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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

Diário político 209

mcr, 29.06.16

 

 

 

Para que serve o referendo?

A senhora Catarina Martins proferiu um discurso muito aplaudido no convenção do seupartido. É normal. Os líderes são sempre muito aplaudidos digam eles o que disserem. Quando a feira encerra, estala o foguetório e toda a gente corre para apanhar as canas.

O BE está ainda em maré alta, fruto não tanto da real vontade de mudança dos portugueses mas tão só de uma aliança dirigida contra a Direita (ou o que exageradamente se considera como tal, e espero nunca ver uma Direita a sério como por exemplo o PP espanhol ou os “republicanos” franceses). Se os leitores bem se recordam, o PSD/CDS ganhou as eleições mas Jerónimo de Sousa, um derrotado, conseguiu convencer António Costa outro ainda mais derrotado (face às espectativas) a inverter o resultado apostando numa aliança de que o primeiro tem sido o mais recompensado mesmo se o segundo esteja tão só a ganhar tempo e espaço para sacudir os incómodos sócios e governar se conseguir (como espera) uma maioria nas próximas eleições que ocorrerão logo que o PS julgue poder ganhá-las.

Não referi o BE no anterior parágrafo mesmo se não ignore o seu expressivo resultado em votos e mandatos. Creio que tal votação assentou num voto de protesto contra a austeridade que terá mesmo mobilizado largas fatias de eleitorado “social democrata”. A perda do PPD não se transferiu para o PS mas sobretudo para o BE num claro sinal de irritação e desconfiança de eleitores classe média que se sentiram “roubados” e não pensaram que tal voto fosse decisivo (e de facto, à luz dos costumes tradicionais na formação de governos não o seriam) para modificar a situação política.

Creio, também, que o BE (que todavia já sentira na pele o “efeito acordeão” de votações sucessivas e desencontradas) terá julgado que a sua súbita boa fortuna se devia à sua acção propagandística. Não deixa de ser curioso o facto deste partido não ter influência que se veja em sindicatos, movimentos sociais ou autarquias mas apenas em lugares no parlamento.

Deixemos, entretanto, a curiosa vacuidade do BE e analisemos o discurso de Martins no que toca a um implausível referendo. A ingénua senhora não leu seguramente os tratados a que Portugal se obrigou no que toca às obrigações dentro da União Europeia. Também não deve compulsarcom a devida frequência qualquer modesto dicionário de língua portuguesa como veremos.

Em primeiro lugar, seria bom esclarecer a fogosa líder bloquista do irremediável facto de, ao não cumprir os limites impostos do deficit, haver lugar a sanções. A coisa está bastamente escrita e já foi glosada de todas as formas e feitios. Quem não cumpre come com uma multa. Ponto final.

Se tal multa tem, ou não, sido aplicada como se deve é outra questão e suscita problemas diferentes que poderão, ou não, sugerir um pedido português para escapar ao estipulado.

Vir agora, em tom arrebatado, exigir da Europa outra atitude (ou melhor dizendo, sic: (não) aplicar uma sanção inédita, inaceitável e provocatória pelo mau desempenho das contas” do anterior Governo) ameaçando “pôr na ordem do dia um referendo para tomar posição contra a chantagem”.

Desconhece-se, provavelmente por mau feitio próprio, onde reside a chantagem e sobretudo em que é que uma sanção regularmente prevista pode ser provocatória, inaceitável ou sequer inédita.

Reside neste grupo de palavra aquilo a que, enquanto cidadão pagador de impostos (de onde uma parte vai para o parlamento para pagar as tropelias discursivas de dona Catarina & coleguinhas), este cronista chama  ignorância pura da língua nacional e do significado das palavras que a senhora Martins usa.

Depois, é patética a ideia de convocar um referendo sobretudo quando tal atitude envolve a direita mais sinistra e canastrona que a Europa vai segregando, graças também, é bom recordá-lo, às tolices de uma esquerda que vem do passado mais estalinista e vergonhoso, duma esquerda que nada aprendeu mas tudo esqueceu.

Claro que, depois da ameaça infantilóide e ridícula, mais nehuma força política se moveu, sequer mostrou especial indignação. Aquilo, aquele arroto de histeria política, ficou dentro da sala congressional e, pelos vistos, nem aí foi tomada muito a sério.

O país, embriagado pelo sucesso futebolístico contra a Croácia, também não pestanejou. Duvido mesmo que tenha sequer ouvido o apelo de Martins, o histérico nacionalismo bacoco que representa e a crassa ignorância do que está em jogo.

