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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

Um projecto magnífico em Ourém

José Carlos Pereira, 31.01.18

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O projecto “House in Ourém | Filipe Saraiva” foi nomeado para a categoria “Houses” na nona edição do Building of the year Awards 2018 by Archdaily, um dos principais sites de arquitectura a nível mundial.

Quem gosta de arquitectura e aprecia projectos de habitação menos ortodoxos, pode deslumbrar-se com um magnífico trabalho do arquitecto e empresário Filipe Saraiva, com quem tive o gosto de partilhar durante alguns anos a administração de uma empresa nos Açores. Delicie-se com as fotos e a descrição do projecto e, se ficar tão deslumbrado como eu, pode atribuir-lhe o seu voto.

O FÓRUM TABLOIDE DA ANTENA UM

JSC, 30.01.18

A Justiça, o Jornalismo (tabloide), a Política são os vértices do triângulo, género Triângulo das Bermudas, em cujo seio germinam distúrbios polí­tico-judiciais, mesmo quando faz um tempo ameno, quase bonançoso.

 

Um jornal tabloide, em permanente conúbio com a Justiça, deixa cair uma frase assassina, sem conteúdo, sem nada dentro. "Ministério das Finanças investigado... ". Depois, é esperar que um ou outro jornal, rádio, tv, siga as pisadas, que replique, para que o que nada valia passe a ter valor, passe a ser notí­cia, a ter um rosto, "Ministro das Finanças investigado...

 

A própria ANTENA UM, paga com as nossas contribuições, elege este tema para grandes debates, propagandeia a notí­cia do tabloide, valida o que nada vale, dá-lhe foros de coisa importante, legitima a ignorância ou a ma fé de quem gere e fomenta estes "casos do dia".

 

Por sua vez, o Ministério Público, sempre tão parco em recursos, deixa que a noti­cia evolua e cresça por dentro do jornalismo, sustentada no segredo judicial. Estranho modo de fazer Justiça. Ainda há dias o Presidente do Sindicato dizia que a falta de recursos não os deixava serem ágeis no tratamento dos processos de violência doméstica. É estranho que não tendo recursos para darem atenção maior ao crime concreto, já existam recursos, em abundância, para se ocuparem da vantagem obtida com dois (2) convites para um jogo de futebol.

 

Quanto aos Jornalistas, os que repetem, repetem e perguntam, "Será que o ministro tem condições para...?" O que é que se passará na sua cabeça? Será que não leram, não sabem, não se informaram que o Ministério das Finanças, e muito menos o Ministro, não tem qualquer competência em matéria de isenção de IMI? O que é que os leva a manifestar tamanha ignorância ou será que servem uma estratégia comunicacional, profundamente política, que visa fragilizar o Ministro, o Governo, no plano nacional e internacional.

 

O que é criticável, em meu entender, é o Jornalismo que se rege por critérios minimamente deontológicos se deixar contaminar por tabloides, mesmo quando estes sustentam as suas manchetes em informações que dizem ter colhido junto do Ministério Público. O que é, ainda, mais condenável é que este faculte noti­cias a tabloides em vez de as dar, com absoluta transparência, a todos os meios de comunicação social.

 

Os danos que resultarão deste triângulo maléfico são sempre terriveis. Neste caso, as repercussões nefastas destas noticias no estrangeiro. O próprio primeiro ministro, e bem, teve de vir a terreiro. Os corruptos ficam satisfeitos por verem que a confusão e o lamaçal se expandem para o lado dos polí­ticos sérios. O povo, esse, que hora a hora é intoxicado, tende a consolidar a ideia, de que "é tudo igual". E, a verdade é que não é, por muito que alguém no Ministério Público, CM, CMTV e replicadores de serviço nos queiram fazer crer.

As eleições no PS/Porto

José Carlos Pereira, 24.01.18

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No passado fim de semana decorreram as eleições para a concelhia do PS/Porto, tendo saído vitorioso o deputado Renato Sampaio. Numa votação que praticamente partiu ao meio a concelhia, o anterior presidente, Tiago Barbosa Ribeiro, não foi reconduzido para novo mandato.

