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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

estes dias que passam 854

d'oliveira, 07.11.23

Primeiras impressões de um jurista há muito (felizmente) retirado das lides

mcr, 7-11-23

 

Espero um par de coisas desta situação. Primeiro que  ao comunicar que o 1º Ministro vai ser alvo de um  processo crime, isto se baseie em factos concretos e significativos. A não ser assim estaríamos perante algo temível ou seja no assassínio político de governante. É que a opinião pública hoje mesmo já condenou António costa. Imagine-se que, depois dito e ao fim de dias, semanas, meses (ou anos) se verifica que a bolha rebenta por si sem provar que há crime. 

Depois, quero relembrar que se o estatuto de arguido não é prova de culpa mas é um aviso forte de que algo está mal. 

Finalmente, a existência de detidos não pode ser desconsiderada. A detenção (pelo menos espero-o) já traz uma carga muito forte.

De todo o modo, como espero ter mais e melhores informações num futuro muito próximo de modo a poder fazer um juízo claro, vou deixar para essa altura a formulação de um opinião.

O facto de não apreciar especialmente António costa exige-me calma, prudência e muita informação.

Sei que, em relação a outros personagens,  já foi aventada a hipótese de os negócios do lítio e do hidrogénio verde que significam somam fabulosas. 

Não sei se é  verdade a afirmação de que as futuras fontes de energia estejam já a significar um custo extraordinariamente superior aos custos da Central do Pego. De todo o modo, nem sequer sei se o que ouvi na televisão é verdade mesmo se os detidos sejam pessoas "alegadamente" ligadas a estes assuntos.

Todavia também não simpatizo com os srs. Galamba e Lacerda Machado pelo que sobre eles seguirei a mesma regra acima enunciada. 

Vejo com preocupação vários comentadores virem ameaçar os principais órgãos de justiça sobre a eventual inanidade das suspeitas levantadas. 

E devo, de todo o modo, esperar fervorosamente que, desta vez, o MP tenha tomado as necessárias cautelas ao largar esta verdadeira bomba num comunicado. vai nisso a sua responsabilidade e o seu prestígio. Isto não é, nem muito menos se pode transformar, uma república bananeira mesmo se, por vezes, seja legítima a suspeita.  

estes dias que passam 853

d'oliveira, 06.11.23

De médico e de louco...

mcr, 6-11-23

 

"... todos têm um pouco!"

Venho de uma tribo onde médicos & aparentados são quase habituais. O meu trisavô era médico, o meu pai idem, o meu irmão felizmente vivo também, enquanto o meu bisavô foi farmacêutico.  E a minha excelente cunhada é enfermeira e professora a respectiva faculdade. Ainda há um prima, leitora furiosa e inteligente que está prestes a acabar um curso para médico. Uma sobrinha fez também outro curso paramédico em Inglaterra mas agora dedica-se à informática, às danças de salão,  a jogos de sociedade e pertence com grande energia e entusiasmo, à comissão de moradores do seu bairro em Sheffield.

costumo, por brincadeira, dizer que eu mesmo fui provado na cadeira de Medicina Legal que in illo tempore,  fazia parte do curso de Direito. Infelizmente naí só se estudavam as causas de morte, os sinais respectivos  mas  obrigavam a rapaziada a ver umas quantas autópsias (sobre este último aspecto devo dizer que os mortos mesmo a ser retalhados não me impressionavam mas o cheiro era medonho. Havia colegas, machos, que quase desmaiavam enquanto as escassas raparigas se amontoavam na primeira fila para não perder pitada. E ainda dizem que as mulheres são sensíveis. Nada! nem o cheiro nem as vísceras a aparecer nem as eventuais causas de morte violenta as afastava do primeiro posto de observação. aquilo poderia não ser coragem mas a curiosidade feminina era total)

Todavia, não venho aqui desfraldar saudades desses anos de menino e moço levado "de casa de seus pais para longes terras" mas apenas afirmar que, como reza o provérbio, também eu tenho o direito de propor solução para o problema de Gaza ou, pelo menos de discorrer sobre ele.

qualquer leitor de boa fé e capaz de folhear um atlas sabe que a chamada "faixa de Gaza" está a quase cem quilómetros das restantes terras palestinianas se é que, agora, dada a voracidade criminosa de colonos exaltados e fanáticos, ainda faz sentido falar de terra palestiniana.

Como se sabe, na altura da divisão daquele território era confusa e pouco inteligente a distribuição das terras da região. Porém, antes mesmo de se tentar resolver isso, ocorreu a 1ª guerra israelo-árabe  resultante (como tenho visto que se não sabe) de uma invasão de exércitos coligados dos países árabes da região.  Tal invasão produziu centenas de milhares de refugiados, escorraçados dos campos de batalha por todos os contendores. São os antepassados dos actuais habitantes dos campos situados em gaza, no Líbano, nos antigos territórios da Trans-Jordânia e na Síria.

(os leitores repararão no facto extraordinário de mais nenhum país árabe ter recebido fugitivos o que mostra bem como é que a fraternidade e a solidariedade funcionam em todo o Médio Oriente.) 

Já aqui fiz um brevíssimo resumo das guerras que se sucederam à de 1948 e dos resultados continuamente favoráveis a Israel que, de conflito para conflito, foi aumentando o seu território. Não vou insistir no tema pois ele é facilmente visível nos texto que desde 7 de Outubro tenho dedicado à questão. 

A verdade é que neste momento nos defrontamos com duas situações completamente distintas. Gaza, de onde Israel saiu há quase vinte anos, está a ser invadida na tentativa de eliminar definitivamente o bando criminoso que a governa. Os restantes territórios onde a Autoridade Palestiniana exerce uma mais que débil  governação estão mergulhados numa situação de violência e esbulho por parte de um bando de colonos fanáticos e protegidos pelo exército israelita.  Os morto sempre palestinianos já ultrapassaram a centena, o roubo de terras, as ameaças constantes fazem parte do mesmo trágico quotidiano que raras vezes é referido.   Ou seja, o Al Fatah, ou o que resta dele, é tratado com displicência, para não dizer com menosprezo.  Cada vez se reúnem mais condições para ali também florescer um terrorismo radical. ainda por cima com o Hezbolah tão perto...

Foi nisto que o Sr. Presidente da República  não reparou quando numa conversa, que ultrapassa em disparate tudo o que a cortesia diplomática recomenda, veio dizer que era a gente do seu interlocutor quem daquela vez começara. O mais que surpreendido diplomata terá tentado murmurar que estavam a ser ocupados mas ou não foi ouvido ou não foi percebido. O palestiniano não se referia a Gaza mas à presente situação dquele dia que começara com o assassínio de um árabe por um colono e com a retirada aterrorizada de uma inteira aldeia a quem a soldadesca ocupante "aconselhara" a partir. 

Desta vez, mais uma, de resto, senti-me envergonhado enquanto português, enquanto cidadão, enquanto europeu e finalmente enquanto democrata. 

dito isto começo a pensar que esta é uma "batalha duvidosa, incerta mais desesperada da que Steinbeck alguma vez foi capaz de imaginar.

Gaza, tal como é, não parece viável a menos que o ocupante venha de Singapura e seja extraordinariamente generoso ou melhor tão generoso quanto eficiente.

tal como é Gaza é um abcesso gangrenado, um campo de refugiados com setenta anos em que 90% dos habitantes sobrevivem de ajudas internacionais (e isso, convenhamos não é culpa de Israel...)

A falta de comunicação deste território com os que resta do futuro Estado palestiniano é  um problema quase irresolúvel. Ouvi, recentemente, propostas abstrusas, desde a existência de uma ponte (de quase 100 km) até uma autoestrada com túneis e viadutos igualmente difícil e atravessando território israelita!!!! 

Claro que se poderia pensar numa troca de territórios mas Israel não cede terreno bem pelo contrário e de todo o modo trocar os recentes colonatos fde fanáticos extremistas pela faixa não parece negócio para ninguém sobretudo quando a boa fé (se e que existe) não abunda .

entregar a gestão da faixa a uma autoridade internacional também parece algo de (digamos sem ironia) complicado. Os ocidentais não são bem-vindos mesmo quando são eles a pagar a maior parte da factura. Os "irmãos" muçulmanos já mostraram de que modo interpretam a fraternidade e a solidariedade. sobre isso já aqui escrevi um texto chamado "ninguém os quer" onde retrato os palestinianos como uma espécie de judeus miseráveis que ninguém convida para sua casa. 

A solução dos dois Estados gizada por dois estadistas com a arbitragem de um terceiro, está morta ainda que ninguém tenha passado a respectivva certidão de óbito.

Esta campanha, mesmo que termine em breve, e com a liquidação do Hamas, deixará um rasto de destroços inimagináveis, ódios velhos mas renovados, e um abismo de desesperança para os vencidos, para os deslocados  bem maior daquele que já existia e que as Nações Unidas, os Médicos sem fronteiras, e umas dezenas de ONG tentavam em vão minorar. Demasiados anos de "assistencialismo" ... para usar a palavra mais branda que  entendi escrever. 