A senhora Catarina Martins não gosta da União Europeia. Como a senhora LE Pen em França, acrescente-se ou como outros variados eurocépticos que juntam a essa fobia outras mais quais sejam um sólido horror aos estrangeiros, ao capital ou aos imigrantes que não querem suportar.

De todo o modo, têm sido a União Europeia, as organizações inter-estaduais e comunitárias que a antecederam que são o garante da paz e do bem estar dos europeus. Portugal, pese a sua pequenez é um beneficiário líquido da União quer em fundos quer em acolhimento de milhões de emigrantes que na UE trabalham, prosperam e são respeitados.

Vir agora com farroncas e ameaças vãs e tontas é apenas, isso sim, algo de vagamente provocatório quer para os europeus quer para os cidadãos portugueses que aturam benevolentemente os espirros assanhados de Catarina. Os primeiros nem lhe ligam e os segundos, nós, têm direito a não serem incomodados por quem não fala em nome deles se é que fala em nome de alguém.

É tempo de Catarina crescer se é que isso (politicamente) ainda é possível.

E de ler os tratados e, já agora, de passar as mãos pelo dicionário. Nem que seja o da Academia, o tal que terminava no fim da letra A.

 

Diário político 208

mcr, 21.06.16

Canavilhas 2

A senhora Canavilhas insiste. Na televisão e no jornal Público (que ela diz ser o seu jornal de referência) veio agora dizer que o Público (não a policia!) mentiu ao falar em 15000 manifestantes e não no número apresentado pela FENPROF, por acaso parte interessada na matéria. E acha que o uso (ou abuso?) do twiter se reveste de um carácter ligeiro pelo que, presume-se, toda a burrice é desculpada.

Na televisão veio com ar cândido e ofendido afirmar que tem direito à sua opinião como se a sugestão de despedir uma jornalista fosse uma opinião tão inocente quanto aquela que temos de um romance.

Quando, sendo apesar de tudo uma figura pública, se pergunta porque é que uma profissional que cita fontes respeitáveis não é despedida está-se a macaquear o antigo Estado Novo que despedia profissionais em todo o lado (directa ou indirectamente) por delito de opinião, que prendia pelo mesmo motivo (e estou á vontade para o testemunhar) ou outros regimes que parecendo ter cor diferente partilhavam o mesmo horror visceral à liberdade de imprensa.

A senhor Canavilhas é livre de soltar quanta tolice quiser e for capaz e, agora vê-se, no seu argumentário que pode ir longe nesse domínio, mas o facto de ser contraditada nos seus propósitos inquisitoriais e espurgadores não é uma ameaça a nenhuma liberdade dela. Bem pelo contrario: ao censurar-se-lhe de viva voz a sua posição partidária e sectária está-se a defender a liberdade de quem ela ataca e a dela própria se é que a senhora Canavilhas percebe o que aqui vai escrito. Ela pode odiar a jornalista em causa, amar desmesuradamente o senhor Vitor Nogueira e a frente que ele representa, julgar que a escola pública é um paraíso e a privada um infame complot de capitalistas, imperialistas, monopólios e forças obscuras da reacção, a mão invisível do clericalismo mais obscurantista. Está no seu pueril direito. O que não pode é seja ela quem for (ou quem se julga!...) propor medidas coercivas contra quem nada mais faz do que ser uma jornalista.

Ao publicar-lhe a triste prosa, o Público, dá-lhe mais uma lição de civismo, liberdade e tolerância. Será que a criatura aprende?

d'Oliveira fecit 21-06-16

 

 

a varapau 22

d'oliveira, 20.06.16

E vão dois

Não quero fazer de Cassandra mas que algo vai mal no torrãozinho de açúcar não restam dúvidas. A equipa que ia disputar a final arrisca-se a ter de o fazer já e sem qualquer garantia. A arma miraculosa do melhor do mundo é o que se vê. Nem num penalty! Não foi a figura do jogo e entre os colegas houve quem ficasse melhor na fotografia.

A coisa piora quando nos lembramos das tolices de Ronaldo depois do jogo contra a Islândia. Afinal o autocarro existe e esteve na baliza da Áustria. Ou só no poste, o que vem dar ao mesmo.

 

d'Oliveira fecit 

au bonheur des dames 415

d'oliveira, 20.06.16

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A senhora Canavilhas com saudades dos processos de antigamente

 

Isto de uma criatura vir pedir (de modo “informal”, como depois corrigiu) o despedimento de uma jornalista tem antigos e medonhos antecedentes.

