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Incursões

Instância de Retemperação.

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Parques empresariais e desenvolvimento local

José Carlos Pereira, 30.08.17

Um amigo que lidera uma candidatura independente para a Assembleia de Freguesia do Marco solicitou o meu contributo para ajudar a reflectir sobre a relação entre parques empresariais e desenvolvimento local, o que resultou na publicação do seguinte texto no jornal da referida candidatura:

 

"A atracção de pessoas, empresas e emprego qualificado é hoje em dia um dos principais focos das autarquias locais e uma das alavancas em busca da sustentabilidade dos municípios e das regiões.

A competitividade dos territórios depende fortemente da capacidade revelada pelas autarquias para atrair e manter empresas, sobretudo aquelas que possam acrescentar valor à economia local. Isso exige políticas activas que promovam um contexto favorável ao empreendedorismo e ao desenvolvimento dos negócios. Enquadram-se nesse âmbito, designadamente, as medidas de natureza fiscal sob alçada das autarquias, as taxas e tarifas praticadas e o envolvimento dos municípios na agilização dos procedimentos de instalação e licenciamento, que devem ter como mote criar um ambiente facilitador e amigo das empresas.

Um dos eixos mais destacados das iniciativas autárquicas direccionadas para as empresas envolve a disponibilização de terreno industrial devidamente infra-estruturado a preços competitivos. Os parques empresariais, com efeito, são hoje um cartão de apresentação dos municípios mais avançados na captação de investimento e um elemento determinante no marketing territorial.

Os parques empresariais devem ser projectos bem estruturados, com a dimensão adequada ao meio em questão, cumprindo todas as exigências em termos de salvaguarda do meio ambiente e de fruição dos espaços comuns. A gestão condominial desses parques, com a prestação de serviços de gestão ao nível da promoção, da segurança e da manutenção, é um elemento diferenciador e muito valorizado pelas empresas que percebem que têm a ganhar se puderem contar com uma estrutura que as liberte de tarefas menos relacionadas com o seu processo produtivo.

Com a instalação das empresas nos parques empresariais surge com naturalidade o interesse de áreas conexas com a actividade industrial (serviços financeiros, seguros, medicina, higiene e segurança no trabalho, manutenção industrial, consultoria de gestão, restauração, etc.) também se fixarem nesses parques, contribuindo para que essas infra-estruturas se constituam como verdadeiros pólos de desenvolvimento.

Os parques podem também ser um bom exemplo de cooperação empresarial, uma vez que a concentração de empresas de diferentes sectores de actividade num único local fomenta a prestação de serviços entre empresas instaladas e a promoção integrada de marcas, produtos e serviços.

A atracção de investimento qualificado traz também associada a procura de trabalhadores com as qualificações adequadas, o que faz elevar o patamar de formação dos quadros existentes e abre oportunidades àqueles que estão ainda a estudar.

Mais empresas representam mais emprego. Melhor emprego traz melhor remuneração. Mais poder de compra é sinónimo de desenvolvimento da economia local. Tudo o que uma política autárquica deve procurar para afirmar o seu território."

Estes dias que passam 361

d'oliveira, 27.08.17

Revisões da matéria dada (variante terceira)

mcr 26.Ago.17

 

Há dez anos, porventura onze, publiquei aqui o texto que abaixo se reproduz.

Tratava-se do "estes dias..." nº 74

 Razões de mera arrumação da minha escrita pregressa fizeram-me dar com ele e verificar a sua terrível actualidade. Republico-o agora sem lhe alterar nada, ou tão somente alguma gralha ou virgula defeituosa. 

 

 

A imaginação nunca ultrapassa a realidade

 

De quando em quando, escrevo aqui umas balivérnias que leitoras condescendentes interpretam como frutos da minha imaginação. E, de facto, sob um fundo pesado de realidade lá vou vaporizando as minhas peças de alguma imaginação.

Hoje, todavia, renuncio de todo em todo à cavalgada imaginadora das minhas “pequenas células cinzentas”, como diria o inestimável Hercule Poirot. E se falo no belga filho da imaginação da senhora Christie é porque o tema de hoje lembra um mistério desses difíceis com que a velha dama nos divertia. É, na verdade, um mistério a boa imprensa de que gozam, entre nós, alguns países, ou melhor os governos de alguns países espalhados por essas vastas geografias de medo e infâmia.

Comecemos pela Venezuela, hoje dirigida por um antigo putchista da direita mais militarona e reaccionária. De facto o senhor Chavez, o arauto de uma rocambolesca revolução bolivariana, começou a sua discutível carreira de estadista, tentando levar a cabo um desditoso golpe nos anos 90 contra o presidente legal Carlos Andrés Pérez. A jogada deu para o torto, ele terá feito quase dois anos de prisão suave e, para espanto dos que ainda se espantam, conseguiu ganhar as eleições presidenciais em 98. Depois, tem sido reeleito. E com margens importantes, há que dizê-lo. O dinheiro do petróleo (cujos preços estão desde há muito em alta) redistribuído em parte pelos mais pobres, pelos militares (ai não!) tem disfarçado a ausência de política e de clareza no discurso populista de Chavez. A América do Sul tem visto outros aprendizes de ditador, tem assistido ao corte crescente das liberdades, ao cantonamento das oposições (cuja inteligência política é inversamente proporcional ao amor ao poder e aos seus mais evidentes frutos) e à lenta edificação de um estado policial. Cá pelo burgo, parece que alguém terá achado que Chavez é o Messias da esquerda. A idade não perdoa, é o que é. Genericamente, os europeus vão dialogando com Chavez tanto mais que o seu petróleo é menos incerto que o da península arábica. Depois, quando acordarem, será tarde.

