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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

o leitor (im)penitente 265

mcr, 18.03.24

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Nuno Júdice, um poeta inteiro (e um amigo)

mcr, 18-3-24

 

Atravesso as rosadas núvens da poeira

...

queixo-me do acaso (ao acaso) adormeço e acordo

com o barulho de grupos compactos de aves

Que penso da vida par aestar assim?---

(Nuno Júdice: "o autor in memoriam" in Critica Doméstica dos paralelipípedos)

 

abri ao acaso um dos primeiros livros do Nuno e saiu o poema que publico em excerto.  Poderia escolher entre mais de trinta livros dele que andam espalhados, pelo menos por duas estantes diferentes segundo um critério a que já perdi a origem e o significado. 

Quando o conheci, muito depois de uma boa dúzia e meia de livros dele, comprados, lifos, admirados , avisei-o que só o acaso nos reunia porquanto eu sou melhor leitor que conversador com autores. Não sei o que me terá respondido mas na verdade, conversámos bastante e mais ainda quando lhe revelei a quantidade de livros dele que já tinha.  E se os não tenho todos  (os de poesia...) é por pura preguiça, por os não ter encontrado a tempo ou por recear repetir títulos. Mesmo assim tenho por quase certo que a faltarem-me, faltar-me-ão poucos. 

Não sei se o conheci via Eduardo Prado Coelho ou através da Maia Manuel (Viana) uma prima muito querida e escritora que também, como os dois já citados, também já não anda por cá.

Obviamente não foram muitos os encontros mesmo se, nos últimos anos no tivéssemos cruzado diversas vezes, quase sempre em livrarias. E recomeçava uma conversa inacabada que finalmente se dá por finda mesmo se, leitor empedernido, eu, volta que não volta, regresse a dos seus livros, às vezes por um poema, um verso  ou porque dando de caras com o livro não resisto a abri-lo.

O jornal afirma que além de ser um autor prolífico teve a sorte (que aliás mais que mereceu) de chamar a atenção de editores estrangeiros que lhe traduziram um par de obras.

Nos últimos anos., o Nuno dirigia a prestigiadíssima revista Colóquio da Gulbenkian claro e da sua actividade de director-editor  só se pode dizer bem. Levava a sério a função, tinha critério, gosto e bom senso  qualidades que nem sempre se encontram reunidas. 

É difícil propor a qualquer leitor uma ou duas obras no meio de tantas porém, talvez seja preferível aconselhar "Obra Poética. ma recolha de todos os seus primeiros livros ou, a Antologia pessoal. Provavelmente muitas das obras sobretudo  as publicadas no século passado, estarão esgotadas.

 

* Obra poética 1972-1985 Quetzal ed 1991 (reunião dos primeiros dez livros de NJ )

**na vinheta duas dúzias de livros de NJ à sombra de um elmo Igbo (Nigéria)

Au bonheur des dames 616

mcr, 17.03.24

ai que frenesi!

mcr, 17-3-24 

 

Desde sexta que ando numa angústia, num frenesi, num repelão, sem conseguir adivinhar o resultado das eleições na Rússia 

.

Quem ganhará? 

Só há um única incerteza: será que naquele país, tão espiritual,  a IIIª Roma, o fantasma de Navalny, n\ao virá perturbar o normal e pacífico desenrolar das eleições. Eleições Livres, acrescente-se. Há mais três candidatos (entre os quais o apresentado pelo partido comunista que já não é um fantasma a afugentar a taiga siberiana diga-se em desabona de Marx e Engels) que num grave exercício de observância democrática já explicaram que não pretendiam ganhar as eleições.

Consta, nas isso deve ser boato, fake new, que ainda se falou em mais quase uma dúzia de pretendentes mas, pelos vistos, aquilo era tudo um bando de traidores, de pacifistas, que foram proibidos de se apresentar pelo governo que, no caso em apreço, apenas se limitou a a representar muitos milhões de russos indignados com essa espécie de agentes do Ocidente, da NATO, da Europa viciosa, enfim dos terroristas ucranianos.

E, em boa verdade, há que ter as máximas cautelas com essa gente. Refibarias russas a muitas centenas de quilómetros ardem atingidas por diabólicos drones, sabe-se que nas ruas dos territórios "libertados" há uma turbamulta de agentes inimigos infiltrados que pretendem impedir o livre exercício da votação. Felizmente os governos dessas regiões regressadas à mãe pátria, entenderam destacar soldados para os postos de voto, enquanto que brigadas de cidadãos "leais e honrados" acompanhados de agentes da polícia percorrem as ruas e vão de casa em casa recomendar aos habitantes mais relapsos (que os há!...) e aos outros o sagrado dever de votar. 

Como estamos muito a ocidente, seguramente que logo à noite, à hora do noticiário, saberemos em que ficou este importante acontecimento  e poderemos responder à angustiante pergunta: será que Putin foi eleito?

Até lá, vai ser um roer de unhas medonho...

au bonheur des dames 615

mcr, 14.03.24

Viva a informação livre! 

Vivam os jornais!

Vivam os os jornalistas!

 

Desde os meus dezoito anos que pago os jornais que leio. Até aos 35 anos procurava perceber nas entrelinhas que a censura não brincava em serviço-

Paralelamente assinava revistas (Seara Nova, Vértice e o tempo e o Modo. A elas juntava "Le Monde", e mais tarde o "Comercio do Funchal" onde, como na Vértice, cheguei a colaborar.)

Depois do 25 A continuei a ler jornais nacionais e estranjeiros e com o fim ou o declínio das revistas acima citadas comecei a ler mais orgãos estranjeiros  (el páis, LÉxpresso, La República ou Charlie Hebdo de que era leitor desde os tempos da sua 1ª versão - Harakiri.

concomitantemente, gastei a mair parte dom nmeu dinheiro enquanto estudante e mais tarde nos primeiros anos de vida profissional em variadas revistas de pendor mais literário e/ou artístico. Delas conservei um bom milharde exemplares mormente números monotemáticos.

