estes dias que passam 21
1 Aquele negregado contrato de primeiro emprego, já foi. Passou ao caixote do lixo da história. vocês, queridas paroquianas, haviam de ter visto a carinha murcha do senhor de Villepin (que é ao que parece ainda primeiro ministro) a anunciar num tom de sexta feira santa que nem os jovens nem as empresas se mostraram a favor daquela sua "boa ideia". E que, portanto, se vira (ele Villepin) obrigado a pedir ao presidente Chirac autorização para retirar a lei. Coitado! Pedir ao Presidente para retirar aquela brilhante contribuição á modernização da França!...
2 E por cá as luminárias que exaltavam toda a bondade da lei? Vão bem? Espero que sim, coitados, também têm direito às amêndoas... Isto por cá era uma autentica romaria de aleluia, que a França tem de se habituar a viver no século XXI, que os jovens são uns ingratos... como se a promessa de uma precaridade a juntar á que já existe e que é enorme, fosse um bom voto de Páscoa. Estes nossos comentadores, que foram ultra-estalinistas na sua pobre e dessorada juventude (e que histórias se poderiam contar...) que sacrificaram perante o inacreditável Enver Hodja, que ostentavam o livrinho vermelho juntamente com a Marta Harnecker, num confusão agoniante de estupidez teórica e ingenuidade catatónica, como estarão agora, eles os conversos ao neo-con (e con é uma bela palavra francesa para os descrever, mas eles não sabem, só lêm inglês...) que uivavam nas ruas "Stalin está vivo nos nossos corações". E nos corações de dezenas de milhões de vítimas do gulag que não puderam -devido ao precário clima da Sibéria - ouvir estes gritos e apreciá-los na sua justa medida. O 25 de novembro restituiu-lhes juízo. Inventaram primeiro uma "esquerda liberal, depois eve ter sido um centro assim assim e acabaram a cantar vilancicos em honra de Bush. Ou bush para significar "selva" que é isso que um neo-capitalismo sem sequer os valores do antigo quer impor: a lei da selva.
3 Mas esta quaresma tem corrido mais roxa do que se esperava para o rapazio acima citado. então agora é o desgosto italiano. Umas eleições tão geitosas... um candidato tão a propósito, uma lei recentemente votada tão oportuna para a continuação da direita, coisa que já nem se usa no quarto mundo,uma lei que votada já nas vésperas das eleições cortava o caminho sobretudo ás pequenasd forças da esquerda, o papão do comunismo (logo na Itália, credo!, um país com tantos bispos, cardeais, padrinhos e dons!....)
Ora as sondagens, e os resultados (se bem que a RAI teime em pôr o inefável Bruno Vespa a discutir apenas as eleições senatoriais...) que já se conhecem fazem prever uma vitória da esquerda. Da esquerda, disse da esquerda? É verdade! eu bem que não queria mas os italianos (e os noticiários franceses e alemães que acabo de zappar) falm em "sinistra", "gauche", "links" enfim palavrões, palabrotas, coisas indizíveis que não se usam entre gente educada que também já não há, que agora somos todos neo-con, liberais, modernos, precários, o raio que os parta e o mercado, as leis do mercado, a economia. O homem onde estará? Há quase um século, um livro assaz educativo (Alexis Carrell?) tinha o prmonitório nome, "o homem esse desconhecido".
4 E é a isso que venho: o homem. O desgraçado que está metido nisto até ao pescoço, que paga, que trabalha, que é despedido aos quarenta, ou aos cinquenta porque a empresa se deslocalizou, faliu porque a concorrência não sei quê, que é como o heroi de Sartre, irrecuperável mas aqui tão somente para o bom andamento da economia, que olha embasbacado para os milhões das OPAs, do euro-milhões que nunca me sai, para umas semi-mondaines do jetset nacional, de mamas recauchutadas, sem graça nem dinheiro, que contam pela enésima vez o orgasmo que não tiveram, os cornos que não lhes puseram, as contas que não pagaram e os filhos que supoortaram mas não amaram.
Era o Brecht, o tal que vinha das negras florestas, que dizia, num poema que devia ser mais lido, que o homem pode fazer tudo mas tambem...pode pensar. A ver vamos se essas criaturas que nos governam se lembram, uma que outra vez, disso.