Nos anos trinta, consoante se vivesse no “Ocidente” ou na recente “União Soviética”, os que não liam pela cartilha do Komintern tinham duas hipóteses de pouco e mau futuro. Ou eram ridicularizados, atacados por toda a sorte de panfletos e abaixo-assinados ou, no caso soviético eram corridos dos empregos (solução clementíssima), enviados para campos de trabalho, julgados e condenados à morte em processos fantamasgóricos. Não era necessário ter feito qualquer coisa. Bastava não fazer, ter uma opinião dubitativa ou até ser amigo ou conhecido de alguém que teria emitido algum juízo crítico sobre a política da camarilha stalinista.

Ocorreque uma jornalista do “Público” noticiou que a manifestação a favor da Escola Pública teve números muito diferentes de participantes consoante a fonte era a Fenprof ou a PSP.

Este simples facto, apesentar dois números, exasperou a senhora Canavilhas que, à viva força, queria que só se noticiasse o número mais alto. Vai daí, perguntou-se numa rede social, porque é que a jornalista ainda tinha emprego.

Imaginemos que a pátria triste, e em bolandas, progredia no caminho da via única para o socialismo que alguns dos parceiros governamentais e os inocentes úteis, companheiros de estrada que se acotovelam no PS, parecem querer. A senhora Canavilhas poderia, por milagre ou azar nosso, acabar numa cadeira de Comissária do Povo, suponhamos para a Comunicação Social.

Que aconteceria, sempre nesta hipóteses alucinante, à jornalista relapsa que noticiou a manifestação? Ficaria desempregada? Iria por uns anos limpar de pedras a charneca alentejana? Hospeda-la-ia o Estado patrão de todos, em Caxias ou Peniche subitamente retornadas à sua inicial vocação de centros de férias para mal pensantes?

Não conheço (nem quero conhecer) a senhora Canavilhas de lado nenhum. Sei dela o que todos sabem que é pouco ou nada sobretudo nada se só tivermos em conta a sua triste passagem pela pasta da Cultura onde para parafrasear um cavalheiro de que celebramos o IVº Centenário,houve “muito ruído para nada”.

De vez em quando esta criatura Canavilhas reaparece nos soundbites da política politiqueira. Nada de grave, nada de substantivo, apenas uma ninharia que só existe por vir de uma antiga política. Não adianta nem atrasa, apenas chateia quando não diverte. Todavia, esta erupção twiterística revela que o espírito inquisitorial não morreu, antes reverdece quando a secura da descrição colide com a toleima da presunção.

A azougada senhora tentou posteriormente emendar a mão mas foi tarde e mal.

Quem traz uma má notícia é culpado. A notícia continua a mesma mas, à cautela, mata-se o mensageiro.

 

 * A gravura é de uma manifestação bem menos chata do as nossas. A "musa da manif" nada tem a ver com a senhora Canavilhas (coisa que mesmo se é óbvia convém ser salientada et pour cause).

diário político 208

d'oliveira, 16.06.16

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Ai Pátria, que escorregadela!

 

Então não se empatou com a Islândia! Com a Islândia, santo Deus, com uma caloira nestas coisas da bola.

O sr Ronaldo, a quem, por vezes, convinha estar mudo e quedo como um penedo, com o mau perder que se lhe reconhece, veio dizer que os islandeses eram uns analfabetos em futebol, que era só atirar para a frente, pôr um autocarro na baliza, enfim um chorrilho de tontices que as televisões avidamente glosaram.

A verdade, a pobre e honrada verdade, manda que se diga que os cavalheiros do Norte não se acobardaram e não se deram por vencidos. Um empate servia-lhes mesmo se com um pouco mais de audácia pudessem até ter criado uma surpresa (como quando defrontaram a Holanda, lembram-se?).

Ronaldo, o falador, não fez história neste jogo. Generosamente, deixou os louros para Nani. Não sei porquê este eclipse de Ronaldo lembra a triste história do último Mundial onde também a grande equipa portuguesa (mailos heróis do mar e os egrégios avós) saiu pela porta pequena.

Convenhamos: a equipa portuguesa, malgrado os esforços de Fernando Santos, deixou-se inebriar pela imprensa, pela televisão, pelos comentadores, pela euforia geral, pelo Sr. Presidente. Achou que bastava pôr o mimoso pé no relvado para que os adversários tremessem. Vê-se que nunca leu uma saga nem sabe que aqueles calmeirões rosadinhos e educados são descendentes de vikings, vivem numa terra de gelo e vulcões, navegaram ainda antes dos portugueses até à América e não toleram toleirões.

