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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

O elevador do meu prédio

Incursões, 30.09.04
O elevador do meu prédio

Soturno

Taciturno

Sombrio

Com cheiro a mofo

Usado

Casto

Sobe e desce

Continuamente

Desce e sobe

E eu esperando que ele não pare

Pelos andares escuros

Pelos gestos obscenos do miúdo do segundo andar

Pelas paredes raspadas

Palavras atiradas

Contra o esquecimento

SUI TO

CÍ LEN

DIO DESA

Espero que não pare nunca

Pára sempre

No destino traçado

No término

No sexto andar

Onde a clarabóia de vidro filtra a noite

O sarro do luar

E eu rodo a fechadura

O vazio dentro de mim

Merda! Está encravada…

Mas roda e abre e faz-se interessada

Abro a janela

Respiro a brisa

Oiço o barulho do elevador

O amor morreu numa esplanada

Na cafeína

Na espuma da cafeína

Flagelando-se

Traficando uma paz impossível

Uma esperança

Mas não quero esperança

Recuso esperança

Prefiro aceitar esta dor

E o elevador…

Sobe e desce

Desce e sobe

Um sorriso

Paixões de primeiro andar

Um nome

Paixões de segundo andar

Um nome e um sorriso

Paixões de terceiro andar

O brilho nos olhos

Paixões de quarto andar

Aquele abraço

Paixões de quinto andar

Sexto andar

Fim!

Volta para trás

Desce

Ou faz que desce

Fica parado

No teu lugar

No amor violentado

Premido

Como uma ferida explorada

Afta que tocamos com a ponta da língua

Eu e o meu elevador

Deixamo-nos ocupar

Deixamos que nos usem

Sobe e desce

Desce e sobe

Mecânicos

Esgotantemente banais

Respiro

Respiramos

Encho os pulmões de limalhas

Pétalas de lágrimas de aço

Imperceptíveis

O miúdo irrequieto carregou num botão

Pôs o elevador a andar sozinho

Somos iguais

Ambos devolutos

Eu desejo partir

Ele sobe e desce e desce e sobe e desce e desce e sobe e sobe e desce…

Ambos impotentes

Eu não me vou

Ele não se vem.



André Simões Torres

30/09/2003

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