diário Político 113
Protestar é bom!
Os que vinham de longe, mas que não se cansavam, viram hoje que nem sempre a arrogância e as ideias feitas ganham tudo. Nem sequer os meios faraónicos utilizados que, segundo o “Público”, “esmagavam” os dos restantes partidos concorrentes.
Quem perdeu as eleições? O PS obviamente. E dentro dele, José Sócrates que foi desencantar dentro de uma puída cartola um coelho que de facto não é o “Bug’s Bunny”. Depois, o aparelho socialista que se rendeu totalmente ao “querido líder” e que pensou possível inverter a “campanha negra” dirigindo-a contra o PPD à conta do escândalo bancário que foi, patetamente atirado não apenas por Vital Moreira mas também por outros candidatos socialistas (Ana Gomes se bem recordo). Vital também perdeu, claro. Mas convenhamos que isso começou a ser previsível desde os primeiros dias. Sem imaginação nem talento oratório, arrastou-se contrafeito pelo país real que é uma coisa bem diferente do casulo universitário onde paira. As famosas gaffes nem sequer o eram mas apenas erros políticos que só uma miopia imensa derivada de uma imensa vaidade é responsável. Vital Moreira estava conotado com a ala mais liberal e “socratica” deste Governo a partir dos seus escritos no “Público”. No “Público” notem bem, no jornal que muito do aparelho socialista dizia, com impudor e incongruência, conotado com a “campanha negra”…
Derrotada finalmente uma certa ala socialista que, se autoproclama de esquerda mas que nos últimos anos se rendeu totalmente a Sócrates, assinou as suas moções e isolou Alegre.
Há que repudiar a ideia de que os governos perdem por via da crise. Merkel, Sarkozy ou Berlusconi não perderam e lá também há crise. Ou seja, cai por terra o argumento central do Primeiro Ministro e sobretudo do seu desamparado porta-voz, Vitalino Canas. O pobre homem não acerta uma. Ou então diz o que lhe mandam. Nesse caso tem um estômago de ferro.
No campo dos vencedores também há derrotados. A começar no PPD. A imensa coorte dos adversários de Manuela Ferreira Leite, especialmente Passos Coelho debe estar a roer as unhas. Eles sabem que esta vitória vai dar a MFL a margem de manobra suficiente para escolher mais candidatos a deputados, distribuir prebendas políticas aos que lhe foram fiéis e, mesmo, aos que desde há duas horas correm babados para o seu maternal regaço.
Resta saber se a CDU não perde qualquer coisa. Ficar atrás do BE em votos, mesmo se poucos, ainda vá. O problema será maior se o 3º deputado, o único que falta apurar cair n escarcela do bloco. Nesse caso entendo que a CDU não terá razões para festejar. Se, porventura, esse deputado milagrosamente lhe aterrar no quintal, as coisas melhoram e o susto, porque susto há, não será mais do que isso. Mas para o Bloco isso não será uma derrota. As melhores espectativas que o grupo tinha era duplicar a votação e a representação. De todo o modo, convirá ao BE saber que atraiu uma boa parte de votos de protesto vindos directamente de votantes tradicionais do PS. Não é dono desses votos que apenas lhe foram emprestados. Sobretudo porque, os três primeiros candidatos superavam de longe os três primeiros do PS. A escolha, e isso também é um mérito bloquista, era fácil, facílima.
O CDS ganhou claramente. Todas as sondagens o tinham enterrado bem fundo. Resssuscita em força graças não só ao seu cabeça de lista mas também a Paulo Portas que foi a todas, esteve em todas. Diga-se o que se disser, o homem é um “battant”, vai á luta, arrisca e, no caso em apreço, recolhe boa parte dos louros.
Os restantes partidos concorrentes, sobretudo, os recém-chegados, sofrem uma derrota fortíssima. Não beneficiaram do efeito de novidade, não mobilizaram ninguém mesmo apregoando virtudes extraordinárias nem sequer mobilizaram os descontentes com a política tradicional. É o que dá criar movimentos impulsivos de públicas virtudes e anti-políticos. Isto não é o jogo da laranjinha. Felizmente.
Uma última observação: os votos em branco atingiram os 4,63%. Há quatro anos eram apenas 2%. Contra quem foram estes votos? É que aquí estamos perante gente que se deu ao trabalho de ir votar. E de protestar.
A abstenção atingiu o pico que se temia e que, custa dizê-lo, se esperava. Os partidos mostram-se penalizados. Convém perguntar se não seria melhor mostrarem-se arrependidos. Foram eles que fizeram a campanha, escolheram os temas e não entusiasmaram dois portugueses em cada três (isto se os cadernos eleitorais não estiverem – como suspeito – sobrecarregados de mortos e de ausentes do país. De todo o modo a abstenção é altíssima).
Diga-se o que se disser, este foi um "ensaio geral" das eleições realmente importantes, ou melhor, das eleições que a nossa incultura política entende como importantes. Nada está ganho, nem tudo está perdido. Mas que as coisas não vão ser fáceis para os dois grandes partidos, não há dúvida. E, mesmo neles, serão sempre mais difíceis para o PS do que para o PPD. Apesar de tudo este não aspira senão a tirar a maioria absoluta ao PS. E a acreditar com um saber todo fé em Deus e num bambúrrio que o partido do governo se mostre incapaz de retirar as ilações que esta forte derrota lhe propicia.