O engulho presidencial
Cavaco Silva tenta fugir por entre os pingos da chuva da polémica causada pela ligação de Dias Loureiro ao BPN e consequente renúncia ao Conselho de Estado. Cavaco veio ontem dizer que trata por igual todos os conselheiros de Estado e que não tem informações que, até ao momento incriminem Dias Loureiro. É uma meia verdade.
Se é certo que Dias Loureiro é presumido inocente e que a única entidade que requereu a sua audição foi a Comissão Parlamentar de Inquérito, não deixa de ser verdade também que Dias Loureiro não está nas mesmas condições de outros Conselheiros de Estado. Com efeito, Dias Loureiro faz parte do grupo de conselheiros nomeados pelo próprio Presidente da República, juntamente com Lobo Antunes, Marcelo Rebelo de Sousa, Leonor Beleza, substituta de Manuela Ferreira Leite, e Anacoreta Correia, a quota devida ao CDS pelo apoio nas eleições. Todos os outros membros do Conselho de Estado não acederam ao lugar por intervenção do Presidente. Estes sim, devem a Cavaco a nomeação e isso responsabiliza-o, naturalmente.
Por outro lado, não pode esquecer-se a preponderância de Dias Loureiro na estrutura de campanha presidencial, depois de ter sido ministro e secretário-geral do PSD sob a liderança de Cavaco. Se Dias Loureiro vier a ser constituído arguido no âmbito da investigação em curso isso afectará seriamente o Presidente.