A Palestina está como o Líbano, transformada num não Estado, num Estado falhado, pasto de todos os fanatismos, das ideologias mais torpes, arma de arremesso de minorias (também ocidentais) que uivam por um mundo novo e asséptico mas que se estão nas tintas para os "feios, porcos e maus" que neste caso, à falta de proletários, de racializados ou de colonizados, são árabes.

Que um dos comparsas desta grave epidemia social, humanitária e política seja um Estado que se afirmou como o último refúgio dos perseguidos, socialista e laico, escapado de um holocausto indescritível e cuja liderança política, graças à infâmia do Hamas, tenha escapado (espera-se que por pouco tempo)  à punição dos eleitores e dos manifestantes democratas, acabe agora por, apesar de tudo, ser beneficiado, é algo que ao longo de uma vida de muitas décadas ainda consegue surpreender-me.

Que a esmagadora maioria dos meus concidadãos prefira tomar partido  sem procurar saber o que se passou neste inteiro século que se seguiu à infeliz, estúpida, colonialista e imperialista, declaração Balfour (1917) já me não surpreende. Bastou-me ver, pela televisão, a manifestação diante do palácio de Belém e o diálogo de surdos entre um Presidente  que não se contém e uns manifestantes ignorantes  e cheios de certezas pueris. 

Também aí, ninguém ficou bem na fotografia, raio de triste sina a dos portugueses... 

quando comecei por citar um provérbio muito nosso não me vesti de médico mas tão só de louco porquanto ó um louco comprovadamente louco pode imaginar uma saída para o conflito a que assistimos sentados no sofá. E uma das loucuras consistia justamente na troca de territórios, na desocupação e eliminação dos colonatos.  E claro, tudo isto sob a égide de um renovado Governo democrático de Israel sem a padralhada fanática e ultra-religiosa nem adeptos do "grande Israel" que relembra sombriamente os sonhos alucinados dos que tentaram eliminar os judeus da Terra. 

A História quando usa a  ironia, usa-a de modo trágico.  

E torpe! E riste...

Vai o folhetim para Francisco Bélard, agradecendo as palavras amigas e demasiado generosas sobre os meus últimos posts. 

estes dias que passam 851

d'oliveira, 02.11.23

Carta a uma leitora 

(ou tentando recentrar o cronista)

 

mcr, 2-11-23

 

Começo por agradecer à leitora I.A.G. o favor de me ler e de querer conversar comigo. E agradecer  ainda o facto de lá por termos opiniões diferentes não me atirar para o inferno de qualquer ismo mais animoso e apressado.

Diz a leitora que fez uma "pesquisa aturada" nos meus textos e descobriu mais de uma dúzia de textos em que eu condenava duramente Israel pelo que agora se sente "estupefacta pela minha acirrada defesa" do mesmo Estado.

Depois, sempre na mesma amável, educada mas clara oposição a outro escrito, lamenta que citando Brecht eu menospreze os operários ao intitular-me "leitor que não é operário" como que dizendo que a opinião dos primeiros não mereceria reparo por  serem ignorantes da História e da Filosofia políticas. O mesmo seria dizer que a opinião de um leitor que não é operário traduz uma critica à Esquerda e aos operários que nela se reveem.

 

Comecemos pelo que "justamente" (sic) escrevi  na tal dúzia de textos publicados neste blog onde "desancava" (sic) o Estado hebraico.

Não recordo todos mas é verdade que, sobretudo quanto à Cisjordânia, sempre fui contra a implantação de colonatos. Considero que, em rigorosa obediência à eventual e futura existência normal de dois Estados, tal ocupação de territórios, seja a que título for, é uma claríssima ilegalidade, um acto de força e uma recusa a qualquer hipótese de paz na região. Ponto final, parágrafo. Mais: sempre compreendi e apoiei as manifestações pacíficas dos palestinianos, sempre condenei a repressão violenta delas e a atitude de soberba e provocação dos colonos invasores. 

Devo porém, acrescentar que isto, esta violação da integridade dos territórios que nunca foram de Israel, não justifica de nenhum modo actuações terroristas de fanáticos do Hezbolah, do Hamas ou de qualquer outro grupelho do mesmo teor. De resto, tais acções conseguem apenas originar um aumento exponencial do nível de resposta, perigo de morte para as populações civis e, até, claras tentativas de expansão dos territórios de Israel.  

quando se condena o terrorismo cego também se condenam acçoes de um Estado que se reclamando  de democrático se permite tratar antidemocraticamente outras populações.  

Ao permitir a existência de colonatos na Cisjordânia , Israel está a actuar contra todas as leis internacionais e a brutalidade com que castiga quem se opõe não é inferior à dos nazis que "em busca de espaço vital" e em nome da arianismo inexistente e estúpido chacinou judeus, ciganos, mulatos alemães e outro povos considerados inferiores. 

E se junto à imensa maioria das vitimas judaicas, outras etnias é porque a intenção dos criminosos nazis foi exactamente a mesma: extermínio total (ou escravização dos "povos inferiores, traduza-se eslavos e vizinhos). Genocídio!

Agora, e é ai que começamos a divergir não se pode falar em genocídio pelo menos no do povo de Gaza. não há nem nas palavras nem nas acções militares a ideia de exterminar palestinianos mesmo se os efeitos "colaterais" da campanha contra as bases do Hamas se traduza em centenas de mortos por dia. Conviria, porém, estabelecer, desde já, que o grupo terrorista, deliberadamente se esconde no meio das populações civis, escondendo as suas estruturas debaixo de casas de habitação, mesquitas, repartições públicas, escolas, hospitais. E que ao utilizar quinhentos quilómetros de túneis (o famoso Metro ) onde guarda armas, munições, foguetes, combustível - que falta em cima-, alimentos, idem, água, idem. põe em gravíssimo perigo todos quantos estão em cima dessa rede. Ainda ontem, uma explosão num depósito subterrâneo de munições terá origina a implosão de vários prédios densamente habitados.  

E bom seria que, se considerasse a declaração recentíssima de um dos mais importantes membros da direcção política do Hamas qe mais uma vez reiterou que a finalidade da guerra deste contra Israel é "eliminar totalmente os judeus e o seu Estado". Assim, sem meias palavras! Isto poderia e deveria ser  tratado como ameaça de genocídio mesmo se da ameaça à realidade vá um passo que o Hamas não tem capacidade actual de dar. 

Estas simples razões obrigaram-me a fazer um pouco da história dos últimos 75 anos e a relembrar quem se esqueceu, ou nunca soube, que Israel não governou sempre Gaza, situação em que estiveram durante muitos anos os egípcios (governo militar) a OLP e nos últimos 12 anos o Hamas que eliminou numa sangrenta guerra civil as forças da Autoridade palestiniana,

E voltar a recordar que depois da saída de Gaza há quase vinte anos os palestinianos (cerca de 25.000 trabalhavam em Israel, passando diariamente a fronteira ora fechada.

É verdade que as dissidências internas e constantes dos palestinianos aproveitaram, e de que maneira!, a Israel, mas não menos verdade é que tal facto abrandou a vigilância e se traduziu no massacre do dia 7. Massacre esse que toda a gente sem excepção percebeu que iria ter uma resposta violentíssima.

Vir agora dizer que o fecho da fronteira impediu a chegada de água,  eletricidade,  combustíveis, medicamentos, alimentos atinge as raias da tolice quando se sabe que há uma fronteira com o Egipto que logo foi fechada a sete chaves. Até a Internet vem de Israel! 

Ao fim de 24 dias, tal fronteira foi entreaberta para permitir a saída de centenas de cidadãos com passaporte estrangeiro e  o internamento de algumas dezenas de feridos num hospital de campanha egípcio. 

esta é a realidade do momento. Acresce que desde sempre os "países irmãos" se recusaram a receber palestinianos refugiados que a duras penas encontraram campos miseráveis no Líbano e nas antigas terras jordanas. Onde, de resto, e por várias vezes, foram massacrados por milícias libanesas e jordanas... 

Os protestos dos "irmãos" muçulmanos em todo o mundo é tão risível quanto os de uma curiosa extrema esquerda europeia e americana que parece aplaudir as monstruosidades cometidas, as ameaças iranianas (país que decerto consideram democrático e progressista malgrado a feroz ditadura teocrática e a perseguição constante a mulheres. É esta reduzida mas activa e estridente "esquerda" que dá força elegitimidade ao Hamas ao mesmo tempo que dá rédea solta a um anti-semitismo que sempre existiu nos países "socialistas" desde a Polónia à URSS onde a famosa conspiração dos médicos judeus se saldou em mortes de inocentes. Não admira que os Abramovitdhs tentem encontrar um passaporte português mesmo se o perigo que eventualmente os espreita seja bem outro.

(e aproveito para lembrar que aqui e por duas vezes também já se criticou a venda ao desbarato de passaportes a pretensos sefarditas bem como a lei estúpida e sem prazo que o permitiu e permite. Alguém está a ganhar dinheiro com isso... )  

Portanto do mesmo modo que condenei (a tal dúzia de vezes) Israel , agora condeno sem receio o ataque terrorista e continuo a afirmar que as consequências disso estavam bem claras na mente dos assassinos, na consciência de quem neles vota ou votou e nas criaturas que quase sem se referirem aos 1500 mortos, asd 224 raptados, agora enrouquece de piedade pelos desastres de uma guerra que não surge de nenhum vácuo. 

