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Incursões

Instância de Retemperação.

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diário político 219

d'oliveira, 14.12.17

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This land is (also) my land

d’Oliveira fecit 14.12.17

 

Sou um feliz e atento espectador do “The late night show” que passa na SIC radical todas as noites cerca das nove horas. E sou-o não só pelo animador, Stephen Colbert, um actor e apresentador ímpar mas também porque essa é uma das melhores trincheiras anti Trump tanto mais que nunca caiu na esparrela de dizer ámen a tudo o que a senadora Clinton dizia.

Desde há semanas que Colbert, que não perde uma única ocasião para alfinetar o actual Presidente, atacava o ex-juiz Roy Moore candidato ao Senado e denunciado predador sexual (a criatura terá mesmo afirmado que nunca saíra com uma rapariga sem pedir autorização à mãe dela!) porta-voz dos ultramontanos evangélicos e de tudo o que me repugna na América.

Trump, como de costume, entendeu apoiar Moore afirmando que este faria coisas maravilhosas no Senado e votaria com ele (Trump) sempre.

O Alabama é um Estado do Sul, pertenceu aos Confederados e notabilizou-se pela perseguição intensa à minoria negra. Vota sempre (ou quase) à direita e tudo parecia correr bem a Moore, mesmo se a criatura tivesse cada vez mais críticos (mesmo no campo republicano). Todavia, desta feita, os resultados da eleição constituíram uma agradável surpresa:moore foi derrotado por um quase desconhecido candidato democrata. Estará a América a mudar ou isto é apenas um resultado da actual campanha de denúncia dos predadores sexuais. Como se sabe (e saber-se-á ainda mais e nem sempre melhor) agora os Estados Unidos são percorridos por um furacão de denúncias de assédio sexual. Tudo começou em Holywwod no meio do cinema, passou rapidamente ao campo das modelos e atingiu fortemente a política. Já não se contam os políticos que tiveram de se afastar de campanhas, quando não foi do Congresso, do Senado ou de governos e instituições estaduais. Trump, ele próprio tem sido alvo de acusações do mesmo tipo, estribadas é certo em gravações dele mesmo a declarar o que faz(ia) com algumas mulheres que encontra(va). Longe estamos dos tempos de Clinton que, aliás, para afastar as críticas bombardeava o Iraque.

Pessoalmente, preferiria que, a ser alvo de um impeachment, o fosse por manobras e conluios com a Rússia. Apesar de tudo a coisa é mais grave e mais importante por muito que isso custe ao feminismo mais exaltado.

Claro que uma andorinha não faz a primavera e um lugar a menos no Senado ainda não chega. Trump, por muito surpreendente que isso pareça, mantém intactas as suas bases populares nomeadamente entre os brancos pobres, as mulheres e mesmo as minorias étnicas. Mesmo com uma taxa de popularidade baixa e em queda, a geografia eleitoral americana poderia, se houvesse eleições hoje, dar-lhe a maioria dos mandatos mesmo se o total de votos pudesse ser ainda pior do que foi na eleição passada.

De todo o modo, há pequenas alegrias e os comentadores pacientes tiveram ontem um pequeno presente no sapatinho. Uma derrota é sempre uma derrota e saber que Trump se estrampalhou é uma notícia jubilosa. Generosamente, passo-a aos leitores menos atentos.

* estrampalhar: estragar (calão de Buarcos, terra de palavras fortes e sugestivas)