A minharotina matinal começa pela compra do Público antes mesmo de tomar o primeiro café.  Sou um leeitor omnívro de imprensa e há um bom número de publicações que sigo desde o primeiro número. 

Ler jornais e revistasé-me tão natural quanto respirar, esteja eu onde estiver.

or isso, hoje, não poderia estar senão com os jornalistas que estão em greve. Se houver "fundo de greve" e aceitarem alguma ajuda, cá estou. Não concebo o mundo sem jornais, radios e televisão. Muitos, variados, sem distinguir diferenças ideológicas desde que assumidamente livres e sem o ferrete da censura interna ou externa.

Os jornais, a imprensa foram sempre a marca distintiva da liberdade e da democracia.

Leiam jornais! comprem o vosso jornal. qualquer jornal. Verificarão que ficam mais ricos, mais capazes de perceber  omundo e de, eventualmente, o melhorar.

 

estes dias que passam 894

mcr, 14.03.24

Querem repetir a velha "estória"?

mcr,14-3-24

 

Em meados dos anos 80, Cavaco Silva chefiava um governo minoritário que era minoritário. Os dois restantes partidos na oposição (PS e PRD, uma emanação tonta do movimento eanista) entenderam apresentar uma moção de censura. Melhor dizendo, foi o PRD (o terceiro partido mais votado)  quem teve essa brilhante ideia. Na altura, o dr Mário Soares era Presidente da República e, fez tudo o que podia para convencer o seu antigo partido a não embarcar  na aventura proposta pelo PRD. O resultado de tão estúpida e imprudente aventura foi oferecer de mão beijada a Cavaco uma maioria absoluta que, de resto, repetiu.

 

Não sei o que é que o futuro próximo nos reserva mas as expectativas que tenho s\ao muito baixas. O PC já avisou que vai apresentar uma moção de censura mesmo antes de haver qualquer Governo, qualquer programa, qualquer orçamento. Ao que se sabe, BE , PAN e Livre estarão  disponíveis para se associar a tal voto. O PS até ao momento não parece entusiasmar-se com a ideia. Lá se lembrará do tremendo desaire dos "gloriosos anos cavaquistas" e pensará que atirar um futuro governo AD para a valeta poderá ter consequências imprevisíveis, incluindo a repetição dessa história.

Em boa verdade, acredito mais na tese de que Montenegro irá esticar a corda até provocar alguma tentativa deste teor do que vir PNS oferecer-lhe um pretexto mais se apresentar como vítima da velhacaria "de Esquerda". 

Quanto ao Chega serve o mesmo raciocínio.  Faço parte dos que pensam que este voto de um milhão e cem mil portugueses é mais uma manifestação de protesto do que algo sólido e pensado. 

No que toca ao PC não consigo perceber a lógica da já anunciada moção, pelo menos antes de sequer se saber concretmente das propostas e das personalidades que a AD vai apresentar.  Não pretendo dar lições a ninguém , muito menos, ao prtido que, neste momento deveria começar a fazer uma longa, demorada, exigente reflexão sobre as causas do seu acentuado declínio em todas as últimas eleições. Nem Beja escapou ao cataclismo! Poderei ter ouvido mal mas pareceu-me que nem o Baleizão o votou maioririamente...

Uma moda alentejana, aprendida na prisão de Caxias rezava assim

Ó Baleizão, Baleizão

ó terra baleizoeira

eu hei de casar contigo

queira o teu pi ou não queira

 

A pequena localidade perdeu mais de metade dos seus habitantes obviamente os mais idosos. Catarina Eugénia já ó é uma estátua no centro da terra. As condições de vida mudaram muito e sobretudo duvida-se que a CDU pudesse provar a quem por ali ficou que outra vida era possível. 

É provável que, para além do chega (que à semelhança de congéneres na Europa vai ocupando paulatinamente territórios que durante dezenas de anos foram da Esquerda) outros partidos pareçam mais sedutores e mais prometedores. Em Lisboa, o Livre teve mais votos que o PC. Não sei se foi caso único mas esta mudança de votos pode significar  algo de profundamente perigoso para os comunistas.

Aliás, recordo-me de nos finais de sessenta do século passado haver quem opinasse que a trágica ocupação de Praga, a prisão de Dubcek e o fim do chamado "socialismo de rosto humano" ou o triunfo do Solidarnosc na Polónia significava o fim da Revolução de Outubro e do Movimento Comunista Mundial. E, de facto, desde esse momento as coisas complicaram-se e de que maneira. Mesmo se hoje há quem ainda refira a China, ou o Vietname, Cuba ou a Coreia,  fácil é e perceber que o "comunismo" há muito que não é nada do que eventualmente se anunciou e prevaleceu desde a fundação do Komintern  até aos tempos da "guerra fria".

A menos que as caricaturas do "pensamento de Xi Jiping"  , da dinastia vermelha da Coreia,  dos actuais dirigentes de um par repúblicas  sul-americanas, posam ser tomadas como algo de progressista e de esperançoso para os respectivos povos. Mas isso é assunto para futuro post se acaso valer a pena

estes dias que passam 893

mcr, 12.03.24

Nenhum voto é inútil

(desde que metido na urna...)

mcr, 12-3-24

 

 

 

Quem, sem ser compelido mas apenas obedecendo ao que considera ser um dever de cidadania, se dispõe a sair e casa num domingo e ir perder algum tempo numa bicha para votar, demonstra bem que dá importância ao seu gesto.

Vote ele o que votar, mesmo se riscar todo o boletim por raiva, desânimo ou estúpida brincadeira, este cidadão (não há outra nem mais nobre palavra para o definir) el quis significar que leva a sério a res publica, e se sente membro de uma comunidade de homens/mulheres livres .