Os eleitores de esquerda não têm razões para depositar grandes esperanças no novo ciclo político dos socialistas portuenses. Renato Sampaio, conhecido pela sua grande proximidade a José Sócrates, é um homem do aparelho, deputado há longos anos sem trabalho de vulto assinalável. Liderou a distrital do PS/Porto (2006-12) sem grandes resultados, nomeadamente nas autárquicas, e nesse período, em que coordenei a bancada do PS na Assembleia Municipal de Marco de Canaveses, pude testemunhar a sua intervenção desastrosa junto dos dirigentes e autarcas socialistas locais, isto para além de ter tentado fazer vingar, em 2009, a candidatura à Câmara pelo PS de um antigo vice-presidente de Ferreira Torres. Quando Renato Sampaio se decidiu a ir a votos, em 2013, perdeu a eleição para a presidência da Junta de Freguesia do Centro Histórico da cidade do Porto.

Tiago Barbosa Ribeiro, quadro superior da Efacec e antigo líder da Juventude Socialista no Porto, tem sido um deputado em destaque, assumindo posições de relevo no parlamento, particularmente na área social, e em defesa de iniciativas e políticas estratégicas para o município do Porto e a sua área de influência. Nem sempre acompanhei as opções do PS/Porto e tive oportunidade de criticar a estratégia de Manuel Pizarro e Tiago Barbosa Ribeiro para as autárquicas na cidade, designadamente o apoio sem condições declarado a Rui Moreira, que depois teve o desfecho que se conhece. Mas não tenho dúvidas que a candidatura de Tiago Barbosa Ribeiro oferecia à cidade uma alternativa mais qualificada para ajudar a pensar a cidade, desenhar e afirmar políticas de desenvolvimento e abrir o PS à sociedade e aos seus potenciais eleitores.

Au bonheur des dames 435

mcr, 20.01.18

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Não há pachorra!

Existe no Porto, desde finais dos anos sessenta, um conjunto residencial que abrange doze grandes edifícios (igreja incluída) que rodeiam um jardim de boa dimensão para além de boa parte deles estar implantada em zonas ajardinadas e/ou arborizadas. O nome oficial do conjunto é “Parque Residencial da Boavista” mas, na cidade, toda a gente o conhece como “Foco”, nome de um excelente cinema que ainda existe mas fechado. Também fechados estão um hotel de cinco estrelas e um supermercado). Esta obra foi projectada por três conhecidos arquitectos (Agostinho Ricca acompanhado por Magalhães Carneiro e João Serôdio). É no dizer de todos, um conjunto de excepcional qualidade, de grande beleza e passados mais de cinquenta anos sobre a sua concepção nem uma ruga se nota. Obra exemplar da chamada “arquitectura moderna”, há muito que se pensa propor a sua classificação como “área de interesse urbanístico e aruitectonico”. Para além de milhares de moradores, há galerias de comércio e de escritórios e actualmente existem vários projectos de instalação de empresas e serviços nas escassas áreas que a crise tornou vagas. De todo o modo, excepção feita do hotel (que pertencia ao BES e por isso está ainda pendente de ulterior definição), regista-se um crescente interesse por ocupar os poucos espaços ainda vagos. Aliás, entre esses está um edifício de escritórios que justamente é o motivo deste folhetim.

Ao que se sabe, uma empresa (Atitlan Real Estate Porto Imóveis SA) está a fazer obras de restauro e julga-se que este espaço estará integralmente ocupado até meados do ano. Celebre-se a boa novidade mesmo se, para os moradores e comerciantes instalados, esta ocupação traga problemas de estacionamento e de mais trânsito tanto mais que nas imediações estão instaladas duas escolas secundárias, um estádio de futebol e outro hotel.

Nada, porém, explica a estranhíssima ideia da empresa proprietária deste edifício que divulgou uma vista futura da empena do prédio coberta com uma intervenção do artista Vihls que clara e definitivamente contende com as linhas puras e simples deste prédio e dos restantes.

Só uma canhestra e aberrante concepção da modernidade, explica que numa obra reconhecida como de excelente arquitectura se vá pôr um remendo (por muito interessante que Vihls seja) que não só não melhora nada (nem sequer falamos de uma ruína ou de um prédio degradado) mas desfeia um conjunto admirado por arquitectos, artistas plásticos, críticos e cidadãos comuns moradores ou não.

