florestas bálticas, da Ucrânia ou da Bielorrússia. E foram muitos, dezenas de milhares, a mostrar de que madeira eram feitos.

A História não deve ter filhos e enteados mas apenas personagens iguais mesmo se diferentes. E já agora a talho de foice não se esqueça a proteção de judeus norte africanos levada a cabo por árabes, mormente por tunisinos que resistiram com dignidade e coragem às ordens de oficiais alemães do Afrika Korps. Seria bom lembrar que o heroico Rommell foi um entusiasta de Hitler durante muito, demasiado, tempo e que só começou a duvidar quando a derrota era mais que previsível.

 

Sou “um pobre homem de Buarcos”, o mesmo é dizer da Figueira. Nessa terra, abençoada pelo mar e pela serra, foram asilados muitos refugiados judeus (como nas Caldas da Rainha e na zona de Lisboa). Sei, de ciência certa e por conhecimento próprio que foram bem recebidos, bem tratados a ponto de alguns como um Jan que ainda conheci terem ficado na cidade. Os meus pais e os meus tios falavam (e os sobreviventes ainda falam) desses tempos solidários. E de como se partilhava o pouco que se tinha com quem ainda possuía menos.

 

 

...

d'oliveira, 27.01.15

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Les lendemains qui (de)chantent

 

“…ceux qui crèvent d'ennui le dimanche après-midi parce qu'ils voient venir le lundi et le mardi, et le mercredi, et le jeudi, et le vendredi, et le samedi et le dimanche après-midi.”

Os “amanhãs que cantam” (no caso vertente que “desencantam”) fazem (ou faziam) parte de um folclore da esquerda europeia do meu tempo de jovem ingénuo, combativo e esperançado.

Estávamos na política por reacção ao sufoco salazarista, à pobreza imperante e circundante e tendo como pano de fundo a história recente e os seus imensos desastres. E pela liberdade, obviamente.

Acreditávamos piamente que, apesar de tudo (e neste tudo estava mesmo tudo desde o gulag aos processos de Moscovo, desde as liberdades suspensas até que o capitalismo deixasse de cercar a “pátria dos trabalhadores”, desde o pensamento único até à fidelidade já ligeiramente em queda ao “pai dos povos”, de resto prontamente substituído em desordem por Mao Zedong, Fidel de Castro, Ho Chi Minh, ou mesmo Enver Hoxha para os menos exigentes) chegariam os dias felizes, a festa dos povos, a igualdade, a liberdade e a vida tranquila.

Nada disso aconteceu como se sabe. Hoje já ninguém se lembra de Stalin, menos ainda de Mao para já não falar dos outros absolutamente menores. Fidel vagueia de pijama ou fato de treino por uma Cuba que se prepara para receber uma embaixada americana, dólares, carros novos e investimentos por parte dos habituais bons samaritanos de Wall Street.

Mas deixemos este cortejo de espectros que não assustam ninguém e muito menos a Europa e vamos ao que interessa: as eleições gregas.

Para quem tem alguma memória, digamos dos últimos 15 anos (nem é preciso descer ao século passado) e relembre o leque partidário grego de então (o PASOK a cerca de 50% dos votos, a Direita a disputar com mais alguns partidos (entre eles duas formações comunistas, uma do “interior” outra sei lá donde) os restos da votação, a surpresa de ontem domingo há de ser grande.

Para onde foi a formação do clã Papandreu que há mais de um século mandava e desmandava na Grécia?

Os resultados de ontem põem este antigo símbolo da esquerda socialista (o PASOK afirmava-se muito à esquerda dos seus parceiros europeus) no sétimo lugar, o último creio, da votação: menos de 5%!!!

Claro que o PASOK carregava penosamente com as principais culpas (mas não todas, que a Direita, mesmo fora do poder, também colaborara no descalabro) da actual situação grega.

É mais que provável que uma grande maioria dos seus antigos votantes se tenha transferido de armas e bagagens para o compósito Siriza, enquanto uma pequena percentagem terá ido para um agrupamento dissidente. E o PASOK ficou com o último quadrado de fidelíssimos, eventualmente de socialistas de toda a vida.

