O pas(s)o do sapo

O passo do sapo não é marcial. O sapo nada, salta, mergulha, cai e levanta-se mas nada disso dá direito a um estandarte, a um hino, a morrer por um sapo.Ou por um sapal. Nem os sapos querem morrer senão de velhos. Vê-se que o sapo não é cortezão do paço!

digamos que o paço não o grama. Não o engole nem com bolachinhas de água e sal.

O dr. Cunhal não gostava de engolir sapos. Lá teria as suas (boas) razões. Preferia elefantes, se possível socialistas e soviéticos, e iguais razões  teria.
Nunca percebi por que é que se usa a expressão “engolir um sapo”. Ainda se fosse uma rã… há muita gente que come rãs, pelo menos coxas de rã. Os franceses, para não ir mais longe. À conta disso os ingleses até lhes chamam “frogs”.
Também nunca percebi aquela história da princesa e do sapo. Aliás boa parte dessas histórias têm muito que se lhes diga. Bestialidade pura e simples, para começar.  Foi Zeus quem – ao que julgo – começou com essas aventuras e desventuras de humanos e animais. Zeus para caçar algumas humanas disfarçava-se de cisne, de touro, de chuva sei lá de que mais coisas. E, pelos vistos, levava a água ao seu moinho. Ou, por outras palavras, levava as raparigas à certa.
Mas agarrar num inofensivo e simpático anfíbio e pô-lo na categoria das coisas melhoráveis parece-me indecente. Quem é que disse que um príncipe é mais bonito do que um sapo? E já nem falo da utilidade. Por exemplo, o príncipe Carlos, com aqueles abanadores que lhe servem de orelhas, será mais bonito do que um sapo jururu?

“Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.
……………………”

Assim nos deslumbre também a nós nesta aventura que ora começa.

d’Oliveira fecit

*Manuel Bandeira: os sapos, in Carnaval, in Estrela da Vida Inteira, poesias reunidas, Livraria J. Olímpio ed., Rio de Janeiro, 1970