 

No que toca a uma eventual falta de respeito pelos operários leitores nego que de algum modo o sinta. Apenas lembro que os chamados partidos "operários" sempre se deram lideres que de operário nada tinham. Não vou referir Marx ou Engels, demasiado longínquos mas vindos da burguesia ilustrada da época. Nem dos mais famosos dirigentes da 1ª e 2ª internacionais que, porém, não insistiam tão fortemente na origem dos seus políticos e dirigentes. Basta-me citar Lenin que provavelmente nunca viu uma fábrica, menis ainda manejou uma ferramenta diferente da caneta nem viveu de um salário de fome, suor e cansaço. Ou o dr Álvaro Cunhal para voltar a Portugal E não vale a pena falarem-me de operários que chegaram às direcções de partidos comunistas porque, mesmo se de origem o fossem, cedo a vida partidária os retirou desse mundo e os converteu em aparatchiks partidários, em "funcionários" políticos que viveram quase toda a sua vida de adultos longe da fábrica, da oficina ou de qualquer outro local de produção. 

Tão pouco dou crédito à teoria atribuída a Gramsci (que de operário nada tinha) que distinguia a origem de classe, da situação de classe e ambas da posição de classe. como construção intelectual é sugestiva mas  não passa disso. Por cá, e para não ir mais longe, basta espreitar a nossa alegada esquerda para encontrarmos uma imensidade de  criaturas oriundas da burguesia que se descobriram uma "posição de classe" da qual ignoram tudo e sobretudo as vicissitudes porque passa quem tem a desgraçada sina de ser "operário", de vir do "proletariado", sos bairros populares e mais pobres, dos lares onde os livros ou são raros ou não existem, dos meses longos para salários curtos. 

Fui durante alguns anos advogado de sindicatos e lembro-me bem do que os meus constituintes contavam da vida da fábrica e dos locais onde tinham de viver. Em pequeno,  vivi numa terra de pescadores, fui à escola com os filhos deles  e sei bem o que era viver imerso na pobreza, à mercê dos humores do mar, dos frios da Terra Nova onde os lugres bacalhoeiros permaneciam meses na faina do bacalhau. Na solidão do pescador que, dentro de um pequeno dóri pescava o peixe à linha, no meio do frio e do nevoeiro tendo por única orientação a sirene ou o sino do barco mãe. Ser pescador era ser pobre e viver à sombra do mar "que é um cão"  e não ter perspectivas de futuro.  Ser filho de pescador era não ter sapatos apenas (e com sorte) tamancos, roupa remendada várias vezes e so fim da 3ª e depois mais tarde da 4ª classe ir para o mar. Que me lembre, de todos os meus colegas da primária, quase quarenta, apenas um chegou à Escola Industrial e se tornou com esforço, sacrifico familiar e inteligência, desenhador. 

Por outras palavras, quando vejo o nacional progressismo radical chique a bramir sobre as desgraças de cá ou doutro sítio, entra-me uma irritação antiga por estes novos e auto proclamados arautos da felicidade das massas populares que eles desconhecem e com que, no dia a dia, pouco ou nada se preocupam. 

A menos que isso dê um assento no parlamento ou uma côngrua generosa num jornal ou na televisão! 

Portanto:  nada  contra quem lê, operário ou fidalgo, tudo contra quem treslê  ou nem sequer lê para se informar.

Tudo pelos "que são força à razão para que o acaso não governe a sua e a nossa vida" (Cavaleiro de Oliveira) e nada pelos que usam a emoção  para fins nem sempre respeitáveis. É o caso da defesa do Hamas ou a da teoria de que os fins por generosos e humanitários que sejam justificam todos os meios.      

 

 

estes dias que passam 850

d'oliveira, 31.10.23

 notícia de um reino que não tem emenda

mcr, 31-10-23

Vai uma tempestade gorda nas redes sociais e mesmo em jornais.

Pelos vistos Miguel Sousa Tavares e José Alberto Carvalho ousaram pôr em causa  a feminilidade de uma pessoa "trans " que até já ganhou o concurso nacional para miss universo.

Confesso que até hoje pouco ou nada sabia sobre o assunto mas, como de costume uma senhora mais radical-progressista que o ultra-progresso entendeu denunciar dois machistas ao mesmo tempo que referia os enormes sacrifícios e o sofrimento físico e moral da dita criatura que terá feito inúmeras a para deixar de ser homem e ser quase uma mulher. 

Digo isto com algumas cautelas mas até me provarem o contrário não é mulher ou homem quem quer mas quem disponha de todos os  órgãos que caracterizam qualquer dos sexos.

Consigo perceber que alguém tendo nascido num dos géneros se tenha sempre pensado e sentido como pertencendo ao outro. Não conheço nenhum caso mas acredito piamente no que  os jornais relatam.

Todavia, ainda não soube que os difíceis  (e dolorosos) processos de tentativa de passagem de um para puto  sexo tenham conseguido criar órgãos reprodutores. 

Ou seja: pelos vistos podem implantar-se seios, ou até desenvolvê-los, pode eliminar-se um pénis, há tratamentos mais ou menos conseguidos contra a pilosidade masculina mas o resto ainda não foi alcançado. Duvido, de resto, que alguma vez o seja mas o futuro (que seguramente já não verei) não faz parte dos meus poderes de adivinhação. 

Pelos vistos, os dois jornalistas que não conheço de parte alguma, terão dito que nunca se casariam com uma pessoa trans.  A habitual pitonisa do progresso a velocidade da luz viu nisto vários pecados mortais. A começar pela suposição que ao dizerem isto os dois cavalheiros estariam a menosprezar o direito das mulheres a decidirem o seu futuro e, no caso, o seu casamento, algo que só elas poderão escolher. Isto, nos tempos que correm é uma lapalissada tonta em que nenhum dos dois conhecidíssimos jornalistas cairia. Apenas terão querido dizer (e seguramente 99,9% dos portugueses assim o entendeu ) que não consideravam uma pessoa trans como seu possível cônjuge. 

Não ia nesta opinião, quero crer, qualquer especial crítica à candidata a miss universo. Muito menos, nela não transparecia qualquer ideia sobre a violência do processo, a dor, os sacrifícios, os custos, a perda eventual de laços familiares ou mesmo a opinião pública que se faz sobre estes e outros casos.  

Conheci, ao longo de uma vida já longa, pessoas que se descobriram homossexuais, fui amigo de algumas, mesmo que, como facilmente se percebe, tivesse tido que modificar muitas das ideias que me inculcaram desde a infância. Quem nasceu no início da década de quarenta  teve muito caminho a fazer até  aos anos que viram o aparecimento da pílula, o direito a sair do armário, o fim de leis que não eram meigas para a os homossexuais, a aceitação de políticos ou de artistas homossexuais (até em Portugal!) mas essa compreensão de uma realidade  que tocará uma minoria restrita de pessoas não me impede de julgar que homens ou mulheres tem aparelhos sexuais e reprodutores diferentes, tão diferentes que, até ao momento ainda não foi possível trocar de sexo.

Eu percebo que os chamados adeptos das causas fracturantes  de quando em quando se sintam sem pé quando tem de ganhar a vidinha escrevendo regularmente num jornal. Já Eça falava na chiadeira dos sapatões do rapaz da tipografia que lhe percorria o corredora aguardando a crónica atrasada. 

E percebo também que boa parte das dificuldades do dia a dia que são sentidas pelo comuns dos paisanos não mereça a atenção destas criaturas grávidas de futuros longínquos.

A guerra da Ucrânia tornou-se uma maçada porque o diabo dos indígenas locais não se deixaram ocupar pelos invasores russos e tornaram a operação militar especial que deveria durar duas semanas nua guerra que já leva ano emeio e que até ao momento se traduziu numa matança de civis e nym a doença contagiosa entre os atacantes que lá vão recuando, passo a passo, dia pós dia.

Percebo que a guerra Isreael -Hamas  lhes pareça um acto tremendode colonização malgrado a medonha violência do ataque de sete de Outubro. Creio mesmo que até eles, todos muito pró palestina e não pouco anti semitas,  tenham percebido que aquele ataque mais do que um crime se trauziy numa futura desgraça para a pobre população de Gaza e numa nova vida para o sr Netanyahu que estava mais que periclitante no seu lugar ameaçado de primeiro ministro. 

Percebo que eles se sintam embaraçados pelo facto de, exceptuando o irão perseguidor de mulheres e longe da fronteira israelita, os países árabes não se precipitarem numa, em mais uma, cruzada contra o judeu opressor. E que, como é o caso, fechem as fronteiras (como sempre fizeram) aos dois milhões de desgraçados que estão presos na faixa de Gaza. Nem sequer terão chamado os seus embaixadores em Israel "para consultas"!!!

Percebo que se sintam confusos ao saber que Gaza sempre foi alimentada pelas dádivas ocidentais e sempre obteve a água, os combustíveis, boa parte dos alimentos e dos medicamentos, bem como a electricidade de Israel. Um colonizador que tem sustentado com tudo isto o território colonizado (que abandonou há quase vinte anos!...) e que só agora impede a passagem destes bens é uma chatice, Mesmo quando responde desabrida e violentamente a toda e qualquer beliscadela levada a cabo por uma miríade de grupos terroristas que se abrigam atrás e sob as multidões de habitantes de Gaza! 

