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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

Au bonheur des dames 441

d'oliveira, 26.12.17

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Febeapá que assola Portugal 2

(em memória de Stanislaw Ponte Preta)

2º exemplo o Sr. Carlos, e a Autoeuropa

mcr (Dez 2017)

 

O Sr. Arménio Carlos mandante do sindicato que anda a pôr em risco novos empregos na Autoeuropa (se é que não põe em risco a permanência desta cá...) produziu um artigo no “Público” onde, para além das consabidas tomadas de posição sobre o conflito que opõe a empresa e os trabalhadores (ou a CT e os trabalhadores, ou alguns trabalhadores) e que se não referem por serem mais que conhecidas as razões que levam as correias de transmissão do PC a entrar em guerra com a herança de uma CT que foi durante anos um feudo do BE. (Ou seja, o PCP violentamente derrotado nas últimas autárquicas tenta a todo o vapor mostrar que ainda morde no campo sindical e, ao mesmo tempo “descolar” do Governo actual de que foi um dos mais esforçados obreiros depois da derrota do PS frente à Direita. Agora que paira a ameaça de uma eventual maioria absoluta, eis que as tropas de choque do PC saem para a rua entrincheiradas nos habituais bastiões).

DE tudo o que o Sr. Arménio Carlos diz, salva-se, pela originalidade, uma proposta feita mesmo no fim do texto e que é a seguinte, e cito: “é altura do Governo português assegurar as condições necessárias junto da multinacional para que a Autoeuropa seja parte integrante desta nova fase da estratégia produtiva da VW (“substituição de uma parte da produção dos carros com motor a combustão por viaturas com motor eléctrico”... sic).

Poder-se-ia questionar a oportunidade desta proposta conhecida que é a actual conflitualidade na empresa.

O Governo português anda atarantado com esta péssima guerra que estalou na pior altura dados os compromissos com o fabrico do T Roc. A empresa já avisou que o horário será o que indicou e tudo parece levar a crer que a Administração da Autoeuropa dificilmente mudará de opinião. Para já, está suspensa a contratação de 500 trabalhadores o que, aliás, prova que a CGTP apenas defende os trabalhadores empregados e não pensa nos que se amontoam à porta da empregabilidade, sejam desempregados sejam jovens à procura de primeiro emprego.

Não compete ao Governo andar a esmiuçar nesta questão da transição dos motores e, no caso em apreço, na política da VW. Para já, trata-se de salvar o que há e que está estupidamente ameaçado. O Sr. Carlos deveria passar pela Alemanha e falar com os seus colega alemães da VW e da poderosa central sindical a que pertencem. Claro que não o fará que aquela gente leva a sério os interesses da comunidade laboral no seu todo e, desde sempre renegou os princípios da IIIª Internacional, fonte de sofrimento e miséria para todos os trabalhadores e esteio da política “Klasse gegen Klasse” que protegeu o nazismo e, mais tarde, nos dois primeiros anos de guerra, levou a URSS (patética pátria dos trabalhadores) a ajudar fortemente o esforço de guerra de Hitler. Carlos e os seus amigos, sempre saudosos desses gloriosos tempos bem como dos que se lhes seguiram com o seu cortejo de gulags e privações, vem agora chutar para canto com uma proposta a destempo que, aliás, endossa para o Governo e não para os seus apaniguados na Autoeuropa. De facto, porque é que os sindicatos afectos a Carlos não fazem, eles próprios, essa proposta e a atiram para um governo que, actualmente, o PC (de Carlos e de outros) apoda de burguês, conservador e quase reaccionário?

 

* a expressão febeapá criada por Stanislaw Ponte Preta, aliás Sérgio Porto, significou, em tempos de violenta ditadura brasileira, “Festival de besteira que assola o país”. Esses textos imorredoiros estão publicados pela editora Civilização Brasileira e foram editados nos anos 60 e 70 no Brasil

 

Au bonheur des dames 440

d'oliveira, 26.12.17

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Febeapá que assola Portugal

(em memória de Stanislau Ponte Preta)

1º exemplo: A Fitch e a Esquerda

mcr Dez de 2017

 

Como se sabe (e quem não saberia tal foi o foguetório delirante que o Governo soltou?) a agência de rating Fitch subiu o nível de Portugal para BBB, salto de dois graus que põe a dívida portuguesa a esperar juros mais baixos e tira o país do lixo.

A notícia, goste-se ou não das agências de rating (e eu não as estimo dê lá por onde der), é um forte alento para a Geringonça ou, melhor dizendo, para o governo do PS. E tem o resultado de se poder emitir dívida a juros menores para, eventualmente, substituir dívida com juros mais elevados. E os efeitos sentiram-se imediatamente, mesmo se a política despesista que este Governo mantém para contentar os seus apoiantes à esquerda continua. Não é o princípio da via triunfal mas é já o começo do fim do caminho das pedras para citar forçadamente Churchill.