Não abandonemos este desamparado continente sem referir uma vez mais a infâmia que se representa nas florestas colombianas onde um partido “revolucionário” detém umas centenas de reféns. Desta vez há notícia da morte de uma série de políticos colombianos, que alegadamente terão sido vítimas das tropas governamentais. Digamos para já que, a ser verdade a autoria da tropa governamental, sempre haverá uma certeza: os reféns serviram de escudos humanos. Todavia, não é difícil imaginar que estas mortes se reduzem a meros assassínios de futuros opositores das FARC se e quando estas forem um partido político legal.

Um passeio agora por África, mais precisamente por um país que, custa dizê-lo registava ainda há uns dez, doze anos, alguns índices de prosperidade: o Zimbabwe. Convirá esclarecer algum leitor desatento que, desta banda, nunca se louvou o senhor Ian Smith um dos aliados racistas de um Portugal antigo que não para de renascer. O senhor Smith conseguira, todavia, criar um país com uma sólida economia agro-industrial, nas mãos dos brancos evidentemente. Os negros faziam de paisagem, de boys, de trabalhadores agrícolas como é costume. A estrutura económica que passou intacta para as mãos rapaces de Mugabe pospunha a manutenção das grandes fazendas, mesmo se nacionalizadas. A sua divisão arruinou os trabalhadores agrícolas das antigas fazendas, destruiu a exportação, substituindo-lhe uma economia de subsistência que nem isso chega a ser. O Zimbabwe tem fome. Fome como nunca teve num passado recente e infame. E tem uma ditadura que deve fazer empalidecer de inveja o velho Ian Smith hoje exilado no Cabo. Mugabe vai liquidando metodicamente os opositores políticos, negros desta vez, enquanto o pais soçobra no caos. A Europa torce-lhe o nariz mas os africanos recusam-se a condená-lo. E convenhamos que os ingleses também não o molestam demasiadamente. Ao que parece os mortos actuais já não comovem as consciências democráticas como há anos. A diferença deve ser esta: agora são os negros que matam os outros negros. Logo está tudo bem. Não há colonialismo.

Daqui até à Líbia vai um salto. Por cima do Darfur e do seu imenso desastre. Curiosamente, o meu primeiro sogro, Jorge Delgado ofereceu-me ainda nos anos 60 uma brochura sobre o Darfur, comprada na “Joie de Lire” do François Maspero. Um escândalo que dura vai para cinquenta anos já o não é. O que me admira é que ainda aí haja gente para morrer. Os pretos têm a pele dura, dizia-me um amigo também negro, angolano, assassinado pelos nitistas, em Angola. Teve sorte: provavelmente o MPLA também lhe trataria da saúde, mais tarde.

E a Líbia? Pois a Líbia é o que sempre foi: Kadafi um iluminado sentado em cima do petróleo (que tanta falta faz) continua a sua “revolução verde” (esta gentinha adora falar de revolução!) e faz-se rogar pelos ocidentais. Desta feita, é um processo kafkiano que me traz este personagem à caneta. Meia dúzia de enfermeiras búlgaras e um médico palestiniano acusados de inocularem vírus mortais a umas centenas de crianças líbias, viram confirmadas pelo Supremo Tribunal as penas de morte. Agora, dizem os nossos jornais, resta apelar a Kadafi. O que vai ser feito, obviamente. Ou seja a campanha de branqueamento do cavalheiro entra numa fase superior, como se dizia nos velhos tempos de “análise concreta da situação concreta”. Vai uma apostinha em como ainda veremos Kadafi ser recebido como benfeitor da humanidade em Bruxelas?

Ou em Varsóvia, já agora e para terminar. Eu confesso que nada tenho contra os polacos, bem pelo contrario, adoro Chopin e fui principescamente recebido pelos meus amigos de Varsóvia quando, in illo tempore, fui visitar uns colegas do Direito Comparado. Detestei a atmosfera política, o medo, a pobreza, o desespero dos meus amigos, tanto quanto apreciei a gentileza deles, a cultura, a amizade demonstrada e a dignidade de um povo que não se submetia.

Que esse povo seja agora governado por uma parelha de gémeos abaixo de qualquer classificação é coisa que me consegue ainda espantar. É que a coligação que governa a Polónia e que ostenta aquelas duas criaturas à frente do Estado e do Governo não é sequer conservadora, mas retintamente reaccionária. Eu nem falo da homofobia, coisa que ainda conseguiria vagamente perceber dada a profunda religiosidade polaca que além do mais é um factor de unidade nacional e lhes permitiu sobreviver ao período soviético. Isto não significa que não condene as perseguições de rua e legais à minoria sexual, claro. Não consigo entender as leis sobre as provas de cidadania reiteradas à caça de antigos polícias, de colaboradores do antigo regime, de gente que se calou ou que não se manifestou (como se isso fosse possível!...). Actualmente o ambiente tem piorado: os gémeos não só se recusam a aplicar fartas doses de legislação comunitária como entendem chantagear a Europa, desenvolver uma campanha inaudita contra a Alemanha e tentar obter para o seu país (que entretanto assinou com uma mão distraída os tratados que agora alegremente pretende modificar a seu favor) condições de privilégio que nada fundamenta. Os manos Kakzinsky conseguiram o impossível: nomearam uma senhora mediadora para os direitos da infância cuja primeira missão foi despistar “a publicidade subliminal da homossexualidade nuns bonecos infantis – os teletubbies – porque um usava um saco vagamente feminino...

