Au bonheur des dames 441
Febeapá que assola Portugal 2
(em memória de Stanislaw Ponte Preta)
2º exemplo o Sr. Carlos, e a Autoeuropa
mcr (Dez 2017)
O Sr. Arménio Carlos mandante do sindicato que anda a pôr em risco novos empregos na Autoeuropa (se é que não põe em risco a permanência desta cá...) produziu um artigo no “Público” onde, para além das consabidas tomadas de posição sobre o conflito que opõe a empresa e os trabalhadores (ou a CT e os trabalhadores, ou alguns trabalhadores) e que se não referem por serem mais que conhecidas as razões que levam as correias de transmissão do PC a entrar em guerra com a herança de uma CT que foi durante anos um feudo do BE. (Ou seja, o PCP violentamente derrotado nas últimas autárquicas tenta a todo o vapor mostrar que ainda morde no campo sindical e, ao mesmo tempo “descolar” do Governo actual de que foi um dos mais esforçados obreiros depois da derrota do PS frente à Direita. Agora que paira a ameaça de uma eventual maioria absoluta, eis que as tropas de choque do PC saem para a rua entrincheiradas nos habituais bastiões).
DE tudo o que o Sr. Arménio Carlos diz, salva-se, pela originalidade, uma proposta feita mesmo no fim do texto e que é a seguinte, e cito: “é altura do Governo português assegurar as condições necessárias junto da multinacional para que a Autoeuropa seja parte integrante desta nova fase da estratégia produtiva da VW (“substituição de uma parte da produção dos carros com motor a combustão por viaturas com motor eléctrico”... sic).
Poder-se-ia questionar a oportunidade desta proposta conhecida que é a actual conflitualidade na empresa.
O Governo português anda atarantado com esta péssima guerra que estalou na pior altura dados os compromissos com o fabrico do T Roc. A empresa já avisou que o horário será o que indicou e tudo parece levar a crer que a Administração da Autoeuropa dificilmente mudará de opinião. Para já, está suspensa a contratação de 500 trabalhadores o que, aliás, prova que a CGTP apenas defende os trabalhadores empregados e não pensa nos que se amontoam à porta da empregabilidade, sejam desempregados sejam jovens à procura de primeiro emprego.
Não compete ao Governo andar a esmiuçar nesta questão da transição dos motores e, no caso em apreço, na política da VW. Para já, trata-se de salvar o que há e que está estupidamente ameaçado. O Sr. Carlos deveria passar pela Alemanha e falar com os seus colega alemães da VW e da poderosa central sindical a que pertencem. Claro que não o fará que aquela gente leva a sério os interesses da comunidade laboral no seu todo e, desde sempre renegou os princípios da IIIª Internacional, fonte de sofrimento e miséria para todos os trabalhadores e esteio da política “Klasse gegen Klasse” que protegeu o nazismo e, mais tarde, nos dois primeiros anos de guerra, levou a URSS (patética pátria dos trabalhadores) a ajudar fortemente o esforço de guerra de Hitler. Carlos e os seus amigos, sempre saudosos desses gloriosos tempos bem como dos que se lhes seguiram com o seu cortejo de gulags e privações, vem agora chutar para canto com uma proposta a destempo que, aliás, endossa para o Governo e não para os seus apaniguados na Autoeuropa. De facto, porque é que os sindicatos afectos a Carlos não fazem, eles próprios, essa proposta e a atiram para um governo que, actualmente, o PC (de Carlos e de outros) apoda de burguês, conservador e quase reaccionário?
* a expressão febeapá criada por Stanislaw Ponte Preta, aliás Sérgio Porto, significou, em tempos de violenta ditadura brasileira, “Festival de besteira que assola o país”. Esses textos imorredoiros estão publicados pela editora Civilização Brasileira e foram editados nos anos 60 e 70 no Brasil