Quem estas linhas traça habita o “foco” desde 1975. Está instalado num apartamento de mais do que generosas dimensões como todas as tipologias dos diferentes edifícios. No Porto (e em qualquer outra cidade) já ninguém faz casas assim, espaçosas e inteligentemente organizadas. Já ninguém faz um conjunto de edifícios com um enorme jardim no meio (que os habitantes iniciais de um dos prédios ofereceu à Câmara. Fiz parte desses ofertantes e nunca me arrependi. Só tenho uma imensa saudade do meu primeiro apartamento na zona um T1 com 81 m2 (!!!) que entretanto troquei por um T4+1 um pouco mais acima também ele de dimensões inusitadas para não dizer impossíveis de encontrar hoje em dia.

Escrevo pois, pro domo mea, mas não é isso que me faz indignar-me com a bacoquice provinciana e estulta da “Atitlan qualquer coisa em ingliche para aturdir os passantes”. Às imobiliárias, infelizmente, ninguém pede bom gosto embora seja recomendável. E bom senso sobretudo quando, por toda a cidade, se verifica um maior cuidado com a construção e com o restauro de imóveis. Pede-se, isso sim, respeito pela arquitectura, pela harmonia, pela história. Para estragar há, seguramente, muitos sítios ainda por construir.

Não é por acaso que, num abrir e fechar de olhos, apareceu uma petição pública dirigida à CM do Porto a requerer a urgente classificação de todo o conjunto. Assinam-na muitos arquitectos, claro mas muitas mais outras pessoas que vivem na cidade, sentem a cidade como sua e reconhecem sem dificuldade a diferença entre um prédio medíocre (e há tantos, cá como em qualquer outro lugar) e algo que durante mais de cinquenta anos ainda se pode gabar de ser emblemático.

Já se destruiu e desfeou demasiadamente. Proprietários, chicos-espertos, empresas ambiciosas destituídas de qualquer bom gosto aliaram-se para tornar grandes zonas urbanas inabitáveis e irrespiráveis. A ganhunça obscena é a palavra de ordem geral. Há que dizer “BASTA” a esta enxurrada. Sob pena de, mais dia menos dia, ficarmos soterrados por um tsunami de falsa engenharia, de arquitectura feita por mestres de obras ignorantes e de criaturas que confundem Vieira da Silva com os graffitis da estação de Campanhã.

Claro que a empresa em causa ao sentir o temporal já começou a tentar recolher o velame. A obra de Vihls teria um “carácter efémero”, juram. Um empena com a altura   de oito ou nove pisos e parte de uma outra fachada adjacente custa só numa borradela pobre um ror de dinheiro. Pedir a um conhecido artista como Vihls que a cubra é coisa para muitos e bons milhares. Em efémero? Esta gente é tonta ou quer fazer-nos passar por parvos? Ou no inglês de merceeiro deles, julgam que somos a bando of fools?

Stop it!

Stop it now!

Stop it, porra!

* a petição corre na internet sob o nome “pela classificação patrimonial do parque residencial do Boavista Porto”

O vício dos comentadores

O meu olhar, 20.01.18

É recorrente. Diria mesmo que é um vicio de estilo. Muitos dos comentadores e analistas que invadiram a comunicação social iniciam a sua "divagação" por expor os "factos" do objecto de análise. Só que esses ditos factos mais não são que um amontoado de conclusões, a maioria das vezes distorcida ao jeito do que querem criticar. Ou seja, constroem uma realidade paralela ou parcial formatada para as conclusões que têm desde o inicio. Ocorreu-me escrever sobre isto a proposito da cronica do Publico de hoje feita pelo João Miguel Tavares. Li a sua opinião e depois li uma noticia com o desenvolvimento dos factos sobre esse assunto. Nada batia certo com o que o cronista tinha construído. Isto está sempre a acontecer na comunicação social. É por estas e por outras que eu prefiro ler primeiro as notícias e, preferencialmente em mais de uma fonte, e só depois as análises. E, mesmo assim, apenas alguns autores: os que partem da realidade para a analise e não de distorções da realidade para caber na sua análise. Este vício faz-me lembrar "grandes" consultores especializados que procuram problemas para as suas soluções, nem que para isso tenham que distorcer a realidade, em vez de procurarem soluções para os problemas reais das pessoas e organizações.

Conversas no Moinho de Vento

JSC, 19.01.18

Ontem, alguns elementos activos (e inactivos) do Incursões juntou-se para jantar. O bando dos cinco resistentes, nestes jantares, compareceu à  hora marcada, coisa nem sempre habitual. 

 

Desta vez, a comezaina ocorreu no Moinho de Vento, que fica no Largo com o mesmo nome. O repasto foi agradável, bom vinho, escolhido, como sempre, pelo JCP. Também muito interessante, como se esperava, foi a multiplicidade de temas em debate.

