Estes dias que passam 67

Podemo-nos sempre espantar
Renunciou ao seu mandato de deputado de Sheffield. Não era obrigado a tal, nem isso costuma ser hábito.
Foi imediatamente nomeado “enviado ao Médio Oriente para fomentar a paz”. Convenhamos que para quem defendeu tão ardorosamente a intervenção no Iraque, pejado de armas de destruição maciça (convém lembrar) que mais ninguém viu, a coisa pode pôr em causa junto dos destinatários a sua boa vontade e a sua isenção.
Parece que agora está na moda nomear os ex-primeiros ministros para cargos deste tipo. Os respectivos governos agradecem: um de menos a chatiar! Os recipiendários desta generosidade terão sido consultados?
2 Não é Nefertiti, nem sequer Cleópatra: Hatchepsut. Conhecem? Eu, tradução oblige, soube dela tardiamente e depois li de enfiada três livros sobre o Egipto e fiquei-lhe com grande respeito. Agora descobriram a sua múmia que permanecia solitária e desconhecida num arrumo do Museu do Cairo. E como é que a venerável senhora foi encontrada? Pois por um dente! Um único dente, encontrado dentro de um vaso funerário com o selo da grande faraó. Esse dente e uma múmia com um braço cruzado sobre o peito e as unhas pintadas de vermelho (sinais de realeza) identificaram, ao que parece positivamente a famosíssima rainha. Leitor de romances policiais, admirador recente da civilização egípcia, esta história comove-me um pouco. E, sobretudo, porque isto já é obra dos egiptólogos locais. A descolonização também passa por aqui.
3 Em Madrid, terra bem mais interessante, do que a hispanofobia dominante permite ver, uma livraria de bairro estava para fechar. Motivos graves e familiares não permitiam à proprietária continuar a dedicar-lhe o seu tempo. Ao que tudo indica (e a fotografia no El Pais, deixa ver) era uma casa de amigos de livros e com livros amigos. Um grupo de fregueses habituais associou-se a Marisa Larru para lhe poupar o trabalho e evitar o fecho. O barro manterá a sua livraria mesmo se nenhum dos novos sócios pense que vai ganhar dinheiro. Desde há momentos (se o meu mail já lá chegou) sou o mais novo freguês da “libreria La Regenta” na calle Serrano 228, 28016 Madrid. O mail: regenta@verial.es. Os eventuais interessados poderão mandar um mail nem que seja de apoio, ou esperar que eu tenha notícias sobre como encomendar um livro, pagá-lo, etc. A voz que me atendeu pelo telefone (0034)915 639 277 era alegre e bem timbrada. Ou seja: quem telefonar também terá o pequeno prazer de ouvir uma voz feminina com o sotaque castizo de Madrid.
4 O que leio das declarações do senhor comendador Berardo não augura nada de bom. Pior, faz-me pensar que têm razão todos os críticos do processo Museu Berardo/CCB. Lamento, pois, não alinhar nos “tremolos” embevecidos do senhor primeiro ministro e no exagero de “a partir de agora ser em Portugal que começa o circuito da arte contemporânea”. Alguém devia dizer a estes senhores que convém ter algum bom senso e não fazer declarações altissonantes.
No que respeita ao senhor Mega Ferreira começo obviamente por me solidarizar com ele. O pato-bravismo não pode ganhar sempre que diabo. Mais: o presidente da fundação do centro cultural não tem que ser obrigado a sentar-se no conselho de fundadores da Fundação/colecção Berardo. Pode perfeitamente delegar essa tarefa em qualquer dos seus colegas. Isto se entender que não este o momento de sair do Centro. Convenhamos que este, agora, é uma mera casca vazia. E Mega Ferreira poderá de certeza encontrar outro lugar onde seja menos inútil. Há lugares que nem a peso de ouro!
5 A criatura que dirige a DREN deu muito bom durante dois anos seguidos ao senhor Charrua. Agora põe-lhe um processo disciplinar. À cautela e para que este seja de uma independência à prova de bala, nomeou um instrutor que vive em Trás-Os-Montes!! O facto de o referido instrutor ter sido candidato do PS nas últimas eleições autárquicas e de dever à directora da DREN a sua estadia em Bragança onde não tem lugar não quer obviamente dizer nada. À atenção da Ordem dos Advogados, no caso do senhor ser licenciado em direito e exercer como a advogado.
6 Os actuais ideólogos da reforma a qualquer preço devem achar que o Público é pago pelos bolchevistas, pelo cds ou por alguma seita demoníaca. Pelos vistos os portugueses pagam pela péssima assistência (todos os sistemas confundidos) de saúde nada menos de 22,5% do total gasto. Ou seja só a Espanha e a Bélgica se aproximam de nós. E a Holanda, a Inglaterra ou a França ficam-se pelos 10%. Por acaso também, olha a novidade!..., são todos mais ricos.