E a Nova Democracia, agora apeada do poder? A ala mais radical terá engrossado os Gregos Independentes bem como o novo terceiro partido, o sinistro Aurora Dourada que, mesmo com os dirigentes na cadeia, consegue mais de 6% dos votos. Conviria lembrar, para os mais esquecidos, que também na Alemanha, em tempos que já lá vão um partido radical começou a sua caminhada depois do seu futuro líder ter feito a experiência do cárcere.

Os comentadores, como é hábito, extasiam-se com esta performance mesmo se desde há muito tempo, a bem dizer desde as últimas eleições fosse provável este desenlace.

Os mais ousados apostam no “fim da austeridade” o que não deve querer dizer grande coisa porquanto mesmo com grandes cedências ( o que não parece assim tão evidente) da ”Europa” as coisas demorarão muito, mas muito, tempo a compor-se.

O colunista Rui Tavares (Público), actual dirigente do “Livre” compõe mesmo uma “ode triunfal” e jura a pés juntos que nada ficará na mesma. Na Grécia, na Europa, e, num suspiro arrebatado, em Portugal. Neste último caso, não se vê bem em que apoia tão atrevida mensagem.

 

“para que as coisas permaneçam na mesma é preciso que tudo mude”

Desconheço se Tavares leu “O Leopardo” ou se, pelo menos, viu o belíssimo filme de homónimo de Visconti. E se, tendo-o visto, recorda esta frase cínica de um dos personagens que propõe ao Tio, o Príncipe de Salina, uma reorientação dos apoios políticos para que a família possa conservar todas as mordomias de que gozava.

Não ponho os dirigentes do Siriza na posição da velha aristocracia siciliana (entretanto substituída pela corrupta rede clientelar dos novos donos da Itália com o entusiástico apoio da honorata societá que medrou como nunca e se exportou para toda a península e depois para o mundo) mas tenho a fortíssima impressão que do programa “radical” do Siriza muito lastro já se perdeu.

A começar pelo “euro”, antes, há meses apenas, tão detestado e agora renascido das cinzas qual nova fénix esperançosa. E a continuar por certas promessas que seguramente não serão exequíveis nos tempos mais próximos. Refiro-me à fixação do salário mínimo nos setecentos euros (entre nós, numa situação absolutamente melhor, conseguiu-se atingir o patamar dos 500 euros) ou à miraculosa criação de postos de trabalho para o gigantesco número de desempregados existente.

Tsipras defende que as previstas despesas serão financiadas pelo crescimento económico (?) e pela luta contra a corrupção (e já agora, digo eu, pelo estabelecimento do cadastro coisa que na Grécia nunca existiu!). Portanto o Governo ou o Estado não entram com um cêntimo ou quase. O pequeno problema que se levanta é que na Europa o que reina é uma morosa deflação que a Grécia mesmo com um crescimento de 2,9% este ano (e um absoluto desastre no que toca a receitas fiscais em atraso...) não chega lá tão depressa. Por outro lado, a luta contra a corrupção, endémica no país, desde praticamente a Independência, durará um par de décadas.

É verdade que Tsipras prometeu falar duramente com os parceiros europeus. Acredito piamente que ele acredita nisso.

E também é verdade que os juros da dívida grega estavam à altura da péssima reputação do país. Mas também é verdade que já houve uma renegociação da dívida grega que a reduziu a metade.

Pessoalmente, mas eu não passo de um português assolado pelos impostos, sem economias (quase todas comidas ao longo do tempo por uma biblioteca de 21.000 volumes), creio mais na dilação dos prazos de pagamento do que no perdão. Aliás essa é igualmente a minha receita para Portugal. Pagar um balúrdio em tão curto espaço de tempo, favor que devemos a quem negociou com a troika (não o esqueçamos) era uma impossibilidade na altura e é uma impossibilidade hoje.  

Todavia, é difícil usar uma linguagem de força quando se precisa desesperadamente de uns milhares de milhões de euros num futuro dramaticamente próximo. E quando, para lá da Frau Merkel, aparecem os negociadores holandeses ou finlandeses muito menos propensos ainda a aceitar acordos “demasiado generosos” a seus olhos.