Vejamos, agora, o que se irá dizer dos austríacos...

d'Oliveira fexit, 16-6.16

Estes dias que passam 340

d'oliveira, 16.06.16

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Além do mais presunçosos e/ou ignorantes

 

O jornal Público pela pena de uma senhora chamada Leonete Botelho persiste em falar de bidonville (substantivo masculino) ou seja do “bairro da lata”, em letra grande e no feminino. Bidonvilles houve dezenas ou centenas à volta de Paris, das suas cidades satélite e de outras grandes ou médias urbes para onde a emigração se dirigiu.E conviria lembrar à criatura que não há nenhuma povoação chamada Bidonville pelo que a letra grande só demonstra ignorância. Crassa!

A mesma senhora ao falar das porteiras de Paris (sobretudo das condecoradas) chamou-lhes “gardiennes” o que nem está mal mas, desta feita, precedeu a palavra de um artigo masculino. Estaria certa se falasse de “gardien(s)” mas o seu a sua dona. As excelentes porteiras mantêm em francês o género feminino....

 

 

O Senhor Presidente da República lá entendeu celebrar o 10 de Junho em Paris. Daí não veio mal ao mundo e até entusiasmou uns milhares de portugueses que por alí fazem pela vida.

Parece-me, porém, estulto, duvidoso e pouco sério, o populismo com que atacou as elites e louvou o “povo”. Ele próprio, Doutor Marcelo Rebelo de Sousa, é um acabado exemplo de membro das elites, nasceu nas elites e os seus amigos, familiares, colegas e demais conhecidos vêm todos das elites. De elites que vêm desde o Estado Novo ou mesmo antes até hoje. E que se têm continuado pelos filhos do Sr Presidente, emigrantes de luxo no Brasil

Que muita da elite nacional, nossa, seja o que é, e é bem pouco, não justifica o populismo tolo (para não usar expressão mais dura e mais adequada) da comparação. Pode exaltar-se o trabalho, o sacrifício, a honradez e progresso sem andar a armar aos cucos. Mas, como previ, o Senhor Presidente não tem contenção no entusiasmo e na procura de popularidade fácil.

 

O Sr Primeiro Ministro, sempre à boleia do PR entendeu discursar em francês. Por acaso dirigia-se aos emigrantes e bem poderia ter metido algumas frases em português. Mas não: lá foi desfiando num francês medíocre, alguns lugares comuns nisso igualando o PR que também não disse nada de substantivo. Digamos que ambos teráo pensado que para quem era (o povo ignaro emigrante) bacalhau bastava.

Bem mais disse Hollande que até prometeu muito ensino de português nas escolas francesas. Promessas de Hollande são o que são mas, na verdade até falou das relações franco-portuguesas e da Europa. Os dois portugueses bem poderiam ter aprendido alguma coisa mesmo se o professor (Hollande) raras vezes ultrapasse o sofrível se é que lá chega.

Uma senhora Secretária de Estado da “Educação” é, diz-se, a ponta de lança do ajuste de contas com o ensino privado. A criatura, seguramente mãe estremosa e endinheirada, tem dois rebentos que frequentam a Escola Alemã, coisa privada e cara. Parece que a senhora justifica o facto com a vantagem da aprendizagem de uma segunda língua (“materna”) e com as possibilidades de um ensino (e de um futuro?) “internacionalizante”!

Entschuldigung, gnadige Frau, a internacionalização pela língua alemã é de via estreita. Dá para a Alemanha e para a Áustria, por junto e atacado. Para as criancinhas adoráveis se internacionalizarem mais valera o Liceu Francês ou as diferentes escolas inglesas incluindo a St. Julians!

Vir uma criatura assim defender com argumentos irrisórios e coxos a sua opção prova que nisto de Educação quem tem dinheiro foge para o Privado mesmo a cantar as maravilhas do Público. Resta saber se a Escola Alemã foi alvo por parte do Estado Português de alguma benesse mesmo que não se traduza em apoio financeiro.

A discussão ensino público versus privado esquece que os privados estão obrigados a leccionar exactamente o mesmo que o público. Fica, também, por saber quanto custa cada turma no público. Dizem-me que o mesmo ou até mais. Ponhamos que até é menos (não estou a ver os privados a perder dinheiro ou, a deixar de o ganhar). A questão essencial é saber onde reside o melhor ensino, o mais próximo, o mais adequado, o dotado de melhores instalações e melhores professores para já não falar das actividades circum-escolares postas à disposição dos educandos. Andei, quando liceal, quer em liceus quer em colégios. Bons e maus. A única diferença que notei era que no privado a turma era mais, muito mais, pequena (Falo dos 6º e 7º anos alínea de Direito) o que tinha como consequência um ensino muito mais personalizado, logo mais eficaz.