 

Todavia, e desde há muito, entendeu-se usar  a expressão voto útil  para significar que se concentrar os votos (e as vontades) numa solução governativa viável.

Nas últimas eleições AD e PS tentaram (sem qualquer êxito   diga-se de passagem) convencer eleitores de outras formações partidárias a votar não com o coração ou com a íntima convicção, nutra fórmula  aproximada mas capaz de produzir uma sólida hipótese de governo viável.

Ora, e os resultados estão aí, nem o Livre (que subiu fortemente) o BE ou o PAN foram beliscados   e mesmo o PC perdendo votos e mandatos não terá visto todos os seus fieis debandar. 

O PC está desde há muitos anos a sofrer de velhice  acentuada (e nisto acompanha tardiamente os seus congéneres europeus já quase todos falecidos de morte natural) bem como de inadequação aos tempos que correm, a uma errada estratégia bem visível no seu encapotado apoio à Rússia putinista  (onde as ruías do pc local apoiam servilmente o novo autocrata).

O PC sempre viveu de um par de mitos, entre eles o do Alentejo vermelho confundindo aí a fome de terra dos camponeses pores com uma mítica e heróica tradução portuguesa dos kolkhozes soviéticos (que aliás só existiram pela força doa ditadura do proletariado, pseudónimo do poder do partido comunista e do seu aparelho). 

Mesmo quando, por pobre habilidade retórica,  o "proletariado" passou a ser "os trabalhadores" e/ou  "o povo", o partido nunca conseguiu chegar com eficácia à região norte e a boa parte do centro. Claro que conseguiu alguma implantação nas cidades mais importantes, nas  zonas mais industrializadas através duma eficaz rede de sindicatos   que mais nenhuma formação política foi capaz de criar e manter  com a mesma  eficácia

Desta feita,  no capítulo dos mandatos, o "partido" desapareceu do Alentejo  e perdeu a sua posição lisboeta para o Livre!

À direita, a IL manteve-se e cresceu até, enquanto o Chega multiplicou por quatro os seus mandatos e mais que duplicou a sua votação. Mesmo que se atribua este crescimento (ou boa parte dele) à diminuição da abstenção há aqui uma clara negação do voto útil (na AD. claro).

Os eleitores quiseram afirmar o seu desconforto, o seu descontentamento ou a sua raiva, nesta fortíssima manifestação de apoio a um partido que, claramente se declara como de protesto mas de protesto com evidente vontade de entrar na governação.

Isto também provou que a teoria do cordão sanitário não teve eco algum.  coo não teve em França ou em Espanha,

as chamadas às armas do Livre ou do BE caíram em saco roto e não terão sido ouvidas pelo PS. Está, para já, afastada a hipótese longínqua de uma nova geringonça que, aliás, poderia ser morta à nascença sem sequer ser necessário qualquer acordo entre AD e Chega,

Até aquela bizarria que dá por ADN e que  viu os seus votos multiplicados por dez  (uma  segura anomalia que nem sequer pode ser explicada pelo voto "evangélico" como foi  proposto ) poderá vir a defender-se com um miraculoso entendimento de que apenas foi engordada pelo voto útil. Nada indica que tal tenha ocorrido porquanto a propaganda eleitoral do agrupamento  "alternativo e nacional" não poderá ter sido tão forte que tocasse tantos eleitores, Por mim, e na mais generosa hipótese,  a ADN poderia duplicar os seus votos. De todo o modo, quem se pode queixar é a AD propriamente dita que vê assim fugir-lhe três ou quatro deputados se os restantes oitenta mil votos lhe fossem dirigidos. 

 

Em conclusão (provisória): o Chega com todo o horrendo e fétido lastro que arrasta e que se deve a um punhado de fundadores, transformou-se, por força das circunstâncias mais do que por inteligência política do seu líder, num verdadeiro partido de protesto e mobilizou mais de um milhão de portugueses. 

Por muito que dê jeito a um par de criaturas, é impossível crismar esta turbamulta como partido fascista. Provavelmente nem se conseguirá juntar toda aquela gente, eventualmente pouco politizada, num partido conservador radical. 

Este desgraçado país viu  (vê) o SNS em pantanas,a educação sem professores numa crise de falta de pessoal docente que inevitavelmente se vai agravar nos próximos anos, o falhanço dramático da construção de habitação a preços moderados, duma inexistente política de defesa nacional    (faltam soldados, faltam quadros militares intermédios, faltam navios  ou, pelo menos, manutenção adequada dos que ainda navegam, etc.) para, piedosamente, não referir a agricultura, a justiça e as famosas infra-estruturas onde os anúncios se sucedem aos anúncios sem que se consigam perceber os resultados.

Percebe-se, portanto, o voto de raiva de centenas de milhares de cidadãos que, à falta de melhor ou de uma explicação decente, clara e razoável, se viram contra o "sistema" e contra uma AR onde as discussões mais bizarras ocupam o dia a dia dos deputados enquanto se ignoram as preocupações mais correntes dos paisanos.

Não pretendo com isto, ignorar os perigos de uma extrema direita organizada. Já me basta recordar como é que um país civilizado, politizado, com fortíssimos partidos de esquerda e um centro igualmente poderoso se deixou cair no regaço de um cabo austríaco, medíocre pintor  (de "brocha gorda"!) se converteu num Führer enlouquecido, incontrolável, adorado por multidões ululantes que numa dúzia de anos levou um Reich que se pretendia milenar à mais pavorosa derrota deixando pelo caminho um rasto ignominioso de sangue  e terror.

Porém, sempre é bom lembrar que ainda não chegamos a nada de semelhante e que o mau uso da palavra fascismo  se transforma num mantra inerte e sem significado.  Que pelos vistos não assustou os votantes do cavalheiro Ventura.

