A ofensiva de Carlos Cruz
Pensava que tinha havido um processo longo, que durou oito anos, em que foram ouvidas cerca de mil de testemunhas e cuja sentença final do colectivo de juízes concluiu pela condenação de seis dos sete arguidos, expressa num documento de cerca de duas mil páginas, com as seguintes penas:
Carlos Silvino: condenado a 18 anos de prisão efetiva
Manuel Abrantes: condenado a cinco anos e nove meses de prisão efetiva por dois crimes de abuso sexual de menores
Carlos Cruz: condenado a sete anos de prisão efetiva, considerado culpado de duas situações de abusos sexuais
Jorge Ritto: condenado a seis anos e oito meses de prisão efetiva, considerado culpado por oito crimes de abuso.
Hugo Marçal: condenado a seis anos e dois meses de prisão efetiva, culpado de ter providenciado uma casa em Elvas, pedida à arguida Gertrudes Nunes, para que aí decorressem abusos.
Ferreira Diniz: condenado a 7 anos de prisão por dois crimes de abuso sexual de menores.
Gertrudes Nunes: Absolvida.
Pensava que tinha sido assim, mas afinal, ouvindo Carlos Cruz em todos os canais televisivos possíveis, desdobrando-se em entrevistas, fica-se com a ideia que tudo não passou de um caso que foi tratado pela justiça de uma forma ligeira, sem nenhum rigor. Carlos Cruz usa a estratégia da descredibilização da justiça para redimir a sua imagem.
Ouvindo Carlos Cruz parece que aquele conjunto de arguidos foram escolhidos a dedo para salvar a face da justiça, ou seja, foram condenados porque a opinião pública assim o exigia. Portanto, todo o trabalho que os profissionais da justiça tiveram para averiguar e provar factos que levaram à decisão das condenações, parece que tudo isso não passou de um trabalho de ficção, pelo menos é o que conclui das palavras propagandeadas por Carlos Cruz.
O que Carlos Cruz deveria explicar é porque é que a justiça os iria escolher a eles para protagonizar este papel. Sabendo-se como certo que existia uma rede de pedofilia em torno da Casa Pia, com muitas vítimas bem identificadas, e dado que todos os arguidos se declaram inocentes, então quem eram os utilizadores dessa rede de pedofilia?
Carlos Cruz está a ocupar todo o espaço televisivo e também dos jornais. O espaço mediático abre-se em absoluto para ele. Todos os dias são condenadas pessoas nos tribunais e não andam a dar conferencias de imprensa e entrevistas non stop às rádios, televisões e jornais. A anormalidade não está na sentença produzida, mas sim na ocupação obsessiva do espaço público por Carlos Cruz. Não venceu nos tribunais e quer ganhar na praça pública, sem contraditório.