Não há pior cego...

A reacção mais alarmante à vitória do Siriza vi-a nas declarações do senhor Melenchon, líder de uma diminuta “frente de esquerda” em França. Escuso de recordar o paupérrimo resultado da criatura nas últimas eleições. Basta-me, referir (com imensa amargura, devo dizê-lo) que o fenómeno populista francês paralelo ao Siriza e pescando nas mesmas exactas regiões que outrora davam o voto e a força ao PCF e ao PS e são agora zonas de influência e implantação do “Front National”, é o da senhora Le Pen que se apresenta cada vez mais como uma forte candidata presidencial.

Melenchon com a mesmíssima cegueira dos dirigentes do KPD alemão na década de trinta, assesta a sua artilharia no PS de Hollande usando uma linguagem que, mutatis mutantis, não é assim tão diferente da suicidária mensagem dos comunistas alemães, defensores da aberrante teoria “Klasse gegen Klasse”. É bom lembrar que Hitler só ganhou graças à luta fraticida na Esquerda mesmo se já desfrutasse do apoio de enormes massas de proletários e muita classe média reduzidos à miséria pelos efeitos combinados da guerra, do Tratado de Versalhes e da crise económica mundial. A História como dizia o das barbas repete-se (e sempre para pior!).

É bem verdade que Hollande (esperança frustrada de Seguro mas não só) deu no que deu. E mesmo que o caso “Charlie” o tenha momentaneamente salvo triplicando ou quadruplicando o desastroso índice de popularidade com que terminara 2014, a verdade é que governa um PS fragilizado, por uma minoria rebelde. Provavelmente não chega para bater a Direita “civilizada” e/ou a outra que, como alguém afirmava, faz o diagnóstico certo e recomenda os remédios errados.

O outro foco de esperança de Tavares, Melenchon e outros, é “Podemos”, mais um fortíssimo movimento populista também ele nascido da crise. E, mais uma vez, na sua origem está a desilusão com o PSOE de Zapatero e a governação violenta do PP. À medida que se vai aproximando o momento eleitoral, também “Podemos” vai enterrando alguns dos seus mais audaciosos projectão, nomeadamente o extraordinário “salário mínimo garantido para todos os cidadãos”.

O que mais surpreende é a ilusão repetida no bondade dos movimentos estrangeiros. Curiosamente, seja em Portugal, seja na França, aquilo que se resolveu apelidar “esquerda radical”, tem uma presença insignificante nos centros de poder e nada, até ao momento, fundamenta o prognóstico de cá ou lá poderem surgir émulos do Siriza que de 2009 a 2015 multiplica a votação por seis.

Também valeria a pena recordar para os mais distraídos que o sistema eleitoral grego premeia exageradamente o partido que chega em primeiro lugar. Num sistema proporcional os deputados do Siriza pouco ultrapassariam a centena de lugares. Ou seja: uma coisa é a votação, outra a população eleitora (que no caso em apreço se cifrou em 60% do eleitorado.

E isso já parece reconhecido pelo Siriza: depois de se poder pensar que se aliariam ao To Potami ou até ao PASOK, tudo indica que será com os “gregos Independentes” que fará Governo. Ou seja com um partido claramente de Direita, anti-troika e anti emigrantes. Convenhamos que para primeiro dia é já muita areia para a camioneta dos admiradores do radical Siriza.

Não vou ao ponto de dizer que entre os melhores espíritos há afinidades mas aí está esta espúria aliança para fazer prever que os próximos dias vão ser muito instrutivos. E pouco entusiasmantes.

Desculpem lá mas só Rouault foi capaz (e numa água forte que ilustra este texto) de proclamar “demain sera beau (disait le naufragé)” nesse belíssimo conjunto que se chama “Miserere” (1948). Mas Rouault era apenas um dos grandes pintores da metade do século passado e a sua mensagem vinha tintada de cristianismo social e não se destinava a governar o mundo, a Europa ou apenas a Grécia que nos educou noutro culto bem mais laico.