 

Talvez valha a pena moderar o uso de palavras inúteis e perceber que os votos só são inúteis para quem os pede e não os recebe.

au bonheur des dames 614

mcr, 11.03.24

o milagre dos pães e dos peixes

(versão Portugal, 2024)

mcr, 11-3-24

 

Como boa parte dos leitores também eu fui educado na Igreja Católica e, à conta disso, tive aulas de catequese. Estas eram dadas por um excelente senhora, piedosa e ingénua, que me perdoou muitas gazetas  em que antecipando a saída futura do rebanho eu ia brincar na praia ou na mata de Sotto Maior.  

Em boa verdade, lá aprendi o que havia para aprender desde as pias histórias de Jesus até uma apreciável quantidade de orações  e preceitos indispensáveis a quem solenemente iria fazer a primeira comunhão. Se bem me recordo terei tido 13 valores na catequese, favor que devo à referida senhora que provavelmente seria doente do meu pai.

Um dos milagres que mais me terá impressionado foi aquele em que Jesus conseguiu alimentar quatro ou cinco mil seguidores com cinco pães e dois peixes. (Mateus 8.1-9 )

Não são especialmente bíblicos estes dias que passam, mesmo se o Papa cá tenha estado a abençoar quase um milhão de jovens vindos dos quatro cantos do mundo.  Porém, ontem, dia 10 multiplicaram-se por 9 quase por 10 os votos numa coisa desconhecida que, garbosa mente se auto-baptizou de ADN

Mais concretamente, de 10933  votos em 2022  voou para 100044. Nem o Chega, indiscutível vencedor nestas eleições conseguu proeza semelhante. Nem o LIVRE que quadruplico de mandatos sequer pode pedir meças a esta avalanche, a esta enxurrada, a este tsunami de entusiasmo popular .

A AD durante o dia foi recebendo (alegadamente) queixas de eleitores que se teriam enganado pondo a cruzinha no ADN quando pensavam estar a votar no dr. Montenegro. 

Convenhamos que o estrepitoso caudal de votos numa coisa mais desconhecida o que os buracos negros numa galáxia distante dá que pensar. 

Eu, sempre generoso, poderia aceitar que os desconhecidos méritos do progama deste ajuntamento tivessem feito duplicar a sua freguesia. Digamos que de cerca de 10.000 duplicasse para 20.000 o número de adeptos

sobrariam, entretanto, oitenta mil votos que, no caso da AD poderiam ter proporcionado mais um par de deputados, daqueles que ficaram a um passo de ascender ao augustíssimo Parlamento.

Alguns dos envergonhados eleitores pediam que se transferisse o seu incerto voto para o local desejado mas isso, é obvaimente impossível. 

E foi messes termos que a comissão eleitoral respondeu, afirmando que a AD deveria ter previamente solicitado ao Tribunal Constitucional  uma qualquer medida que evitasse a confusão.

Eu tenho pela comissão nacional de eleições (ou lá como se chama)  escassa simpatia mas percebo que aquilo sempre dará uns cêntimos aos seus esforçados componentes. Não é a única instituição inútil que existe, bem pelo contrário, nem será eventualmente a que menos onerará o erário público. (Devo porém dizer que desconheço de todo  em todo a sua composição e os emolumentos dos seus membros pelo que se porventura a coisa seja pro bono aqui ficam antecipadas desculpas.  e a minha única razão é esta: não acredito em milagres nem mesmo estes incomparáveis com a anterior e já citada explosão de votos).

 

Deixemos o "mistério dos votos no desconhecido" para futuras eventuais oportunidades e passemos a um não milagre absoluto: a imparável ascensão venturoso ajuntamento que dá pelo intratável nome de Chega.

Eu não posso ser acusado de ter citado esta coisa por mais de duas ou três vezes. E sempre para avisar que falando no mal ele vai começando a tomar forma até que aparece em todo o seu horrendo esplendor. 

O pobre dr. Montenegro foi durante largos meses acusado de estar mancomunado com aquele estrepitoso bando.  vê-se, finalmente, e até ao momento, que   não queria tal impetuoso nanorado. Ele bem que clamou tal facto mas, pelos ivstos, também biblicamente, era apenas uma vox clamantis in deserto. Como de costume, este género de vozes nunca é escutado. 

Agora que terá de governar vamos lá ver como é que se consegue mexer entre a tal oposição forte do PS, menos forte dos partidos à esquerda  e a esganiçada algazarra dos colegas de Ventura. 

É verdade que neste omento, a Direita pura e dura está na moda. Na europa, nas Américas, na Rússia nos EUA enfim por todo o lado incluindo Israel a cuja Direita religiosa, laica, estúpida , o Hamas fez um inestimável mas sangrento favor. 

Todavia, por cá, a Direita que sempre por aí rondou  (enquanto uns patetas juravam que a pátria era o mais Esquerda possível...), tinha contra ela a memória ainda fresca das desventuras do Estado Novo. Não punha o pé na rua por falta oportunidade, refugiava-se na abstenção, na Direita da Direita,  e esperava pacientemente pelo seu momento. 

Faltava-lhe um líder carismático, faltavam-lhe os mil e um erros duma governação que exterminava lentamente a classe média que a lumpen-proletarizava. 

O seu momento chegou e verdade seja dita, o homem que diz tudo e o seu contrário, federou os protestos, as desilusões, as antipatias. E foi pelos extremos do leque partidário que o Chega se afirmou. em terras do Alentejo, primeiro depois por todo o lado. 

Nunca precisou de um programa sólido. Bastou-lhe estar contra. contra  o socialismo, contra o sistema contra os Bancos (os bancos!...). Agora vão ter que aguentar mais de três dúzias de energúmenos (ou nem tanto) que mostrarão ao ex-presidente da AR (se este conseguir ser eleito) como é a sua cruzada foi mal conduzida. 

