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Incursões

Instância de Retemperação.

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Mais uma cimeira para nada mudar

JSC, 19.11.10

Nestes dias a cimeira da Nato domina tudo e todos. Não há dúvida que as coisas da guerra mobilizam as pessoas. Pela ordem natural das coisas a Nato é uma organização fora de tempo. Por um lado, porque o bloco contra o qual foi criada há muito que deixou de existir. Aliás, os países do extinto Pacto de Varsóvia aderiram à Nato ou estão a caminho disso. Por outro lado, porque as ameaças e perigos que hoje nos confrontam deixaram de poder ser combatidos por exércitos convencionais. As tragédias que assolam o Iraque e o Afeganistão também estão aí para o mostrar.


Nem importa falar do custo destas cimeiras. Dos blindados que deveriam ter chegado e não chegaram, mas que terão de ser pagos, o que irá enriquecer o país fornecedor e aumentar a nossa dívida. A curiosidade de ontem foi o encontro de “jovens atlantistas” e a mensagem que aí foi deixada. A notícia não diz quem promoveu esse encontro. Admito que os tais “jovens atlantistas” sejam os legítimos herdeiros dos seniores que vão hoje iniciar a cimeira.

 

Outra curiosidade foi o enxotamento do pessoal que vinha manifestar-se contra a Nato. Para estes não houve brandos costumes. Uma funcionária, suponho do SEF, explicava que não deixaram entrar um grupo de finlandeses porque eles  disseram que vinham para a manifestação e que na viatura traziam cartazes e tarjas contra a Nato.

 

Pessoas com cartazes e tarjas devem ser pessoas muito perigosas. Além disso as tarjas eram contra, se fossem a favor, provavelmente, até seriam recebidos pelo Primeiro ministro, como sucedeu aos tais “jovens atlantistas”, a quem José Sócrates apresentou o "novo conceito estratégico" da NATO, que passa, disse, pela defesa colectiva contra o terrorismo, os ciberataques, a pirataria, o narcotráfico e o tráfico de pessoas”. Bonito de ouvir. Mas só isso.

Todos procuram vender-nos a ideia de que esta cimeira vai ser muito importante. Que vai dar um novo impulso ao namoro Rússia-Nato e que vai definir a estratégia para o fim da guerra no Afeganistão.

Desde há algum tempo que até o Secretário Geral da Nato reconhece que a invasão (ele diz “intervenção”) do Afeganistão foi um erro porque subestimaram a capacidade de resistência dos afegãos. O que ele quer dizer é que não os consegue vencer e que só resta sair. Neste sentido o que a cimeira vai definir são as condições para a saída, transferindo para os países membros a responsabilidade e os custos do abandono do Afeganistão.

 

É notável que apesar de reconhecerem que foi um erro, ninguém, absolutamente ninguém, procura imputar responsabilidades ou apontar o promotor de tamanho erro. Não o fazem porque, do ponto de vista militar e económico, para a indústria da guerra, aquilo não foi nenhum erro, foi um grande negócio. Negócio que tem que ser mantido, alargado, razão para a Nato prossiga e amplie os seus objectivos, que já passaram a fronteira original para visarem mais longe, o ciberespaço.

 

Entretanto, no terreno, o mesmo Secretário Geral vai dizendo que o novo papel da Nato também passa por reforçar a sua capacidade para “treinar e educar forças de segurança locais”. Parece que é aqui que entra Portugal.

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