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Incursões

Instância de Retemperação.

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O PS a um mês e meio das legislativas

José Carlos Pereira, 21.08.15

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A pouco mais de seis semanas da data das eleições legislativas, estamos a entrar no momento decisivo em que partidos e coligações apresentam aos portugueses as suas propostas, os seus compromissos e os seus candidatos. A pré-campanha eleitoral começou há muito, mas a campanha verdadeiramente decisiva vai arrancar em breve, depois do período de férias, com os candidatos nas ruas um pouco por todo o país e os debates fulcrais nas televisões.
O PS e a coligação PSD/CDS, com a pífia sigla PàF, de Portugal à Frente, lutam para ganhar as eleições, tendo concluído em Julho o delicado processo de escolha dos candidatos a deputados (ver aqui as listas do PS e as listas da coligação). Embora nenhum dos dois tenha conseguido evitar por completo os descontentamentos internos, pode dizer-se que o PS conseguiu levar um pouco mais longe a renovação dos candidatos do que a coligação no poder.
António Costa surpreendeu com a indicação de alguns nomes de “fora” da política, desde logo no Porto com a escolha do professor e investigador Alexandre Quintanilha para cabeça de lista, mas confesso que esperava uma maior abertura dos socialistas. A escolha dos candidatos a deputados deve reflectir menos o peso das estruturas partidárias e mais o território dos cidadãos eleitores, bastando olhar para a lista do círculo eleitoral do Porto para constatar que ainda não foi isso que sucedeu. Creio que não faltará muito para que essas escolhas saltem para fora das paredes das sedes partidárias e tenham de envolver, num sistema de eleições primárias, o conjunto de simpatizantes que se envolve e compromete com os partidos.
Nunca umas eleições legislativas foram tão escrutinadas com programas, cenários, indicadores e metas. António Costa apresentou esta semana o “Estudo sobre o impacto financeiro do programa eleitoral do PS”, que mede o alcance financeiro das propostas anteriormente apresentadas. Isto depois da “Agenda para a década” e do cenário macroeconómico espelhado no documento “Uma década para Portugal”, desenvolvido por um conjunto de reputados economistas. Pode dizer-se que cenários são isso mesmo, cenários, mas a verdade é que nunca se fora tão longe na apresentação detalhada do que se pretende fazer.
Votar não pode ser uma questão de fé, nem de clubismo. Votar implicar analisar racionalmente aquilo que nos parece melhor, em termos de políticas e de protagonistas, para o país no ciclo legislativo seguinte. António Costa e o PS não estão a esmagar nas sondagens, é certo, mas são quem, no quadro actual, apresenta a melhor proposta para mudar de políticas, seja na reforma dos impostos ou da segurança social, na promoção do emprego, na saúde, na educação.
Os episódios em torno dos malogrados outdoors parecem ultrapassados – o que é que recomendava Ascenso Simões para dirigir uma campanha eleitoral de tamanha importância?! – e agora os socialistas têm de centrar o foco no candidato a primeiro-ministro e nas suas propostas, com um discurso claro e incisivo, apoiado por um número restrito de porta-vozes reconhecidos e de indiscutível mérito.
A um mês e meio das legislativas, contra uma coligação instalada no poder há quatro anos, não há tempo para mais distracções, seja com debilidades operacionais, questiúnculas internas ou putativos candidatos presidenciais. António Costa tem seis semanas para afirmar a força, a dinâmica e a esperança que a sua ascensão à liderança do PS trouxe a muitos portugueses.

 

ps: escrevi o texto antes de conhecer a entrevista de António Costa publicada hoje no jornal “Sol”. Lidas as referências a marcianos, a Manuela Ferreira Leite, a Pacheco Pereira e a José Sócrates, só me resta apelar a que cessem os tiros nos pés…