 

A conversa tinha o ritmo que a mó lhe dava. Era como se o vento que entrava pelas frestas das velhas janelas moldasse as palavras que se usavam em tom adequado ao ruído ambiente. Não escapou a avaliação dos incêndios, dos Bombeiros, cada vez mais corporativos, mais intrometidos no negócio, imprescindíveis, mas têm de ser postos no sí­tio, concluía-se. O Serviço Nacional de Saúde, a excelência das USFs . Os Médicos de família e a falta deles, os privados pendurados no Estado. Os Enfermeiros, a Justiça, sempre a justiça, Angola, os acordãos que não se cumprem, a Ministra que não merece que a destratem, o Diabo que não larga a oposição porque a oposição ampara-se no diabo, o Bloco que quer por toda a gente no Estado, sem perceber o que lhe está a acontecer. A comunicação social pejada de comentadores disto e daquilo.

 

A mó do moinho não pára a conversa, o vento está a favor. De vez em quando um grão ou uma areia emperra a mó, que salta e estremece. É inverno e mesmo que os dias já estejam a crescer as noites ainda são compridas, o bastante para os interesses corporativos deverem ser contrariados na proporção do silêncio que assumiram no tempo dos cortes cegos, dos aumentos colossais... de impostos.

 

Com tanta gente a reivindicar o que se lhe deve e o que não se lhe deve. Ainda vão ter saudades do Passos. Quem foi que disse? Fez se silêncio. Isso não. Mas pode tornar-se complicado, os Juízes querem novo Estatuto. Os Enfermeiros, calados ontem, querem agora e já o que não reclamaram antes. Os Professores pedem o absurdo sem avaliação que lhes toque e até ameaçam com grandes lutas, antes que as flores rebentem. Os Médicos seguem reivindicações sonoras, que o povo não entende. Até os Bombeiros aparecem a reivindicar o direito de decidirem polí­ticas florestais e como formar e aplicar dinheiros inteiramente públicos.

 

Tantos temas para três, quatro horas. Um sem fim de reivindicações egoístas, corporativas que se alevantam e que a comunicação social alavanca. O efeito final até pode ser a descredibilização das polí­ticas em curso, a desmobilização da confiança nas polí­ticas actuais, o reganhar da confiança e dos votos perdidos pela oposição. 

 

A questão que se coloca bem pode ser esta: onde andavam todos estes dirigentes corporativos, incluindo o dos Bombeiros, há três ou quatro anos? É que não os ouvia nem via. Tolhidos de medo? Desnorteados pela pancada que levaram? (cortes salariais, aumento do tempo de trabalho, eliminação de feriados, corte nas horas extraordinárias, ...,). Esta foi uma das questões que não se debateu no nosso jantar. É um bom pretexto para um novo jantar, antes que o movimento corporativista se fortaleça e nos amarre a um destino incerto.

Diário político 221

d'oliveira, 18.01.18

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Calma aí, malta americana

d'Oliveira fecit 18.1.17 

 

Tenho muita simpatia por Oprah Winfrey. Não exactamente pelo programa que a tornou famosa mas, sobretudo, pela cultura que tem demonstrado e pela biografia que é a de uma esforçada e corajosa lutadora.

Notem que não é todos os dias que uma mulher (mulher!) negra (negra!!) de origem humilde consegue ultrapassar todos estes medonhos senãos e converter-se num ícone americano. E, ainda por cima, não se distinguiu nos tradicionais meios reservados a esta imensa minoria americana. Não canta, não é atleta. sequer escritora. Está no “entertainment”, no reino da televisão onde os brancos, e sobretudo os brancos WASP, dominam quase completamente.

Também não vem das grandes lutas pelos direitos civis mesmo se nunca os tenha desertado.

Oprah fez o seu longo caminho a pulso, com determinação, coragem e talento, imenso talento. E cultura (basta consultar a lista dos livros que ela recomendou ao longo dos anos e a continua mobilização de personalidades culturais que foram ao programa).

Tudo isto e o seu apoio claro e iniludível a Barack Obama são excelentes razões, mas nunca as razões suficientes, para uma candidatura à presidência dos EUA.