 

* como nem todos os leitores mormente os mais novos são obrigados a ler francês junta-se, e na exacta ordem, as legendas para o títuloe citações usadas

1. os amanhãs que (desen)cantam

2 "...os que, no domingo à tardem morrem de tédio ao ver prever a chegada da segunda feiras, da terça, da quarta, da quinta, da sexta, do sábado e da tarde de domingo"  (in Paroles, Jacques Prévert, há tradução portuguesa: Palavras

3 Classe contra classe foi o mote da camapnha do KPD (partido comunista) contra o SPD (partido socialista) durante a década de 30 na Alemanha. O mote tinha o apoio do Komintern (IIIª Internacional) e os resultados estão à vista(comunistas e socialistas depois de se baterem nas ruas uns contra os outros e ambos contra os fascistas encontraram-se nos campos de concentração com escepção de alguns vivaços (Thaelmann) que se acoitaram em Moscovo em bom tempo. 

A lustração do texto é uma água forte de Rouault com o título "amanhá fará bom tempo dizia o naufrago" e pertence à série Miserere (1948) Esta série foi exposta em Portugal nos finais dos anos 60 ou inícios de 70. O catálogo, raríssimo e excelente encontra-se eventualmente em alfarrabistas. 

 

 

 

Azia política

JSC, 26.01.15

Numa das reacções europeias mais adversas à vitória da extrema-esquerda na Grécia, o primeiro-ministro português diz que algumas das ideias do Syriza são um "conto de crianças".

 

Passos Coelho não podia reagir pior à vitória do Syriza na Grécia. Muito pior do que se poderia pensar. Aproveitou para lembrar que a culpa da crise é de cada um dos governos, como se num bloco de moeda única a culpa possa ser tão personalizada. Em vez de aproveitar a janela que se abriu para a renegociação das dívidas, para a alteração do modelo de Govenro da UE, Passos Coelho não só tranca as portas todas, como ameaça os gregos (e a nós também) com as “regras europeias” cujo cumprimento é necessário porque, diz, sem as quais a “Europa desintegra-se”.

 

Passos Coelho ainda não percebeu que as regras vão ser alteradas e que Europa não se vai desintegrar.

 

Quem também deve estar com grande azia com o que se está a passar na Grécia é o escritor best seller e jornalista José Rodrigues dos Santos. Era ouvi-lo ontem e hoje, pela manhã, a vociferar pelas não respostas que os Gregos lhe deram, os riscos que aí vêm, a sua grande preocupação com o dinheiro da Troika, com o retorno que os países que ajudam estão à espera . Ontem, com Praças e Ruas a abarrotar de gente, o grande jornalista insistia em dizer que estava muito pouca gente a comemorar a vitória do Syriza. José Rodrigues dos Santos bem podia aliviar-nos e dedicar-se, em exclusivo, aos seus livros, talvez inventar um "conto de crianças", onde a figura principal fosse um tal Alexis Tsipras.

Um mau exemplo

José Carlos Pereira, 22.01.15

Quem me vai lendo há mais tempo sabe da ligação que tenho a Marco de Canaveses, minha terra natal e onde fui autarca na Assembleia Municipal durante oito anos. Os assuntos locais interessam-me bastante, naturalmente, e servem de exemplo para evocar boas e más práticas na promoção e na afirmação da competitividade dos territórios.

Recentemente, a Câmara Municipal de Marco de Canaveses decidiu promover um decepcionante concurso de ideias para a criação de um slogan/imagem do concelho. A marca/imagem/slogan de um território deve resultar de um trabalho profundo que parta do posicionamento actual do município (para residentes e visitantes) e determine qual o posicionamento desejado para, só então, definir quais as propostas de valor necessárias para atingir esse posicionamento.

Os executivos liderados pelo PSD já tiveram oportunidade, desde 2005, de contratar e de envolver o município em diversos estudos estratégicos: o “Estudo Estratégico para o Concelho de Marco de Canaveses”, elaborado pela Escola de Gestão do Porto e liderado por Daniel Bessa; o “Estudo de Marketing da Promoção do Baixo Tâmega” promovido pela Associação de Municípios do Baixo Tâmega; o estudo de planeamento conducente à revisão do Plano Director Municipal, a cargo da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro; e finalmente o Plano Estratégico de Desenvolvimento do Tâmega e Sousa, conduzido pela Universidade Católica do Porto.