Uma Europa onde esta gente tem entrada não é só triste. É ridícula.

Espero que ao escrever isto num blog não esteja a infringir uma regra de ouro inventada por uma senhora Secretária de Estado que entende que o humor (aqui dolorosamente em falta, mas enfim...) sobre personalidades fica bem em casa, eventualmente numa rua escusa, na praia (se deserta) ou num campo de concentração. Esperemos que os blogs hoje tão na mira dos zelotas e dos filisteus entrem nessas categorias de inocência confirmada.    

Estes dias que passam 361

d'oliveira, 27.08.17

Revisões da matéria dada (variante terceira)

mcr 26.Ago.17

 

Há dez anos, porventura onze, publiquei aqui o texto que abaixo se reproduz.

Tratava-se do "estes dias..." nº 74

 Razões de mera arrumação da minha escrita pregressa fizeram-me dar com ele e verificar a sua terrível actualidade. Republico-o agora sem lhe alterar nada, ou tão somente alguma gralha ou virgula defeituosa. 

 

 

A imaginação nunca ultrapassa a realidade

 

De quando em quando, escrevo aqui umas balivérnias que leitoras condescendentes interpretam como frutos da minha imaginação. E, de facto, sob um fundo pesado de realidade lá vou vaporizando as minhas peças de alguma imaginação.

Hoje, todavia, renuncio de todo em todo à cavalgada imaginadora das minhas “pequenas células cinzentas”, como diria o inestimável Hercule Poirot. E se falo no belga filho da imaginação da senhora Christie é porque o tema de hoje lembra um mistério desses difíceis com que a velha dama nos divertia. É, na verdade, um mistério a boa imprensa de que gozam, entre nós, alguns países, ou melhor os governos de alguns países espalhados por essas vastas geografias de medo e infâmia.

Comecemos pela Venezuela, hoje dirigida por um antigo putchista da direita mais militarona e reaccionária. De facto o senhor Chavez, o arauto de uma rocambolesca revolução bolivariana, começou a sua discutível carreira de estadista, tentando levar a cabo um desditoso golpe nos anos 90 contra o presidente legal Carlos Andrés Pérez. A jogada deu para o torto, ele terá feito quase dois anos de prisão suave e, para espanto dos que ainda se espantam, conseguiu ganhar as eleições presidenciais em 98. Depois, tem sido reeleito. E com margens importantes, há que dizê-lo. O dinheiro do petróleo (cujos preços estão desde há muito em alta) redistribuído em parte pelos mais pobres, pelos militares (ai não!) tem disfarçado a ausência de política e de clareza no discurso populista de Chavez. A América do Sul tem visto outros aprendizes de ditador, tem assistido ao corte crescente das liberdades, ao cantonamento das oposições (cuja inteligência política é inversamente proporcional ao amor ao poder e aos seus mais evidentes frutos) e à lenta edificação de um estado policial. Cá pelo burgo, parece que alguém terá achado que Chavez é o Messias da esquerda. A idade não perdoa, é o que é. Genericamente, os europeus vão dialogando com Chavez tanto mais que o seu petróleo é menos incerto que o da península arábica. Depois, quando acordarem, será tarde.

Não abandonemos este desamparado continente sem referir uma vez mais a infâmia que se representa nas florestas colombianas onde um partido “revolucionário” detém umas centenas de reféns. Desta vez há notícia da morte de uma série de políticos colombianos, que alegadamente terão sido vítimas das tropas governamentais. Digamos para já que, a ser verdade a autoria da tropa governamental, sempre haverá uma certeza: os reféns serviram de escudos humanos. Todavia, não é difícil imaginar que estas mortes se reduzem a meros assassínios de futuros opositores das FARC se e quando estas forem um partido político legal.

Um passeio agora por África, mais precisamente por um país que, custa dizê-lo registava ainda há uns dez, doze anos, alguns índices de prosperidade: o Zimbabwe. Convirá esclarecer algum leitor desatento que, desta banda, nunca se louvou o senhor Ian Smith um dos aliados racistas de um Portugal antigo que não para de renascer. O senhor Smith conseguira, todavia, criar um país com uma sólida economia agro-industrial, nas mãos dos brancos evidentemente. Os negros faziam de paisagem, de boys, de trabalhadores agrícolas como é costume. A estrutura económica que passou intacta para as mãos rapaces de Mugabe pospunha a manutenção das grandes fazendas, mesmo se nacionalizadas. A sua divisão arruinou os trabalhadores agrícolas das antigas fazendas, destruiu a exportação, substituindo-lhe uma economia de subsistência que nem isso chega a ser. O Zimbabwe tem fome. Fome como nunca teve num passado recente e infame. E tem uma ditadura que deve fazer empalidecer de inveja o velho Ian Smith hoje exilado no Cabo. Mugabe vai liquidando metodicamente os opositores políticos, negros desta vez, enquanto o pais soçobra no caos. A Europa torce-lhe o nariz mas os africanos recusam-se a condená-lo. E convenhamos que os ingleses também não o molestam demasiadamente. Ao que parece os mortos actuais já não comovem as consciências democráticas como há anos. A diferença deve ser esta: agora são os negros que matam os outros negros. Logo está tudo bem. Não há colonialismo.