Há quem compare este ajuntamento com o falecido PRD, uma anomalia nascida do duvidoso conúbio de Eanes com umas dezenas de personalidades que se achavam mal percebidos pelo PS ( e também, um pouco, pelo PPD).

Aquilo conseguiu um amontoado de votos que num ápice desperdiçou numa estúpida moção de censura para a qual o PS se deixou molemente arrastar.  A coisa permitiu a Cavaco Silva duas gigantescas maiorias absolutas e ao PS uma diíicil travessia do deserto (outra vez a Bíblia...)  que bem poderia ter ensinado qualquer coisa ao eng. Guterres . (Não ensinou, como se sabe).

O PRD desvaneceu-se em pouco tempo e, pelos vistos, agora, como Marx ensina, reaparece desta vez como farsa, como caricatura violente, perigosa , ajudada pelos "ventos da história".

Eu não sei se Ventura irá irremediavelmente pelo cano , mesmo que o espere ansiosamente. entretanto, algum mal fará, sobretuso se verificarmos que sozinho tem quase o dobro de mandatos de toda a Esquerda que o citou continuamente. 

Há quase cem anos, durante a guerra civil de Espanha, multidões gritavam contra Franco e restante comandita "No pasarán!"  O resultado foi o que se sabe. Passaram sem demasiada dificuldade e mantiveram-se no poder durante décadas. Por cá, umas alminhas inocentes e ignorantes andaram por aí a berrar o mesmo. Mau sinal! 

 

(a CDU, pseudónimo estafado do PC, vai perdendo votos e deputados á medida que os seus militantes vão envelhecendo e morrendo. . O PAN e o BE mantêm a mesma ou quase a mesma votação, Só o LVRE pode cantar vitória ao quadruplicar os mandatos. De pouco vão valer numa assembleia triangular sobretudo porque, ao que parece, não está disponível para quaisquer conversas com a AD mesmo que esta exclua das suas reuniões o Chega. 

Vamos assistir a votações pelo menos esotéricas...

 

estes dias que passam 892

mcr, 08.03.24

de novo , dois anos depois, a 8 de Março

em vez de voltar às costumeiras práticas do dia 8 de Março  resolvi republicar m texto antigo  que nem dois anos tem. E enendi fazer isso depoisde uma campanha eleitoral onde a actualidade internacional esteve esquecida, evaporada, desdenhada. Como se verá não vou ater-me a Gaza, à Cisjordânia (que algum leitor  treslê  ou finge não perceber mas isso é com ele) ou à Ucrânia (idem, aspas, aspas) mas volto pela enésima vez ao Afeganistão. sem me esquecer do Sudão (milhões de deslocados a morrer de fome sem ajuda por via de uma guerra civil infame), dos paíss do Sahel a braços com os costumeiros fanáticos muçulmanos, do Congo que se vê novamente metido numa guerra infindável e atiçada por vizinhos, por seitas e pela corrupção endémica e desenfreada. E de Moçambique que sofre no Norte dos mesmos males como se quisessem provar que aquilo não passa de um Estado inacabado e desgovernado.

Como de costume, quando há guerras civis ou incivis, são as mulheres (e com elas as crianças...) quem mais sofre. Todavia, até parece que sendo elas do 3º, 4º ou 5º mundo  não contam. Por isso aqui vai, de novo  o

 

 

 

Au bonheur des dames 558

 

 

As mulheres são metade do céu*

ou: au malheur des femmes

mcr, 23-12-22

 

A frase é Mao Zedong que, no meu tempo, era Tse Tung. Como de costume este tipo de frases parece querer dizer tudo e acaba por dizer pouco ou mesmo nada. Mao, no que toca à gens feminina, não foi exactamente um exemplo acabado de defensor da igualdade de género para não dizer algo mais expressivo e justo.  

De todo o modo, não é para voltar ao “grande timoneiro” que hoje se está aqui.

Leitor empedernido de jornais apanho, de quando em quando, com artigos de opinião que me fazem fugir a sete pés. Desta feita foi sobre o Afeganistão. Uma colunista vem dizer em letras gordas que a luta das afegãs é um hino à causa feminista.

Não irei dizer que na sua heroica tentativa de resistir à canalha talibã não haja um sentido também feminista mesmo se, ao que tudo indica, a luta das estudantes ora banidas das universidades, seja sobretudo uma luta bem mais ampla por uma coisa que já parece ter caído em descrédito (sobretudo em certos meios muito “progressistas”) a liberdade.

Nos escassos comentários televisivos vi mesmo homens afegãos criticarem a medida e, pelos vistos, há notícia de críticos “desaparecidos”, aprisionados ou meramente espancados.

A talibanagem sabe bem que se porventura a oposição  crescer contra as medidas que dia a dia vão sendo tomadas e que fundamentalmente se reconduzem a repor com todo o seu sinistro rigor o mesmo estado de coisas de há trinta anos. À barbárie, para usar uma simples palavra.

Tenho por mim que o Afeganistão é uma bendita miragem para os molahs e pasdaran do vizinho Irão agora a braços com uma persistente manifestação que já leva uma boa centena de mortos para não falar em duas execuções públicas que são apenas as primeiras de uma série que se anuncia. Aqui, até à data, são os homens os executados mesmo se, pelo menos, uma mulher curda tenha sido a primeira vítima mortal dos excessos de selo dos guardiães da moralidade. No Afeganistão todos guardam a moralidade e todos passam fome de rato exceptuando a minoria armada e educada nas madrassas que governa ou desgoverna o país.

As mulheres afegãs devem ao interlúdio “americano” a tentativa de fim da “burka”, a educação escolar, alguma actividade política e o ensino superior para uma minoria. E devem sobretudo a tentativa de serem consideradas não umas coisas que pertencem ao pai, aos irmãos machos, à família ou ao marido mas uma vaga e incipiente igualdade que durou pouco e que foi sepultada sob os ditames de uma religião que permite interpretações de tal modo aberrantes que não há pachorra para sequer atender ao famoso respeito pelas crenças dos outros.