Depois há ainda aquela surpreendente situação dos mandantes das provocações e dos crimes. Estão todos repimpados longe de Gaza e perto de amigos ricos e poderosos que os hospedam com um luxo que deixaria qualquer pobre diabo de Gaza de olhos esbugalhados. 

Dir-me-ão mas esta radical burguesia fracturante, citadina poderia falar do IUC, do SNS ou do preço da habitação para já não referir o mistério da TAP.  Poder, podia mas dá-se o sombrio e desagradável caso de o IUC apenas atingir três milhões de carros (e metade da frota do Estado que, essa, não paga nenhum iuc!) que pertencem a indígenas do interior ou a gente que não tem dinheiro para os trocar por um novo. Esses carros servem para deslocações mais difíceis num país sem transportes públicos dignos desse nome, sem comboios cuja substituição ou compra está permanentemente atrasada sem linhas de caminho de ferro que todos os anos se mostram mais longínquas da finalização. Servem para ir ao posto médico ou ao mercado e bonda! que não hão dinheiro para mais.  

Os radical gauche divine e extrema vivem nas grandes cidades, vem da burguesia, nunca pisaram um campo, sequer um suburbio onde se acotovelam imigrantes ou portugueses que mais depressa votam Chega do que BE. 

Resta-lhes como campo de batalha as causas ditas fracturantes pois sabem bem que o SNS  é vitima dos seus representantes políticos zarolhos uns, dementadamente cegos pela ideologia outros. A TAP teria de ser portuguesa à viva força mas os 3, 3 mil milhões começam a pesar nos bolsos e a concorrência internacional rouba passageiros ao mesmo tempo que a miragem da diáspora portuguesa preferir pagar mais pelo avião onde se fala português é só isso, uma miragem, um voto pio, uma irrealidade.  

Também fogem da questão da habitação por razões óbvias. E a mais importante é esta: o Estado não constrói, constrói um décimo do que em tempos prometeu e nem sequer torna habitáveis as propriedades que tem devolutas. Por isso, tenta aprovar leis que ainda toram mais penosa a vida de inquilinos e de potenciais compradores.  Os senhorios (algo que pitorescamente alguém numa manifestação escrevia num cartaz que "nãé profissão" tentando assim renovar a expressão a atribuída a Proudhon que também ninguém lê, "- a propriedade é um roubo.

E é assim que o factor trans se torna um excelente campo de batalha para quem nada tem (nem quer) a dizer. 

E Miguel sousa Tavares, jornalista de página inteira no Expresso ou José Alberto Carvalho autor best seller  e pivot televisivo dão um jeito enorme para lhes arrearem nos lombos marialvas, machistas.

Eça, com muito mais humor, muito, muitíssimo melhor escrita, já se tentava safar arreando no pobre bey de Tunes.  

E é assim que, à falta de melhor, também eu finco a dentuça no pescoço (estamos no Halloween!) de uma comentarista saída, isso sim, do vácuo.  

 

 

estes dias que passam 849

d'oliveira, 29.10.23

perguntas de um leitor que não é operário

mcr, 28-10-23

 

.. o jovem Alexandre conquistou a Índia

sozinho?

César ocupou a Galia 

não era acompanhado sequer por um cozinheiro?

Brecht:  perguntas de um operário leitor

....

Socorro-me, outra vez, de um poeta (e dramaturgo) que no fim da vida fazia perguntas e não obtinha respostas, ou só as tinha erradas. 

E faço-as ºperguntas enquanto leitor atento e interessado no que se passa. Não venho pôr-me acima de quem quer que seja, mas pretendo apenas questionar os que juram pela cartilha radical que vê o mal em toda a parte, desde que não seja o seu pequeno cantinho. 

Já aqui o disse e reafirmo-o: à partida nada me move a favor (ou contra) Israel enquanto país que considero razoavelmente democrático, inclusive com aquele camafeu que foi eleito e que tem tentado levar o seu país para caminhos mais do que ínvios mas muito na moda noutros. 

Nada me move contra os habitantes de Gaza no seu conjunto que considero vítimas de algo que os ultrapassa mais do que a geografia e que teve origem clara em 1948. 

Não me surpreende especialmente que este povo tenha assistido resignado ou esperançado ao golpe de Estado de 2007 quando o Hamas expulsou pelas armas a OLP, o Fatah do território.

Nem sequer questiono gravemente o facto de ,posteriormente, numa espécie de eleições cuja credibilidade é mais que duvidosa , o Hamas ter sido o mais votado, o mesmo é dizer que só o foi porque nunca permitiu que adversários concorressem contra ele em igualdade de circunstâncias.  

Sei, graças à idade que levo em cima, que os regimes autoritários ganham sempre as eleições. Sei-o por experiencia própria desde a primeira vez em que quis votar (1961) até aquela em que finalmente a Oposição foi até às urnas (1969). E sei-o porque até fui delegado da  dita oposição numa mesa na freguesia urbana de S.to António dos Olivais em Coimbra. 

Não me custa nada afirmar que perdemos essas eleições por uma conjunção  de factores que começava na fraca mobilização para a inscrição nos cadernos eleitorais até ao medo que isso, só isso, implicava. Nem vale a pena referir a desproporção de meios, as dificuldades em fazer comícios, as constantes proibições de qualquer acção propagandística, a censura em tudo o que era meio de comunicação, as contínuas ameaças à liberdade dos candidatos a deputado e de toda a gente que os apoiava. 

Portanto, o facto do governo de Gaza estar entregue ao Hamas não me suscita grande preocupação. É um governo autocrático, tem um claro desíignio de eliminar por todos os meios o Estado de Israel e de vrrer para o mar  todos quantos nele habitam, minoria árabe aí residente  ("colaboracionista") incluída. 

 

A dúbia expressão que o engenheiro Guterres (de quem fui apoiante muito antes dele ser eleito) usou para significar que o Hamas alguma legitimidade poderia eventualmente ter visto que não saiu do nada  u seja que era fruto da "ocupação" israelita terminada ainda antes deste grupo tomar conta de Gaza. Melhor dizendo: antes deste grupo que todos (excepto Putin, o Irão e pelos vistos Erdogan) qualificam como terrorista, ter ocupado militarmente o território, imbricando as suas bases, os centros de decisão, os serviços próprios, os arsenais (estes enterrados e bem enterrados) os paióis, os depósitos de combustível, de alimentos, de medicamentos (idem, idem) também resguardados em túneis que agora talvez alberguem 224 reféns. 

É verdade que Guterres qualificou o massacre do dia 7 com horrendo e indesculpável. Mas, e há sempre o raio de "mas" nestas afirmações ao tentar antecipadamente qualificar a reacção de Israel, não se coibiu de relembrar o passado que sublinhe-se sempre foi coroado de reacções desproporcionadas . Já por aqui disse que Israel reivindica  olhos por olho, dentes por dente.

Entretanto pergunto, leitor que sou, inclusive de História deste ´seculo:

foi Israel que desencadeou a invasão sofrida por ele logo que proclamou a independência? Ou deveremos atribuir a humilhante derrota de cinco exércitos árábes (Egipto, Jordânia, Síria, Líbano e Iraque)  que contabilizavam dez vezes mais soldados do que o recentíssimo Estado judeu, à impreparação destes, à falta de vontade de combater dos pobres soldados mobilizados que nada sabiam, nem sequer lhes interessava, sobre os meandros da História em que foram chamado a desempenhar o papel de carne para canhão?

É ou não verdade que a Assembleia Geral das Nações Unidas votou por uma significativa maioria a independência de Israel  (juntando em plena guerra fria URSS e EUA, bloco "socialista" e a nova aliança atlântica ? 

É ou não verdade que, na ânsia de ter mãos livres, foram os exércitos atacantes quem primeiro expulsou dezenas de milhares de civis palestinianos das suas casas? 

(e antes que me acusem de partidarismo, informo que o exército israelita lançou uma operação semelhante sob o nome de "Vassoura de Ferro" que atirou para o território libanês outras tantas dezenas de milhares de refugiados. E também é verdade que tais desenraizados nunca dali saíram para nenhum Estado irmão e árabe os quis ou quer receber)-

É ou não verdade que esta primeira vitória israelita  logo permitiu criar novas fronteiras que, obviamente, acrescentavam território na exacta medida em que os palestinianos (na altura  sem Estado ) perderam?

É ou não verdade que a partir da década de sessenta novas hostilidades se desencadearam tendo sempre sido iniciadas por alguns ou todos os Estados limítrofes e que, como sempre, redundaram em pesadíssimas derrotas e mais territórios para  o Estado atacado, nisto se incluindo Jerusalém, cidade que gozava de um estatuto especial devido ao facto de ser capital de três religiões?