Daqui até à Líbia vai um salto. Por cima do Darfur e do seu imenso desastre. Curiosamente, o meu primeiro sogro, Jorge Delgado ofereceu-me ainda nos anos 60 uma brochura sobre o Darfur, comprada na “Joie de Lire” do François Maspero. Um escândalo que dura vai para cinquenta anos já o não é. O que me admira é que ainda aí haja gente para morrer. Os pretos têm a pele dura, dizia-me um amigo também negro, angolano, assassinado pelos nitistas, em Angola. Teve sorte: provavelmente o MPLA também lhe trataria da saúde, mais tarde.

E a Líbia? Pois a Líbia é o que sempre foi: Kadafi um iluminado sentado em cima do petróleo (que tanta falta faz) continua a sua “revolução verde” (esta gentinha adora falar de revolução!) e faz-se rogar pelos ocidentais. Desta feita, é um processo kafkiano que me traz este personagem à caneta. Meia dúzia de enfermeiras búlgaras e um médico palestiniano acusados de inocularem vírus mortais a umas centenas de crianças líbias, viram confirmadas pelo Supremo Tribunal as penas de morte. Agora, dizem os nossos jornais, resta apelar a Kadafi. O que vai ser feito, obviamente. Ou seja a campanha de branqueamento do cavalheiro entra numa fase superior, como se dizia nos velhos tempos de “análise concreta da situação concreta”. Vai uma apostinha em como ainda veremos Kadafi ser recebido como benfeitor da humanidade em Bruxelas?

Ou em Varsóvia, já agora e para terminar. Eu confesso que nada tenho contra os polacos, bem pelo contrario, adoro Chopin e fui principescamente recebido pelos meus amigos de Varsóvia quando, in illo tempore, fui visitar uns colegas do Direito Comparado. Detestei a atmosfera política, o medo, a pobreza, o desespero dos meus amigos, tanto quanto apreciei a gentileza deles, a cultura, a amizade demonstrada e a dignidade de um povo que não se submetia.

Que esse povo seja agora governado por uma parelha de gémeos abaixo de qualquer classificação é coisa que me consegue ainda espantar. É que a coligação que governa a Polónia e que ostenta aquelas duas criaturas à frente do Estado e do Governo não é sequer conservadora, mas retintamente reaccionária. Eu nem falo da homofobia, coisa que ainda conseguiria vagamente perceber dada a profunda religiosidade polaca que além do mais é um factor de unidade nacional e lhes permitiu sobreviver ao período soviético. Isto não significa que não condene as perseguições de rua e legais à minoria sexual, claro. Não consigo entender as leis sobre as provas de cidadania reiteradas à caça de antigos polícias, de colaboradores do antigo regime, de gente que se calou ou que não se manifestou (como se isso fosse possível!...). Actualmente o ambiente tem piorado: os gémeos não só se recusam a aplicar fartas doses de legislação comunitária como entendem chantagear a Europa, desenvolver uma campanha inaudita contra a Alemanha e tentar obter para o seu país (que entretanto assinou com uma mão distraída os tratados que agora alegremente pretende modificar a seu favor) condições de privilégio que nada fundamenta. Os manos Kakzinsky conseguiram o impossível: nomearam uma senhora mediadora para os direitos da infância cuja primeira missão foi despistar “a publicidade subliminal da homossexualidade nuns bonecos infantis – os teletubbies – porque um usava um saco vagamente feminino...

Uma Europa onde esta gente tem entrada não é só triste. É ridícula.

Espero que ao escrever isto num blog não esteja a infringir uma regra de ouro inventada por uma senhora Secretária de Estado que entende que o humor (aqui dolorosamente em falta, mas enfim...) sobre personalidades fica bem em casa, eventualmente numa rua escusa, na praia (se deserta) ou num campo de concentração. Esperemos que os blogs hoje tão na mira dos zelotas e dos filisteus entrem nessas categorias de inocência confirmada.    

au bonheur des dames 418

d'oliveira, 24.08.17

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De Espanha, bom vento

(mcr 24 Ago.17)

 

Leio no jornal que de Espanha vieram para Portugal mais de 500 militares e cerca de vinte aeronaves para combater os fogos.

E que esses militares, altamente treinados, andam por cá há dois meses. Que, logo que chegam aos locais onde são necessários se colocam às ordens dos bombeiros locais ou de quem superintende no combate às chamas.

Com eles terão vindo 128 veículos de combate a fogos

E que os meios aéreos (vinte) já fizeram mais de 1800 (mil e oitocentas) descargas no imenso braseiro em que o país está convertido.

Finalmente, que o tempo de voo destes aviões e helicópteros já ultrapassa as 525 horas.

No meio disto tudo, que é muito, que é extremamente generoso e solidário, que é profundamente europeu, há uns parlamentares (ou para lamentar(es)?) que manifestaram surpresa(!!!) e que terão declarado que há militares portugueses desagradados.

Uma pessoa lê e não acredita. Então há gente, e não pouca, competente que vem ajudar e aparecem uns imbecis que se queixam? Que se indignam? Que estão desagradados?

Os senhores militares portugueses que ainda há bem pouco provaram que nem sequer sabem guardar os seus paióis, queixam-se da vinda de uma unidade especialmente treinada para o efeito (coisa inexistente num país que, apesar de décadas de fogo, não tem vergonhosamente um corpo militar com as mesmas competências). É obra!!!