No Afeganistão não são apenas uns punhados de talibans ignorantes e supersticiosos que impõem uma lei antiquíssima e a exclusão de uma enorme maioria de cidadãos do governo da cidade. E como de costume para melhor mascarar o poder de poucos nada melhor que criar entre homens e mulheres a falsa barreira da supremacia do macho.

De todo o modo, isso só funciona se no leite materno já vier – como vem –a conformidade com as tradições, com os usos, abusos e costumes que se perpetuam.

 O Islão não está só nesta defesa da capitis diminutio feminil. Outras religiões o acompanharam durante séculos e, mesmo hoje, certas seitas cristãs atiram a mulher para o papel de mãe, de escrava doméstica, de coisa negando a metade do género humano os direitos de que a outra metade disfruta. E quando não é a religião, são as tradições, os usos e costumes que, finalmente distinguem dois tipos de mulher, as familiares (mãe, irmã, filha) e as putas que é tudo o resto.

Nem sequer refiro, por desnecessário, as diferenças salariais, as hierarquias na política, no emprego, nos cargos oficiais. Quantas deputadas V conhece? Quantas presidentes de câmara ou de junta de freguesia? Quantas dirigentes de topo de grandes empresas? Ou, mesmo, de médias e pequenas?

E por aí fora...

Em Portugal, e só este ano já vi em dezenas o número de mulheres abatidas por maridos, amantes, namorados e outros filhos da puta do mesmo género. Já nem são notícia. Eu mesmo que durante anos aqui fui protestando contra esta infame realidade já me cansei de referir o tema. Bem sei que um blogue é uma garrafa atirada ao mar com uma carta dentro. Os caprichos das marés e do vento raras vezes as airam para uma praia onde alguém mais curioso recolhe a mensagem, a lê e a difunde. Todavia, a cada um o seu papel. O meu, mesquinho que é, é de traçar estas pobres linhas. A quem me lê poderá, caso queiram, competir o resto.

E entretanto as afegãs são varridas a jactos de água, proibidas de trabalhar em quase tudo, espancadas e o que mais ocorrer a um bando de religiosos fanáticos que só existem porque os toleram. Se os talibãs voltaram a governar foi porque os Estados Unidos se fartaram de ser os únicos a tentar contrariá-los e, por isso, a serem atacados por imperialistas, capitalistas e fascistas. Tudo o resto são desculpas de mau pagador...

 

 

 

estes dias que passam 891

mcr, 07.03.24

Singularidades do tempo que passa

mcr,  6-3-24

 

 

Um leitor entendeu exprobar o facto de eu não comentar o candidato Ventura e, menos ainda, o seu ajuntamento partidário.

Em primeiro lugar nada me obriga, enquanto simples particular que tem um blog, a seguir quaisquer regras de paridade a que a comunicação social está sujeita. 

Depois duvido que "aquilo" seja um líder e um partido político. A criatura Ventura é uma espécie pouco interessante de catavento e já disse quase tudo e o seu contrário sempre com ar de grande convicção. 

Devo dizer que até da convicção eu duvido, quanto ao ajuntamento a coisa parece um amontoado de rezinguices, más vontades, falta de humor e menos ainda de espírito democrático, enfim um amontoado dos restos díspares e órfãos de um mundo português  que desapareceu depois de ter existido à sombra das agruras do sec. XX. Em 1910 já estávamos atrasados, em 26, o mesmo, e o Estado Novo era uma manta de retalhos que metiam desde o integralismo lusitano mal digerido até às caricaturas  pundonorosas  e bacocamente beatas do fascismo italiano. 

Em resumo, não vale a pena gastar cera com tão ruim defunto. Mesmo que o "partido" alcance uma votação expressiva isso só se deve ao analfabetismo político, social e ético que grassa por aí. 

Mudando de tema e, apesar de tudo, passando a gente mais civilizada, eis que o dr Rui Tavares, líder do "LIVRE", historiador de formação  (o que o torna mais responsável em relação a certos temas) entendeu  trazer à  pouco animada campanha o tema da "restituição de obras de arte" aos antigos colonizados portugueses.

Trata-se de algo que, de há muito me interessa  (ou melhor o que me interessa é a Àfrica, a História da Colonização e na generalidade tudo o que toca naquilo que, para abreviar, chamo de culturas africanas-

Passei três anos em Moçambique durante o segundo ciclo liceal, voltei lá em férias por três vezes, participei em vários movimentos anticoloniais no tempo em que isso tinha um forte significado de risco.

Com o passar dos anos constituí uma significativa biblioteca sobre tudo o que diz respeito à África negra e às culturas africanas.

Não vou, agora, referir algum (mas valioso) contributo português para o conhecimento das nossas ex-colónias , a começar pela publicação de dicionários das línguas vernáculas e pela descrição geográfica daquelas terras. A história de Angola Moçambique e Guiné é feita (mesmo que nalguns casos precariamente) pela gigantesca massa de estudos e publicações portuguesas em livros, revistas (e são numerosas) e demais fontes escritas. 

Ora, no que toca ao esbulho, roubo, desvio, de obras de arte, coisas que ocorreram sobretudo no caso de conquista de proto-estados africanos importantes , houve efectivamente um miserável confisco de peças que povoam vários museus europeus. Em poucos casos, houve mesmo governos e museus que lá devolveram algumas peças mesmo se seja agora muito difícil encontrar um nexo entre os reinos e "impérios" desaparecidos e os actuais Estados  cujas fronteiras não equivalem de modo algum a essas organizações políticas. 

No caso português, para além da relativa pobreza dos nossos museus (e aí incluo o da Sociedade de Geografia de Lisboa) as tropas coloniais que procederam à tardia ocupação dos espaços angolanos e moçambicanos, raras vezes se defrontaram com a possibilidade de saquear quaisquer tesouros  artísticos africanos. 