Mesmo se, como parece, algumas (eventualmente muitas) criaturas entendam que para bater uma personalidade mediática como Trump seja necessária outra personalidade igualmente famosa. Depois, os súbitos apoiantes de Oprah afirmam que se aquele é um ignorante chapado (e é) de política internacional e até interna, e mesmo assim foi eleito, nada de pior sucederia com Oprah, mais culta, mais inteligente, mais sensível com mais bom senso.

Provavelmente não. Todavia, a América precisa desesperadamente de alguém ao leme com o mínimo de traquejo político (interno e internacional) para resolver enormes e instantes problemas globais desde as questões do clima à da desnuclearização ou aos efeitos da globalização.

Os apoiantes de Oprah já vieram falar de Reagan, um presidente que veio, também, da área do espectáculo. Parece que ignoram alguns factos: Reagan foi um importante dirigente sindical e posteriormente exerceu o cargo de Governador da Califórnia. À escala mundial este Estado americano passa à frente de três quartos dos Estados independentes seja em população, seja em indústria, em PIB ou em integração de populações diversas.

Aliás, a favor de Reagan havia ainda outro ponto: foi um republicano que governou um Estado tradicionalmente democrata. Não é pouco, nada pouco.

O Partido Democrata americano ainda não cessou de lamber as feridas da horrível derrota infligida por Trump. Diz quem sabe, e nisso conviria incluir muitos críticos do Presidente actual, que os democratas estão de cabeça perdida, desvairados à procura de um líder credível e elegível pois não basta ter a maioria dos votos. Há que obtê-los Estado a Estado dado o particular sistema eleitoral americano onde finalmente é o numero de “grandes eleitores” que decide o destino de uma eleição.

Demonstra-se este estado de extrema aflição com a candidatura de uma senhora chamada Chelsea Maning que, numa anterior vida, foi soldado e forneceu à Wikileaks 700.000 documentos classificados. A referida criatura tenta a candidatura com expresso apoio da comunidade LGTB e de numerosos progressistas (eventualmente os mesmos que andam a apoiar o #metoo) que também tweetam a exemplo de Trump.

A coisa seria ridícula e surpreendente sobretudo depois de se saber que a Wikileaks foi um dos principais estorvos contra Hillary Clinton e que o candidato democrata contra quem Chelsea concorre tem um excelente historial como congressista.

Esta América, que parece um cachorro a correr atrás da sua própria cauda, não só não tem “o sentido da galinhola” (Eça, sempre) mas sobretudo não aprendeu nada com a derrota. As elites democratas ainda não entenderam que os EUA não se limitam a N.York, Los Angeles, S Francisco e à intelectualidade que pontifica em certas e óptimas universidades, nos meios jornalísticos de grande qualidade ou no cinema. Esquecem-se que há fortes manchas de brancos pobres, de brancos empobrecidos, de gigantescas minorias de várias cores e culturas onde o sonho americano não chegou. Foram esses votantes (onde também, acreditem, havia negros ou mulheres, gays ou intelectuais) que fizeram a diferença. Eles e, convém relembrar, muitos democratas desiludidos que apostaram tudo em Bernie Sanders e se recusaram a votar Clinton (é a velha ideia de “Morra Sansão e quantos aqui estão” ou do “quanto pior, melhor”...) Bem lembrava Lenin, num contexto absolutamente diferente, é verdade, que “o esquerdismo é uma doença infantil” embora não só do comunismo, acrescento eu.

Alguma Esquerda europeia, obnubilada pelos malefícios do tabaco e do capitalismo, olha a América com mais pavor do que, por exemplo, a Rússia do ex-camarada Putin. E enfileira em todas as bizarrias que por lá surgem desde que rotuladas de “anti-sistema”. Trata-se de não só não perceber o mundo mas também de ser incapaz de transformá-lo se me permitem este paralelo com uns antigos escritos sobre Feuerbach...

Temo bem que a árvore Oprah esconda ou derrote a floresta e espero, para bem de quem, com paciência, quer ver o mundo avançar nem que seja uns milímetros (um avanço é sempre um avanço), que Oprah resista a este súbito canto de sereias, provavelmente oriundo de quem nunca leu e, muito menos perceberá, a “Odisseia”. Ou seja, o regresso do guerreiro à casa onde o esperam mulher filho, a sombra de um velho pai, um porqueiro e súbditos fartos da guerrilha dos pretendentes.

 

*aproveito a deixa grega para recomendar vivamente não só a leitura dos poemas imortais de Homero na tradução de Frederico Lourenço como também a belíssima tradução que este helenista propõe da Bíblia: já cá cantam três volumes e aguardam-se com ansiosa volúpia os restantes.  