Em que raio de terra vivemos? Que raio de gente manda aqui? Como é possível alguém ficar surpreendido com uma presença tão expressiva (e tão útil) de quem nos vem ajudar? Que diabo de Ministério da Administração Interna temos que não informa (ao menos isso, já que no resto aquilo é um poço sem fundo)da chegada dos requisitados ajudantes?

Que nacionalismo bacoco e pacóvio assola essa gentinha surpreendida, indignada, desagradada que, pelos vistos prefere ver tudo reduzido a cinzas do que salvo por mão estrangeira? E mesmo o termo estrangeiro é discutível. Estamos na União Europeia e, por mero acaso, convém recordar que só temos um vizinho, a Espanha. A menos que se conte com o senhor Neptuno e o seu cortejo de sereias, tritões e, já agora, sardinhas, mesmo se em perigo de extinção.

Traduzindo isto em poucas palavras: andam por aqui muitos parvos e mal agradecidos. E –que chatice!- são incombustíveis!

 

*o título deste folhetim reporta ao velho brocardo: de Espanha nem bom vento, nem bom casamento.

Nem sempre a sabedoria popular está adequada ao momento que se vive.

Estes dias que passam 360

d'oliveira, 23.08.17

 

 

O comentador “comprometido”

 

por mcr  22.Ago.17

 

O dr. Marques Mendes viu-se alcandorado ao posto de comentador dos domingos na tv. Marcelo foi para outras e altas paragens, Mendes segue-lhe peugada, sabe-se lá se não sonha com Belém (Credo, Deus nos acuda, Santa Rita nos guarde).

Marques Mendes apareceu na política muito depressa e muito novo pela mão dos cavalheiros nortenhos do PPD. Foi deputado não sei quantas vezes, secretário de Estado, Ministro (e no meio disto tudo terá sido (e ainda é) advogado. Foi dirigente do PPD mas a memória desse conturbado tempo não parece brilhante ou imorredoira. De todo em todo, recordo que foi ele quem tentou pôr ponto final na carreira autárquica de Isaltino Morais. Falhou. Morais livre do partido e de Mendes ganhou redondamente a eleição e continuou a ganhar até dar com os costados na cadeia por, corrijam-me se estou em erro, lavagem de dinheiro e fuga aos impostos. Curiosamente, foi o primeiro político a ir para a cadeia e a cumprir pena.

Saiu e aí está de volta às lides e com fortes probabilidades de ganhar de novo Oeiras.

Não conheço Mendes nem tão pouco Isaltino. Não conheço e falece-me a vontade de os conhecer, mesmo se vários paroquianos de Oeiras me jurem que Isaltino fez um excelente lugar na presidência da Câmara. Provavelmente melhor do que Mendes no Parlamento ou nos Ministérios por onde passou...

Mendes, já o disse, exerce de comentador na TV. Às vezes pergunto-me se um Conselheiro de Estado deveria fazê-lo mas, pelos vistos, o que a mim me surpreende não incomoda ninguém.

Aos domingos, lá o vejo e oiço. Não que tal exercício penoso me seja grato ou que aproveite o facto para descontar nos meus pecados. É a minha mulher que comanda a televisão à hora do jantar pelo que não me resta alternativa viável. Depois, já suportei o piedoso professor Marcelo pelo que já tenho a pele curtida para o melífluo Mendes. Oiço-o entre duas garfadas e resmungo.

Desta feita, porém, Mendes foi longe. E mal. Já sabemos que não suporta Isaltino, logo ele (Mendes) homem pequenino que não consta ser bailarino. Isaltino, pelos vistos, ignora-o publicamente mesmo se em privado possa criticar o comentador.

Ora bem: Mendes, na sua última e untuosa prédica dominical veio dizer que Isaltino não deveria poder concorrer. Que o crime, cuja pena já cumpriu é grave; que, eventualmente, o Tribunal Constitucional –se fosse requerido – poderia condena-lo à inabilitação eleitoral. Que o senhor Paulo Vistas (ex-delfim de Isaltino e, agora, seu oponente, poderia ter recorrido para esse alto Tribunal e que não o fazendo fora generoso e cavalheiresco!

Eu começo por não perceber como é que um cavalheiro licenciado pela mesmíssima universidade que eu, entende que além da pena a que alguém foi condenado ainda lhe deveria acrescer a inabilitação eleitoral. Consultada a Constituição nada lá existe que preveja tal pena acessória. Nada! Ponto final, parágrafo.

Em segundo lugar, não vejo a razão especial para ser Vistas e não nenhum dos restantes candidatos a Oeiras (e serão no mínimo, meia dúzia) a recorrer para o TC.

Mendes ao referir (imprudentemente) Vistas parece estar a aceitar que o anterior despacho que inabilitava Isaltino (dado por um senhor juiz que, curiosamente, mudou de opinião quanto à fundamentação do despacho e que, também curiosamente é afilhado de casamento do senhor Vistas e que, finalmente e mais curiosamente ainda se oferecera vindo de Sintra para juiz de turno em Oeiras no período de validação das candidaturas...) beneficiava o ainda actual presidente da Câmara de Oeiras, directamente herdada de Isaltino...

Eu percebo, ou faço por isso, que o senhor dr. Mendes detesta Isaltino. Lá terá as suas (Boas ou más )razões. De todo o modo, o papel de comentador carece de uma certa altura (e isto não se refere ao tamanho de Mendes) de uma certa neutralidade e não pode, e muito menos não deve, transformar-se em propaganda eleitoral barata e feia contra Isaltino. Mas foi.