(mais uma vez, relembro que houve uma outra guerra em que Israel foi agressor. refiro-me à crise do Suez quando, depois do canal ter sido nacionalizado, tropas francesas e inglesas o terem ocupado ao mesmo tempo que ali chegaram também tropas israelitas que puseram em debandada - outra vez- os mal preparados soldados do coronel Nasser , o rais dtodo poderoso do Egipto)

É ou não verdade que entre 1967 (guerra dos 6 dias) e 1973 (guerra do Yom Kipur) novamente patrocinadas pelo Egipto e pela Síria  mais uma vez a derrota árabe foi significativa e os ganhos territoriais de Israel resultaram da sua reacção aos ataques? 

 

É ou não verdade que entre finais dos anos 60 e os anos 90 houve continuas acções terroristas que tiveram o seu epicentro durante as olimpíadas de Munique que resultaram na morte de 11 atletas judeu?

(Todos os terroristas (com uma única excepção) que estiveram envolvidos no ataque foram posteriormente liquidados por agentes judeus que partiram à sua procura.)

É ou não verdade que o território de Gaza foi totalmente abandonado pelas forças de ocupação israelita a partir  2007, tendo sido eliminados 80 colonatos e forçados a sair de Gaza todos os seus habitantes?

É  ou não verdade que de 1948 até 1958 Gaza foi administrada por uma autoridade palestiniana?

É ou nao verdade que de 1959 até 1967 o território foi governado pelo Egipto?

É não verdade que em 1993 o poder foi transferido para a Autoridade Palestiniana?

É ou não verdade que, entre 2005 e 2007, ocorreu uma visível e extremamente violenta  guerra civil entre a OLP e o Hamas tendo este último conseguido expulsar o seu oponente?

Finalmente, é ou não verdade que mais tarde, as "eleições" deram ao Hamas um maioria de 76 mandatos (em 120) no "parlamento" de Gaza?

E que, mal ou bem, esse facto torna, de algum modo, a população palestiniana cúmplice de um governo cujos líderes apenas querem exterminar os judeus?

 

As perguntas  poderiam ser muitas más mas não vale a pena porquanto nem da história mais sumária há resquícios nos que de supetão  aplaudem agora Guterres e atiram para Israel todas as culpas (as próprias e não são poucas) e as que decorrem de uma longa e perturbadora actividade claramente terrorista. 

 

A verdade é que, com culpas (o voto no Hamas) o silêncio sobre as suas malfeitorias, o conhecimento que há sobre o desvio de verbas vindas do exterior e que nunca chegam à população, esta está encurralada. Mas não é apenas Israel que fecha as suas fronteiras. Que dizer do Egipto? 

Finalmente, agora que se fala do corte de combustível, de alimentos, de água, de produtos médicos e até da internet como é que se explica que tudo isso viesse do tenebroso inimigo sionista? Será que depois do massacre de 7 de Outubro alguém acha(va) que que Israel deveria cristãmente  oferecer a outra face e continuar a alimentar o esforço de guerra do Hamas?

 

Tudo isto deveria ter passado pela cabeça do sr Secretário Geral Guterres para o convencer a nõ usar termos que, por serem eventualmente portadores de ambiguidade, corriam o risco de o eliminar como mediador.

De resto, a alusão a um mediador é, a meu ver, outra palavra oca. Mediar entre os que "amam a morte" (sic) e  os que "amam a vida" (sic, novamente por provir do mesmo interlocutor, no caso um dos principais dirigentes do Hamas).

Alguém de bom senso, convicções democráticas e respeito pelos direitos humanos, o direito humanitário o surpreendente direito de na guerra ser capaz de se coibir (coisa bonita de dizer mas na prática dificl de conseguir) pode colocar na mesma balança um Estado e um grupo terrorista mesmo se o Estado responde com força demasiada aos golpes que recebe e o terrorista nunca distingue civis de militares, crianças, mulheres e bebés de colo de homens em idade de combater ou combatentes?

Ja o disse varias vezes e repito: não morro de amores páor Israel, não aceito que o Holocausto seja continuamente invocado para perdoar as falhas actuais, os governantes actuais e a su luta iliberal contra a Constituição democrática do Estado.

Mas, muito menos, entendo justa, seja a que título for, a acção terrorista que mata indiscriminadamente e governa violentamente uma desgraçada população. Não percebo porque é que este ataque de 7 de Outubro foi perpetrado sabendo-se que o governo de Netanyahu estava em sérias dificuldades perante a fortíssima oposição que ocupava as ruas desde há vários meses em defesa da democracia e dos tribunais.

Ou será que justamente por isso se resolveu dar uma mãozinha sangrenta a um primeiro ministro em visível perda de velocidade e a um grupo de extremistas religiosos e de extrema direita? 

 

(nota porventura desnecessária: leio com assiduidade v´rios jornais, desde o Le Monde, o El Pais, La Republica até ao Expresso e ao Público. Não frequento desde os anos 6o o "Diário de Notícias porque sempre o considerei, na ditadura como depois uma espécie de defensor oficioso do Governo (de todos os governos, aliás) e por isso não me admira que lá pululem elogios às declarações  (a todas as declarações...) de quem, de algum modo,  amigo antigo ou não, querendo ou não, consegue a proeza de igualar as acções do Hamas às do governo israelita. Ponto, parágrafo!)

 

estes dias que passam 848

d'oliveira, 24.10.23

 

Ninguém os quer II

(adenda)

ou "Sem olhosem Gaza"*

 

mcr, 22, 10-23

 

Num texto recente ao referir-me aos judeus e aos palestinianos como o título ninguém os quis nem os quer  tentava dizer que na Europa (antes ou depois da 2ª guerra e desde quase sempre, aliás) a presença de judeus em quase todas as nações era algo que desagrava a muitos, muitíssimos. ou a uma forte minoria, de europeus que, de resto o demonstraram com continuada perseverança  ao longo de séculos, O anti-semitismo foi um dos caldos de altura da Europa bem mais do que no Oriente até à partilha da Palestina.

Posteriormente, também aí se desenvolveu de modo galopante, como é sabido.

Ocorre, entretanto, que há um outro grupo que, no Médio Oriente ganhou as esporas de indesejável. Refiro-me aos refugiados palestinianos que ninguém está disposto a aceitar. Por junto, só Líbano e a Jordânia os receberam. Aliás, só o fizeram por serem países contíguos a Israel e, sobretudo, fracos e sem grande hipótese de os rechaçarem. Todavia, como qualquer aluno de História do primeiro ano sabe nunca os desejaram, sempre os trataram mal (quando não os chacinaram em grande número, e em ambos os países) nunca prosseguiram políticas de integração de qualquer espécie.

No que toca ao Egipto, está à vista (mais que desarmada!...). Basta ver como a fronteira de Raffah está aferrolhada. Ou como, o que parece inacreditável dado o constante estado de hostilidades entre Israel e Gaza, é de Israel que vem a eletricidade, a água, os alimentos e o combustível e provavelmente outros bens e serviços...).

Por outras palavras, Israel ao fornecer todos estes bens tem uma quota-parte de responsabilidade na manutenção de condições de funcionamento  dos próprias Hamas e Jihad islâmica seus inimigos jurados.

O que espanta é que, sabendo disto, alguém se admire com o bloqueio destes fornecimentos, logo que os atentados e os ataques por foguetes foram  executados.

Também, houve quem se espantasse quando se soube (aliás sempre foi público e notório) que uma forte percentagem da ajuda da Europa a Gaza era desviada para o Hamas  e provavelmente para outros grupos armados.

Conviria, de resto, inquirir se a ajuda ocidental  foi sequer igualada por ajudas dos países árabes. 

Desconta-se o caso do Irão que apenas fornece treino e armas aos seus agentes no terreno (Hezbolah e Hamas).

Alguém me consegue explicar por que é que do Egipto não chegou até ao momento, água, eletricidade, combustíveis ou alimentos (os duzentos ou trezentos camiões na fronteira trazem donativos da ONU, do Crescente Vermelho e da União Europeia).

A solidariedade "fraternal" muçulmana que se agita nas ruas de tantos países não contempla mais do que gritaria e ameaças. 

Então, enquanto para Israel seguem diariamente judeus de todo  o mundo  para defender um país que, em boa verdade não é o seu senão pela ligação religiosa ou por tradições cada vez mais esbatidas, não se consegue ver um par de árabes prontos a morrer por uma terra e uma gente que está para ali encurralada?

0,1% do rendimento líquido anual dos países do Golfo tornariam Gaza num jardim luxuoso que faria os israelitas morrer de inveja. Dotá-la-ia de dessalinizadoras, centrais eléctricas e tudo o resto. Aqueles milhares de edifícios há muito que poderiam estar dotados de painéis solares que sol é que mais dá naquela terra desoladas. Todavia, nada disso aconteceu e, tenho por certo que não acontecerá. A "fraternidade " islâmica e muçulmana atira para cima da UE e do Ocidente em geral as contas a pagar e, de passo, dá uma trincadela nos fundos que chegam.

Casas más, de fraca construção, onde amontoam pessoas sem especial, sem nenhum condorto, Gaza não é exactamente uma prisão a céu aberto mas sobretudo um campo de refugiados, desnorteados que dependem de toda a espécie de ajudas exteriores e são (des)governados por uma pandilha corrupta, fanática, cega pela esperança de varrer Israel do mapa. Convém dizer que a maior parte dos dirigentes deste grupo terrorista (que jura "amar a morte") vive descansada e confortavelmente noutras paragens menos inclementes.  