QUEM AJUDA?

JSC, 15.01.18

Um ladrãozeco resolveu assaltar uma moradia na Madalena, VNGaia. O que roubou este ser do gamanço? O fecho do portão de entrada; um velho motor de tirar água de um poço; o contador da água; uma torneira; algumas peças de ferramentas.

 

Para pedir a reposição do contador da água parece ser preciso obter um documento de participação do roubo à PSP. Lá fomos à PSP.

 

No primeiro dia, o guarda que guardava a entrada disse que o melhor era ir lá mais tarde ou no dia seguinte, o atendimento estava muito demorado. Anuímos e fomos no dia seguinte.

 

Hoje, chegados lá, o guarda que fazia o atendimento perguntou e nós dissemos que era para apresentar queixa de um roubo.

 

De imediato, levantou se e foi falar com o outro guarda que estava mais resguardado. Este acenou com a cabeça, levantou o dedo indicador, que depois se percebeu que queria dizer que apenas podia entrar uma pessoa, apesar de haver duas cadeiras.

 

Exposto o que se pretendia, o Senhor Guarda disse que não, que apenas o dono pode apresentar queixa.

 

- Mas o dono está internado no HSA, não se sabe quando terá alta.

 

- O Sr Guarda: ...pois, mas não pode ser, só podemos aceitar a participação do dono, ele tem seis meses para apresentar queixa.

 

- Mas nós precisamos do documento da participação do roubo para apresentar e pedir a reposição do contador e a ligação da água. A casa está sem água...

 

Nada demoveu o Sr Guarda, dizia que a lei mudou há um ano, agora só o dono pode apresentar queixa e obter cópia da participação, não pode entregar a cópia a mais ninguém, só o Tribunal, a lei é assim...

 

Perante tamanha oposição desistimos não fosse a nossa insistência ainda ser tomada como desobediência.

 

Será que é mesmo assim? Um familiar (filha) não pode apresentar queixa na PSP de um roubo em casa do pai, que se encontra ausente e impossibilitado de ir à  esquadra? Será que a lei que é assim tão estúpida? Para beneficiar quem? As estati­sticas? Os ladrões?

 

Quem ajuda a encontrar saí­da para este imbróglio?

 

Afinal de contas só se pretende obter da PSP um documento que comprove  a participação do roubo, para o entregar na Empresa da Água. Mas nem isso a PSP faz. Faz sentido?

Os desafios de Rui Rio

José Carlos Pereira, 15.01.18

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Rui Rio venceu as eleições directas para presidente do PSD, batendo Pedro Santana Lopes por uma diferença superior a três mil votos, num universo de aproximadamente 43 mil votantes. Foi uma disputa equilibrada como a campanha eleitoral foi deixando perceber. Rio ganhou a Norte, onde se concentra o maior número de militantes, e isso bastou para face à vantagem de Santana Lopes nos distritos mais a Sul.

O novo presidente do PSD enfrentará agora o desafio de constituir uma equipa forte e mobilizadora para o acompanhar, incluindo-se aqui a aposta na liderança parlamentar, que ganha ainda mais importância pelo facto de o presidente do partido não ser deputado. Hugo Soares, um antigo presidente da JSD que se afirmou na liderança de Passos Coelho, foi eleito por larga margem há pouco tempo, mas o facto de ter declarado apoio a Santana Lopes pode ter comprometido a relação de confiança política com Rui Rio. Hugo Soares, de todo o modo, deveria tomar a iniciativa de colocar o lugar à disposição da nova liderança.

Para o lugar de secretário-geral tem-se falado muito de Salvador Malheiro, presidente da Câmara de Ovar e da distrital de Aveiro. Malheiro foi director da campanha de Rui Rio e, pelo que se apurou, mexe-se à vontade no terreno dos militantes-fantasma e do caciquismo partidário. O destaque que assumiu na campanha não abona a favor de Rui Rio, que se afirma sempre como um paladino dos valores, da ética e da transparência, mas que não se importou de ter ao seu lado dirigentes como Salvador Malheiro ou Rodrigo Gonçalves, ex-presidente da concelhia de Lisboa e já anteriormente denunciado por comportamentos semelhantes no passado.