Mendes, praticamente, apelou ao TC e às forças partidárias, para que fosse defenestrado Isaltino. Já não recordo se avisou a audiência da sua particular condição de jurista mas esta é, apesar de tudo, conhecida.

Mendes tem todo o direito de pensar que a certos crimes de colarinho branco (que ele entende ser gravíssimos) se deveria aplicar uma pena acessória de inabilitação eleitoral (de dez anos pareceu-me ouvir).

Conviria recordar a Mendes que, por enquanto e até lei expressa, nenhum Tribunal pode aplicar penas não previstas. Isaltino já cumpriu pena. Pagou com prisão efectiva (efectiva!!!, recordo)e com uma valente multa a famosa evasão fiscal relativa a uns dinheiros depositados numa conta na Suiça.

Em Portugal, e até há bem pouco, os políticos ou não iam a julgamento ou não eram condenados, ou sendo-o a pena de prisão ficava suspensa. Aliás, tem havido penas de prisão suspensas por vários anos por crimes de similar gravidade e nunca vi Mendes condenar tal inércia de julgadores.

Uma amiga minha jura que “lhe saltou a tampa” queira isto dizer o que quer que seja. Ver um Conselheiro de Estado e um comentador (que creio regiamente pago) neste papel de cabo eleitoral ou de insofrida raiva é algo que me revolve as entranhas e me estraga a digestão. Mesmo se a coisa vem de Mendes criatura a que dou muito pouco crédito e que me faz,ai meu Deus!, ter saudades de Marcelo!!! (ao que cheguei!)

É claro que poderíamos dizer que estamos em Agosto, em plena silly season, mas mesmo assim...

É que, para terminar, pode ocorrer que esta intempestiva arenga de Mendes tenha um efeito devastador quer para candidatura de Vistas quer para a do PPD local. E que seja utilizada pelos apoiantes de Isaltino (e consta que foram mais de trinta mil os munícipes que o propuseram. Ou seja que na contabilidade das proposituras Isaltino arrecadou mais de metade das que foram publicitadas.) para reforçarem a aura de vitimização do seu candidato, coisa sempre exaltante num país que continua sebastianista.

Empresas do Norte lideram desempenho económico

José Carlos Pereira, 18.08.17

As empresas do Norte lideraram os principais indicadores de desempenho económico no período entre 2008 e 2015. Mais uma vez, o Norte a puxar pelo país, antes, durante e depois da troika. Na análise de conjuntura da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte, sobressai, pela negativa, a perda de população na região (cerca de 135 mil habitantes) na década 2006-2016, explicada sobretudo pelo saldo migratório negativo.

estes dias que passam 359

d'oliveira, 11.08.17

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Enquanto a burrice não pagar impostos vamos ter mais

 

mcr

 

Joaquim Namorado, nome cimeiro dos neo-realistas, poeta, professor e agitador cultural em Coimbra nos anos 40-70, apresentou certa vez um projecto de Código Civil que ele considerava simples e eficaz. Tinha apenas um artigo e um parágrafo:

artº 1 e único: é proibido ser estúpido.

parº único: fica revogada toda a legislação em contrário

Convenhamos que a proposta era audaciosa mas razoável. E tanto mais razoável quanto, como sabemos, a falta de senso e cabecinha parece ser uma das mais estendidas características da nossa classe política.

Senão, vejamos o caso estridente das próximas autárquicas, limitando-nos ao Porto e a Oeiras.

No Porto, uma criatura surgida do nevoeiro espesso que o PPD teima em cultivar, entendeu contestar a candidatura de Rui Moreira por esta num cartaz ostentar a palavra partido (o nosso partido é o Porto).

Aquele pobre diabo entende que a palavra partido indicia que há um partido local (mesmo que se saiba que tal coisa não existe nem consta que seja permitida). Assim, uma forte maioria de cidadãos iria pôr a cruzinha no grupo independente no convencimento imbecil de que estava a votar em algo semelhante (credo!, cruzes!, canhoto!) a essa coisa chamada PPD. O segundo ponto da actual reclamação tem por base o facto de Rui Moreira aparecer em fotografia em toda a publicidade para os diferentes órgãos autárquicos.

Recordemos que Moreira muito antes de ser presidente da Câmara já era cem vezes (se calhar mil) mais conhecido que o abencerragem descoberto pelo PPD, um tal Álvaro Almeida que ninguém conhece nem sabe de onde terá surdido.

E, pimba, trabalhos para o Tribunal como se este não tivesse coisa melhor em que se ocupar. Eu espero, sinceramente espero, que seja possível fazer pagar fortemente este pedido tonto, esparvoado, atirando para cima do reclamante com uma taxa que, à falta de melhor, faça pagar pela estupidez.

(declaração de interesses: conheço vagamente Rui Moreira mas não troco com ele qualquer palavra há, pelo menos vinte anos. Todavia, votei nele, votarei nele quanto mais não seja para fugir ao xico-espertismo do PS (outra candidatura com slogan idiota: “fazer pelos dois”, parecendo com isso afirmar que o bizarro Pizarro faria sozinho o trabalho dele e de Moreira. Este Pizarro tem-se feito notar por impor candidaturas perdedoras em várias zonas da área metropolitana e goza da injusta fama de ter feito um bom lugar no pelouro que ocupou. Convém lembrar que, em tudo o que se refere a habitação facilmente se vê o dedo do arquitecto Manuel Correia Fernandes, mas isso é outro falar).