E terminemos com o fantasma do senhor Nogueira da Fenprof. Convenhamos que em 30 anos de professor apenas deu aulas nos dez primeiros. E, mesmo durante esse período, já gozava das regalias atribuídas aos sindicalistas, o que provavelmente reduzirá o seu tempo efectivo de professor ainda mais.

Há vinte anos, mais de metade da sua vida adulta, que não dá aulas. Teme-se mesmo que vá passar os próximos vinte a fazer o mesmo que ora faz. Pessoalmente, entendo que para a função sindical deveria funcionar o mesmo limite que existe para um par de funções públicas relevantes seja a de Presidente da Câmara seja a de Presidente da República. Para evitar a cristalização no ortorrômbico...

Eu sei que há instituições, mormente políticas, em que a profissão de origem é orgulhosamente apresentada mesmo se o marceneiro ou o serralheiro não entram há décadas numa oficina. Convém, porém, manter a ficção de que são trabalhadores, verdadeiros proletários, povo e não elites, como afirma o Sr. Presidente da República, morador no bairro económico da Quinta da Marinha.

Acabemos, para já, o folhetim melancólico sobre o estado pouco reluzente da “pátria exausta” se é que me permitem citar o sr. Couto Viana, poeta e corifeu do Estado Novo de que já ninguém, mesmo eu, se lembra com exactidão. Também estas criaturas acima citadas caminham velozmente para o olvido. Daqui a 50 anos serão puro esquecimento o que se não me consola sempre me alegra.

O Presidente

José Carlos Pereira, 15.06.16

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Os primeiros meses de mandato do Presidente da República vieram mudar por completo a relação entre o primeiro magistrado da Nação e os seus concidadãos. A altivez, o distanciamento e a timidez de Cavaco Silva deram lugar à simplicidade, à proximidade e ao completo à vontade de Marcelo Rebelo de Sousa.

Marcelo é conhecido do povo sobretudo pelos muitos anos de presença televisiva como comentador político, mas conta com um longo trajecto na política e no seu entorno. Foi jornalista, director, fundador e gestor de jornais de grande impacto mediático. Foi deputado, secretário de Estado e ministro. Foi conselheiro de Estado, presidente do PSD e nessa condição líder da oposição. Eminente catedrático de direito, a relação com a academia permitiu-lhe também conquistar um relacionamento fácil com os mais jovens e perceber o que estes não gostam de ver na política e nos políticos, o que lhe tem sido muito útil.

Há quem diga que Marcelo exagera e há até quem conte os dias passados sem qualquer declaração pública do Presidente, mas a verdade é que Marcelo Rebelo de Sousa atingiu níveis de popularidade impensáveis em tão pouco tempo. Talvez o Presidente pretenda isso mesmo: construir uma relação directa com os portugueses, por cima dos partidos e da dicotomia esquerda-direita, que lhe permita obter um amplo consenso nacional. Não virá daí mal ao mundo se a sua acção não extravasar os poderes que constitucionalmente lhe cabem e se continuar a privilegiar a estabilidade política.

Até aqui, Marcelo tem agradado mais à esquerda do que à direita porque compreende o momento político que vivemos, a relação de forças existente no parlamento e tenciona dar tempo ao Governo para que este dê provas do que é capaz. Isso não agrada aos sectores da direita que nunca aceitaram a solução governativa construída no parlamento após as últimas legislativas e que preferiam um Presidente guerrilheiro a marcar o passo ao Governo e a fazer o jogo da área política que o apoiou.

Não votei em Marcelo Rebelo de Sousa - também não votei em nenhum dos outros candidatos - e sempre considerei que não haveria grandes riscos com a sua eventual vitória, pois tratava-se de alguém bem preparado para o exercício da função presidencial, do ponto de vista político e académico, e que apesar de ser oriundo da elite representativa do eixo Lisboa-Cascais dava mostras de conseguir estar próximo dos cidadãos, dos seus problemas e anseios.

O mandato está ainda a começar, que é o mesmo que dizer que a procissão vai no adro, e não faltarão ocasiões para divergir politicamente das suas opções, mas todos os sinais até ao momento (escolhas para o Conselho de Estado, relação com o Governo, com o parlamento e com os partidos, comemorações do 25 de Abril e do 10 de Junho, proximidade aos cidadãos) têm sido auspiciosos. O que merece ser registado.