O leitor (im)penitente
Raduan Nassar, uma noticia extraordinária
Entre finais de Novembro de 1999 e a Páscoa de 2001, comprei e li de rajada, três livrinhos de um absoluto desconhecido (para mim) autor brasileiro: Raduan Nassar.
Disse livrinhos e repito. Aquilo tudo junto dava um livro normal no que toca a número de páginas. Lavoura Arcaica (187 páginas e em letra gorda), Um copo de cólera (55 páginas, idem) e Menina a caminho (70, idem) é tudo o que Nassar escreveu. Parece, que depois, resolveu criar coelhos.
Estes livros foram editados cá. Os dois primeiros têm a chancela da “Relógio de Água” e o último da “Cotovia”, duas editoras excelentes, corajosas que deem ter vendido pouco ou quase nada. Vi, mais tarde, todos estes livros em feiras de livro ocasionais e a preços mais do que baratos. Alertei amigos e conhecidos para o facto e, que me lembre, só o Manuel Sousa Pereira, bom leitor e bom escultor me deu ouvidos. E como não me recriminou depois, há de ter lido os livros com algum prazer. Caiu-me agora a noticia de Raduan Nassar ser o justíssimo vencedor do prémio Camões deste ano. Depois da nomeação de Manuel António Pina é a primeira vez que não torço o nariz.
Amigos e leitores: Depressa à “feira do livro” e aos alfarrabistas por estes títulos se é que ainda andam por aí.
Trata-se de um literatura simples, rápida, sem artifícios que não causa problemas seja a quem for desde que goste de ler. Aquilo corre, límpido e sereno, e deixa depois um “arriére gout” de maravilhamento. Quase como se disséssemos: era isto o que eu gostaria de escrever”
Aproveito a boleia de RN para anunciar que (uma vez não são vezes!) o Círculo de Leitores vai publicar duas excelentes obras de Aquilino Ribeiro: “É a guerra” e “Alemanha ensanguentada”. Depois da reedição de “A retirada dos 10.000” (uma tradução saborosa do clássico de Xenofonte e um dos melhores documentos, repleto de aventuras que a Grécia imortal nos legou) eis que um Aquilino sensível e observador nos bate à porta. Força, leitores!