Relembre-se, pour mémoire, que, durante meses,o PS nem candidatura apresentava escudando-se numa extraordinária ideia de fazer parte da lista Moreira. Mais, fizeram disso gala e alguns dos seus mais destacados dirigentes referiram essa aliança como coisa certa e segura.

Quanto às restantes candidaturas ao Porto não vale a pena sequer perder tempo. São meros verbos de encher.

Passemos a Oeiras.

Neste concelho não há quem ignore o trabalho de Isaltino Morais, o prestígio de que (justa ou injustamente) goza. Isaltino, libertado depois de um período na prisão assaz único (normalmente aquilo dava pena suspensa mas parece ter existido a ideia de que era preciso dar o exemplo e Isaltino não era suficientemente forte para, graças a um partido, se defender. Estava fora do quadro partidário e isso enfraquecia-o e permitia uma condenação fácil a pena de prisão efectiva. Não estou a defende-lo mas tão só a dizer alto o que muitos, uma multidão, pensam baixinho).

A candidatura de Isaltino apresentou 37.000 assinaturas( o que só por isso lhe garante um dos primeiros lugares no prélio que se avizinha) e para a tirar de cena (juntamente com uma outra candidatura de uma ex-apoiante do senhor Paulo Vistas, ex-delfim de Isaltino) nada melhor do que um artificioso argumento: os assinantes (todos uns ignorantes, claro!) poderiam desconhecer que estavam a apoiar o seu candidato. É que, segundo o doutíssimo despacho do senhor juiz, deveria constar ao alto de cada folha de assinaturas a imensa lista de candidatos isaltinianos!!!

Passemos piedosamente por este extraordinário argumento que, há uns anos, e sob a pena do mesmo magistrado, tinha sido menosprezado!

Recordemos, entretanto que o senhor juiz ora em questão exerce o seu múnus em Sintra mas, oh novo milagre de Ourique, ou das rosas, ou da santinha da Ladeira!..., ofereceu-se , num gesto de grande generosidade e sentido do dever de cidadania, para estar de turno em Oeiras.

Exactamente em Oeiras, onde um seu padrinho de casamento se candidatava (sempre o fatal Vistas). O senhor juiz terá feito vista grossa a esse acaso mesmo se, ao que parece, habita enm Oeiras, onde sua mulher trabalha para a Câmara ora presidida por Vistas.

Relembremos ainda que nenhum juiz é obrigado a oferecer-se para estes turnos mesmo se, eventualmente, possa ter de ser obrigado a fazê-los. Relembremos também que este senhor juiz poderia ter escolhido outros três concelhos (Mafra, Cascais ou Sintra) para evitar caçar nas terras onde concorre alguém que é seu amigo, quase parente e, de certo modo, patrão da sua mulher.

Movido apenas pelo intuito de servir, de nada disto se lembrou o senhor juiz como também se não terá lembrado do que anteriormente decidira em caso idêntico. Mudar de opinião é, aliás, próprio do homem...

Como é que se descalça esta bota, esta enorme botifarra?

Não sei. De todo o modo, qualquer decisão que torne Isaltino (que não conheço, que me é mais indiferente do que o resultado das eleições em Jacarepaguá (Brasil, RJ) parecerá sempre uma chapelada ainda mais alucinante do que era costume no Portugal de antigamente.

Uma chapelada e uma vergonha!...

 

estes dias que passam 358

d'oliveira, 07.08.17

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Os ditamaduros

Uma inflação que vai acabar brevemente nos 1000%; 160 mortos em manifestações de rua em três meses (todos, aliás da “oposição”); uma histórica chapelada nas eleições da Assembleia Constituinte; 500.000 refugiados na Colômbia (números relativos a 20 de Julho pp);a prisão arbitrária como orática; centenas de presos políticos amontoados nas cadeias, sem processo, sem julgamento ou com julgamento sumário; um parlamento eleito privado de segurança e de poderes; uma procuradora geral expulsa do seu cargo por voto à mão levantada; milícias populares armadas ao lado da polícia para ameaçar, espancar, ferir, prender ou matar manifestantes; um repúdio internacional generalizado desde o Mercosul à União europeia passando pelo Vaticano; negativa de reconhecimento internacional dos novos orgãos legislativos eleitos; queda abissal da moeda nacional face ao dólar e ao euro (1 para 50.000!!!); hospitais sem medicamentos, sem sangue, sem sequer compressas; campos petrolíferos arruinados pela falta de peças, pela ignorância e pelo abandono dos mais qualificados; televisões, rádios e jornais encerrados, confiscados ou proibidos; acusações contínuas de terrorismo ou de traição contra quaisquer vozes desconformes; falta geral de mantimentos, mormente alimentação e fome generalizada em grandes sectores da população, especialmente na que se associa à oposição; corrupção generalizada; etc., etc....

Este é o actual retrato da Venezuela que foi, durante anos e anos, um país rico e próspero. Mais rico do que qualquer dos seus vizinhos, provavelmente o mais rico de toda a Ibero-América.

