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Incursões

Instância de Retemperação.

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Instância de Retemperação.

Au bonheur des dames 446

d'oliveira, 16.02.18

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 Pagar dívidas antigas 

 

 mcr 16.2.18

Fui aluno do antigo Liceu D João III (Coimbra) por duas vezes mesmo se por pouco tempo: no 3º e no 6º anos.

Nesse tempo, tratava-se de um liceu “Normal”, isto é de um liceu onde os jovens professores, sob a orientação de exigentes professores “metodólogos”, faziam o “estágio”.

Uma vez aprovados poderiam ir ensinar em qualquer outro estabelecimento similar, integrados na função pública.

As aulas nem sempre eram pacíficas sobretudo se dadas por um metodólogo e respectivos estagiários: estilos de ensino diferentes podiam perturbar a rapaziada. Todavia, é justo realçar a alta qualidade do ensino e a exigência.

Naquele tempo, as instalações eram boas mesmo se, por exemplo, a piscina nunca funcionasse!...

Hoje, diz o jornal, aquele excelente edifício está num estado desolador. Esperam-se (e desespera-se) obras de enorme importância e correspondente custo. A desvairada gestão da ministra Rodrigues e a loucura gastadora da empresa Parque Escolar não deram para restituir a actual “escola José Falcão” (é o seu nome, hoje) à devida dignidade que uma escola, o seu corpo docente e os seus alunos merecem.

Todavia, não é do estado calamitoso do prédio que pretendo tratar.

É do seu nome actual. O “D João III” passou a José Falcão com os ventos de Abril. Ou as ventosidades como já se explicará.

José Falcão foi licenciado e depois doutorado em Matemática e lente da Universidade de Coimbra. Porém, a escassa fama que obteve em vida advém-lhe sobretudo, e apenas, do facto de ter sido propagandista e militante republicano, mesmo que de segunda linha. Aliás, morreu cedo pelo que não se podem, sem eventual injustiça, verificar-se os seus méritos políticos e propagandísticos. Escreveu uma “cartilha do Povo” que se não é uma inutilidade absoluta também não merece destaque na escrita política da época. Escassa novidade e estilo pobre.

D João III foi, provavelmente, o soberano português que mais fez pelo ensino e pela Universidade que dotou de meios e de professores de altíssima qualidade. A actual Rª da Sofia em Coimbra está pejada de “Colégios Universitários” mandados fazer por ele e pagos pela Coroa. Em qualquer país civilizado isto poria o último grande rei da dinastia de Avis na História. Se é verdade que outros soberanos e príncipes dotaram a Universidade (D Dinis, Infante D Henrique, Filipe II e D José a conselho do inteligente e maléfico Marquês) deve considerar-se a intervenção de D João III como a mais completa.

Da sua memória resta hoje uma feia estátua no pátio da Universidade e durante algumas décadas do sec. XX o nome do liceu (que começara por se denominar Liceu de Cimbra e Liceu Central de Coimbra até ao tempo da 1ª República que o crismou José Falcão).

Aliás, e para maior rigor o D João III nasceu da fusão dos liceus José Falcão e Júlio Henriques (licenciado em Direito e catedrático de Filosofia mais tarde consagrado como um dos grandes botânicos portugueses, ao lado de Brotero que ele muito admirava. Fundador do Instituto Botânico, dirigiu o Jardim Botânico durante décadas podendo dizer-se sem mentir que a sua obra à frente desta instituição é comparável à de Vandeli ou Luís Carriço).

Ignoro se há em Coimbra, além da Brotero e D Maria, mais escolas secundárias. Se sim, aí estaria para os saudosos da propaganda republicana uma hipótese de homenagear J Falcão.

Agora, que eventualmente se farão obras, seria de toda a justiça restituir à velha escola o nome do rei que mereceria mais, muito mais, da cidade.

A latere: os velhos colégios da Rª da Sofia estão em mau estado e sobretudo afectados a usos desinteressantes. Suponho que estarão incluídos no domínio do Património da Humanidade que contempla Coimbra. Valia a pena começar a pensar-se em restituí-los à sua primitiva e gloriosa função universitária (residências de estudantes, centros de estudos, etc). Para o efeito bastaria voltar a consultar o valioso número XXV da Revista Monumentos onde se pode perceber toda a importância arquitectónica, urbanística destes edifícios. Antes isso que andar a construir “barracos” feios, maus e caros como é timbre do Ministério da Educação.

 

Por mcr, nº 23/3º/A e nº 38/6º/ A  (anos 50)