As duas etnias mais conhecidas do antigo império colonial são respectivamente a Tchokué (Kiokos) em Angola e a Makonde do norte de Moçambique. No reduzidíssimo mercado de arte africana existente em Portugal aparecem raras peças  destas origens e boa parte delas são de factura recente. 

No caso do povo Tchokué  o seu conhecimento inicia-se com a famosa expedição de Henrique de Carvalho (de que resultou uma obra prima em oito espessos e excelentes volumes: "Expedição Portuguesa ao Muatiânvua" (Imprensa Nacional, Lisboa 1884-1894) que não só narra a longa viajem mas sobretudo fornece um dicionário, um ensaio sobre as etnias da Lunda, bem como mais dois volumes carregados de informação geográfica, geológica , agrícola e tudo o mais que HC conseguiu estudar. Mais tarde, foi a Diamang que, entendeu fundar um museu (museu do Dundo) e fomentar extensos estudos  sobre as populações, a arte, a história da região. 

Sobre os Makondes (zona de Cabo Delgado, norte de Moçambique Excluindo a monumental obra de Jorge Dias, "Os Macondes de Moçambique, 4 tomos,(Junta de Investigações do Ultramar, Lisboa, 1964-1970)  são muito poucos os estudos conhecidos. Da sua estatuária também não gá demasiados exemplos e a partir doa anos 50 os artesãos macondes dedicaram à lucrativa (') fabricação de "aldeias índígenas", nossas Senhoras, peças de xadrez encomendadas pela ignorante população branca. os "mnipansos" (era o nome dado a outras peças escultóricas e as máscaras "mapiko" eram desdenhadas excepto por um pequeníssimo grupo de curiosos mais cultos que compravam p que de mais original aparecia e que era muito pouco justamente porque o mercado das encomendas parecia mais lucrativo.

 

Não há notícia de peças de grane valor "apropriadas" por colonos ou militares. Não há bronzes, marfins, esculturas cerimoniais de aparato. 

 

A cobiça colonial nunca se desviou para a arte pela razão simples que era rara e não entendida. 

Também não consta que haja por cá em colecções públicas ou privadas  pelas de especial valor e traficadas desde os grandes centros  comercio europeus. 

 

esta proposta do "LIVRE" parece-me portanto uma espadeirada na água, uma imitação do que se passa nos grandes centros de arte negra (Berlin, Bruxelas, Londres ou Paris). 

De resto, e que se saiba, só Tavares pegou neste tema "importado" e que, por cá, pouca ou nenhuma mossa faz.

 

Voltando à campanha e respondendo a uma pergunta sobre o "voto útil" sempre direi que se trata de uma tentativa lógica dos dois grandes partidos mesmo que, de certo modo, tal voto seja também um voto trapalhão pois acaba por resumir a campanha iniciada sobre a personalização dos candidatos cabeça de lista noutra em que até pareceria possível encontrar um regresso à ideologia pura e dura. Tal ziguezaguear acaba por produzir alguma confusão e fazer ressaltar muita pobreza ideológica bem patente na listagem das opções atiradas ao eleitorado. Mas isso é mal antigo e disfarça alguma impreparação política como daqui a pouco se verá logo que algum Governo se afirme. 

 

   

 

estes dias que passam 890

mcr, 04.03.24

Já só faltam mais cinco dias...

mcr, 4-3-24

 

Dentro de cinco dias deixaremos de ser atordoados por uma campanha que tem sido chatíssima e, pior, passa ao lado de um par de preocupações como seja a questão da guerra nas fronteiras da Europa.

Claro que com isto, esta directa referência ao nosso continente não quero deixar de sublinhar que Gaza ou a guerra civil no Sudão, para não falar nas arremetidas do terrorismo islâmico no Sahel e no norte de Moçambique, são temas prementes que poderiam, deveriam, suscitar alguma reflexão.

Todavia, estamos sobretudo metidos numa discussão de mercearia , sujeitos a uma revoada de sondagens (todas muito boas, muito certeiras, como é costume), a que se junta o comentariado habitual desta feita reforçado pois a coisa merece reforço. 

Permito-me intervir nessa opaca loquacidade partidária graças a duas peças noticiosas que correram na televisão e que me deixam abismado.

 

O líderdo PD foi ao distrito e Beja e apontou um dedo acusador à inacaba autoestrada até BEja. Lá vimos, outro vez um viaduto a meio acabar- Pelos vistos foi o governo de Passos Coelho que, mais teso do que um carapau anémico, deisistiu de continuar a obra para a qual não tinha dinheiro. 

O líder do PC apontou o mamarracho e atirou a coisa às caras do PS e do PPD.  Esqueceu-se o referido senhor de informar que nestes últimos oito anos o PC aindou metade deles mão na mão com o dr Costa e não há recordação de que tenha nessa altura em que era grande a sua  influência,  tentado a sério pressionar pela conclusão da obra.

A segunda cavadela que quero referir é mais uma notícia sobre a martirizada linha do Oeste  que mais uma vez vai ver interrompida a sua mini circulação graças a um obra num túnel que tem de ser rebaixado por via da futura catenária. 

A linha do Oeste (Figueira da Foz - Lisboa passando por toda a orla oeste, pejada de praias, cidades (Leiria, ou Caldas) por zonas industriais importantes e fundamental não só para a circulação de pessoas mas , e muito, para o turismo tal o número de zonas turísticas envolvido. 

Quando oiço a criatura Pedro Nuno falar de ferrovia, a senhora do pAN a repetir o mantra de ligar todas capitais de distrito, até me dá um sufoco. 

Esta gente pensa que somos um bando de tontinhos desmemoriados? 