Toda a gente se congratulou ou, melhor, todos menos os do PC e do BE. As declarações da Sr.ª Catarina Martins e do Sr. Jerónimo de Sousa seriam pasmosas e aberrantes não fosse saber-se que não passam de reacções de pânico. De facto, um PS escorado em bons resultados, com um ministro na presidência do Eurogrupo, aureolado pelos lucros do turismo e pelo reforço das exportações, representa um perigo medonho para os seus parceiros menores. É que tem cada vez mais hipóteses de ganhar as legislativas que se aproximam com uma maioria absoluta. Ou pode preferir aliar-se a um renovado PPD, ou buscar apoio num CDS que lá vai fazendo o seu caminho amparado pela Sr.ª Cristas que cada vez consegue melhor imprensa e melhores opiniões.

Claro que muita água vai ainda passar debaixo da ponte mas um governo matreiro consegue nesta última etapa do seu percurso encostar os aliados às cordas tanto mais que tem sempre o argumento de ter cumprido escrupulosamente a sua parte nos acordos celebrados. E pode mesmo recordar aos portugueses que foram o PC e o BE que, numa ansia cega de derrotar a “reacção”, lhe estenderam o tapete vermelho e durante longos meses aquietaram a rua, os sindicatos, calaram os protestos sempre na mira de conseguir mais uma vitória.

É conhecida a frase “de vitória em vitória até à derrota final” e algum prenúncio dela ocorreu com as passadas autárquicas que só deu bónus ao PS e, em menor escala, ao CDS. O PC amargou dez Câmaras a menos e o BE não saiu da cepa torta. Foi, aliás, a partir daí que a “rua” se voltou a animar, com uma parada de greves e de ataques cada vez mais explícitos da banda da Esquerda.

Foi por isso que entenderam silenciar ou menosprezar a pequena (mas apesar de tudo simbólica) eleição de Centeno. Se, de facto, ela é sobretudo simpática, não menos verdade é que, para consumo interno, foi um enorme balão de oxigénio e isso mesmo foi entendido pela opinião pública, pelos media e pelo Sr. Presidente da República que hoje é uma espécie de oráculo. Mais: Centeno no Eurogrupo significa que a deriva despesista não ultrapassará os limites impostos pela Europa, entidade detestada quer pelo PC quer pelo BE como abundantemente já demonstraram.

Todavia, a questão da Fitch é mais grave para estes no-albaneses. Vir, como Jerónimo, afirmar que a Fitch não governa Portugal é uma burrice supina. Já se sabe que não governa. Nem quer. Nem é essa a sua missão. A Fitch apenas é um aconselhador de investimento internacional e se ela disser que Portugal (ou outro qualquer país) não presta, as condições de vida e a as finanças sofrem. Sofrem mesmo muito. Por muito que custe ao Sr. Sousa “as apreciações feitas pelas agências de notação” decidem muito em vez do nada que soltou na companhia do povo, claro, que nisto tudo apenas sofreu as consequências de notações más anteriores. Ninguém pretende que o dirigente do PC seja um génio financeiro (não o é de todo) mas ao menos que se aconselhe com quem sabe. No PC deve haver uma boa alma menos tola e com mais atenção ao real.

Vir, como o BE insinuou, afirmar “que não mudou absolutamente nada” e que deste género de agências “nunca vieram boas notícias” é puro autismo ou então endoidaram definitivamente.

Uma coisa é pensar que as agências de notação podem condicionar políticas e servir interesses de outrem. Não serei eu quem ponha as mãos no fogo por essa gente. Todavia, no estado actual das coisas, uma boa notação é sempre melhor que uma má. Dizer que uma gripe é igual a um cancro do pâncreas é sempre uma burrice que, sobretudo, não “pega” na opinião geral se é que sequer comove os adeptos mais fanáticos.

E seria tão fácil a Catarina e a Jerónimo desvalorizarem sem cair no ridículo a notação da Fitch. Quando a ideologia (e logo esta que deu abundantes provas ao longo do século XX) se substitui à razão e ao discernimento há que temer o pior. E recomendar uma camisa de forças para os que ignoram isto.  

*febeapá significa "festival de besteira que assola o país" e foi uma expressão cunhada por Sérgio Porto ("Stanislaw Ponte Preta" e deu título a alguns livros saídos no Brasil onde se atacavam os pofdres da ditadura brasileira e da sociedade em geral