missanga a pataco 75
Este pecado não mora ao lado
Marilyn Monroe era uma mulher bonita, sensível, inteligente e talentosa. A vida deu-lhe muito e tirou-lhe tudo. Foi famosa, invejada, amada, idolatrada e conseguiu o milagre absoluto de permanecer intacta na sua esplêndida beleza todos estes anos. Graças ao cinema e a ela própria. E a um corpo escultural, uma voz delicada e á aura da desgraça.
Quererem fazer dela, agora, uma intelectual assanhada é claramente uma revisão da história. Marilyn, já se disse, era inteligente e talentosa. Era curiosa e gostava de ler. Leu muito, porventura demais, ou isso quiseram fazer crer. Escreveu um pequeno diário em que apontava com ingenuidade e sensibilidade o que via, o que ouvia e o que sentia. Fazer disso uma obra literária do tamanho do Pulitzer é ridículo e diminui uma grande mulher infeliz e demasiado bela.
Os vampiros da carniça que contribuíram para a perda dela, não desistem de ganhar dinheiro com o cadáver que já se não pode opor-se-lhes.
Sempre admirei MM, mesmo quando isso parecia pequeno-burguês e quando se devia exaltar apenas alguns camafeus do neo-realismo de que já ninguém se lembra. Tenho os seus filmes, alguns álbuns sobre ela, e um persistente, antigo encantamento.
Basta de exploração! Não destruam o mito e sobretudo não matem segunda vez a mulher que perseguiram até à morte.
* na gravura: a gata Kiki de Montparnasse com Marilyn ao fundo