Nada disto, porém, iliba Israel de culpas no que toca a respostas duríssimas quando se sente atacado. Aqui, deste lado reina u áxima olhos por olho, dentes por dente. É o síndroma do pequeno Estado cercado mas isso não permite esquecer que há acções militares que, como avisou Joe Biden, se assemelham mais a vinganças medonhas do que a justiça e respeito pelos direitos humanos. 

Mas também isto era, sempre foi, sabido pelo Hamas e pelas multidões que o votam, o aclamam ou se insurgem noutras partes do mundo contra este actual estado de guerra.

Finalmente, parece que todos os caritativos, bondosos, progressistas espíritos que choram pelos habitantes de Gaza, puseram entre parêntesis esta tremenda verdade: aquilo pode ser tudo o que quiserem mas nunca foi sequer a caricatura de uma democracia. Ao mesmo tempo, e nos últimos meses, todos quantos ainda olham com olhos de ver (e ouvidos de ouvir) para Israel tiveram oportunidade de assistir às gigantescas e diárias manifestações de cidadãos que, em Israel, defendem a democracia e um Estado laico. E que, eventualmente, estavam a ganhar terreno contra o Likud, a extrema direita e os fanáticos religiosos que também por aqueles lados medram como coelhos. De todos os restantes lados daquela região apenas se divisam teocracias, autocracias, regimes de partido único e, corrupção, a boa e velha e rentável corrupção. Do Egipto, onde manda um dirigente de um golpe militar, da Síria onde um miserável carniceiro se aguenta no poder graças ao auxílio "desinteressado" da Rússia, do Irão onde a padralhada maltrata, prende, mata mulheres, aos emiratos que nadam em petróleo  e vivem cercados de criadagem asiática a quem pagam mal e porcamente à Arábia saudita que assalaria a peso de ouro jogadores de futebol que não contestam um regime tão isolado e tão anti democrático quanto os outros. O Líbano não existe, a Jordânia não rosna o Iémen vai sendo destroçado por uma guerra civil e o Iraque está como se sabe. Em todos eles, "direitos humanos", democracia, liberdade de pensamento, de acção e de religião são apenas blasfémias. Que por cá haja quem admire isto, quem apoie isto não espanta. Como de costume, são poucos e detestam a democracia e a liberdade em que os restantes vivem e acreditam.

Voltando ao título, ninguém (exceptuando algumas criaturas da comunidade judaica do  Porto que a quem pede, requer ou eventualmente paga certidões de descendência sefardita,  descobre  e atesta antepassados judeus desaparecidos há quinhentos anos para parte incerta) neste mundo cão está especialmente interessado em que  os judeus regressem em força ao local onde foram maltratados, proibidos, expulsos ou massacrados.

No Médio Oriente  não e vislumbram samaritanos dispostos a acolher dois ou três milhões de pessoas que não tem outro remédio senão viver no que elas próprias chamam prisão a céu aberto. 

Também por isto, defendo o regresso ao princípio dos dois Estados. Não é uma boa ideia mas é a menos má de todas as outras. 

Ainda pensei em titular esta crónica voltando ao brilhante romance de Aldous Huxley, "Sem olhos em Gaza" para significar que os amigos dos palestinianos estão como Sansão, cegos e prisioneiros de uma ideologia barata e vaga. São, se me permitem meros filisteus e agem como tal. O romamce em causa não trata exactamente disto mas toma a história do forte guerreiro judeu como pretexto para descrever um par de peripécias de um membro da boa sociedade lutando contra os seus fantasmas.

Todavia, quem fingindo apoiar a causa palestiniana, se mostra nas ruas das nossas cidades nunca quis pensar a sério nas raízes deste conflito mas apenas o usa para espantar outros fantasmas que, como alguém uma vez disse, andam à solta na Europa... 

estes dias que passam 847

d'oliveira, 22.10.23

É pró que estamos!...

21-10-23

 

1 a liberdade de expressão segundo o sr Pontes 

O cavalheiro referido entende no alto da sua profunda ignorância jurídica e da tribuna que o jornal lhe dá que chamar assassino a quem quer que seja, apenas porque isso dá jeito e o acusado é conhecido por desordeiro, fascista (sobretudo isto) e condenado várias vezes é apenas "liberdade de expressão" mesmo que a obscena criatura acusada não tenha efectivamente morto um emigrante cabo-verdiano assassinado às mãos de outros patifes da mesma laia do sr. Machado.

O autor da acusação, um senhor que trocou o paraíso senegalês por um Portugal medonhamente racista, acha o mesmo. Chamar assassino a um racista, fascista, imperialista e capitalista  é um direito que se engloba perfeitamente na "liberdade de expressão"

Acontece que uma juíza, que não conheço nem espero vir a conhecer, entendeu que a acusação é crime por o acusado não ter de modo algum (e comprovado no STJ... o que não é coisa pouca) feito parte dos responsáveis por aquela morte- 

Eu tenho por seguro que ser fascista não significa sempre ser ladrao, assassino ou violador tal como ser comunista não significa ser guarda e torturador num gulag, agressor na Ucrânia ou bufo da polícia política de um estado comunista. Igualmente, ser liberal, não significa que alguém seja um ricaço usurário, um capitão de indústria poluente, um traficante internacional de  armas.

E por aí fora.

O actualente condenado sr Mamadou Dia ao pagamento de 2400€ ao tristemente conhecido sr Machado, abencerragem da extrema direita nacional com um passado de violências e de condenações cumpridas em cadeia, não pensou, ou pensou mal ao associar o dito Machado a um crime que ele não cometeu. E fê-lo com amplo conhecimento dos factos, das decisões dos tribunais. Fê-lo quase que em tom de desafio, pensando que o facto de ser anti-racista e anti mais uma série de coisas o absolvia do crime de mentir e de ofender. 

Imagine-se que o ofendido Machado, em vez de "inteligentemente"  (por uma vez na vida) levar o caso à justiça, tivesse resolvido dar-lhe um "safanão" à moda de Salazar ou ameaça-lo de violências várias incluindo um tiro ou uma facada. 

Alguém acredita que o sr Dia entenderia isto como mera "liberdade de expressão" e não como uma clara ameaça à sua integridade física?  

O advogado do réu condenado agora ao pagamento de umas largas  centenas de euros (que este último já declarou numa rede social que não pagaria) afirma que vai recorrer, que irá até às instancias europeias se caso for. 

com que argumentos legais? , pergunta-se a menos que a condição de fascista e ex-recluso do queixoso agora vitorioso seja argumento bastante.

2 E segundo "Paddy"...

 

 

 

o senhor "Paddy" Cosgrove, que não conheço nem quero de modo algum conhecer, é, ao que sei, o feliz empresário de um coisa onde nunca porei os pés chamada Web summit e que, parece lhe dá fartíssimos lucros  e custa muitos fartos maravedis a Portugal que, à falta de melhor, acha que assim doura o seu minguado brasão de país desenvolvido.

Por razões que não consigo discernir a criatura Cosgrove resolveu debitar algo sobre Israel e o actual estado de guerra  provocado por um estúpido, bárbaro atentado terrorista que, ao invés de melhorar a sorte de dois milhões de habitantes de Gaza,  obviamente se transformaria num inferno ainda mais dramático do que lhes era já habitual.

E disse, o sr Cosgrove que "crimes de guerra são sempre crimes de guerra, o que é pertinente. Esqueceu-se, entretanto de referir que as 1500 mortes israelitas também são crimes de guerra. Tivera ele dito, ao mesmíssimo tempo, isto e nada ou muito pouco se lhe poderia assacar. Mas não disse! Não se lembrou, não lhe apeteceu, não considerou a responsabilidade do Hamas (neste concreto caso e momento)

Israel, uma potência informática, declarou logo que boicotava a iniciativa. algumas figuras conhecidas secundaram-no. 

Cosgrve percebeu que tinha "metido o pé" e tentou emendar a mão, coisa esdrúxula  como se sabe. E veio, a correr, dizer que o Hamas não sei quê. E pedir desculpa, Tarde falaste! Eis que os grandes monstros da internet e arredores entenderam "acertar o passo" ao pobre Paddy. E vai daí que Google, Amazon, Meta também boicotam a iniciativa! Um desastre! É provavel que nesta corrida ao boicote, outros se apressem a seguir a maré. Politicamente é correcto como se sabe. E, de caminho, pontapeia-se o semi cadáver de Pddy que já esta no chão.

Agora o pobre homem demitiu-se para tentar salvar o resto e evitar mais cacos. 

As pitonisas do politicamente correcto vem agora bramir que é a "liberdade de expressão" de Cosgove que está ferida.  Que o pobre diabo não queria, já o jurou por duas vezes mas tardiamente, ofender Israel. 

Ora, penso eu, que sou apenas um paisano, que dizer que uma reacção desproporcionada pode traduzir-se num crime de guerra não é nenhuma mentira nem nada de afrontoso tendo embora o cuidado de também afirmar, sem receio que o Hamas é um grupo de criminosos, terrorista e, para além do mais, estúpido pois sabia perfeitamente que isto (o que está a acontecer e o que, provável e infelizmente, acontecerá ) er mais que certo. 