Não se pretende fazer crer que tudo corria no melhor dos mundos. Não corria, havia pobres, havia subúrbios onde se vivia mal e amontoadamente, sem condições de qualquer espécie (exactamente como hoje acrescentando agora o deficit de esperança). Houve ditaores e golpes de Estado, democracia musculada políticos corruptos. Também havia partidos, coisa que agora fora algo que soa a “bolivariano” não existem senão clandestinamente. E é bom recordar que o próprio Hugo Chavez também deu uma perninha no “golpe de estado”, mesmo que depois chegasse ao poder por eleições mais ou menos democráticas. Da mesma espécie das últimas legislativas que, apesar de todos os entraves, foram ganhas pela oposição ao chavismo, (per)versão Maduro. Todavia, nunca a Venezuela se viu perante uma crise tão violenta, um cenário tão assustador e um futuro tão desolador.

Perante tudo isto que faz o PCP. Absolve o poder ditatorial que se vai instalando (com ajuda e treino de especialistas cubanos) e declara o governo venezuelano “democrático”, legítimo e progressista, decretando por outro lado que a oposição chafurda no banditismo, no capitalismo (esta nunca falha) e no proto-fascismo (idem, aspas.

E avisa o Governo Português (que internamente apoia com duas mãos à falta de mais) que seguir a opinião mais que prudente da União Europeia faz perigar a situação da comunidade portuguesa e luso-descendente instalada na Venezuela. A falta de decoro deste aviso atinge as raias da indecência quando se sabe que já há na Madeira cerca de quatro mil refugiados; que na passada semana vários portugueses foram feridos em manifestações; que desde há meses que estabelecimentos comerciais portugueses, mormente padarias, foram assaltados e saqueados. As ameaças à comunidade portuguesa são constantes e inclusivamente vistas na televisão. Aliás, já o não serão, pelo menos em estações portuguesas dada a proibição de entrada de jornalistas portugueses poucos dias antes da caricatura de eleição deste domingo.

Sobre tudo isto, o silêncio do PCP é de oiro. Como de oiro é qualquer opinião (ou falta dela) sobre a ideologia “bolivariana”, arremedo velho e revelho de outras absurdas teses nacional-ditatoriais em voga nos piores anos da “violência” latino-americana. O PCP sempre lesto em criticar o que ele considera como desvio á justa linha marxista-leninista, consegue dar uma prodigiosa cambalhota ao louvar um punhado de tolices que só a cabeça de Maduro poderia evacuar.

Não que esta posição, arrebatada e para uso externo, seja uma novidade. Não é muito antiga uma curiosa opinião de um dirigente do PCP (Bernardino Soares) que “pessoalmente não tinha dúvidas de que na Coreia do Norte não existisse democracia”). Convém lembrar que a criatura foi deputado durante vinte anos, líder da bancada mais de dez e membro da Comissão Política. Também é licenciado em Direito!...

À falta da boa e velha União Soviética, até a Coreia ou esse escárnio vivo chamado Maduro, servem para ilustrar e defender a boa causa.

Estamos servidos.

De verdade e de democracia!

 

 

Au bonheur des dames 417

d'oliveira, 03.08.17

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Morrer em Agosto, que desperdício!... 

 

Aos 89 anos eis que se vai Jeanne Moreau que eu tanto admirei e, mais ainda, desejei. Suponho que a vi pela primeira vez em “Eva”, um excelente filme de Joseph Losey, na altura expatriado na Europa devido à perseguição movida contra actores, argumentistas e realizadores (para não falar de escritores e outros intelectuais) levada a cabo pelo senador Mc Carthy e pelo famigerado Comité de Actividades Anti-americanas (acho que era assim que se chamava. Já agora: McCarthy acabou por ser ignominiosamente varrido da cena depois de um jornalista ter descoberto e publicado toda a infame teia de mentiras e abusos de que ele se serviu para levar a cabo a sua medonha tarefa. )

Depois vi-a em “Ascenseur pour l’echafaud” (música sublime de Miles Davis), “Jules et Jim”, e mais uns quantos, entre os quais um que persigo há anos ( Badaladas da meia noite, Orson Welles. Há por aí alguém que tenha uma cópia ou me diga como o poderei encontrar?), “Uma mulher é uma mulher” (Godard), “A noite” (Antonioni) etc...

Guardo, intacto, o enlevo pelas suas extraordinárias qualidades de actriz, pela voz (extraordinária) e pelos silêncios que diziam mais que mil palavras. Moreau nunca se limitou a um registo, antes era capaz de drama como de comédia (não sei porquê mas tenho ideia dela num filme com Darry Cowl que era divertidíssimo) como por exemplo em “Viva Maria”.

Além do mais, JM tinha carácter, personalidade, inteligência a rodos. Sabia bem o que queria (para ela e para os outros com quem se sentia solidária) e não fazia fretes ao poder.

 

Relembremos agora Sam Shepard, dramaturgo americano, autor de uma extensa obra (destaco “Crónicas Americanas”) , actor e guionista de cinema de que relembro “Paris Texas”. Venceu o Pulitzer com “Buried Child” e foi um dos mais emblemáticos nomes do teatro “off-off Broadway”. Shepard tinha uma escrita poderosa, simples e, ao mesmo tempo, poética o que lhe grangeou bastante notoriedade como “escritor de culto”, coisa que provavelmente nunca quis ser. De certo modo, foi mais aclamado fora da América do que no seu próprio país. Provavelmente, os leitores europeus fascinavam-se com a sua “americanidade” eventualmente invisível aos olhos dos seus concidadãos.

Para os dias que correm, morreu cedo vitimado pela implacável esclerose lateral hemiotrófica, um mal que não perdoa.

Ficamos, todos, (muito) mais sós.

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