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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

Au bonheur des dames 371

d'oliveira, 12.10.15

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E agora as presidenciais!

 

(Ponto de ordem: a instâncias de uma familiar, apoiei Maria de Belém Roseira convidando-a a candidatar-se.)

Em boa verdade, quando Henrique Neto se afirmou candidato, estive quase a apoiá-lo. Todavia, não o fiz. Pareceu-me que não teria a mínima hipótese de sequer se tornar credível como candidato. Não que lhe faltassem qualidades ou percurso político. Henrique Neto esteve com o PCP na altura difícil e, quando entendeu que a linha do partido estava a milhas da realidade portuguesa (opinião que partilho, sempre partilhei, aliás), inscreveu-se no PS e até foi deputado.

Como empresário, criou uma empresa que teve enorme sucesso e consta que foi, como patrão, um exemplo.

Rapidamente terá entendido que a sua vida empresarial não lhe permitia engalfinhar-se (e este é o termo exacto) na barafunda que o PS permitiu dentro das suas fileiras.

Deixou (ou fizeram-no deixar) o parlamento e em algumas intervenções foi tornando claro que não aprovava boa parte das atitudes e posições que o PS tinha em questões económicas e quanto ao desenvolvimento industrial (matéria em que, sem favor, é um perito ou, pelo menos, um conhecedor sólido) e isso ter-lhe-á criado fama de derrotista.

Que a realidade, sempre essa crua e amarga realidade, tenha dado razão a Neto, é (foi) problema de menos para as iluminadas criaturas de que Sócrates, primeiro, Seguro e Costa depois, se rodearam. Neto passou a ser uma “non person” e as suas possibilidades de levar avante uma candidatura são mínimas. A recente sondagem que dava a Rebelo de Sousa mais de 40% cotava Neto com 1,5%. Muito longe da segunda candidata, Mª Belém Roseira.

Por outro lado, Belém é uma candidata honorável. Tem uma longa carreira política (e Neto nesse ponto foi infeliz e injusto): deputada, ministra, presidente do PS. Tem trabalho feito, quer na área da saúde quer em políticas sectoriais relativas à situação da mulher onde, no dizer de testemunhas que ouvi, deixou uma forte impressão de trabalho, competência e decisão.

Tanto me bastou para apoiar esta candidata.

Aliás, no campo da Esquerda não se vê mais vivalma que mereça cinco minutos de atenção. A menos que alguém volte a falar naquele miraculado ex-reitor da Universidade de Lisboa. A criatura, surpreendentemente, foi apoiada por três ex-presidentes (Soares, Sampaio e Eanes) que francamente pouco une e muito separa. Que lhes terá dado? Sobretudo a Sampaio, homem pouco dado a apadrinhar estas ominosas insignificâncias. Ter como fadas madrinhas três personalidades que cobrem um arco que vai desde uma Esquerda severa até um Centro Direita indesmentível (ou será que passamos a esponja sobre as excêntricas aventuras do falecido Partido Renovador Democrático?) é algo digno de menção sobre a singularidade política nacional.

As declarações que entretanto foram saindo deste fenómeno político são tão ou mais patéticas do que as citações literárias que polvilham os seus momentos culturais. Vê-se, sem dificuldade, uma intenção decorativa que nada tem a ver com dois dos mais canibalizados autores (José Afonso e Sofia de Melo Breyner): trata-se de um artifício politica e culturalmente correcto. Que alguém se deslumbre com este chorrilho de banalidades é algo que me surpreende profundamente.

Que algumas pessoas de Esquerda se babem à menção do sr. Nóvoa faz-me lembrar os ominosos anos sessenta onde qualquer maravalha (maravalha, repito) deslumbrava gente sincera e disposta a bater-se pela liberdade e pela democracia. Boa parte dos ícones desses anos (desde uma Cuba que se encerrava e uma China que liquidava placidamente milhões de cidadãos à luz de um livreco vermelho encadernado a plástico barato) jazem hoje numa espécie de caixote do lixo da História.

E nem sequer a ideia de que no outro lado está um funâmbulo político que anda há anos a criar via televisão uma “persona” política que, temos visto, não recua de acenar a toda a bicharada que lhe passa ao alcance com uma espécie rede polvilhada de açúcar. Venham ao meu regaço, venham admirar-me e ver quão amplo é o meu espectro de intenções e de amor pela pátria.

Marcelo Rebelo de Sousa é um homem inteligente. Muito inteligente. Trabalhador incansável, bom leitor (mas não tão bom que se atreva sair do mainstream literário e cultural, convém dizê-lo), com uma longuíssima prática de competente professor de Direito Constitucional, MRS distribui semanalmente notas à classe política, pisca o olho aos adversários, todos bons, todos simpáticos e lança à sua gente uma que outra farpa para mostrar quão equânime ele é e como poderia ser um Presidente de todos os portugueses (nanja com o meu voto! Livra!).

Sou uma criatura de excelente memória (esperemos que o Alzheimer não me pregue a partida) e lembro a sinuosa biografia deste cavalheiro desde o dia em que entrou no Expresso, até aos seus tempos de deputado e depois como líder do PPD. Então nessa altura, aquilo foi um festival. Guterres deve ter-se divertido com o opositor que lhe saía ao caminho.

O “professor Marcelo” como popularmente é conhecido faz-me lembrar outro professor que saiu dos cafundós da época salazarista para a ribalta da 3ª República como se nada fosse. Falo, obviamente, de José Hermano Saraiva, o encantador de cobras de água que durante anos impingiu uma espécie de “história” turística de Portugal (relembro apenas a singular explicação para o nome da Serra da Boa Viagem em Buarcos. Segundo Saraiva tal devia-se ao facto de os barcos que saíam a barra do Mondego (a uns bons quilómetros de distância!) serem saudados pelos serranos com clamores de “boa viagem”. Um mimo!

Ambos têm um talento fortíssimo para a televisão. Falam bem, são simpáticos, não ofendem ninguém, ou fazem por isso.

O comentador Sousa Tavares, ao referir-se à hipótese de Marcelo ser presidente disse, sem conter uma gargalhada: vai ser muito divertido!

Não me atrevo a tanto mas temo morrer por demasiadas gargalhadas!

Estou a ficar velho. Um perfeito “marreta”!

 

  • fique claro: não apoio Maria de Belém por exclusão de partes. Apoio-a porque, além do mais, a conheço desde os nossos comuns tempos de Coimbra.
  • ** não referi nesta crónica Rui Rio. Quem me lê sabe o que penso do homem que, de resto, melhorou muito, desde um texto que aqui publiquei.
  • *** este texto (vê-se) estava escrito desde quarta feira, 7 de Setembro. Problemas de saúde de uma familiar e a necessidade de a acompanhar deixaram-no em banho maria até hoje. Todavia, nada do que está escrito, merece reparo meu mesmo que o tema MRS mereça mais observações que, em tempo, publicarei.

 

 

 

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