Eu portista me confesso
Quem alguma vez acompanhou o futebol por dentro, ou conhece alguém que por lá circule, seja nas competições profissionais ou nas divisões mais modestas, conhece bem o ambiente de promiscuidade existente entre dirigentes e árbitros, onde estes últimos estão longe de ser apenas vítimas, quando muitas vezes são eles próprios os fautores da “miscambilha”. Encostar-se aos dirigentes certos era meio caminho andado para subir na carreira, ganhar prestígio e poder, aparecer nos grandes momentos, ganhar mais dinheiro.
Posto isto, dir-se-á que quem perde acha sempre que quem ganha, ganha apenas porque se manobra melhor nesse mundo promíscuo, no malfadado “sistema”. O meu FC Porto, que teve invariavelmente as melhores equipas e os melhores treinadores ao longo dos últimos vinte anos, viveu sempre com esse ónus de ser o manobrador por excelência. Não sei se é ou se foi, mas sei que Pinto da Costa e seus pares se dão bem com esses ares, onde o maior brilho cintila pela calada da noite. Foi competente? Sem dúvida. Rompeu com os equilíbrios que vinham do estado novo? Pois claro que sim. Isso foi uma afronta aos poderes (clubes, federações, jornais, televisões, etc.) de Lisboa? Certamente. Custa muito que um clube do Porto ganhe mais do que todos os outros juntos e vença troféus que os outros nunca alcançaram? Imagina-se…
Pinto da Costa é atingido e arrasta o clube por causa dos amores, que parece ser o seu elo mais fraco. A falta de escrutínio, no clube e no seu círculo de amigos, permitiu que entronizasse como primeira-dama alguém sem um pingo de classe, de carácter. Pinto da Costa paga por isso e faz-nos pagar a todos nós, portistas.
Nos tribunais comuns, Pinto da Costa vai ser julgado pelo crime de corrupção desportiva. Nos órgãos disciplinares da Liga de Clubes, impende sobre si e sobre o clube a acusação da prática de duas tentativas de corrupção. Tudo isto no ano em que o FC Porto foi a melhor equipa da Europa e do Mundo, ao vencer a Liga dos Campeões e a Taça Intercontinental.
Não discuto as considerações de natureza jurídica, nem as motivações das equipas de investigação. Não comento os cruzamentos de provas e as diferentes velocidades da justiça comum e da justiça desportiva. Não quero antecipar a possibilidade de virmos a ter decisões diferentes em ambos os casos e o que tal representaria para o descrédito da justiça.