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Incursões

Instância de Retemperação.

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A Europa, a Grécia, Portugal e…as claques

José Carlos Pereira, 24.02.15

A situação que se tem vivido nos últimos tempos na Europa, na sequência das eleições na Grécia e do posicionamento do novo governo grego face aos programas de ajustamento e às medidas de austeridade, levou a discussão e o comentário político para uma nova dimensão: a irracionalidade das claques!

Em vez de se adoptar uma atitude de mente aberta e de reflexão consciente das várias possibilidades em cima da mesa, o comportamento do governo grego passou a ser o azimute a partir do qual os diferentes sectores da sociedade se pronunciam. Em Portugal, isso é por demais evidente.

Os partidos políticos, certos movimentos sociais, jornalistas e comentadores comprometidos com a maioria no poder enquistaram numa posição: nós, em Portugal, passámos por muitas privações, abusámos da austeridade, empobrecemos o país, cientes de que esse era o único caminho permitido pelos credores e pela Alemanha. Sempre dissemos que não havia outra via para a consolidação das contas públicas e que não era viável amenizar a austeridade que nos auto-impusemos. Agora, não podemos vir dizer que é possível enfatizar outras políticas, ajustar a caminhada em termos sociais e privilegiar o crescimento económico que permitirá pagar as dívidas. Não, era o que faltava! Logo, há que criar uma barreira na opinião pública gritando que não há alternativa e que é preciso castigar os levianos dos gregos. A TINA (There Is No Alternative) ao poder!

Já do lado da oposição, e mesmo entre alguns sectores da área política da maioria que não se revêem nas políticas seguidas, tem prevalecido uma visão mais sensata. Ou seja, estando mais do que visto que o preço social pago pela austeridade sem freio é incomportável e que a sociedade não aguenta mais prosseguir nesta via, é fundamental criar condições para uma negociação aprofundada das condições de reembolso dos empréstimos obtidos junto da UE, do BCE e do FMI. Assim, se a Grécia fizer bem o seu trabalho de casa e ganhar vencimento para algumas das suas causas, naturalmente isso será positivo para Portugal e para outros países. Já escrevi sobre isso mesmo aqui.

Não compreendo, portanto, esta sofreguidão da claque contra a Grécia, os seus governantes e o Syriza. Como se os mesmos tivessem lepra e deles tivéssemos de nos afastar. Pelo contrário, tendo sido tão bons alunos, de acordo com o discurso do governo português, só teremos a ganhar se os gregos levarem esta luta por diante e ganharem alguma coisa com isso. Lá estaremos, depois, a levantar o dedo para reivindicar condições semelhantes. É assim tão difícil de entender?!

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