Estes dias que passam, 201
Uma homenagem, um agradecimento, um apelo
Passam quarenta anos quase dia por dia sobre a fundação da Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos.
Eram seus objectivos "a solidariedade para com os presos políticos, mediante ajuda material e apoio jurídico, informação à opinião pública e intervenção persistente junto das entidades oficiais no sentido de fazer respeitar os inalienáveis direitos das pessoas", como consta do primeiro comunicado (31 de Dezembro de 1970) da organização (cfr PRESOS POLÍTICOS, documentos 1970, 1971" livro editado pela Afrontamento e organizado por armando de Castro, Francisco Pereira de Moura e Luís Filipe Lindley Cintra. Porto, 1972).
Não tenho a certeza exacta de quantos eram ao todo mas a lista mais completa que conheço revela cinquenta nomes e desses mulheres e homens honrados e corajosos vinte de dois deram-me a honra de ser meus amigos pessoais. Muitos, porventura a maioria, já morreram. Alguns, mas não todos eram conhecidos (e reconhecidos) neste país que prefere, as mais das vezes, o fogacho e a purpurina, às honra e ao civismo e à cidadania. Outros partiram discretamente como discreta mas corajosamente viveram.
Agora, finalmente, corre uma petição de apoio a uma homenagem pública às actividades realizadas pela CNSPP.
Há já um site para o efeito que me apresso a divulgar: www.cnspp.org onde todos os leitores que deste blog poderão apor, querendo, as suas assinaturas.
Na qualidade de antigo preso político e de beneficiário desse expresso apoio da CNSPP por ocasião de uma das prisões que sofri lanço um apelo a todos os que me lêem para juntarem a sua voz à minha.
A CNSPP foi, num país cinzento e indiferente, a voz da honra e da dignidade. E da coragem, que, desde o primeiro momento, demonstrou. Os seus membros foram vigiados, seguidos, perseguidos, por vezes presos e em ocasiões agredidos.
foram discriminados nas profissões, viram ser-lhes fechadas muitas oportunidades e sabe-se que sobre os seus amigos e familiares recaíram suspeitas e constrangimentos.
Nada disso os demoveu e durante os anos em que estiveram em actividade não descuraram, pese embora os escassos meios de que dispunham de exercer a sua digníssima actividade.
bom seria que, também nas ex-colónias, mormente Angola e Moçambique alguém recordasse a corajosa denúncia das prisões, das tortura e dos massacres a que a CNSPP deu publicidade.
Em memória de Alfredo Fernandes Martins, António Portugal, António Rocha e Melo, Fernando Soares David, Henrique de Barros, Ilse Losa, Manuel Denis Jacinto, Jjudite Mendes de Abreu, Maria Manuel Antunes, Mário Silva, Orlando de Carvalho, Paulo Quintela Rui Clímaco, Rui Feijó e Sofia de Melo Breyner Andresen, meus amigos
e um profundo abraço de gratidão a Mário Brochado Coelho, Marta Cristina Araújo e Maria de Lurdes Almeida: convosco estive menos só em Caxias...