Esperar-se-ia, portanto, que a estratégia de promoção do concelho estivesse alinhada com a ideia de desenvolvimento projectada para o futuro de Marco de Canaveses nesses documentos e na estratégia pensada e delineada pelos responsáveis políticos, com o envolvimento da sociedade civil. Nada do que foi feito com este concurso de ideias. Que é, assim, um desperdício de tempo, de energia e de foco. Em suma, um exemplo do que não se deve fazer.

7 Mortes. 7 Inquéritos para silenciar a responsabilidade política

JSC, 18.01.15

Nas duas últimas semanas morreram 7 doentes nas urgências dos hospitais. Os últimos dois casos aconteceram nos Hospitais de Almada e de Santarém. Hoje morreu uma doente que esteve nove horas à espera para ser atendida.

Já aqui nos referimos ao colapso das urgências hospitalares. A cada morte segue-se um inquérito. O inquérito é a chave para as não respostas, para ninguém assumir responsabilidades.

O ministro veio dar umas palavras a abater. É o excesso de procura, É a idade avançada das pessoas, disse ele. Como é óbvio o ministro da saúde não diz a verdade. A verdade é que morrem pessoas sem serem atendidas. Este é que é o verdadeiro problema.

A verdade é que por imposição do Ministro das finanças, corroborado pelo primeiro ministro, os cortes na saúde foram devastadores. Não foram só os enfermeiros que foram mandados para o estrangeiro. Foram também os médicos que foram forçados a sair, foram os cortes na manutenção e renovação dos equipamentos, na aquisição de materiais. Mesmo nos centros de saúde e nas USF faltam meios e materiais básicos, simples desinfectantes. Este é o resultado de opções políticas. Por isso é que os políticos deveriam ser responsabilizados pelo que está a suceder.

É espantoso que os próprios utentes, apesar das muitas horas de espera, não culpam os profissionais de saúde. Pelo contrário, louvam-nos porque reconhecem que trabalham muito para além do tolerável, fazem-no para suprir as carências de pessoal. Só o Governo é que continua a falar dos profissionais que irá admitir, quando o problema é o presente, as pessoas que estão a desesperar, a morrer amontoadas nas urgências.

É espantoso como esta situação não gere uma onda de repúdio na população. É espantoso como os partidos da oposição não reagem mais frontalmente, como o Presidente da República convive tranquilamente com tudo isto, como a equipa do ministério da saúde e a das finanças passam incólumes, vendendo a imagem que estão a salvar o SNS e o país.

Dez anos de prisão e mil chicotadas por querer ser livre

JSC, 16.01.15

Os governantes sauditas são nada mais nada menos que os nossos grandes amigos, vendem petróleo a preço justo, compram aviões, armamento, alimentam a economia ocidental com matéria-prima e depois compram o produto acabado. Deve ser por isso que os governantes do Ocidente nunca tentaram ali a “primavera árabe” nem se preocupam com a barbárie que se abate sobre os sauditas que ousam libertar-se do jugo.

Raif Badawi, o Charlie saudita condenado a mil chicotadas

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d'oliveira, 16.01.15

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Três Vivas por José Quitério

 

Isto ia chamar-se “3 Hurra por JQ” mas o Zé é pouco dado a “bifes” e correlativos. Aqui o “bife” era o ingliche ou o americas ou qualquer outro vago anglo saxão.

Depois pensei na italianíssima “evivva” tão verdiana, tão musical. O Zé é um atentíssimo conhecedor de música e seguramente a coisa não lhe desagradaria. Todavia, o raio do homem é português até ao sabugo, português da velha guarda, cultivador de virtudes antigas e mal lembradas e isso pede um viva nacional, nosso, que tanto lhe devemos.

