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Incursões

Instância de Retemperação.

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Estes dias que passam 362

d'oliveira, 22.09.17

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Lá sair saímos. Para onde?

 

(mcr 22.9.17)

 

“…O jovem Alexandre conquistou a Índia.

Sozinho?


César bateu os gauleses.


Não levava sequer um cozinheiro?”

(Brecht Perguntas de um operário leitor)

 

Se é verdade que a culpa morre solteira, não menos verdadeira é a afirmação de que a vitória é de todos.

Nem tanto ao mar, nem tanto ao mar... De vez em quando lá se descobrem (e se punem) uns culpados como nem sempre a vitória é colectiva.

Vem isto a propósito da saída de Portugal do lixo recentemente aprovada pela Stanley & Poor’s. As parangonas foram gigantescas, o júbilo da imprensa e de alguns políticos alcançou o nível 5 mas talvez convenha alinhar algumas verdades sobre esta missa cantada. Sair do lixo, mesmo que seja para um grau muito abaixo do desejável (e da média da Europa) é para qualquer português uma boa notícia.

Atribuir os louros desta declaração de uma (entre três) agências de rating a um só protagonista é que me parece uma tolice quando não uma vigarice.

Quem me foi lendo ao longo dos anos, sabe a fraca opinião que sempre tive do governo anterior. Houve mesmo leitores que se zangaram: que eu era injusto, que tinha uma agenda própria contra o centro-direita, que fazia propaganda pela esquerda, sei lá que mais. Liam-me vesgamente e já não se lembravam do que eu escrevera sobre Sócrates. Ou sobre Durão Barroso e o great portuguese disaster que no século se chamou Santana Lopes.

Convenhamos, desde a desilusão Guterres que não me sinto especialmente comovido, muito menos entusiasmado, com os sucessivos primeiros ministros e respectivas equipas que nos atropelam. Na melhor das hipóteses roçaram o sofrível mas depressa, muito depressa, caíram no fosso da mediocridade.

Portugal, os portugueses, aguentou estoicamente, como de costume. Gente habituada a uma terra sáfara entre a praia e a montanha pobre, fez das tripas coração e desandou por esse mundo fora. Onde menos se espera, encontramos um português desde aquele Gastão, amigo de Sandokan e casado com uma “rani” indiana até ao senhor Oliveira da Figueira com que Tintin se cruza em “OS charutos do faraó”.

Isto, esta presença modesta mas múltipla de portugueses por esse mundo de Deus serve para vir dizer que esta saída do lixo se deve a muita gente, desde, obviamente, os actuais governantes, ao inditoso Passos Coelho e, muito, a todos os paisanos que aguentaram os anos duros.

Num texto anterior às últimas eleições legislativas, eu dava conta de alguns sinais ténues mas dignos de nota de uma clara melhoria da situação e da sua percepção pelos portugueses. Aliás, baseado nisso mesmo, eu prevenia Costa que as eleições poderiam não ser, como não foram, um triunfo para o PS (obviamente não previa –nem ninguém que eu saiba- a constituição da “geringonça”, tanto mais que, naqueles ásperos dias, PC e BE rivalizavam em duras acusações ao PS).

Centeno e Costa teriam metido um formidável golo ao PSD e ao CDS se, com naturalidade e verdade, os tivessem associado –ainda que minimamente – à saída do “lixo”. Tanto mais que ainda faltam duas agências, a dívida pública é o que é e o nosso progresso é acompanhado (e até superado) pelos nossos parceiros europeus.

Há, entre certos comentadores e, sobretudo, em certos dirigentes partidários, uma ideia de que as agências de rating são uns monstros que, ainda por cima, não proveem de uma votação democrática (!). Isto é uma chapada parvoíce porquanto esta boa gente parece ignorar tudo sobre as ditas agências. Ninguém, nenhum país, está obrigado a consultá-las, a ouvi-las a segui-las. Sobretudo quando se sabe que pagam generosamente os serviços de rating! Todavia, os investidores (grandes e pequenos e mesmo pequeníssimos), à falta de melhor indicador (que não há) apostam os seus dinheiros no parecer destas instituições que, como milhares de outras estabelecem paradigmas, limites e vias para o investimento. Só a bronquidão dos fanáticos é que vê nisto mais fantasmas do que os que não existem.

A segunda (conveniente) consequência de associar os partidos da oposição (mesmo em porção meticulosamente côngrua) a esta nova situação é que assim, também, porventura indirectamente, se “amarravam” estes a parte das políticas e dos desígnios prosseguidos pelo Governo e (eventualmente) se salvaguardava alguma distância para com o PC e o BE. Que, aliás, contribuíram, e não pouco, e a contragosto, para o clima de paz social que influenciou a decisão da Stanley & Poor’s.

Finalmente, é bom não esquecer que, como acima se diz, esta saída é ainda muito pequenina. Estamos muito longe do AAA e bastante longe da média dos nossos parceiros na UE. Digamos: estamos melhor do que a Grécia mas isso não é sequer uma pequena alegria.