Não valerá a pena gastar tempo a reflectir sobre o resultado das ditas eleições para o Parlamento Europeu. O que não se entende é ouvir responsáveis políticos a lamentar que os eleitores não tenham respondido ao acto eleitoral, quando toda a campanha correu fora das questões europeias.
Contudo, uma vez realizado o acto eleitoral e contados os votos, o que os profissionais da política fizeram foi declarar vitória ou minimizar os prejuízos. Logo esqueceram o circunstancialismo da vitória, o facto de apenas uma escassa minoria lhes ter dado o voto. O princípio é que votou quem quis votar e quando se fala na dimensão da vitória ninguém reproduz o número de votos, antes o peso relativo destes.
Quando se diz que um partido, por exemplo, teve 20% dos votos, a mensagem que passa é que 20% dos eleitores estão com esse partido. Na realidade, tomando uma taxa de abstenção de 60%, o que o partido teve foi 20% dos 40% de votantes, que se traduz na recolha de 8 votos por cada 100 eleitores. Deste modo, os festejados 20% representam apenas 8% da população eleitoral.
Nestas eleições ocorreu uma taxa de abstenção de 62,9%, o que significa que a taxa de participação se cifrou nos 37,1%. Ou seja, em cada 100 eleitores votaram 37. É sobre estes 37 que se calculam as percentagens vitoriosas dos partidos. Contudo, para ser mais fiel com a realidade a taxa a apresentar deveria ser calculada em função do número de eleitores e não em função do número de votantes. O resultado era o mesmo. A distribuição dos deputados era igual. O que ficava mais claro era o ridículo da situação.
Se seguíssemos este método, obtinha-se o seguinte quadro:
PSD 11,8%;
PS 7,9%;
BE 3,9%;
CDU 3,9%;
CDS 3,1%.
Acredito que seria entusiasmante ver, em manchete, “PSD VENCE COM 11,8% DOS VOTOS”. “PS ARRECADA 7,9% DOS VOTOS”. “4 em cada 100 eleitores votaram no Bloco”.
Posto isto parece que os partidos, todos eles, deveriam ser bem mais contidos na celebração da vitoria. O que estas eleições mostraram foi uma extraordinária derrota do sistema partidário. Não só em Portugal mas em toda a Europa ou pelo menos nos países onde de verificaram níveis de abstenção que deveriam envergonhar os dirigentes partidários.
Na verdade, mais ou menos abstenção não interessa para o pessoal da política. Eles acabam por ser sempre eleitos. Acabam por ocupar os seus lugares de deputados e de ter acesso ao controlo dos mecanismos do poder. Esta é a grande razão que justifica o regozijo, o estalar das rolhas de champanhe. Mas também isto está de acordo com as regras de jogo que eles definiram e que impõem a toda a sociedade, sabendo que se o povo vota ou não vota nem é o mais importante, porque sempre haverá quem vote. E esses chegam para garantir a governabilidade da gente e o governo dos próprios.