Anunciam-se (mas isso é já uma velha história) investimentos brutais mas depois nem as linhas existentes, herdadas da Monarquia, conseguem servir... A barulheira que se fez com uma obra na zona da covilhã (seguramente útil mas servindo uma população dez vezes menor do que a da região Oeste) mostra bem ao que os políticos andam. A ferrovia é apenas instrumental e dela só se lembram, fazedores e não fazedoras, em épocas eleitorais . Ou nem isso...

Note-se que eu peguei em dois exemplos "baratos" de resolução razoavelmente simples,  úteis seja por que critério queiram. 

Quando, acima, me referi às "arruadas" na generalidades tristonhas salvo as dois grandes partidos, não quero de modo algum proibi-as mas apenas comentar que boa parte dessa "comunicação" de alta gritaria com o povo foi substituída por almoços ou jantares com pequenos grupos de apoiantes. Lá vai a televisão subservientemente ouvir a frase bombástica do dia. Noutros casos as arrudas metem dó sobretudo as do PAN e do LIVRE. Neste último caso  nem de arruada se trata pois ainda não vi sequer um pequeno grupo mas apenas Rui Tavares a debitar as suas larachas e a garantir que vai duplicar, triplicar os seus deputados. É á com ele e com as suas contas mas no que toca a povo acompanhante, nicles. 

No comentariado, a senora do costume, veio hoje afirmar na sua página de jornal que "os barões da AD são retrógrados e machistas". Bastou-me o título para poupar uma leitura desnecessária. quanto a machismo partidário é só ver a composição da AR, as composição das Direcções centrais dos partidos. Depois temos que  na AD como nos restantes partidos há de tudo  como na botica . Aliás, curiosamente, as questões de género ó aparecem, quando aparecem, em cituações deste tipo. Depois de declarações altissonantes, o barulho desaparece e tudo volta aos seus habituais e plácids termos.

claro que aquela criatura Núncio, ou outra idênticas e de todos os restantes partidos cheiram a naftalina de má qualidade e vem chatear o indígena com temas que nem estõ no programa partidário nem sequer suscitam grane celeuma na sociedade. Porém, o pressentimento da eventual derrota excita a pituitária propagandística da comentadora e ei-la que parte contra os seus especiais moinhos de vento. Falta-lhe, no entanto ,a verve, o humor, o estilo  e o génio de Cervantes (nem mesmo o de Avelaneda o falsário da  falsa 2ª parte da obra )

De resto, o que parece mais eficaz  como desesperada campanha de último recurso é atacar o partido que ameaça o predomínio do PS, deste PS pedronunista. 

Nada disto faz especial mossa no arraial montado. Sosseguemos: é aguentar só mais cinco dias. (mesmo se depois se preveja uma larga semana de comentários sobre os resultados. De todo o modo, estamos na quaresma  e isso talvez nos permita apresentarmo-nos ao juízo final com vários pecados perdoados) 

estes dias que passam 889

mcr, 29.02.24

"Climatéricos!"

mcr, 29-2-24

 

Ontem, um tresloucado (perdão, um imbecil que não percebe o mal que faz à própria causa) entendeu dar um banho de tinta verde ao candidato da AD.

Ignoro se Montenegro é um adepto da destruição do planeta pela via do uso de combustíveis fósseis ou de derramamento de plásticos no mar ou outros atentados contra a natureza.

De resto, Portugal nem é dos piores exemplos de pais com más práticas ambientais. Como, aliás, a Europa...

Todavia, há neste desgraçado país, o triste hábito de macaquear tudo o que ocorre noutra geografias. Ninguém se lembra, porém, de que estamos, portugueses e europeus, sujeitos ás indústrias da China, da Índia da Rússia, para não falar na África ou de zonas deprimidas da América do Sul.

Portanto, depois dos episódios de ministros (o último foi Medina) e estúpidas manifestações na via pública, uma das quais poderia ter  acabado muito mal para a dúzia e meia de climatéricos a impedir o transito e que não só não convenceram os automobilistas mas foram sovados enquanto a polícia não chegou, eis que a campanha eleitoral foi visitada por um comando esparvoado. 

Por muito que se queira tirar significado político à coisa, a verdade é que foi o candidato da Direita quem pagou as favas.

note-se que eu escrevi candidato da Direta e nãoda extrema direita que com esse este rapazio cretino mas cauteloso não se mete. É que a hoste cheguista poderia querer fazer o gosto ao dedo e o borrifador de tinta poderia sair do confronto em bastante mau estado. 

Este incidente foi, ainda por cima, tratao pelo atingido, com inteligência e humor pelo que, a todos os títulos deu mais uma oportunidade à AD de ser o centro das atenções e dos noticiários. 

Por outras palavras os palerminhas erraram em todos os campos, irritaram o país, fizeram mal à causa e como houve queixa do atingido ainda alguém vai ser julgado e punido. 

alguém poderia vir dizer que este triste capítulo é obra da generosidade juvenil. Errado:  juventude nãõ deve nunca confundir-se com jumentude e no caso desta rapaziada que anda pela universidade exigia-se alguma inteligência política e uma avaliação do efeito das suas acções dentro do corpus académico e da população em geral.

Erraram a mensagem, o alvo e a opinião pública, incluindo nesta a grande massa estudantil.

Mai do que o delito espera-se que o castigo seja sobretudo o da estupidez imensa  desta gloriosa acção.

Apenas, para terminar, uma pergunta: este delinquente juvenil usa telemóvel (e lembramos a luta das comunidades aldeãs contra as minas de lítio)? Usa "ténis" cujo fabrico é um tentado ao ambiente? Os jeans que traria vem da China ou pior de algum paupérrimo país onde a mão de obra é barata, maltratada e vive sobre a permanente ameaça da poluição atmosférica?

As multas eventuais serão pagas pelos meninos pintores ou pelos papás embevecidos com a proeza heróica dos seus pimpolhos?