Quanto à forma como Rui Rio fará oposição à actual solução governativa, só o tempo dirá o que vai mudar. Rio admitiu viabilizar no futuro um executivo minoritário socialista para evitar que PCP e BE se mantenham na esfera do poder, mas essa posição não deixará de criar graves rupturas no interior do partido. Todos aqueles que se bateram por Passos Coelho, e não se conformaram com o facto de o PS ter construído uma solução alternativa de governo depois de ser derrotado nas legislativas, não aceitarão que no futuro “se venda a alma ao diabo” e com isso se assegure a manutenção do PS no poder. O pragmatismo de Rui Rio, que não se importou de ceder pelouros à CDU no seu primeiro mandato na Câmara do Porto para assegurar a maioria, será posto à prova.

De resto, esta visão de Rui Rio olvida que o PS tem hoje um núcleo importante de dirigentes e governantes que prefere governar com o PCP e o BE do que aproximar-se do PSD. A relação inter-partidária mudou significativamente nos últimos anos e isso deve-se essencialmente à troika e a Pedro Passos Coelho. 

Au bonheur des dames 443

d'oliveira, 11.01.18

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#me too, o movimento e as francesas

 

mcr 11-1.18

 

este texto vai para  Irene MR, Mª José C e Maria de L A

 

(nota prévia: Quem, com santa e resignada paciência, me lê terá reparado que são mais de uma dúzia os textos em que me refiro à violência de género e à inominável cobardia (para já não falar no crime miserável) de muitos homens. Eles agridem, eles denunciam, eles maltratam, eles matam as ex-companheiras por dá cá aquela palha. Que os abandonaram, que se fartaram de apanhar pancada, de ouvir insultos, de serem menos do que as antigas criadas de servir, de serem violadas –sim também existe violação dentro do casamento- enfim por um ror de razões que seria fastidioso enumerar. Portanto, caras e caros leitores, recordem isso antes de me atirarem a primeira pedra (curiosamente o castigo para as adúlteras quer na Bíblia –A.T.- quer na medonha “charia” muçulmana)).

 

Apareceu nos EUA, mais propriamente em Hollywood, uma campanha (#me too) de denúncia de agravos feitos por homens ligados à indústria cinematográfica a mulheres, mormente actrizes. Nas queixas há de tudo: apalpões, convites para a cama, chantagem, palavrões, violação. Há também conversas ou palavras “impróprias”, que a América é o paraíso da correcção política!

Alguns (com a entusiástica ajuda dos media, fartos já de arrear – merecidamente, acrescente-se - em Trump) mostraram-se espantados, escandalizados, horrorizados(!), com estas revelações.

Este escriba persigna-se três vezes e pergunta-se se estas boas alminhas alguma vez pararam para pensar na história pregressa de Hollywood. É que, desde meados dos anos 50, que anda por aí um livro de Kenneth Anger (“Hollywood Babylone”, Jean Jacques Pauvert ed, Paris)que só apareceria nos EUA (em versão inglesa e original) em meados de 60. Rapidamente proibido lá, só voltou às livrarias dez anos depois.

Entretanto, dezenas de publicações (destaque-se a “Playboy”) foram ao longo de todos esses anos denunciando “Sodoma e Gomorra na Meca do cinema”. Recordo-me de ter visto na televisão (há quantos anos já!) um documentário sobre actrizes e modelos onde algumas delas confessavam, sem excessivas recriminações, que tinham passado voluntária ou obrigatoriamente pela cama de realizadores, produtores, fotógrafos, agentes, sei lá que mais.

O actual arruído foi desencadeado pelas acusações a um poderoso produtor, Harvey Weinstein, por um grupo de actrizes. Estupro, violação seriam o pão de cada dia na vida de um homem que chegou a ser homenageado pelo seu apoio à causa judaica e atacado por alguns filmes seus serem anti-cristãos e anti-americanos. Um “must”! Por acaso, também foi responsável por alguns (muitos) sucessos artísticos e comerciais. Uma autêntica “american live story”...

Abatido Weinstein, começou (Não há país como “a terra dos bravos e dos livres”, para estas coisas) a caça à macharia mal intencionada. Em pleno desenrolar dos “Globos de ouro”, um dos premiados foi acusado por uma actriz que afirmou que ele a fizera actuar nua depois de lhe ter imposto um contrato onde isso estaria previsto. Ou seja, o anjinho ofendido primeiro contratou, fez o filme, recebeu o cacauzinho e, depois, muito depois, lembrou-se de protestar. É obra!