 

A liberdade de expressão é, em si mesma, um direito que, porém, deixa entrever um dever, o qual é dizer a verdade, toda a verdade e nada mais do que a verdade. Não se compadece com estados de alma nem com quaisquer preconceitos sejam eles quais forem e sirvam interesses e ideologias de qualquer espécie.

 

A juíza Férrer por maiores contorcionismos que lhe apetecessem, não podia julgar de outra maneira, como aliás o juiz de instrução Carlos Alexandre ou o Ministério Público em seu tempo decidiram sobre a queixa  do muito pouco recomendável Machado que, uma vez sem exemplo, entendeu não usar dos expeditos métodos que o levaram à cadeia. Todos entenderam que a burrice de Mamadou não tinha nada a ver com liberdade de expressão mas tão só contra um devastador erro de apreciação do que é e do que não é possivel dizer num país  livre e razoavelmente decente como é Portugal.

Lamento muito ter de dizer. Neste caso, o sr Mamaou foi imprudente, impudente, estúpido e ignorante quanto ao significado das liberdade.

Ponto, parágrafo. 

 

estes dias que passam 846

d'oliveira, 20.10.23

Ninguém os quis nem os quer

mcr, 19-10-23

 

Nunca fui pró-israelita mas também nunca dei para o peditório dos pró-árabes. Desde que me recordo, os Estados do Médio Oriente (excepção feita, e apenas durante alguns anos, do Líbano) tudo aquilo era repelente, autocrático, ditatoria le mesmo quando havia uns alegados partidos de "esquerda" a coisa descambava para o nepotismo, a corrupção, o desprezo pelas "massas" e, claro, sempre com tendência para governo de partido único.  Monarquias e repúblicas Ibn Saud ou Nasser, um reizinho da Jordânia um general iraquiano e por aí fora. O Irão era pousio de uma dinastia recente, sôfrega, autoritaria que queria modernizar  o país contra uma resma de clérigos chiitas, ignorantes, anti-progresso e anti feministas. As sucessivas revoluções (e eu ainda me lembro dum gorucho chamado Faruk que reinava no Egipto até ser deposto por um general chamado Naguib que por sua vez foi defenestrado por um coronel chamado Nasser e por aí fora. Na vizinha Líbia, outro reizinho que se chamaria Idris foi mandado para a reforma por outro coronel, desta feita Kadafi que se notabilizou por ter uma guarda pretoriana feminina, ser mandante de atentados terroristas, roubar o seu pobre povo e finlmente ter ojusto destino dos grandes criminosos.

Todavia, desde a independência argelina onde também se sucederam os golpes e contra golpes, as insurreições populares afogadas em sangue, que todos estes Estados nascidos à sombra da desaparição do Império turco, nada funcionava já não digo democraticamente mas pelo menos sem violência. Nada!

Ou melhor. a partir de 1948, ano em que a ONU praticamente criou o Estado de Israel , apareceu uma chamada "causa árabe" que, pretendendo auxiliar os palestinianos varridos das suas casas pelos exércitos irmãos que queriam mãos livres conta os inimigo sionista e pelos judeus que não deixavam de querer o mesmo,fundaram os primeiros e repelentes campos de refugiados no Líbano e na Transjordania. 

É bom lembrar que todos os restantes países "irmãos" se recusaram então, como hoje, a receber refugiados da palestina que provavelmente eram os mais educados e mais modernos de todos. 

Mais,  os refugiados em territórios mais ou menos jordanos form alegremente massacrados, anos depois, a pretexto de uma tentativa de golpe de Estado. Anda por aí muito rapazinho e muita rapariguinha, esquerdissimos todos, que disto nada sabe, nada interessa nada convém.

A verdade é que graças ao Egipto, à síria, à fraca Jordânia e ao fraquíssimo Líbano, com ajudas directas ou indirectas do Iraque, Israel foi crescendo em território depois de cada tentativa de ataque feita por estes Estados.  E cresceu por duas razões. Primeiro não tinha para onde ir. Depois havia a solidariedade dos judeus americanos que com o seu peso obrigaram as administrações  a ajudar o jovem Estado. 

Da parte da Europa, quer de Oeste, quer de Leste (lembremos que ainda havia um bloco dito "socialista") Governos e muita população sentiam-se bem livres da indesejável presença dos judeus. É bom lembrar que em toda a Europa do Atlântico aos Urais, sucederam-se durante séculos perseguições de toda a ordem. No leste, onde se criou a comunidade askenaze, os pogroms eram assustadores e repetidos. No Ocidente, desde os guetos até à santa inquisição peninsular também não tiveram melhor sorte. De pouco lhes valeu serem os médicos e os banqueiros de reis e príncipes.  Volta e meia, alguém se lembrava que tinham matado Jesus e zás! toma lá que já bebes. 

Também não se deve ocultar que, sobretudo na Polónia, na Lituânia e noutras zonas limítrofes, milhões de judeus sobreviviam miseravelmente nos "shetls" camponeses de onde só começaram a sair depois da 1ª grande guerra. Falavam yidish, eram incultos, religiosos e pobres. Chagal retratou-os bem em algumas das suas mais conhecidas telas. Do lado de cá, na Alemanha e na França, sobretudo, havia uma elite judia culta, rica e protetora das artes e das letras que forneceu (como também na Rússia mais cosmopolita) músicos, escritores, artistas plásticos, banqueiros, e políticos. No caso da Rússia, uma boa parte dos primeiros revolucionários radicais vinha de famílias judias mesmo que, na generalidade, já não professassem o judaísmo nem acreditassem num impossível regresso à terra do leite e do mel. 

A gr matança nazi acabou com a grande maioria dos judeus não escolhendo entre ricos e pobres, crentes ou ateus. Não foram só eles a sofrer os campos de extermínio (houve, ciganos, mestiços alemães das antigas colónias africanas, católicos, conservadores, doentes mentais, homossexuais e toda a espécie de membros dos partidos comunista e socialista que, anos antes, alegremente, se matavam nas ruas de Berlin.

Acabada a guerra, os mais corajosos, os que melhor conheciam os países de onde vinham, os mais visionários, entenderam ser a hora de ir para Israel, ao abrigo de uma promessa tonta feita por um lorde Balfour a um grande banqueiro judeu e multinacional.

É bom acrescentar que a Palestina foi um destino que se impôs depois de se ter pensado em Madagáscar e no sul de Angola. A Agencia Judaica reuniu fortes capitais e desatou a comprar terrenos onde se "assentaram" os primeiros colonatos, quase sempre kibutzes de forte marca socialista. E onde nasceu o "Haganah, o exército secreto judeu, os grupos terroristas Stern ou Irgun, os sindicatos e o partido trabalhista. 

O ingleses, fartos de atentados (o mais famoso dos quais foi o do Hotel Rei David...), fartos de um território sem petróleo, desandaram deixando para trás uma confusão diabólica  que já mostrava que nenhum entendimento era possível.

Com uma energia e uma tenacidade invulgares os israelitas constru,corram um país moderno, quase um jardim no deserto, dotaram-no de infraestruturas inigualáveis ainda hoje, criaram um exército cidadão e eficaz enquanto os vizinhos desaproveitavam as riquezas dos seus territórios. É verdade que beneficiaram da gigantesca ajuda da diáspora judia na América mas os vizinhos, graças ao petróleo poderiam (como agora fazem alguns) ter desenvolvido tão bem ou melhor os enormes territórios que detém e feito progredir as respectivas populações. 

Israel, com todos os seus defeitos e soberba construiu uma democracia frente à qual só se vê um amontoado de regimes ditatoriais. violentos, corruptos e politicamente instáveis.

E nestes o que parece progredir é o mais exaltado, requentado, fanatismo religioso que se alimenta da ignorância e do analfabetismo populares, vive  â custa de subvenções mormente europeias que em chegando a Gaza enchem mais depressa os cofres do Hamas do que a alegada fazenda pública. 

A isto junta-se a ajuda do grande irmão iraniano que fornece armas, treino, clérigos chiitas que, mesmo em territórios maioritariamente sunitas, lá vão construindo uma teia de instituições apenas destinadas a expulsar o inimigo sionista e nunca a melhorar a sorte da população que, ainda por cima lhes serve de escudo humano.

Muto se fala do corte da água, da luz, dos combustíveis e dos alimentos a Gaza.  Então era de Israel que tudo isso vinha e não do grande irmão egípcio? 

É conveniente lembrar que Israel abandonou a faixa de Gaza há mais que tempo suficiente, que extinguiu à força todos os seus colonatos na zona. É verdade que sempre que um tresloucado guerrilheiro acantonado em Gaza atira um petardo para território israelita, a resposta é violenta e duríssima Há um israelita morto para vinte palestinianos  de cada vez que se abre uma hostilidade.

Este ataque do Hamas nunca se destinou, nem podia, a enfraquecer Israel  a convidá-lo para um qualquer diálogo. Quem atacou, quem o ordenou, sabia exactamente o que em resposta ocorreria (e que ainda nem sequer terá seriamente começado).

Passemos às histórias dos últimos dois dias. Uma escola financiada por ingleses atacada e quando servia de refúgio e um hospital destruído  (mas que afinal continua de pé e a funcionar) por um alegado míssil que não deixa vestígios no solo nem sinais nos prédios próximos. 

