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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

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As Lições de Paris

Incursões, 06.11.05
João Carlos Espada, José Manuel Fernandes e outros têm a chave para explicar a atitude dos jovens que ateiam incêndios na periferia de Paris: a sua falta de valores. Por uma vez, estamos de acordo. De facto, o que sucede é que os tais jovens, pobres e desempregados, não se mostram reverentes e obrigados.
O que falha no plano neo-liberal de fazer os ricos mais ricos e os pobres mais pobres é que estes não vão na conversa. Ao acabarem com as políticas sociais, ao aumentarem o desemprego, ao exibirem despudoradamente que o Estado trabalha para o enriquecimento de uma minoria, como sucede às claras nos Estados Unidos, o novo farol desta rapaziada, abrem a porta para a violência mais descontrolada. É um aviso.
Tal como nos incêndios florestais, também aqui é fácil culpar os incendiários. Sem dúvida, os incêndios são lamentáveis e reprováveis, mas a questão não acaba aqui. Alguém, os governos neo-liberais, que dominam a União Europeia os empurrou para isto. Será que existem hoje formas legais, pacíficas e institucionais, dentro do poder de Estado, para os excluídos fazerem ouvir a sua voz? Não creio.
Será que as televisões, os parlamentos, os governantes, os presidentes da República ficariam sensibilizados com marchas pacíficas e ordeiras destes jovens em Paris? Tanto como a Marie-Antoinette, nas vésperas de 1789.
Só agora, iluminado pelas chamas, é que o governo francês desenterra planos e mais planos, bem guardados na gaveta, de combate à exclusão, ao desemprego, prometendo até um novo urbanismo na periferia. Antes do fogo, a solução milagrosa era a do costume: a polícia.
Não seria de também cá se ir pensando nas consequências políticas e sociais da exclusão, agravada pelo plano em curso de desmantelamento do Estado Social e pelo público e notório abandalhamento de um sistema político-partidário, minado pela corrupção, em que ninguém acredita?
É que o povo não é sereno e na nossa história temos bastantes exemplos disso.

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