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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

Estes dias que passam 327

d'oliveira, 22.11.14

Ponto de ordem

É por demais conhecido o meu fraco apreço pela figura de José Sócrates. Como também tenho, mesmo se raramente referi, igual posição relativamente a Ricardo Salgado. Quanto aos imputados pelos Vistos Gold não os conheço, nem desejo conhecê-los. Todos detidos, todos alvos de fortes suspeitas, todos ou quase ameaçados de medidas limitadoras de liberdade enquanto aguardam pelo desenrolar das investigações e pela eventual acusação.

Todavia, como sempre aqui defendi, até julgamento terminado, toda esta gente é, para já, presumida inocente.

Sou um jurista não praticante mas, mesmo assim, a faculdade e os anos de advocacia deixam marcas. Mesmo detestando estas criaturas e detestando ainda mais a negociata que se vai fazendo à vista de todos, manterei esta posição. Inocentes até se provar cabalmente no tribunal competente a sua culpabilidade.

Há vários anos, aqui mesmo, defendi idêntica tese quanto a um membro do Ministério detido e posteriormente inocentado por pedofilia. Já, nessa altura, afirmava o mesmo princípio. Portanto, sobre estes processos, manterei o habitual silêncio. Diga-se de boa verdade que este meu silêncio não me impede de considerar uma tolice as afirmações do senhor João Soares sobre o assunto. Sempre tive João Soares em fraca conta e sempre me surpreendeu como é que a criatura foi singrando na política, sequer na sua extraordinária amizade por Jonas Savimbi, conhecido colaborador da autoridade colonial portuguesa e posteriormente delirante e fantasmático líder de uma das facções que disputou o controlo de Angola.

Afirmar que a prisão preventiva, no caso vertente, uma detenção para interrogatório que pode hoje mesmo ser levantada, só se justifica em crimes de sangue; que, alem disso, tudo isto é apenas uma tentativa de humilhação de Sócrates, releva da mais desastrada tentativa de defesa de Sócrates.

Pior, esta tentativa de transformar em perseguição política iníqua, este processo torna mais frágil e dramática a situação, desde logo nada invejável, do ex-primeiro ministro.

O democrático dr João Soares terá cursado Direito. Terá lido e estudado Processo Penal. Ora, a menos, que o seu fulgurante curso tenha tido as suas melhores horas no controverso período de 74-76 onde os exames foram eventualmente travestidos em apresentação de trabalhos de grupo e vigiados por professores ameaçados e amedrontados pela “formiga branca” (negra, vermelha ou amarela..., havia-a de todas as cores) que considerava as faculdades como territórios a libertar urgentemente, e um par de cadeiras tenha sido considerada supérflua, nada explica quão Soares (João) seja tão liberal na apreciação das regras jurídicas.

Derradeira observação: as palavras de Soares (João) ao incidirem sobre a qualidade de ex primeiro ministro manifestam, com escasso ou nulo sentido democrático, que nestes casos há (ou pode haver) duas medidas. Uma para os poderosos, outra para um qualquer paisano acusado exactamente do mesmo crime. Com mais outra consequência: a imensa maioria dos cidadãos fica indignada com esta canhestra opinião e pode, mesmo sem razão, exigir na rua uma pena que só aos Tribunais cabe decidir. E uma pena rápida, desprovida de discussão jurídica, isto é sem defesa para quem Soares (João) terça, tão impudente e imprudentemente, armas no facebook.

Não sei se chegou a exercer advocacia mas duma coisa estou certo: não seria eu que lhe conferiria qualquer espécie de mandato. Livra!...

  

 

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