Não estou a afirmar que a causa do incêndio seja outra mas apenas pergunto como é que Israel poderá ter cometido um erro tão grosseiro, uma estupidez tão supina, quando o que mais precisa é de compreensão e apoio da opinião pública internacional. Já me andava a espantar que, depois de ter ordenado uma saída de civis para sul (que, como se sabe, o Hamas tenta, por todos os meios, impedir), houvesse  tantos ataques nessa zona de segurança. A tropa israelita, altamente profissional, endoideceu? 

Eu sei que Netanyahu não é flor que se cheire, que é como agora se diz um "iliberal" que é capaz de muita coisa para se conservar no poder e longe da cadeia mas, depois de imprudentemente  (e como Stalin em 1941) nõ ter considerado os avisos das secretas e do Egipto, ainda sabe qual é a última linha vermelha a não ultrapassar. E, na falta dele, há muitos outros dos seus camaradas que sabem e mantém algum bom senso e inteligência.

 

Há para além disto tudo, num momento em que a propaganda reina, um aproveitamento político que conduz a um único ponto. Aqui os maus da fita não são os matadores fanáticos que assassinaram a sangue frio mil e quinhentos civis e raptaram mais de cento e cinquenta velhos, mulheres e crianças, mas apenas os "colonizadores", os imperialistas sionistas e seus amigalhaços que fartos de trucidar russos libertadores e inocentíssimos na Ucrânia resolveram tornar a coisa ainda mais global...

Também sei que o excessivo apego às ideologias mais radicais, e com cada vez menos eco nas sociedades ocidentais, pode conduzir a extremos de miopia política como se vai vendo por aí. Dão poucos mas gritam por muitos e seguramente mais do que as pessoas de bom senso.

Não lhes interessa (como ocorre em vários países árabes) patavina a sorte dos desgraçados habitantes de Gaza. São "danos colaterais"  na grande causa da Revolução a messiânica a que se votaram. Por ela, vale tudo, os fins justificam os meios e as massas da faixa de Gaza não pesam na futura contabilidade dos dias futuros que cantarão. 

Contra eles, apenas defendo que tudo se reconduza à política de reconhecimento de dois Estados que não sendo uma solução maravilhosa, longe disso, é a possível   e a que menos danos trará à paz no Médio Oriente. 

Ou por outras palavras: acho possível parar de eliminara ideia (muito do agrado dos chefes do Hamas) que amar a morte ´é superior aquela mais mesquinha de amar a vida (pelos vistos e na mesma óptica, a israelita. cfr as declarações de um alto dirigente do Hamas, que, obviamente, vive no Qatar com todas as mordomias que o seu alto e sangrento estado permitem.

estes dias que passam 830

d'oliveira, 24.08.23

Quemcom ferros mata...

mcr, 24-8-23

 

 

Na Rússia também se morre de morte natural, evidentemente. Mas para isso, para esse passamento por idade, doença, acaso, é preciso não ser oligarca, político, chefe militar ou aventureiro ambicioso que não percebe nada de krelinlogia.

E não se morre estranhamente apenas por ser da Oposição, situaçãoo que também é controlada por prisões contínuas, ordenadas por tribunais que só o são de nome. Os eventais democratas, os opositores pacíficos à guerra, são, e desse sempre nesses antigos impérios czarista ou sovi´etico, carne para canhão, destinada à Sibéria, ao Extremo norte, aos mil (são mais mas mil é uma palavra forte) gulags que floresceram maldoeamente nessas plagas distantes. , anarquistas, socialistas, “velhos crentes” e outros esp´cimes dissidentes povoaram a imensidão siberiana e houve mesmo  quem regressasse do reino dos mortos e das sombras. Em boa verdade, e sobretudo durante o glorioso tempo soviético para alguém ser nviado para a siberia bastava pouco, por exemplo ser familiar de um dissidente (e só counistasforam mais de dez ilhões...) de um condenado à morte, ou alguém preso por vagabundagem  que na URSS campeava em todos os lados e atingia mesmo quem, sem qualquer convicçãoo política, persistia em se considerar alheio ao Poder e ao Parido. 

Depoisda implosão do império soviético, não deixou de haver colónias penais nem “gente que cuspia contra o vento”. A derrocada da URSS propiciou o aparecimento de magnates, muitos deles ligados ao antigo regime e detentores extraordinários de fortunasfabulosas, amsssadas num par de anos. 

A criatura Prigojin começou a sua épica carreira comentendo roubos, burlas e furtos que o fizeram penas nove anos nuas cadeias.

Todavia, ter sido ladrão ou ter passado pela cadeia, não impediu nunca nenhum dos novos russos influentes de subitamente passar a ser criatura importante nos círculos económicoe e de poder. E Prigojin rapidamente passou de uma banca modesta de venda de hamburgers a dono de cadeia de restaurantes e empresário em dezenas de negócios lucrativos. E de membro do círculo íntimo de Putin.

Daí até à Wagner foi um passo. Do assassinato considerado como uma das mais fáceis malasartes, outro. A Wagner deixa e deixou um rasto de sangue, roubo e latrocício por onde passou e passou por muitos lados incluindo a frente leste da Ucrania onde, mesmo perdendo 20.000 homens (e desses uma forte percentagem de prisioneiros  condenados e saídos da cadeia para matar ou morrer), conseguiu o que o incompetente exército russo não foracapaz: conquistar momentaneamente Bakmut que, nestes omentos está quase cercada por forças ucranianas.

Ninguém conseguiu ainda dar uma explicação convincente para o motim wagneriano que por pouco não entrou de rompante em Moscovo. Pelos vistos, os militares não foram capazes ou não quiseram opor-se àquela cavalgada de tanques, aplaudida em toda a parte em que passava. 

É verdade que Prigojin sempre afirmou que o golpe que chefiava não era contra Putinmas isso é mera palavra de russo e sabe-se que, por aquelas terras o que hoje é verdade amanhã é mentira. Ou vice-versa!

Os mercenários recuaram, foram enviados para a Bielorussia que é, na melhor das hipóteses, uma colónia russa . aí foram colocados em quastreis improvisados com a missão de treinarem as tropas desse pseudo país governado por um lunóatico perigoso chamado Lkashenko e que tem desempenhado o papel de carniceiro no seu território e o de capacho de Putin em todos os outros lugares. 

Tudo o que era analista, comentador político ou mesmo e só cidadão interessadovaticinou que Prigojin era um morto a prazo e que na sua aventira  se continha a “crónica de uma morte anunciada” mesmo que não tivesse o explendor do romance homónimo. 

Por todo o lado se recomendava a Prigojin o máximo cuidado com o que comia ou bebia. Também o exortavam a evitar aproximar-se janelas de onde, e sempre na Rússia é muito fácil, corriqueiro até, cair-se. 

Porém, naquele exótico país, parece que sptra um mau vento de falta de senso, o mesmo que induziu Putin a meter-se nua “operação militar especial” destinada a durar um par de semanas. Que Prigojin se tenha embarcado num motim parado por iniciativa dele a curta distância de Moscovo sem  quefosse visível qualquer oposição séria da tropa é algo que transcende qualquer cidadão interessado. 

Que tenha embarcado num avião com o nº 2 daWagner (e eventualmente com mais meia dúzia de altos quadros da sua organização mercenária e terrorista) eis um mistério que está por desvendar.

A únicacoisa previsível (e é a Wagner que, em plena Rússia, num canal televisivo russo,  é que a anuncia) a ocasião era demasiado boa para se perder. E um ou dois misseis, ou uma   bomba colocada a bordo  resolveu mais este desaparecimento. 

Suponho que poucos irão chorar  o passamento de Prigojin que aliás era “herói da pátria” título atribuído pelo Kremlin não sei se pelo passado prisional da criatura se pelas actividades facinorosas que levou a cabo.

Parece que, da parte de alguns desses inenarráveis bloggers militares russos ainda passou a ideia de que dora a Ucrania a acertar num avião entre S Petersburgo e Moscovo. Se tal fosse possível então o melhor é porem as barbas de molho pois tal empresa provaria uma superioridade gigantesca do país agredido.

De resto, Prigojin que já nem tinha forças militares em território ycraniano era pouco ou nada preocupante par os ucranianos. Mesmo tendo em conta que uns largos milhares de mercenários experientes e experimentados poderiam desencadear um ataque a partir da Bielorrusia (hipótese que a Lituania ea Polónia nunca descartaram mesmo se se supunham ser elas o alvo), no âmbito de uma guerra que se trava a milhares de quilómetro de distancia (Donbass, Zaporijia e Kerson).

Subsiste, e espera-seque Putin se lembre disso, a hipótese de que os executores de Prigojin e comandita sejam os EUA, a NATO ou a União Europeia. 

O delírio putiniano dá para tudo e não é por acaso que o seu nome evoca o daquele abencerragem czarista que chamado Rasputin em boa hora  foi mandado ad patres pelo príncipe Yussupov.

Dava jeito que, nos maus tempos que correm, aparecees outro émulo do referido príncipe e animado pela mesma sanha higienizante e libertadora.