Convém, agora, um ponto de ordem. Sou amigo do Zé Quitério desde os longínquos bancos dos “Gerais”, velhacouto que frequentávamos com nojosa parcimónia, situação aliás comum a muito estudante de Direito, numa Coimbra que, por ser longe da casa paterna, nos permitia o desvario de ser pela liberdade livre e por outras maluquices libertárias.

Foram anos de intenso convívio, de livros, de filmes, de música, de conversas que varavam a noite hospitaleira entre o “Mandarim” e o “Moçambique” (“capital de Angola” no dizer pitoresco do seu proprietário) e a Baixa.

Depois o Zé foi caçado pela tropa e mandado para Árica defender o Império. Não tenho bem a certeza, embora trocássemos algumas cartas, se ele viveu as angustias do mato, a incerteza, os perigos da guerra ou se graças à já forte miopia passou esse tempo de exílio num quartel mais sossegado.

Sei, isso sim, que, quando regressou, o Direito já não lhe despertava qualquer simpatia. Perdeu-se um jurista e ganhou-se um grande escriba (não me atrevo a dizer escritor não vá o tipo zangar-se...), um homem de cultura, um intelectual empenhado, um extraordinário crítico e divulgador da gastronomia. E um prosador de alto talento. E de grande humor.

Eu já nem me lembro de quando entrou no Expresso. Sei, apenas, que entrou com estrondo, com novidade, com talento, e criou uma coluna que “amarrou” ao semanário muito leitor descontente. Irritei-me vezes sem conta com textos do Expresso mas que era isso ao lado da página onde José Quitério fazia a crítica de um restaurante sempre cuidadoso, exigente, bem humorado e imparcial?

Agora, depois de meses de ausência, inaugurando a nova “Revista” do Expresso, numa longa entrevista, JQ desvenda o mistério da sua ausência: os olhos cansados já não lhe permitem continuar. Lacónico e estoico, sem perder o seu sentido de humor, o Zé substitui o impossível “até à vista” por um “imenso adeus” (permita-se-me um título de Chandler) aos leitores.

Começa mal o ano de 2015, também neste capítulo. Perde-se uma escrita ágil e inteligente, um subtil toque cultural sempre temperado de bom senso e discrição, a voz de um homem direito e inteiro de que cada vez mais se necessitaria.

Ficam alguns livros, fica ele próprio (e que seja por muitos e bons) e fica a ideia de fazer uma pequena ou grande antologia desses textos, datados embora, mas tantas vezes felizes e certeiros.

Sei que muitos leitores fieis e gratos estão comigo neste momento de despedida a um autor e é um pouco em nome deles (que atrevimento!) que substituo o adeus quiteriano por um até sempre com um forte abraço

Saravah, mano! Graças a ti estes últimos cinquenta anos não foram assim tão maus.

A bisbilhotice passou à categoria de instrumento de gestão pública

JSC, 15.01.15

A notícia veio no JN. Mulher queixa-se de ter ficado sem apoio social devido a comentário em facebook

A história é esta: A mulher teve um acidente de viação. Andou em tratamento no hospital, com duas intervenções cirúrgicas e uns parafusos na perna direita. Chegou o dia de tirar os parafusos, com a "alegria por finalmente ir tirar os parafusos à perna e iniciar o período de reabilitação", resolveu brincar com os amigos, via facebook, "Estou no aeroporto de Lisboa a viajar para a Suíça".

Pelos vistos o pessoal da Segurança Social ou quem gere o RSI deve acompanhar os facebooks dos respectivos beneficiários. Ao verificaram que um dos afortunados do RSI ia passear para a Suíça desencadeou os procedimentos para lhe cortar (e cortou) o respectivo abono.

Conclusão, os beneficiários do RSI que tenham facebook devem ter cuidado com o que lá põem. Umas fotos com os sacos do banco alimentar, da associação de caridade da zona, da comissão fabriqueira e coisas do género. Nada de fotos ou textos em que mostrem estar de boa saúde, estarem numa esplanada, na praia ou em restaurantes. O que, de todo, não podem fazer no Facebook, é brincar, fingir que têm o que não têm.

Terrorismo sem direito a directos…

JSC, 12.01.15

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