Numa entrevista no “Late night show”, animado pelo prodigioso Stephen Colbert, um entrevistado confessou que ao abraçar uma mulher lhe “tocara nos seios”. E estava muito arrependido... Pergunto-me como é que ao abraçar se toca nas mamas da criatura abraçada.

A campanha corre, infrene e imparável, pela América. Todos os dias se noticiam casos de há dez, vinte, trinta anos. A diligente justiça americana renova a perseguição a Roman Polansky, ameaça Woody Allen e instala no meio libertino e sofisticado de Hollywood um clima de denúncia onde vale tudo. Pelos vistos qualquer “inapropriate behaviour” é tremendo crime. Um olhar mais demorado pode ter efeitos tão dramáticos quanto um apalpão que, por sua vez está ao nível do assédio puro e duro, quiçá da violação. Al Capone e a KKK espreitam, com Manson e os bombistas de Ocklahoma, as vestais do cinema americano, para o efeito vestidas de negro severo mas generoso em decotes.

Um grupo de cem artistas, académicas e escritoras francesas publicou em “Le Monde” uma carta aberta onde pedem moderação, bom senso e calma e, horribili dictu!, defendem que aos homens deve ser permitida uma suave intencionalidade sexual no que dizem, pensam ou fazem perante as mulheres. Jesus! Caiu o Carmo e a Trindade. Ou melhor, a torre Eiffel e o Arco do Triunfo. A primeira como vero símbolo fálico e o segundo como uma vagina desmesuradamente acessível à peonagem que o atravessa a pretexto de ver a chama do soldado desconhecido. Aliás, o Arco, tributo às campanhas napoleónicas é, desde há muito um símbolo a proscrever por nacionalista, imperialista, militarista etc.

No dia seguinte trinta senhoras da melhor sociedade feminista responderam às anteriores cem. Estão em minoria mas isso não espanta num país onde um antigo presidente da república (Felix Faure) morreu literalmente na boca de uma amante posteriormente conhecida como “pompe funébre”. Onde outro, Mitterand, era conhecido por ter “casa civil e casa militar”(na amável interpretação de Jorge Amado) ou outro ainda mais recente se disfarçava de motociclista para se escapar do Eliseu para se ir aconchegar nos braços de ma actriz que (Vergonha!) nunca se queixou de assédio. Há quem se lembre de uma (a única) Primeira Ministra da França, Edith Cresson que afirmou sem pestanejar que uns bons 25% dos ingleses eram homossexuais e por isso desprezavam as mulheres. A senhora Cresson, além de inteligente, culta e belle femme, foi, et pourquoi pas?, amante de Mitterrand mesmo se esse fait divers não deva ter influído na sua nomeação.

Não admira num país que viu nascer Sade, Laclos, Bussy-Rabutin, Crébillon fils, Brantôme (e não esqueçamos osenormes Montesquieu e Diderot que escreveram belos textos eróticos) ou já no nosso tempo, Roger Vailland, esta desatada fúria americana cause uma divertida perplexidade. Alguém, não consigo recordar agora, citou Mae West essa deliciosa e inteligentíssima desbocada. Que diria ela, perguntava-se esse desconhecido, se visse e ouvisse o que se passa?

Esta campanha acaba por abafar outras bem mais urgentes quais sejam pagamento igual por trabalho igual (e não só no cinema, que diabo, mas nas fábricas, nas grandes cadeias de distribuição, na Banca ou noutros domínios), a luta pelo ambiente, a eventual proibição do porte de arma ou a necessária limitação da intervenção de seitas e grupos religiosos na condução dos negócios públicos. Neste momento tudo isso está na sombra. O que está a dar, graças a uma centena de famosas, é o assédio sexual seja ele qual for, revista ele a modalidade mais inócua. Foram causas idênticas, ou um estado de espírito idêntico, que levaram à imbecilidade da lei seca, que mantiveram no índex as obras de Miller e um bom cento de argumentos ou de filmes “unamerican”

Às vezes, por muito jazz de que eu goste, por muito poeta e escritor americano que aprecie, por muito John Ford que veja e reveja, sinto que tive a sorte de nascer em Portugal. Arre, que isto até me faz parecer nacionalista! Credo, Deus me livre...  

 

* na imagem Kirk Douglas, 101 anos e mais de 80 de cinema, veio de preto, sabe-se lá por que razão. A acompanhante também.

**o título leva o #me too a negro. É uma mostra de solidariedade, juro.

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