Au bonheur des Dames 215
Fecho de contas? Não, só de ano.
Vou receber cá em casa um pequeno grupo de amigos. A CG prometeu-lhes, em meu nome, vejam bem, um caril de camarão. E quem é que fará o caril? Pois este vosso criado! A pretexto que o meu caril (na realidade nem meu é, é apenas uma adaptação de um caril que ensinaram á minha mãe e a que, como e costume, introduzi umas variantes) é bom, eis-me condenado a um par de horas de trabalho. Nem sequer me descascam os camarões!...
Ah que inveja tenho dos meus amigos cozinheiros e que gostam de o ser. Por exemplo o João Vasconcelos Costa que, além de cientista, é gourmet e cozinheiro e faz coisas dificílimas (até já escreveu um livro de receitas!...) como quem faz uma omeleta de cebola.
Ou então, aqueles outros, a maioria, que nem sequer sabem fritar um ovo e que, são expulsos da cozinha por imprestáveis. Desses ainda tenho mais inveja. Sai daqui ó caramelo que a tua simples presença desarranja o forno!
A inveja vai ser a companhia desta última noite do ano. Os convidados na maior e eu a dar ás meninges, a provar o molho, a calcular as fervuras para o maldito caril se poder apresentar decentemente!
E por que raios a CG escolheu um caril para o último dia do ano? Não ficaria melhor o tradicional bacalhau ou algum prato mais adequado á noite das boas intenções que se não irão cumprir? Desconfio que ela resolveu castigar-me e pôr-me de serviço só por que inveja a minha merecida reforma, as manhãs na esplanada, as rusgas intermináveis aos alfarrabistas, o ser dono de todo o meu tempo e não ter de prestar contas a quem quer que seja.
Eu sou pouco de votos de fim de ano. Muito pouco, mesmo. Mas, a exemplo do compadre d’Oliveira vai daqui um abraço para o Miguel Esteves Cardoso e para a mulher, sobretudo para ela. Conheci o MEC num longínquo festival de cinema da Figueira e pude ser-lhe vagamente útil num conflito entre ele e o director do festival. Já não o vejo há muito, leio-o assiduamente e partilho a sua angústia, a sua esperança e a coragem da Maria João. E sei que muitos leitores a as partilham comigo. Para esses, para todos aqui ficam votos de um ano melhor do que por agora finda. Que diabo isto não é pedir muito, pois não?
Na gravura: uma fotografia enviada pelo JVC, velho companheiro com um título muito conforme com esta crónica.